Select Page

Significado dos sonhos parte 1

Significado dos sonhos parte 1

Esta é uma página da coleção de posts sobre sonhos espirituais extraídos dos escritos de Sri Chinmoy, do livro Sonhos. As outras páginas são:

 

significado sonhosSe, durante um sonho, sentimos um amor profundo por alguém, como podemos melhor levar o amor desapegado para o nosso relacionamento exterior?

Se sentirmos amor profundo por alguém num sonho, primeiro devemos saber se esse amor é emocional ou não. Se for amor vital emocional, então devemos imediatamente oferecer o nosso amor e o objeto do amor ao Supremo em nós.

Esse tipo de sonho é como comer um bolo. Primeiro tentamos não comer o bolo, pois não queremos ganhar peso. Mas, se temos de comer o bolo, o faremos em segredo. Temos medo de comer o bolo em público por medo de que o mundo nos verá e rirá da nossa gula. Assim, comemos em segredo. Mas o melhor é não comer o bolo de forma alguma, nem mesmo em segredo.

Se interiormente fizermos algo errado conscientemente, será muito difícil, quase impossível, nos desapegar daquilo. Portanto, devemos buscar sempre estarmos completamente despertos, para que durante nossos sonhos não façamos as coisas que não devemos e não faríamos durante as horas de vigília. Podemos ficar completamente conscientes nos nossos sonhos ao desenvolvermos mais força de vontade consciente durante as horas de vigília.

 

Eu tive um sonho em que a minha mãe morreria. Eu sabia daquilo, então orei e orei. E ela morreu mesmo.

 O seu sonho o estava preparando. Se não soubesse, o seu choque e tristeza teriam sido maiores. Quando a sua mãe faleceu, por um lado você estava triste, mas, por outro lado, o seu sonho já o havia auxiliado a ficar mais forte.

 

Tive um sonho com a minha irmã mais velha. Ela estava vestindo um sari verde e estava numa estrada no crepúsculo.

 O verde significa nova vida. Se a sua irmã estava vestindo um sari verde, isso quer dizer que ela recebeu uma nova vida, uma nova esperança.

Mas há dois tipos de crepúsculo. Um é o crepúsculo da manhã, do nascer do sol, e o outro é o da noite, do por do sol. Seu sonho foi com qual deles?

Era o crepúsculo da noite.

O sari verde significa inspiração energia dinâmica, nova esperança, nova identidade, nova vida, e o crepúsculo significa metade luz e metade escuridão. Apesar de a sua irmã ter esperança e inspiração e esteja clamando por uma nova vida, ela não está completamente pronta para aceitar o caminho espiritual. Ela está pronta para aceitar cinquenta por cento escuridão e cinquenta por cento luz. Ela tem ou teve a oportunidade de ser dinâmica, muito energizada e cheia de entusiasmo, e entrar no mar de luz, mas ela não valorizou a oportunidade. Ela não a aproveitou. Ela quer desfrutar do mundo exterior de escuridão e, ao mesmo tempo, do mundo interior de iluminação, algo que é impossível. Ela quer metade luz e metade escuridão na vida, uma mistura de ambos. Mas uma mistura de ambos não poderá satisfazê-la.

 

Certa vez eu sonhei com um templo muito ancestral, onde muitas pessoas estavam venerando estátuas. Eu reconheci todos os rostos que vi. Qual é o significado disso?

 Essas são pessoas que você conhecia nas suas encarnações passadas. Esse tipo de sonho faz com que sinta que esta não é a sua primeira ou última encarnação. Você foi algo e conhecia algumas pessoas antes. Se não eram boas pessoas, você conhecerá melhores nesta encarnação. Dessa maneira, ele o encoraja. Se você não fez algo no passado, poderá fazê-lo agora e, se não fizer agora, poderá fazer aquilo amanhã. Esse é o propósito da reencarnação – se você não fez algo, terá a oportunidade de fazer aquilo em outra vida.

Se você viu uma pessoa não inspiradora na rua ontem e, hoje, num sonho você vê a pessoa novamente, que tipo de benefício há nisso? Quando o viu ontem, você não ganhou nada. Ao sonhar com a pessoa, ainda assim não ganhará nada. Mas se essa pessoa era muito espiritual, sincera e aspirante, você recebeu inspiração dela quando a viu. E, durante a noite, se você ver a mesma pessoa num sonho, receberá mais inspiração. Quando vê pessoas aspirantes, é uma bênção. Mas se você vê pessoas não aspirantes durante o dia, é só uma perda de tempo. Se vê-las de novo durante a noite, também será uma perda de tempo.

 

Eu tive um sonho onde você me pediu para fazer uma bola azul para você.

Azul significa algo muito vasto, algo infinito, e a bola significa o mundo ou a Consciência Universal. A bola azul aqui representa o instrumento eterno. Eu estava lhe contando que o Supremo está fazendo de você Seu instrumento confiável.

 

Eu sonhei que estava falando com alguém enquanto olhávamos para uma terra vasta e fértil. Eu vi um céu como um nascente dourado, com o sol nascendo sob a terra e lançando uma luz dourada.

O céu significa vastidão. E a terra vasta que você viu também representa vastidão. A satisfação só virá quando a vastidão acima e a vastidão ao redor se encontrarem. A vastidão superior é o Céu, e a outra vastidão é a Terra, o lugar onde você vive. Quando a nossa consciência-terra é ampliada, imediatamente a consciência-Céu, que é infinitamente mais ampla que a consciência-terra, encontra essa consciência-terra. Quando elas se encontram, você vê uma cor dourada. Essa é a cor da manifestação divina. Quando a Terra é receptiva, quando o coração da terra é amplo, a luz do Céu pode entrar nela. Então a consciência iluminadora do Céu e a consciência aspirante da Terra se tornam uma. Quando se tornam uma, isso é uma manifestação da Realidade divina.

 

Eu sonhei com uma serpente muito lustrosa, de cor laranja brilhante. O que isso significa?

Esse seu sonho foi muito relevante. Mas a cor que você viu não foi laranja; foi dourada. A cor dourada significa manifestação divina. A cobra significa energia. Você encontrará cobras ao redor do pescoço do Senhor Shiva, simbolizando a energia que há ao redor dele. Cada cobra possui um significado próprio. Se não forem pretas, elas serão todas boas. Caso veja uma cobra preta, saiba que é uma força não divina. Mas, se ver uma cobra com uma cor dourada ou vermelha, a cor dourada significa manifestação divina e a cor vermelha significa poder. Uma cobra dourada quer dizer a manifestação da energia divina. A energia divina entrou em você, na sua vida espiritual, e queria fluir através de você na forma de manifestação.

 

Eu sonhei que estava fora da casa dos meus pais e vi um velho amigo que conheci antes de me tornar seu discípulo. Ele fez voltar a mim uma espécie de sensação ruim, mas eu estava brincando com ele. De repente, uma poderosa e grande águia roxa veio do céu e me atacou. Eu a matei e senti a força mais poderosa que já senti em mim mesmo.

 Uma águia voa alto, mas a sua consciência é muito baixa. É como um buscador que finge estar num estado muito elevado de meditação quando, na verdade, sua consciência está no vital inferior ou no mundo das fofocas.

Quando você viu o seu velho amigo, que ainda estava na consciência que você tinha antes de entrar para a vida espiritual, a sua antiga vida não divina veio à tona de repente e atacou a sua vida espiritual. A vida não divina tem um tipo de arrogância e um sentimento de superioridade. Não é só a vida divina que sente ser superior. A vida de aspiração sente que ela é a vida real, mas a vida-desejo não divina também sente que ela é a vida real. A sua vida anterior era a vida de desejos; não havia aspiração alguma. Apesar de você ter vivido antes uma vida muito não aspirante, dentro de você havia um sentimento de superioridade. Você se sentia superior às pessoas que não estavam agindo como você. Você sentia que eles eram todos tolos que não experimentavam nada na vida, ou covardes que não eram corajosos o suficiente para adentrar a aventura da vida. Você tinha esse tipo de orgulho. Assim como a águia voa alto, mas tem uma consciência muito baixa, você também era orgulhoso e arrogante, a despeito da sua consciência estar num plano muito baixo.

Então, de repente, por você ter aceitado a vida espiritual, a sua alma veio à tona. Já que você aceitou a vida espiritual devotadamente e conscientemente, a sua alma utilizou o poder que tem e destruiu a águia. A águia representava a maneira falsa de subir. A alma quer que você suba e voe alto, mas de uma forma genuína, com aspiração, e não com desejos, arrogância e um sentimento de superioridade destrutivo e negativo. Foi a luz da sua alma que destruiu as suas qualidades divinas no sonho.

 

Eu senti que estava subindo uma colina muito íngreme com uma grama verde e bela. Estava ficando muito íngreme, e eu fiquei com medo, mas continuei subindo com a ajuda de uma pessoa não identificada. Quando eu estava prestes a chegar ao topo, fui distraído por algumas monjas oferecendo flores.

Eu gostaria de dizer que o caminho espiritual é muito árduo e muito íngreme. Quando você tem de subir, é muito difícil. Os seres que você viu não eram monjas; eram anjos. Mas você sentiu no sonho que eram monjas porque a sua mente física estava operando. A sua mente física não queria que você visse anjos, porque não queria que você sentisse tanta alegria. A mente é assim. Ela destrói tudo. Com o seu coração, você foi muito alto, mas a sua mente quis diminuir a sua alegria e fez com que você os visse como monjas. Se a mente não tivesse interferido, você teria ficado muito feliz em ver anjos com flores.

 

Eu tive um sonho onde tudo o que vi foi o seu rosto. Ele era muito poderoso e dinâmico, bem diante de mim, e parecia estar me puxando.

Esse sonho quer dizer que é necessário que você aceite a vida poderosamente e corajosamente. Você entrou para uma nova vida, mas há um medo sutil em você. Eu estava vertendo uma tremenda energia em você no sonho. Essa energia estava entrando em você e, como um ímã, estava puxando-o. Fiz uma entrada consciente na sua alma através da minha concentração, para que você não tenha medo. É necessário que você seja poderoso e dinâmico para que possa receber uma vastidão de verdade, luz e bem-aventurança na sua nova vida.

 

Eu sonhei que estava afundando em algo e, quando saí, era como sair de uma meditação. Eu quase queria ficar lá.

Não foi o caso de afundar. Você foi é muito fundo no seu interior. Você entrou na região da alma para um verdadeiro descanso e satisfação.

 

Eu tive um sonho onde eu ouvi música distante e, quando acordei, pensei que estava morto ou no Céu.

Essa foi uma experiência muito poderosa que você recebeu das profundezas da sua alma. A música que ouviu foi da alma. Essa música não pode ser apreciada pelo ouvido exterior; ela deve ser apreciada com o nosso órgão interior.

Na vida comum, quando o vital inferior ou o vital emocional não apreciam ou se identificam com algo, sentimos que estamos mortos. Quando o corpo e o vital não apreciam a música da alma, eles estão mortos para esse tipo de música, que inspira e eleva a nossa consciência. Portanto, quando o físico está separado da alma – da música da alma, da luz da alma – o físico está espiritualmente morto. Não é que você está morto, mas quando o corpo não aspirante não aceita a alma como sua fonte, sentimos que ele é como um soldado morto, assim como dizemos que quem não pratica nenhuma espiritualidade na vida é uma alma morta.

 

Eu tive um sonho em que eu entrei num quarto e vi que você e todos os seus discípulos tinham asas.

As asas querem dizer que os discípulos possuem uma aspiração intensa. Não são as asas de um anjo ou de um pássaro, mas a aspiração intensa que voa muito, muito alto, infinitamente mais alto do que um pássaro. É absolutamente verdade que os meus discípulos estão o mais sinceramente tentando desenvolver e aumentar o seu poder de aspiração. Os discípulos que aspiram certamente possuem essas asas interiores, que são chamadas de aspiração.

 

Eu sonhei que caí através da terra e me tornei prisioneiro em algum lugar. Um grupo de nós, eu e outros prisioneiros, tivemos de tentar trabalhar juntos para sair da prisão.

Essa prisão é a prisão da inconsciência, onde não há luz, não há esperança, não há absolutamente nada positivo. A prisão da inconsciência é a terra da destruição. Você saiu dela apenas porque dentro de você há algo muito sincero, muito cheio de alma, muito devotado. Assim, as Bênçãos incondicionais do Supremo entraram naquela inconsciência e o trouxeram de volta. Você saiu de lá porque a Graça divina, a Graça incondicional do Supremo, salvou você.

 

Eu tive um sonho com Krishna e Arjuna. No sonho, eu senti que era Arjuna. A palavra “Arjuna” saiu da minha barriga.

Krishna e Arjuna possuem a mais próxima das conexões. Eles são irmãos espirituais. Arjuna representa o instrumento interior, e Krishna representa o Altíssimo. Krishna quer que você seja o mais querido, efetivo, fiel e devotado instrumento escolhido de Deus. A voz que veio de dentro quer dizer que você se identificou com a consciência de Arjuna. Isso quer dizer que você queria ser tão poderoso, devotado e entregue ao seu próprio Mestre quanto Arjuna era a Krishna.

 

Eu sonhei que estava carregando uma caixa grande junto com alguém, levando-a até você. Você veio e me disse que eu não estava fazendo a coisa certa.

Você estava inconscientemente tomando a responsabilidade de outra pessoa e trazendo-a até mim. Eu lhe disse que era a coisa errada a se fazer, porque aquela pessoa não queria dar a você ou a mim a sua responsabilidade. Você sente que é o seu dever me trazer a carga, que aqui quer dizer alguma pessoa que tem a ver com a sua vida. Você queria trazer aquela pessoa até mim, e eu lhe dizia que a hora não havia chegado para aquela pessoa seguir o nosso caminho. Para ele será apenas um incômodo, e nada mais, pois ele não está pronto para a vida espiritual, principalmente para o nosso caminho. Se procurar no seu interior, você saberá quem é essa pessoa.

 

Durante várias manhãs eu ouvi um pássaro cantando uma bela música durante o meu sono, como uma flauta. Mas, quando eu acordo, não consigo me lembrar da música.

 Esse pássaro é a sua alma, e a música está vindo da sua alma. Quando você está dormindo, a sua consciência possui um livre acesso à sua alma. Mas quando acorda e volta à vida comum, não consegue manter esse livro acesso, pois a sua consciência física não está em contato com a sua alma. Se tiver uma meditação bem poderosa antes de ir para a cama, será capaz de manter a consciência da alma na manhã seguinte. Durante a sua meditação, tente sentir que você não é o corpo, mas sim a alma, e, ao mesmo tempo, que você existe para a alma. Então facilmente conseguirá se lembrar da música do seu pássaro-alma.

 

Certa vez num sonho eu senti que Sócrates e Benjamin Franklin eram duas encarnações da mesma alma. Pode-se confiar num sonho que parece tão claro?

 Depende do seu desenvolvimento. Hoje você está pensando que Sócrates era Benjamin Franklin; amanhã você poderá pensar que ele era Aristóteles e muitos outros nomes podem passar pela sua cabeça. Se for simplesmente um sonho comum ou um tipo de flash mental, não dê importância alguma a ele. Mas se despertar como uma visão, então poderá sentir que é algo verdadeiro e assim receberá algum benefício.

Como não ter sonhos ruins pesadelos

Quem pode sonhar?

Quem está sonhando?

Quem sempre sonhará?

Apenas o amante-Deus

Dentro do coração-aspiração do buscador.

– Sri Chinmoy

 

Esta é uma página da coleção de posts sobre sonhos espirituais extraídos dos escritos de Sri Chinmoy, do livro Sonhos. As outras páginas são:


nao ter sonhos ruinsComo não ter sonhos ruins

 

Eu deveria orar para não ter sonhos ruins, ou seria melhor simplesmente deixar que os sonhos que vierem venham?

Primeiro medite no coração e sinta a verdadeira presença da luz. Então pegue essa luz e lance-a no escuro abismo do umbigo para sua purificação. Você não terá sonhos ruins porque o seu vital estará purificado.

 

Quando vamos dormir, deveríamos tentar ter sonhos divinos ou simplesmente seria melhor dormir naturalmente?

Caso sintamos que alguns sonhos divinos nos inspirarão, pois nos últimos dias ou semanas ou meses não conseguimos meditar bem, seria recomendável tentar ter sonhos divinos quando formos dormir. Nesse caso, eles serão uma inspiração para nos ajudar a meditar tão bem quanto costumávamos anteriormente. Mas, se apenas ficamos encantados com a palavra “sonho” e queremos ter um sonho simplesmente pelo sentimento agradável ou prazeroso que traz, isso não nos auxiliará na nossa vida espiritual de maneira alguma.

 

Quando temos sonhos ruins, isso quer dizer que forças ruins entraram em nós?

Antes de dormir, às vezes comemos algo que não é bom para nós. Então não é por causa das forças ruins que temos sonhos ruins, mas simplesmente por causa da comida que ingerimos. E, se tivermos pensamentos ruins enquanto comemos, talvez achemos que tudo acaba por ali mesmo. Mas não acaba. Durante a noite esses pensamentos podem causar sonhos ruins. Às vezes, os sonhos ruins acontecem por conta da comida e, às vezes, eles ocorrem por conta daquilo que pensamos enquanto estamos comendo.

Se dormir com as mãos unidas no peito, em cima do coração, poderá ter pesadelos. É melhor dormir de lado ou de costas, sem qualquer pressão no peito enquanto dorme. Dormir com as mãos no peito não é nada bom. Você poderá dormir muitas horas, mas não dormirá bem. E também não é bom cobrir o rosto com cobertores ou lençóis.

 

O que deveríamos fazer se tivermos um sonho assustador?

Quando você tem um sonho amedrontador, não lhe dê importância indevida. Você pode até sonhar que algo ruim acontecerá na sua vida. Mas se ficar incomodado ou com medo do sonho, isso por si só já é algo ruim. Digamos que você tem um sonho em que um amigo ou familiar morre. O seu sonho pode estar absolutamente correto; amanhã essa pessoa certamente morrerá. Mas, se ficar com medo hoje, então hoje ela já estará morta para você. Caso se renda ao sonho, você sofrerá desnecessariamente antes da hora chegar. Também, o seu medo entrará imediatamente na vítima e será mais um fardo para ela.

Por outro lado, se não tiver medo, durante o tempo que há entre o sonho que teve e a possibilidade do seu acontecimento, você poderá lutar contra aquilo com oração e meditação. Ao invés de ficar assustado, tente oferecer as suas orações a Deus. Talvez você pense que a oração é algo feminino ou delicado, mas não é. A sua oração é a sua maior força. A força de Deus é a Sua Compaixão, e a força do homem é a sua oração. Se puder meditar, essa será uma força ainda mais poderosa. Se orar e meditar sinceramente e a Graça de Deus se fizer presente, eu lhe asseguro que você pode atrasar o acontecimento de qualquer sonho profético. Muitas vezes os buscadores espirituais sonharam que seus familiares morreriam e imediatamente eles começaram a meditar e orar a Deus, e a Graça de Deus veio. Deus nem sempre anula a possibilidade, mas Ele pode atrasar o acontecimento.

Porque Deus auxilia o aspirante em casos como esse? Deus ajuda porque Ele não está preso pela lei cósmica. Já que a lei cósmica foi criada por Deus, a qualquer hora Ele pode quebrar a Sua própria lei. Se Deus não pudesse quebrar a Sua própria lei, Ele não seria onipotente. E você pode fazer Deus quebrar a Sua lei através de orações repletas de alma. Deus pode ter dito: “Que isto aconteça.” Ele marcou aquilo. Mas, quando a oração humana entra no Seu Coração, Ele pode cancelar o Seu próprio decreto.

 

É possível transformar um sonho ruim num sonho bom?

Enquanto estiver tendo um sonho ruim, se realmente quiser transformar o seu sonho ruim num sonho bom, você precisará imediatamente tentar acordar. Levante-se e espreguice os braços; então se sente e medite. Se mergulhar fundo, a força da sua luz e meditação interiores estará fadada a transformar os seus sonhos ruins em sonhos bons, iluminadores e preenchedores. Isso é o que deve fazer se quiser transformá-los. Mas, se quiser se livrar dos sonhos ruins, levante-se imediatamente após ter tido o sonho e diga: “Ah, estou livre desse ataque maligno.” Antes de voltar a dormir, sorria, ria e dance, porque o ataque acabou.

Se você tem sonhos ruins frequentemente, deverá ser mais cuidadoso, mais consciente, mais devotado à sua vida espiritual, principalmente na hora da meditação. A cada vez que meditar, sinta que os resultados da meditação são como um rio fluindo em direção ao mar, a sua meta final. Quando tiver um sonho ruim, sinta que o sonho não é a meta. Ele é apenas parte de uma jornada. Durante a jornada, você pode encontrar condições climáticas ruins e obstáculos no caminho, mas, se for corajoso, inevitavelmente alcançará o seu destino.

Seja corajoso durante os seus sonhos e sinta que o sonho não é o fim. Se tiver um sonho infeliz, sinta que foi um passo necessário que o fortalecerá na sua vida espiritual. É desnecessário dizer, mas a própria Realidade anseia para que você chegue à sua porta. Ela desesperadamente precisa de você, do choro do seu coração e da unicidade constante e consciente da sua vida, para que ela possa se manifestar em e através de você, para a vida-perfeição e amor-manifestação na Terra.

 

Por que é que eu tenho uma meditação maravilhosa e durante a noite tenho sonhos vitais impuros?

Quando você tem sonhos vitais, isso quer dizer que o seu vital deve ser purificado. Se deixar o seu quarto bagunçado, você não pode esperar entrar no quarto e de repente encontrar tudo espontaneamente limpo. Você tem de entrar no quarto e tentar limpar a bagunça, colocando algo de lado e jogando fora outras coisas.

Durante a sua meditação, você está recebendo luz. Quando essa luz entra no seu ser, ela pode mostrar que o seu vital necessita de purificação.

Se você entrar num quarto escuro sem uma luz, não enxergará nada e talvez ache que está tudo certo. Mas uma vez que ligar a luz, verá que nada está certo, que todos os tipos de forças destrutivas estão no quarto. Isso é bom, porque então você estará em posição para transformar essas forças. Quando obtém paz, luz e deleite da sua meditação, você tem a possibilidade de entrar no seu vital e purificá-lo. Quando tiver uma meditação poderosa, tente trazer a luz da sua meditação para o vital. Os sonhos serão purificados pelo poder da sua meditação.

 

Como podemos obter mais controle sobre a pureza no estado de sonho?

Durante o tempo de vigília você tem certo controle sobre a pureza, ao passo que, enquanto dorme, praticamente não possui controle. Mas é uma questão de prática. Se quiser ser um bom músico, você tem de praticar, praticar e praticar. Você pode até tocar todas as notas corretamente, desde o início até o fim. Mas, se não praticar, você estará fadado a cometer erros. Se quiser ser um bom dançarino, você tem de praticar os passos dia após dia. Senão, nunca será perfeito.

Se você puder meditar em pureza com toda a alma e se puder ser perfeito na sua vida interior durante o dia, eu lhe asseguro que também será perfeito mesmo enquanto dorme profundamente. Uma vez que tenha pureza nos sonhos, ficará muito satisfeito, pois sonho representa realidade, e realidade representa sonho. O que você sonha é realidade em algum outro mundo, num mundo superior ou num mundo inferior. Se puder ter certa mestria sobre a impureza no mundo físico, eu lhe asseguro que no mundo dos sonhos também você terá mestria sobre a sua impureza.

 

A alma obtém experiências a partir dos sonhos negativos para ajudar na sua evolução, assim como acontece com as experiências reais na vida?

“Sonho negativo” é uma expressão muito complicada. Um sonho positivo nós conhecemos como algo que é inspirador, algo que aspira em e através de nós. Mas sonhos negativos podem ser de diversos tipos. Se, por falta de aspiração alguém sonha com a vida vital inferior, a vida sexual, esses sonhos não ajudam a alma de forma alguma. Mas se alguém sonha que está tentando fazer algo, como estudar, mas está fracassando nos exames, ou se quer correr em direção à luz, mas não consegue mover os pés, esses tipos de sonhos negativos podem ser benéficos. Essas experiências negativas, essas dores temporárias, não atrapalharão a nossa jornada como fariam se fossem experiências na vida exterior. A pessoa sofre por cinco minutos, mas quando acorda está determinada a fazer a coisa certa e ser bem sucedida. Nova determinação e nova aspiração aparecem e ela se torna mais forte e mais poderosa.

Devemos encarar esses tipos de sonhos como experiências que às vezes são de ajuda para nos tornarmos fortes. O filho de um boxeador está lutando com o seu pai. O pai está ensinando ele a boxear e, a todo tempo, o atinge e derruba. Ou um praticante de luta livre está ensinando seu filho a lutar, e o filho é empurrado e lançado. Essas experiências da vida auxiliam a alma, pois elas fazem tudo o que compõe a existência – o físico, vital, mental e psíquico – fortes no campo de batalha da vida. Essas experiências podem ajudar a alma ao fortalecer as outras partes do ser. Quanto mais fortes somos na nossa existência integral, mais oportunidades a nossa alma tem para trabalhar em e através de nós pela manifestação da sua própria luz.

Os sonhos negativos desse tipo podem certamente ajudar a alma, assim como os sonhos de progresso e sucesso. Se o sonho for sobre sucesso no mundo vital, a alma não ganhará nada. Mas se o sucesso for alcançado através das qualidades divinas que se possui, através da sinceridade e devoção, então a alma se beneficiará. E, se o sonho for sobre progresso na vida espiritual, esse sonho pode certamente oferecer ajuda substancial à alma, caso lhe dermos a importância correta.

Como lembrar dos sonhos espirituais

Encantar-se com um doce sonho

É o início

De uma realidade

Florescente, iluminadora e preenchedora.

– Sri Chinmoy

 

Esta é uma página da coleção de posts sobre sonhos espirituais extraídos dos escritos de Sri Chinmoy, do livro Sonhos. As outras páginas são:

 

lembrar dos sonhosComo lembrar dos sonhos espirituais

Eu tenho sonhos muito raramente. Se isso quer dizer que não estou me lembrando deles, eu deveria então tentar lembrar?

Se você não costuma ter sonhos, isso quer dizer que não precisa deles. Mas se você tem sonhos dos quais esquece quando acorda, você pode tentar recuperá-los. Para fazer isso, você tem de sentir que a sua vida não é uma realidade despida de sonhos. Você também tem de saber que cada sonho divino é uma indicação clara de uma realidade iminente. Se você valorizar o sonho como valoriza a realidade, um dos seus seres interiores irá ajudá-lo a lembrar dos seus sonhos.

 

Como podemos nos lembrar dos sonhos quando acordamos?

Se você sentiu que teve um sonho, mas não consegue lembrar-se dele, tente se concentrar na parte de trás da cabeça, na parte superior do pescoço. Quando você tem sonhos, eles se manifestam através da mente física ou, por algum tempo, por algumas horas ou mesmo um dia ou dois, eles ficarão registrados num lugar na parte de trás da sua cabeça. Portanto, se quiser se lembrar de qualquer sonho, tente se concentrar ali e sentir que está batendo numa porta. Quando a porta se abrir, você será capaz de se lembrar dos sonhos completamente.

 

Quão importante é se lembrar dos sonhos?

Se você tem sonhos ruins, nem tente se lembrar deles. Pelo contrário, esqueça-se deles imediatamente! Quanto mais cedo esquecer, melhor será para você em todos os planos de consciência. Se for um sonho ruim, encare-o como uma alucinação mental e jogue-o fora. Se for um sonho bom, lembre-se dele, mas não dê um valor exagerado ao sonho. Ou seja, não pense no sonho o tempo todo e se esqueça da sua vida-realidade, que exige a sua atenção constante e consciente. Se puder se lembrar do sonho dentro do seu coração, isso lhe trará alegria, inspiração e aspiração para que, na sua vida-realidade, você possa ser mais devotado, espiritual, divino e perfeito.

 

Quando eu vou para a cama, às vezes tenho uma forte impressão de um sonho que tive na noite anterior. Por que isso acontece?

Isso quer dizer que o seu sonho, tenha sido ele positivo ou negativo, foi muito forte. Com os sonhos positivos podemos seguir adiante. Com os sonhos negativos, retrocedemos. Um sonho positivo é como uma flor. Você mantém algumas flores no seu altar, e elas emitem uma fragrância. Se depois de um tempo você tirar as flores, ainda assim a fragrância permanecerá. Se queimar um incenso, você sentirá o seu cheiro. Mas, quando remover o incenso, a mesma fragrância estará lá. A coisa vai embora, mas a sua essência permanece.

A mesma coisa pode acontecer com uma pessoa. Se um santo fica num certo lugar, por algum tempo depois de ele ir embora, a pureza, paz, alegria e amor que ele tinha continuarão a vibrar no local. Se uma pessoa ruim e cheia de raiva e outras qualidades não divinas ficar num certo lugar, suas qualidades não divinas também permanecem lá e vibram por um tempo depois de ele sair. Quando a pessoa vai embora, a qualidade que ele incorpora permanece no lugar, e você sente o efeito da consciência que ele tinha quando estava fisicamente presente. O mesmo acontece com um sonho que permanece após acabar. Se o sonho foi muito poderoso, a essência do sonho, a sua principal qualidade, fica com você.

 

Como podemos ter sonhos espirituais?

Se quiser ter sonhos doces, sonhos inspiradores, você deverá meditar com toda alma de manhã cedo – às três, quatro ou mesmo cinco horas. Se você costuma acordar as cinco, levante-se às quatro horas. Tome uma ducha adequada e medite por pelo menos meia hora. Após a meditação, sente-se ou deite-se e se concentre no seu umbigo. Não pense em sonhos. Tente sentir que o seu chakra umbilical está se abrindo. Imagine que uma roda está girando bem rápido lá. Porque você meditou por meia hora, não precisará se preocupar com o fato de estar entrando nesse chakra, mesmo se tratando do chakra vital. Volte a dormir por meia hora ou quarenta minutos. Se a sua meditação foi boa e genuína, se veio das profundezas do seu coração, quaisquer sonhos que tenha depois dela serão divinos, dinâmicos, belos, coloridos e repletos de alma. Serão sonhos sobre anjos e deuses, ou sobre a sua vida espiritual. Ou então você verá algumas coisas inspiradoras, encorajadoras.

Se você quer ter bons sonhos antes das três da manhã, então durante a noite tente meditar no seu umbigo por cerca de dez minutos antes de ir para a cama. O umbigo é onde a emoção começa. A emoção em si não é ruim. A questão é como a utilizamos. Quando temos emoções humanas, apenas aprisionamos nós mesmos e os outros. Mas, quando temos emoções divinas, expandimos a nossa consciência. Caso se concentre no centro umbilical por dez minutos, você poderá ter controle da emoção humana e permitir que a emoção divina vá mais alto a partir do coração, em direção ao altíssimo.

Se você quer ter sonhos dos mundos superiores e não dos mundos inferiores, antes de dormir medite por pelo menos cinco minutos no centro umbilical e nos centros abaixo do umbigo. Você fará isso para trancar as portas que levam a esses centros. E medite por cinco minutos no seu centro cardíaco e nos centros acima do coração. Você fará isso para destrancar as portas que levam a esses centros. Enquanto tranca as portas do centro umbilical e dos centros inferiores, tente sentir a energia dinâmica e vulcânica de um herói-guerreiro. Enquanto destranca o centro do coração e os centros superiores, tente sentir a alegria e o deleite de uma criança. Se puder fazer isso, sem falha você terá sonhos dos mundos superiores.

 

Existem pessoas que não têm sonhos?

Não há sequer um ser humano na Terra que não tenha tido sonhos. Algumas pessoas dizem que não têm nenhum sonho, mas elas estão enganadas. Elas sonham, mas, quando acordam, provavelmente esquecem-se dos sonhos. Outras pessoas têm a capacidade de manter a memória dos sonhos enquanto estão totalmente despertas.

Benefícios da meditação comprovados cientificamente – saúde e concentração, ou além?

Preciso da minha saúde física

Todos os dias

Preciso da minha saúde espiritual

Constante e incansavelmente.

– Sri Chinmoy, My Christmas-New Year-Vacation Aspiration-Prayers, Part 07, Agni Press, 2002


beneficios cientificos da meditacaoAo juntar os textos para este artigo sobre a parte científica dos benefícios da meditação, pensei naquela ideia de que há verdade em tudo. O quanto valorizamos essa verdade é que depende do ponto de vista.

Para mim e para, imagino, quase 100% dos meus colegas que praticam a meditação, a meditação é uma necessidade – é algo que apareceu nas nossas vidas como a lava que brota de um vulcão. Não era uma questão de pesar benefícios da meditação contra não praticar.

A vida como se encontrava não nos trazia o sentimento de progresso e satisfação verdadeiros, então precisávamos encontrá-los. E isso apareceu na figura de um caminho espiritual, um Mestre espiritual, e a disciplina espiritual. (conforme o mantra budista Buddham saranam gacchami, que representa essas três necessidades para uma busca completa e bem sucedida). Dessas três, a meditação é parte da disciplina e prática espiritual que, sim, traz imensos benefícios.

Separei dois trechos do texto principal que elucidam o que penso.

“Meditar é uma boa forma de alcançar uma vida mais feliz, saudável e produtiva”.

“Um estudo revelou que as pessoas que utilizaram a meditação de cunho espiritual tiveram maior redução da ansiedade, maior relato de afetos positivos e maior tolerância à dor, em comparação com o grupo que utilizou a meditação secular. Além disso, alguns autores sustentam que a meditação realizada fora de seu contexto original não é tão facilitadora de características tradicionalmente atreladas à prática, como níveis mais profundos de propósito na vida e auto-atualização.”

No entanto, deixei aqui três artigos que encontrei, com algumas omissões para simplificar e encurtar o texto. Eles falam de testes, resultados, impressões, etc, dos benefícios mensuráveis, seculares da meditação. Não é o que me interessa pessoalmente, mas talvez você ou outros se interessem. E também faz parte da verdade, né?

Por sinal, se quiserem ler um livro propriamente falando (pois aqui neste texto tem trechos de artigos científicos), e que tem uma compilação de perguntas e respostas sobre a prática em si, concentração, benefícios, etc, recomendo o livro Meditação, do meu professor Sri Chinmoy.

beneficios da meditacao

Meditação ganha, enfim, aval científico

Estudos sérios estão afastando as dúvidas que costumavam pairar sobre a prática e mostram que ela é extremamente eficaz no tratamento do stress e da insônia, pode diminuir o risco de sofrer ataque cardíaco e até melhorar a reação do organismo aos tratamentos contra o câncer

Por Tiago Cordeiro

Meditação ganha, enfim, aval científico

 

A receita para lidar com dezenas de problemas de saúde é fechar os olhos, parar de pensar em si e se concentrar exclusivamente no presente. A ciência está descobrindo que os benefícios da meditação são muitos, e vão além do simples relaxamento. “As grandes religiões orientais já sabem disso há 2.500 anos. Mas só recentemente a medicina ocidental começou a se dedicar a entender o impacto que meditar provoca em todo o organismo. E os resultados são impressionantes”, afirma Judson A. Brewer, professor de psiquiatria da Universidade Yale.

Iniciada na Índia e difundida em toda a Ásia, … Até a década passada, não contava com respaldo médico. Nos últimos anos, os pesquisadores ocidentais começaram a entender por que, afinal, meditar funciona tão bem, e para tantos problemas de saúde diferentes. “Com a ressonância magnética e a tomografia, percebemos que a meditação muda o funcionamento de algumas áreas do cérebro, e isso influencia o equilíbrio do organismo como um todo”, diz o psicólogo Michael Posner, da Universidade de Oregon.

A meditação não se resume a apenas uma técnica: são várias, diferindo na duração e no método (em silêncio, entoando mantras etc.). Essas variações, no entanto, não influenciam no resultado final, pois o efeito produzido no cérebro é parecido. Na prática, aumenta a atividade do córtex cingulado anterior (área ligada à atenção e à concentração), do córtex pré-frontal (ligado à coordenação motora) e do hipocampo (que armazena a memória). Também estimula a amígdala, que regula as emoções e, quando acionada, acelera o funcionamento do hipotálamo, responsável pela sensação de relaxamento.

Não se trata de encarar a meditação como uma panaceia universal, os estudos mostram também que ela tem aplicações bem específicas. Mas, ao contrário de outras terapias alternativas que carecem de comprovação científica, a meditação ganha cada vez mais respaldo de pesquisas realizadas por grandes instituições.

Hoje, os estudos sobre os benefícios da meditação estão concentrados em seis áreas.

Redução do stress

Meditar é mais repousante do que dormir. Uma pessoa em estado de meditação consome seis vezes menos oxigênio do que quando está dormindo. Mas os efeitos para o cérebro vão mais longe: pessoas que meditam todos os dias há mais de dez anos têm uma diminuição na produção de adrenalina e cortisol, hormônios associados a distúrbios como ansiedade, déficit de atenção e hiperatividade e stress. E experimentam um aumento na produção de endorfinas, ligadas à sensação de felicidade. A mudança na produção de hormônios foi observada por pesquisadores do Davis Center for Mind and Brain da Universidade da Califórnia. Eles analisaram o nível de adrenalina, cortisol e endorfinas antes e depois de um grupo de voluntários meditar. E comprovaram que, quanto mais profundo o estado de relaxamento, menor a produção de hormônios do stress.

Este efeito positivo não dura apenas enquanto a pessoa está meditando. Um estudo conduzido pelo Wake Forest Baptist Medical Center, na Carolina do Norte, colocou 15 voluntários para aprender a meditar em quatro aulas de 20 minutos cada. A atividade cerebral foi examinada antes e depois das sessões. Em todos os pesquisados, foi observada uma redução na atividade da amígdala, região do cérebro responsável por regular as emoções. E os níveis de ansiedade caíram 39%.

Para quem já está estressado, a meditação funciona como um remédio. Foi o que os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos descobriram ao analisar 28 enfermeiras do hospital da Universidade do Novo México, 22 delas com sintomas de stress pós-traumático. A metade que realizou duas sessões por semana de alongamento e meditação viram os níveis de cortisol baixar 67%. A outra metade continuou com os mesmos níveis.

Resultados parecidos foram observados entre refugiados do Congo, que tiveram que deixar suas terras para escapar da guerra. O grupo que meditou ao longo de um mês viu os sintomas de stress pós-traumático reduzir três vezes mais do que as pessoas que não meditaram – índices parecidos aos já observados entre veteranos americanos das guerras do Vietnã e do Iraque.

Melhoria do sistema cardiovascular

A Universidade de Ciências da Saúde da Geórgia conseguiu melhorar a sobrecarga cardíaca de 31 adolescentes americanos hipertensos. Os jovens apenas acrescentaram um hábito a suas rotinas: meditar duas vezes por dia, durante 15 minutos, ao longo de quatro meses. Outros 31 receberam orientações médicas, mas não meditaram. A primeira metade terminou o período de testes com a massa do ventrículo esquerdo menor – sinal de redução dos riscos de desenvolver doenças cardíacas e vasculares.

Outro levantamento, este da Universidade da Califórnia em Los Angeles, mediu o acúmulo de gordura nas artérias de 30 pessoas com pressão alta. Depois de meditar 20 minutos, duas vezes por dia, ao longo de sete meses, a quantidade estava menor, enquanto que ela não havia sido alterada no grupo de controle.

Meditar também é útil para reduzir em 47% as chances de ataque cardíaco e infarto em adultos. Foi o que concluiu a Associação Americana do Coração, depois de acompanhar um grupo de pacientes de 59 anos de idade, em média, ao longo de nove anos, de 2000 a 2009. Todos continuaram recebendo a medicação necessária, mas metade foi convidada a participar de sessões de meditação sem regularidade definida. Neste grupo, a pressão arterial caiu significativamente. “Foi como se a meditação funcionasse como um medicamento totalmente novo e muito eficiente para prevenir doenças cardíacas”, afirma o fisiologista americano Robert Schneider, diretor do Center for Natural Medicine and Prevention e responsável pelo estudo.

Insônia e distúrbios mentais

Técnicas de relaxamento profundo, colocadas em prática durante o dia, podem melhorar a quantidade e a qualidade do sono. É o que aponta um estudo de 2008, do Northwestern Memorial Hospital, de Illinois. Cinco pessoas, com 25 a 45 anos e sofrendo de insônia crônica, foram submetidas à meditação durante dois meses. Passaram a dormir duas horas a mais por dia e alcançaram níveis de sono REM mais próximos do considerado saudável.

Em muitos casos, a insônia é sintoma de depressão. A meditação também funciona para atacar a causa. A Universidade da Califórnia conseguiu reduzir os casos de depressão entre 20 idosos com um simples programa de oito semanas de relaxamento, meia hora por dia. “No limite, meditar atrasa o aparecimento de sintomas do Alzheimer. A depressão na terceira idade é um fator de risco para o desenvolvimento desta doença”, afirma o psiquiatra Michael Irwin, professor do Semel Institute for Neuroscience and Human Behavior da universidade.

O psicólogo Michael Posner e o neurocientista e professor da Universidade de Tecnologia do Texas Yi-Yuan Tang mediram a densidade dos axônios de pessoas que começaram a meditar. Quanto mais densos, maior a capacidade de realizar conexões cerebrais e menores os riscos de sofrer distúrbios mentais, de depressão a esquizofrenia. “A quantidade de conexões cerebrais está diretamente relacionada à saúde mental. Neste sentido, podemos dizer que a meditação é um exercício para a mente, excelente para deixá-la mais musculosa e prevenir doenças”, afirma o professor Posner.

Alívio da dor

Quem tem a meditação como hábito sente menos dor. O pesquisador Joshua Grant, do Departamento de Fisiologia da Universidade de Montreal comprovou esta hipótese encostando placas aquecidas nas nucas de 26 pessoas, 13 delas sem contato com a técnica e outras 13 com mais de 1000 horas de experiência em meditação. A placa era aquecida a 46 graus, depois 47, e assim sucessivamente, até 56. Todos os meditadores suportaram temperaturas acima dos 52 graus.

Nenhuma das pessoas inexperientes aguentou mais do que 50 graus. Na medida, o grupo que medita respirou 12 vezes por minuto. O outro respirou 15 vezes, um indício de stress maior. “As pessoas que meditam precisam menos de analgésicos. Elas sofrem menos pela antecipação da dor”, diz Grant, que, no cruzamento de dados, concluiu que o hábito de meditar provocou uma resistência à dor 18% maior. De acordo com um grupo de neurocientistas do Center for Investigating Healthy Minds da Universidade de Wisconsin-Madison, a resistência de quem medita é maior em situações em que o stress influencia diretamente no nível de dor – caso de artrite e inflamações intestinais.

Reforço do sistema imunológico

O sistema imunológico também é favorecido. “O aumento da atividade cerebral relacionada a pensamentos positivos tem influência direta na maior produção de anticorpos. A meditação também intensifica a ação da enzima telomerase”, diz Judson A. Brewer, de Yale. As implicações desta descoberta são fundamentais para o tratamento de tumores malignos. A Associação Americana de Urologia já declarou que a meditação é recomendada para ajudar a conter o câncer de próstata.

Também ajuda a lidar com o câncer de mama. Um grupo de 130 mulheres com a doença, todas com mais de 55 anos, aceitaram participar de um teste que reforça esta teoria. Ao longo de dois anos, elas foram divididas em dois grupos, um deles fazendo meditação. A situação foi monitorada pelos médicos do Saint Joseph Hospital, em Chicago. A metade que meditou teve maior resistência para lidar com as dores provocadas pela quimioterapia e experimentou uma reação física melhor à doença.

Melhoria na concentração

Na escola estadual Bernardo Valadares de Vasconcellos, em Sete Lagoas (MG), os 1.400 alunos fazem, todos os dias, o Tempo de Silêncio. Quem desejar pode aproveitar os 15 minutos para meditar. Quem não quiser, pode apenas descansar. A iniciativa foi inspirada pela Fundação David Lynch, que já orientou a criação de programas de meditação na escola estadual Presidente Roosevelt, em São Paulo, e na escola estadual Helio Pelegrino, no Rio de Janeiro.

“Estimamos que 20% dos estudantes continuam meditando por conta própria”, diz Joan Roura, diretor da fundação no Brasil. “Alunos que meditam são mais tranquilos, mais focados e têm maior capacidade de apreender informações.” A prática rende melhores notas: entre 235 crianças de colégios de Connecticut que começaram a meditar, representou um aumento de 15% nas provas e avaliações.

As áreas do cérebro responsáveis pela memória e pela atenção chegam a ficar mais densas quando se medita. Foi a conclusão a que chegaram pesquisadores de Harvard, Yale e MIT, municiados por scanners de cérebro. Pessoas que meditam com frequência ao longo de vários anos também demoram mais para sofrer a redução destas áreas, em especial o córtex frontal.

“Um estudante que medita pode ter melhores notas, uma vida mais saudável e boas condições de lutar por melhores postos no mercado de trabalho, com menor tendência para sofrer doenças cardiovasculares, stress ou distúrbios mentais”, diz Judson A. Brewer. Em resumo: “Meditar é uma boa forma de alcançar uma vida mais feliz, saudável e produtiva”.

o que e meditar

Os efeitos da meditação à luz da investigação científica em Psicologia: revisão de literatura

Psicol. cienc. prof. vol.29 no.2 Brasília  2009

https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932009000200006&lng=en&nrm=iso

Carolina Baptista Menezes; Débora Dalbosco Dell’Aglio

(…)

Além das especificidades de cada técnica, outras variáveis, como predisposições genéticas, traços de personalidade, vivências particulares de cada um, expectativas, motivações e valores também podem mediar o tipo e a qualidade da resposta que a prática meditativa produzirá (Davidson & Goleman, 1977; Smith, 1978; Takahashi et al., 2005). Portanto, o estudo da meditação e de seus efeitos deve considerar as características do sujeito antes da prática, os estados que ocorrem durante ou pouco tempo após a meditação, e, por fim, as mudanças duradouras resultantes da prática continuada (Davidson & Goleman, 1977). É consenso que a melhor forma de fazê-lo é através de estudos longitudinais (Brefczynski-Lewis et al., 2007; Davidson & Goleman, 1977; Hankey, 2006; Lazar et al., 2005; Slagter et al., 2007).

A partir da revisão de literatura, observa-se que muitos resultados encontrados a partir de diferentes técnicas são bastante semelhantes. Com base nessa percepção e no fato de que técnicas distintas possuem características essenciais comuns (Goleman, 1988), alguns pesquisadores brasileiros concluíram que seria importante criar uma definição operacional geral acerca da meditação que abarcasse tais características e que permitisse uma padronização do seu uso para fins de pesquisa em saúde (Cardoso, Souza, Camano, & Leite, 2004). Assim, igualmente sob a prerrogativa da auto-regulação, descrevem a prática de meditação como a utilização de alguma técnica específica e claramente definida, com a qual se alcança algum relaxamento muscular e mental durante o processo, sendo um estado exclusivamente auto-induzido através da utilização de um foco (âncora).

Embora essa operacionalização seja um importante passo no sentido de sistematizar e padronizar o estudo da meditação, certamente o seu campo de investigação ainda está em desenvolvimento. Portanto, ainda são necessárias pesquisas que esclareçam alguns pontos que permanecem sem consenso por parte da comunidade científica, como as especificidades de cada técnica e seus respectivos efeitos, o grau com que se diferenciam e o impacto que tal diferença pode ter no resultado final da prática de longa duração. Entretanto, até o momento presente, o que se percebe é um grande corpo de pesquisas que, mesmo não intencionalmente, sugere alguma uniformidade entre os efeitos das práticas meditativas. Dessa forma, parece correto concluir, assim como propõem Cardoso et al. (2004), que existem alguns fatores comuns e essenciais nas diferentes técnicas meditativas que as tornam igualmente eficazes e que, de alguma forma, caracterizam o que é meditação.

Correlatos neurofisiológicos da meditação

Os primeiros estudos sobre meditação estiveram voltados para explicar os mecanismos subjacentes a essa prática e suas repercussões na vida do praticante. Através de medidas minuciosas e rigorosas, foi identificada uma série de padrões de reações associados à prática meditativa, que a caracterizam como um estado de consciência particular, diferente dos tradicionalmente conhecidos, como vigília, sono e sonho (Wallace, 1970). Essas reações também são chamadas de respostas psicofisiológicas ou neurofisiológicas, pois refletem mudanças no sistema nervoso central e autônomo (Aftanas & Golocheikine, 2001; Danucalov & Simões, 2006).

As alterações do sistema nervoso autônomo, constatadas por estudos experimentais e de meta-análise, incluem redução do consumo de oxigênio, da eliminação de gás carbônico e da taxa respiratória, o que indica uma diminuição da taxa do metabolismo. Além disso, a meditação também está associada a um aumento da resistência da pele e a uma redução do lactato plasmático, cuja alta concentração é associada a altos níveis de ansiedade (Dillbeck & Orme-Johnson, 1987; Travis & Wallace, 1999; Wallace, 1970; Wallace & Benson, 1972; Wallace, Benson, & Wilson, 1971). Com respeito à freqüência cardíaca, alguns estudos não observaram diferença (Dillbeck & Orme- Johnson, 1987; Travis & Wallace, 1999), enquanto outros verificaram uma diminuição significativa (Maura et al., 2006; Wallace, 1970; Wallace & Benson, 1972; Wallace et al., 1971). Embora já tenha sido discutido que os resultados sobre os efeitos da meditação não são conclusivos (Canter, 2003; Holmes, 1984), na literatura, há um crescente número de pesquisas corroborando os correlatos fisiológicos dessa prática (MacLean et al., 1997; Goleman & Schwartz, 1976; Takahashi et al., 2005; Travis & Wallace, 1999).

Em geral, a observação dessas reações levou à conclusão de que através da meditação é possível atingir um estado de hipometabolismo basal ao mesmo tempo em que a mente se mantém alerta e que aquele que medita desenvolve, portanto, a capacidade de controlar determinadas funções fisiológicas involuntárias (Wallace et al., 1971). É com base nessa idéia, ou seja, na capacidade de obter algum grau de controle sobre processos psicobiológicos autonômicos, que a meditação pode ser considerada uma técnica eficaz de biofeedback, constituindo uma das técnicas mais antigas de autoregulação (Cahn & Polich, 2006; Davidson & Goleman, 1977).

Além das mudanças autonômicas, desde a década de 70, também ganhou destaque a investigação dos efeitos cerebrais da meditação, sob a premissa de que estados mentais podem alterar as funções fisiológicas (Wallace et al., 1971). Foi verificado, então, que algumas características tradicionalmente associadas à meditação, como baixa ansiedade e afetos positivos, poderiam ser explicadas por mudanças da atividade neuroelétrica. Através do Exame de Eletroencefalograma (EEG), o aumento da produção de ondas alfa nas regiões frontais e, em menor quantidade, de ondas teta, foi observado tanto em iniciantes quanto avançados (Aftanas & Golocheikine, 2001; Hankey, 2006; Takahashi et al., 2005; Wallace & Benson, 1972), sendo a observação de ondas teta mais comum em meditadores com maior experiência (Cahn & Polich, 2006).

Atualmente, sabe-se que, além dessas mudanças funcionais, a meditação também pode produzir mudanças estruturais, atuando sobre a plasticidade cerebral. Uma pesquisa que comparou a espessura do córtex de meditadores experientes com um grupo-controle, encontrou uma diferença significativa nas regiões relacionadas à sustentação da atenção, onde a espessura era maior nos praticantes experientes (Lazar et al., 2005). Esse estudo corrobora a idéia de que a regularidade e a continuidade da prática influenciam a intensidade das respostas e que, portanto, a meditação pode produzir mudanças duradouras. Várias pesquisas observaram que, mesmo em situações basais, os meditadores mais experientes produziam respostas significativamente diferentes daquelas medidas em controles (Cahn & Polich, 2006; Dillbeck & Orme- Johnson, 1987; Easterlin & Cardeña, 1998; Goleman & Schwartz, 1976; Lutz, Greischar, Rawlings, Ricard, & Davidson, 2004).

A atenção é uma das funções cognitivas que parece estar particularmente envolvida nas mudanças que a prática meditativa pode gerar. Já na década de 70, foi demonstrado, através de alguns testes neuropsicológicos, que, quanto maior o tempo de prática de meditação, maior a capacidade de absorção atencional, estando esta associada à diminuição da ansiedade (Davidson, Goleman, & Schwartz, 1976). Pesquisas mais recentes têm confirmado essa idéia através de medidas cognitivas e neurais. Por meio do Exame de Tomografia Computadorizada por Emissão de Fóton único (SPECT) (Newberg et al., 2001) e por medição de ondas gama (Lutz et al., 2004), esses dois estudos verificaram que meditadores budistas experientes tinham respostas cerebrais que indicavam um poder significativamente maior de concentração, em comparação com o grupo-controle.

Dois estudos que investigaram praticantes da meditação concentrativa, também observaram diferenças significativas na habilidade atencional (Brefczynski-Lewis et al., 2007; Carter et al., 2005). Além disso, o estudo de Brefczynski-Lewis et al. corroborou uma das idéias centrais da meditação concentrativa, a de que, quanto maior o tempo de prática, menor o esforço exigido para manter maior foco. Os autores verificaram que os praticantes com maior número de horas apresentaram menor ativação das regiões envolvidas no processo meditativo, sugerindo que a técnica pode agir sobre a distribuição de recursos cognitivos, cuja idéia já havia sido demonstrada em outro estudo que utilizava a técnica mindfulness.

Através da tarefa do “piscar atencional”, foi constatado que as pessoas que participaram de um treino intensivo de três meses de meditação mindfulness tiveram uma redução da alocação dos recursos do cérebro para o primeiro estímulo da tarefa, com um conseqüente aumento da capacidade de detectar o segundo estímulo apresentado, sem que houvesse nenhum comprometimento na habilidade de perceber o primeiro (Slagter et al., 2007). Os autores concluíram que a habilidade de processar dois estímulos significativos e muito próximos temporalmente depende da eficiência com que os recursos mentais são empregados na percepção do primeiro estímulo, sendo a meditação uma forma de aumentar o controle sobre a distribuição desses recursos.

Embora com técnicas diferentes, essas pesquisas mostram resultados complementares, indicando que através da meditação é possível treinar habilidades cognitivas, como a atenção. Outros estudos se preocuparam em comparar as diferenças nos padrões cognitivos e na atividade neural entre os distintos tipos de meditação. Carter et al. (2005) verificaram que metade dos meditadores que praticaram o tipo concentrativo conseguiu manter uma estabilidade perceptiva significativamente prolongada no teste utilizado, comparado aos praticantes da meditação budista da compaixão (Carter et al., 2005). Outro estudo, ao comparar quatro subtipos da meditação budista, constatou que a atividade da freqüência gama (25-42 Hz) não apresentava uma distribuição igual entre as diferentes técnicas (Lehmann et al., 2001).

A partir desses resultados, pode-se inferir que existem algumas distinções nos mecanismos subjacentes a diferentes técnicas, mesmo que os resultados ainda não sejam conclusivos. Entretanto, também se pode notar que técnicas distintas parecem ser capazes de atuar na atenção, corroborando a idéia de que, mesmo havendo especificidades em cada prática, todas possuem a auto-regulação da atenção como processo básico comum.

Meditação, saúde física e saúde mental

Sintomas de estresse, em particular, têm apresentado resultados bastante significativos após o uso da meditação com populações clínicas e não clínicas, como apontam as medidas de sofrimento (distress) psicológico e marcadores biológicos (Cruess, Antoni, Kumar, & Schneiderman, 2000; Goleman & Schwartz, 1976; Oman, Hedberg, & Thoresen, 2006; Ostafin et al., 2006). Além disso, segundo uma meta-análise em que foi observado um alto e consistente tamanho de efeito da meditação sobre diversas situações clínicas, é através da redução do estresse que a meditação pode ser benéfica para diversas condições de saúde (Grossman, Niemannb, Schmidtc, & Walachc, 2004).

Estudos de acompanhamento descobriram que a meditação auxilia no gerenciamento e na redução do estresse, e que esse efeito se prolonga no tempo (Miller et al., 1995; Oman et al., 2006; Ostafin et al., 2006). Embora Ostafin et al. (2006) não tenham encontrado uma correlação positiva significativa entre a freqüência da prática e a diminuição do sofrimento psicológico, Oman et al. (2006) constataram que a adesão à prática de meditação ao longo de quatro meses, teve efeito direto na redução do estresse após esse tempo.

Outras pesquisas indicaram que a meditação pode proporcionar melhor adaptação ao estresse. Através de um estímulo aversivo, foi verificado que o grupo com maior experiência se recuperava mais rápido da excitação autonômica, ou seja, os meditadores experientes, após o término do estressor, tinham a freqüência cardíaca e a resposta de condutividade da pele diminuída mais rapidamente, o que indicava uma capacidade de habituação mais rápida ao estresse (Goleman & Schwartz, 1976). Nessa mesma direção, um estudo verificou que, mesmo quando praticantes iniciantes e avançados relatavam menor aceitação em condições de estresse, o grupo menos experiente apresentava significativamente menos aceitação (Easterlin & Cardeña, 1998).

Esses resultados são corroborados por estudos que mediram a relação entre meditação e cortisol e que observaram uma diminuição desse hormônio em pacientes HIV (Cruess et al., 2000) com câncer de próstata e mama (Carlson, Speca, Patel, & Goodey, 2004) e praticantes não clínicos (MacLean et al., 1997) em comparação aos controles. Ademais, essa redução esteve sempre associada à diminuição dos sintomas de sofrimento psicológico. Também foi constatado que a variância diurna da secreção de adrenocorticotrópico (ACTH) e ß-endorfina foi significativamente menor em meditadores em comparação a um grupo-controle, e que, portanto, essa técnica pode ter um efeito neuroendócrino modulador do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (Infante et al., 1998).

A prática meditativa também está associada à diminuição da ansiedade (Brown & Ryan, 2003; Davidson et al., 2003; Galvin et al., 2006; Schwartz, Davidson, & Goleman, 1978; Grossman et al., 2004), sendo que os efeitos de uma intervenção de oito semanas de meditação sobre a redução dos sintomas do transtorno de ansiedade generalizada e do transtorno de pânico, com e sem agorafobia, foram mantidos por três anos (Miller et al., 1995). Além disso, pessoas com o transtorno do comer compulsivo que passaram por uma intervenção que utilizava meditação, tiveram a freqüência e a intensidade de seus episódios diminuídas em função da redução da ansiedade e da depressão (Baer, Fischer & Huss, 2005; Kristeller & Hallett, 1999).

A meditação também é capaz de estimular aspectos saudáveis, estando muito associada à saúde mental (Goleman, 1988; Hankey, 2006). Uma pesquisa verificou que a prática meditativa associou-se à ativação do córtex pré-frontal esquerdo (Davidson et al., 2003), que está relacionado a afetos positivos e a maior resiliência (Davidson, 2004). Além disso, ondas teta produzidas pela meditação também mostraram correlação positiva com o relato da experiência emocional positiva durante a prática de meditadores experientes, em contraste com iniciantes (Aftanas & Golocheikine, 2001).

Medidas subjetivas e com instrumentos de auto-relato também indicaram que a meditação é capaz de gerar afetos positivos (Brazier, Mulkins, & Verhoef, 2006; Easterlin & Cardeña, 1998; Jain et al., 2007), melhorar o humor (Cruess et al., 2000), melhorar a qualidade de vida (Carlson et al., 2004) e o bem-estar psicológico (Brazier et al., 2006; Wallace, 1970), sendo que, quanto maior o tempo de prática, maior o relato da experiência emocional positiva (Aftanas & Golocheikine, 2001; Brown & Ryan, 2003). Além disso, uma pesquisa que comparou o afeto positivo entre meditadores experientes e um grupo-controle revelou que, mesmo em níveis basais, os meditadores apresentavam níveis significativamente maiores de afeto positivo (Goleman & Schwartz, 1976), corroborando o pressuposto das filosofias orientais de que a meditação pode trazer efeitos que se sobrepõem à condição de estado.

Assim, através da prática continuada, é possível transformar estados em traços, que atuam, inclusive, sobre a personalidade. Em comparação a um grupo-controle, meditadores experientes apresentaram menor neuroticisimo (Goleman & Schwartz, 1976; Leung & Singhal, 2004), sendo que, quanto maior o tempo de prática, menor era a prevalência desse traço (Leung & Singhal, 2004). Outro estudo verificou que meditadores mais experientes se mostraram mais adaptados, alegres, maduros, autoconfiantes e com melhor auto-imagem. Também foi observado que esses praticantes, em comparação com o grupo-controle, eram mais estáveis emocionalmente, conscientes, confiantes, relaxados e auto-suficientes (Sridevi & Krisha Rao, 1998).

Segundo Jain et al. (2007), a meditação pode proporcionar o desenvolvimento de características psicológicas positivas por meio da redução de pensamentos ruminativos e de distração. Ao comparar os efeitos da meditação e do relaxamento corporal, Jain et al. verificaram que, embora ambas as técnicas tenham produzido uma redução do sofrimento psicológico e um aumento de afetos positivos, a meditação teve um efeito maior no aumento dos afetos positivos. Além disso, foi a única técnica com efeito sobre a redução de pensamentos e comportamentos ruminativos.

Para Bishop et al. (2004), a consciência não-ruminativa desenvolve-se através de um processo meta-cognitivo característico da meditação, uma vez que esta trabalha fundamentalmente a auto-observação dos processos mentais. Essa idéia é consistente com os resultados que mostram um aumento da autoconsciência associada à prática meditativa (Brown & Ryan, 2003; Easterlin & Cardeña, 1998). Além disso, confirmam o pressuposto que, através dessa atividade, é possível atingir importantes níveis de insight (Goleman, 1988).

Em razão dessa relação entre meditação e aspectos psicológicos positivos, muitos autores a concebem como uma técnica útil para tratamentos psicoterápicos (Hayward & Varela, 2001; Martin, 1997; Naranjo, 2005). A meditação, assim como a psicoterapia, busca a eliminação das barreiras do ego, a fim de que as potencialidades humanas se manifestem (Martin, 1997; Naranjo, 2005). Através da focalização da atenção, a meditação pode ser interpretada como uma tentativa de desfazer os condicionamentos e as programações da mente (Goleman, 2003); além disso, o desenvolvimento de uma atenção livre de elaboração pode possibilitar o surgimento de conteúdos antes inacessíveis à consciência (Bishop et al., 2004); portanto, alguns autores acreditam que a meditação se aproxima dos pressupostos norteadores de diversas linhas teóricas da Psicologia (Naranjo, 2005; Vandenberghe & Sousa, 2006), podendo ser descrita como um estado de liberdade psicológica (Martin, 1997).

Aplicações

Além da relação com a psicoterapia, a meditação também passou a ser uma intervenção clínica utilizada como ferramenta para tratamentos coadjuvantes, tornando-se o foco principal de determinados programas de saúde. O Mindfulness-Based Stress Reduction (MBSR – Programa de Redução de Stress Baseado na mindfulness), por exemplo, é um programa desenvolvido por Kabat-Zinn, situado em uma clínica de redução de estresse para pacientes não hospitalizados no Centro Médico da Universidade de Massachusetts, cujo objetivo é proporcionar alívio ao sofrimento físico e psicológico (Kabat-Zinn, 2003). O programa é constituído de oito encontros semanais, de duas horas e meia, nas quais são treinadas as técnicas de posturas de yoga e meditação que devem ser praticadas no restante dos dias durante as oito semanas, por uma hora, em casa. Além disso, um retiro silencioso de sete horas é realizado na sexta semana. Inúmeros desfechos positivos de saúde, como a melhora da psoríase (Kabat-Zinn et al., 1998), dos transtornos de ansiedade (Miller, et al., 1995) e redução do estresse, tanto em pacientes não clínicos (Grossman et al., 2004; Jain et al., 2007) quanto clínicos (Carlson et al., 2004; Speca, Carlson, Goodey, & Angen, 2000), têm sido associados ao programa, o que sugere sua eficácia.

O MBSR também deu origem a outro programa similar, porém voltado para o tratamento da depressão, dentro de um contexto ligado à psicoterapia cognitivo-comportamental. Esse programa, intitulado Mindfulness-Based Cognitive Therapy (MBCT – Terapia Cognitiva Baseada na Mindfulness), tem como objetivo fazer um acompanhamento de pacientes depressivos que tiveram êxito na psicoterapia cognitiva, a fim de prevenir a sua recaída. Assim como o MBSR, o MBCT inclui oito encontros semanais, embora com grupos mais reduzidos, sendo que o participante não pode estar deprimido à época do treinamento. Esse programa diferencia-se da terapia cognitivo-comportamental na medida em que não enfatiza a mudança do conteúdo dos pensamentos, e sim, a transformação da consciência que o paciente possui acerca dos pensamentos e a forma como se relaciona com estes. O programa tem se mostrado eficaz para pacientes que tiveram pelo menos três episódios de depressão através do aumento do acesso à meta-cognição, em que pacientes vivenciam pensamentos e sentimentos negativos como meros estados mentais, e não como uma condição imutável do self (Teasdale et al., 2002).

Outro programa bastante conhecido em Harvard, no centro médico Mind Body Medical institute, foi desenvolvido no final da década de 60 pelo médico cardiologista Herbert Benson, e chama-se resposta de relaxamento (Casey & Benson, 2004). Benson cunhou o termo “resposta de relaxamento” para designar o conjunto de técnicas utilizadas, como a meditação e o relaxamento progressivo, no tratamento coadjuvante de diversas condições, buscando proporcionar maior saúde e bem-estar aos pacientes. O autor descreve a resposta de relaxamento como um conjunto de reações biológicas e emocionais opostas àquelas geradas pela resposta de luta ou fuga característica do estresse. Uma série de aplicações clínicas do programa tem mostrado resultados significativos, como menor somatização (Nakao et al., 2001), melhor manejo da dor crônica e aguda (Schaffer & Yucha, 2004), melhora de condições relacionadas ao estresse (Esch, Fricchione, & Stefano, 2003), entre outros.

A meditação e outras técnicas orientais e de relaxamento também vêm sendo utilizadas em sistemas de saúde de alguns países, como Nova Zelândia (Duke, 2005), Canadá (Andrewsa & Boonb, 2005), Austrália (McCabe, 2005), Reino Unido (Ernst, Schmidt, & Wider, 2005) e Estados Unidos (Spiegel, Stroud, & Fyfe, 1998), sob a designação de medicina complementar alternativa (CAM). No Brasil, o Ministério da Saúde, através da Portaria nº 971, com base em um documento da Organização Mundial da Saúde, aprova a utilização de práticas complementares da Medicina chinesa, como acupuntura, homeopatia e meditação (Ministério da Saúde, 2006). Todavia, ainda não há publicações científicas que retratem a utilização da meditação no sistema de saúde, embora certamente seja utilizada na prática clínica pública e privada. Nas universidades brasileiras, também há escassez de investigações acerca do assunto. Tem-se notícia de dois grupos de pesquisa que vêm trabalhando na área, um bastante voltado para a pesquisa, no Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), e outro mais direcionado para a prática e a inserção da técnica no âmbito da saúde mental, na Clínica-Escola de Psicologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), onde é oferecido um serviço terapêutico gratuito à população.

(…)

Um estudo revelou que as pessoas que utilizaram a meditação de cunho espiritual tiveram maior redução da ansiedade, maior relato de afetos positivos e maior tolerância à dor, em comparação com o grupo que utilizou a meditação secular (Wachholtz & Pargament, 2005). Além disso, alguns autores sustentam que a meditação realizada fora de seu contexto original não é tão facilitadora de características tradicionalmente atreladas à prática, como níveis mais profundos de propósito na vida e auto-atualização (Shapiro et al., 2005). Entretanto, propõe-se que a meditação seja concebida como um processo multifatorial, em que muitos aspectos se inter-relacionam, mediando seus efeitos, como genética e traços de personalidade, motivações e valores, tanto pré-existentes como adquiridos com a própria prática e com as experiências individuais, além do tipo da técnica. Embora a espiritualidade possa ter um impacto positivo sobre o bem-estar e a saúde física e mental (Guimarães & Avezum, 2007; Peres, Simão, & Nasello, 2007), existe um limite que se refere às pessoas que não querem levar uma vida calcada na espiritualidade e que nem por isso devem ser impedidas de meditar ou de ter acesso à prática meditativa. Ademais, são necessários mais estudos comparando os diferentes tipos quanto aos seus mecanismos subjacentes e quanto a uma possível distinção do impacto de cada um.

Além das especificidades de cada tipo, ressalta-se que os estudos sobre meditação ainda suscitam opiniões divergentes quanto à aceitação da sua aplicabilidade e eficácia no campo da saúde. Alguns autores advertem que ainda são necessárias pesquisas com metodologias mais rigorosas para assegurar que a meditação seja, de fato, a responsável pelos efeitos observados (Baer, 2003; Bishop, 2002; Canter & Ernst, 2004). Entre os principais argumentos, estão a não randomização de muitas amostras, o número reduzido de participantes, a afiliação dos pesquisadores às organizações ligadas à técnica investigada e, até 2004, argumentava-se com a falta de uma definição operacional objetiva (Bishop et al., 2004; Cardoso et al., 2004).

Por outro lado, uma grande quantidade de estudos com resultados positivos sugere que a meditação pode ser eficiente no que tange a reações psicossomáticas e, especialmente, a experiências subjetivas, como a sensação de bem-estar e de crescimento pessoal. Com relação ao tempo necessário para que tais efeitos ocorram, não há uma precisão. Embora pesquisas revelem que com alguns meses já se pode observar uma diferença significativa em determinados estados, também há estudos indicando que, quanto maior o tempo de prática, maior a intensidade e a permanência das respostas produzidas. Portanto, a regularidade da prática constitui-se em mais uma variável mediadora dos efeitos da meditação e, possivelmente, em um diferencial na medida em que tais reações se transformam em aspectos mais duradouros e estáveis da personalidade.

Tendo em vista a relevância do estudo científico da meditação e de suas diversas facetas, sugere-se que esse é um campo a ser explorado nos centros de pesquisa do Brasil. O estágio ainda em desenvolvimento em que se encontram os estudos sobre meditação gera um solo fértil para a sua investigação, e possibilita, à medida que os resultados vão se tornando mais conclusivos, a sua inserção e disseminação na prática clínica. Além disso, recomenda-se que aqueles profissionais que já a utilizam em suas práticas terapêuticas relatem seus casos com o rigor científico necessário para que se inicie um movimento brasileiro de validação do uso da meditação como uma ferramenta destinada a promover a qualidade de vida nas suas diversas dimensões.

Referências

(…)

All the contents of this journal, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution License

SAF/SUL, Quadra 2, Bloco B
Edifício Via Office, térreo sala 105
70070-600 Brasília – DF – Brasil
Tel.: (55 61) 2109-0100
revista@cfp.org.br

meditacao unicamp campinas sp

Harvard Study Unveils What Meditation Literally Does To The Brain

Arjun Walia, December 11, 2014

https://www.collective-evolution.com/2014/12/11/harvard-study-unveils-what-meditation-literally-does-to-the-brain/

Numerous studies have indicated the many physiological benefits of meditation, and the latest one comes from Harvard University.

An eight week study conducted by Harvard researchers at Massachusetts General Hospital (MGH) determined that meditation literally rebuilds the brains grey matter in just eight weeks. It’s the very first study to document that meditation produces changes over time in the brain’s grey matter. (1)

“Although the practice of meditation is associated with a sense of peacefulness and physical relaxation, practitioners have long claimed that meditation also provides cognitive and psychological benefits that persist throughout the day. This study demonstrates that changes in brain structure may underlie some of these reported improvements and that people are not just feeling better because they are spending time relaxing.” – (1) Sara Lazar of the MGH Psychiatric Neuroimaging Research Program and a Harvard Medical School Instructor in Psychology

The study involved taking magnetic resonance images (MRI) of the brain’s of 16 study participants two weeks prior to participating in the study. MRI images of the participants were also taken after the study was completed.

“The analysis of MR images, which focused on areas where meditation-associated differences were seen in earlier studies, found increased grey-matter density in the hippocampus, known to be important for learning and memory, and in structures associated with self-awareness, compassion and introspection.” (1)

For the study, participants engaged in meditation practices every day for approximately 30 minutes. These practices included focusing on audio recordings for guided meditation, non-judgmental awareness of sensations, feelings and state of mind.

“It is fascinating to see the brain’s plasticity and that, by practicing meditation, we can play an active role in changing the brain and can increase our well-being and quality of life. Other studies in different patient populations have shown that meditation can make significant improvements in a variety of symptoms, and we are now investigating the underlying mechanisms in the brain that facilitate this change.” – (1) Britta Holzel, first author of the paper and a research fellow at MGH and Giessen University in Germany

(…)

Sources:

(1)  https://news.harvard.edu/gazette/story/2011/01/eight-weeks-to-a-better-brain/

https://www.princeton.edu/~achaney/tmve/wiki100k/docs/Grey_matter.html

Vida após a morte

Vida após a morte

Textos de Sri Chinmoy, do livro Morte e Reencarnação

 


 

compassion-sri-chinmoy-529x400Vida após a morte

 

     Existe vida após a morte?

 

A vida após a morte é inevitável. Se houvesse apenas uma vida sobre a Terra, seria-nos impossível cumprir aquilo que devemos cumprir. Deus, sendo todo Satisfação, não nos permitirá que fiquemos insatisfeitos. Ele sempre nos deseja verdadeiramente satisfeitos. Em uma só encarnação não conseguimos satisfazer a nossa aspiração, não podemos alcançar o Altíssimo. Portanto, aqui nós temos vida, e depois passamos por um túnel o qual chamamos de morte. Lá descansamos um pouco e então retornamos. Se não houvesse reencarnação, nenhuma alma seria capaz de manifestar a Verdade última. É impossível fazê-lo em uma só encarnação.

 

     Você disse que, de certa forma, o nosso corpo é como uma casca para a nossa alma, e que no tempo certo nosso corpo morre e se desfaz. O que acontece com a alma? O que ela faz? Quão longe vai?

 

A alma nunca morre; ela é o imortal dentro de nós. Quem morre é o corpo. Com a morte, a alma retorna gradualmente para a sua própria região.

Tão logo o corpo falece, o físico entra no mundo físico, o vital entra no mundo vital, a mente entra no mundo mental e o coração entre no mundo psíquico.

A alma retorna então à sua própria região, para um breve descanso. Lá, existem sete mundos superiores, como sete degraus de uma escada espiritual, e sete mundos inferiores. No momento em que a alma deixa o corpo, ela escala um degrau, e então sobe, sobe, sobe, e passa pelos sete degraus de consciência dos sete mundos superiores. Finalmente, ela adentra o mar de imensa paz, e lá descansa. A duração do descanso depende da alma em questão. Algumas almas retornam ao mundo após seis, dez ou doze anos. Quanto mais avançada for a alma, mais tempo leva para retornar. No caso de uma alma comum que não foi capaz de manifestar ou oferecer significativamente à Terra, ela geralmente retorna da região da alma em seis anos. Mas, caso a alma seja muito avançada, como é no caso dos Mestres Espirituais, ela virá apenas uma vez a cada trezentos ou quatrocentos anos. Ainda assim, se for a Vontade do Supremo, mesmo uma pessoa espiritual bastante avançada pode ser fadada a retornar após quinze ou vinte anos.

Antes de voltar para o mundo da manifestação, a alma procura o Senhor Supremo para uma entrevista. Eles têm uma conversa de coração-a-coração. A alma conta o quanto ela realizou em sua encarnação passada e o Supremo lhe diz o quanto ela deve realizar em sua próxima encarnação. Ao dizer a ela o que fazer, o Supremo fornece à alma o poder e luz necessários.

Cada vez que a alma vem abaixo, para o mundo, como um soldado divino ela entra no campo de batalha da vida e luta contra dúvida, obscuridade, ignorância, imperfeição, limitações, preocupações e outros defeitos. Ela busca revelar a sua própria divindade interior e estabelecer a Verdade divina na Terra na medida da sua capacidade. E, então, ao final de sua jornada em uma certa encarnação, ela retorna para a sua própria região. Quando a hora do retorno chega, ela avisa o Supremo sobre o que pretende fazer, e o Supremo sanciona ou desaprova o seu plano. Às vezes, a alma não possui absoluta clareza em seu julgamento e, então, o Supremo entorna sobre ela luz abundante.

 

 

     O que acontece com o vital na hora da morte?

 

Existem dois vitais. Um é o vital físico, o vital que está no físico. O outro é o vital central, o qual não pertence ao físico. Ele não se identifica com o físico, sendo completamente separado. Quando a alma deixa o corpo, o ser humano se decompõe em seus cinco elementos. O vital central segue para o envoltório vital. A mente permanece por um curto período com o vital, alguns dias ou meses, e então retorna para o nível da mente, para o envoltório mental. A alma fica no envoltório vital por dois meses, seis meses ou mesmo alguns anos, algo que depende de cada alma. Depois, ela segue para o mundo mental, e de lá para o mundo psíquico.

Enquanto o vital estiver no envoltório vital, ele poderá sofrer consideravelmente. Se o vital for obscuro e impuro, ele será torturado de maneira absolutamente impiedosa. Quando nosso terceiro olho está aberto, vemos que nenhuma punição humana pode ser tão severa ou tão cruel quanto a punição vital. Todavia, se o vital aspirou da sua própria maneira para se tornar um com a alma, se o vital escutou a alma enquanto o buscador estava na Terra, ele não sofrerá na região do vital. Caso o indivíduo seja espiritualmente avançado, ele praticamente nada sofre, pois conhece os caminhos daquele reino. Se um Mestre espiritual intervier, este poderá muito rapidamente levar uma alma para os outros mundos interiores. O mais rápido que um Mestre espiritual pode fazer isso é em dezenove dias.

Dentro do próprio vital existem mundos superiores e mundos inferiores. Na Terra nós temos países, mas lá eles são chamados de mundos. Aqui, dizemos que alguns países são maus e outros países são bons. Todos os mundos interiores, excetuando o vital, são bons, apesar de alguns serem mais elevados do que os outros. No vital, alguns mundos já não são bons. Quanto mais a alma se eleva acima do vital inferior, subindo para o vital elevado e em direção aos mundos psíquicos, melhor para ela. Nos mundos interiores elevados, as almas são tratadas de forma melhor e mais bem nutridas. Tudo é melhor.

 

 

     As circunstâncias em que uma pessoa morre determinam para onde vai após deixar o corpo?

 

Isso depende principalmente da consciência do indivíduo, a qual é composta das realizações acumuladas gradualmente durante toda a sua vida. Os meus bons discípulos irão imediatamente para um plano muito elevado se pensarem em mim na hora da morte. Se uma mãe é morta enquanto protege sua criança, sua alma vai para um mundo elevado. Quando um soldado morre defendendo o seu país enquanto este é atacado, ele irá para um mundo elevado.

Na Índia, havia uma época em que as esposas atiravam-se na pira funerária de seus maridos. As pessoas podem dizer que isso é suicídio, e certamente o é. Mas, nesses casos, as esposas não iam para os mundos inferiores inconscientes, lugares para onde as pessoas que cometem suicídio normalmente vão. Essas esposas tinham tremendo amor, devoção e unicidade com seus maridos, e Deus abençoou suas qualidades divinas e lhes concedeu a Graça de que fossem para mundos os quais teriam alcançado somente com base no desenvolvimento de suas almas.

Contudo, algumas esposas foram forçadas a fazer isso pela lei. Fizeram por medo, por necessidade, e não por um sentimento de amor ou unicidade. Para elas também, o tratamento no mundo interior não foi o mesmo daquelas que cometeram suicídio deliberadamente. Elas também foram para seus respectivos lugares, de acordo com o nível das suas almas. Mas aquelas que entregaram suas vidas em alegria e unicidade evidentemente criaram uma forte conexão com seus esposos, a qual será mantida em vidas futuras.

 

 

     Quando vamos para o outro mundo depois de deixarmos o corpo, lá existem formas ou tudo é amorfo?

 

Quando alguém morre, se a alma deseja ver seus familiares que ainda estão na Terra, a alma normalmente toma a forma que tinha na Terra para que os familiares possam reconhecê-lo. Todavia, grandes Mestres espirituais podem reconhecer a alma, independentemente da forma que esta tome. Mesmo caso a alma se mostre como um pilar de luz, o Mestre pode usar o seu terceiro olho e reconhecê-la imediatamente.

 

 

     O que acontecerá com as almas que não mais trabalham na Terra? Elas lotarão os outros mundos algum dia?

 

Existe muito espaço nos outros mundos. Lá, tratamos com a Infinidade.

 

 

     O que acontece com a alma de um animal após deixar o corpo?

 

Ela tem o seu próprio mundo. Cada alma tem a sua própria capacidade. A alma de um santo não irá para o mesmo lugar que a alma de um ladrão. O santo irá para um lugar muito mais elevado. Tudo depende da consciência que a alma revelou aqui na Terra. Assim, animais vão para um mundo adequado a eles. Não irão para um mundo onde as almas são altamente desenvolvidas.

 

 

     Enquanto estamos vivos, as nossas almas deixam o corpo, mesmo que por um segundo?

 

Por alguns segundos durante o dia a alma pode sair, mas a consciência da alma permanece no corpo em tais momentos. Este é o seu quarto e toda a sua vibração está aqui. Tão logo alguém chegue, essa pessoa sentirá imediatamente a sua vibração. Mas, se você sair e não voltar mais, então não haverá nada aqui. Se a alma permanecer afastada, então o seu próprio corpo se torna estranho; o próprio quarto é estranho a ela. Mas quando a questão é a morte, o corpo, como uma gaiola, é partido. E qual a utilidade de se permanecer em uma gaiola quebrada?

 

 

     Disseram-me que ver as lágrimas dos familiares e amigos traz grande alegria para a alma no momento da sua partida. É verdade?

 

Em geral, existem três tipos de almas humanas: primeiro, existem aquelas que chamamos de mundanas, não-iluminadas; depois, as almas boas, mas comuns; e, ainda, as almas grandiosas, extraordinárias. Quando uma pessoa comum morre, olha por todo o lado para ver se os seus entes próximos e queridos estão chorando por ela. Se vê que ninguém chora, ela sente um aperto no coração e diz a si mesma: “A minha vida toda eu os ajudei de várias maneiras. Agora vejam essa ingratidão!” Essas almas comuns estão tão apegadas aos seus entes queridos e à Terra que ficam entristecidas se, naquele último momento, os entes queridos não reconhecem o amor e sacrifício prestados. Existem ainda algumas almas não-iluminadas que tomam uma postura maliciosa se os familiares não lamentam pela sua morte e, após deixarem o corpo, retornam em uma forma incorpórea para assustar os entes queridos. Se existem crianças na família, o falecido pode tomar uma forma das mais feias e aparecer diante das crianças para assustá-las.

O segundo tipo de pessoa foi boa, doce e extremamente prestativa aos membros de sua família, e quando pensa que está prestes a morrer ela sente que deveria existir um laço de afeição e apego que dure para sempre. Esse tipo de pessoa não quer deixar o palco-Terra. Pensa que apenas o apego pode manter a conexão entre este mundo e o outro mundo, e, portanto, ela tenta atrair a máxima afeição, simpatia e cuidado dos seus entes queridos. Quando vê que seus entes queridos não demonstram simpatia nem tristeza alguma pela sua partida, ou não estão chorando amargamente, uma tremenda angústia toca a sua existência interior. Ele pensa: “Estou aqui tentando estabelecer algo permanente, mas não recebo ajuda ou cooperação alguma dos membros da minha família.” Mas não é o assim chamado amor humano, nem o apego humano, que pode criar um eterno laço divino entre a alma que parte e as almas que estão no mundo dos viventes. O amor que amarra seres humanos não pode nunca durar; é como uma corda de areia. Somente o amor divino transcende todas as barreiras.

Por fim chegamos às almas grandiosas, e isso quer dizer Mestres espirituais. Quando um Mestre deixa o corpo e vê que seus discípulos estão chorando amargamente pelo seu falecimento, ele sente pesar, porque os discípulos não o reconhecem completamente como um Mestre espiritual. Uma pessoa espiritual, alguém que tenha realizado Deus, vive em todos os planos; a sua consciência permeia todos os mundos. E, se os discípulos choram amargamente pela sua morte, sentindo que não mais o verão, então estarão colocando o seu Mestre na mesma categoria de uma pessoa comum. É como um insulto. O Mestre sabe que aparecerá ante os discípulos que estão orando sinceramente a ele ou que meditam e aspiram sinceramente. Sabe que todo o tempo estará guiando, moldando e modelando os seus discípulos. Sabe que será capaz de entrar em seus discípulos e que eles serão capazes de entrar nele. Naturalmente, se sentirá triste se os discípulos tomarem a postura, “Agora o Mestre se foi e nunca mais ouviremos dele. Nossas orações para ele serão em vão, e portanto é inútil orar. Vamos buscar outro Mestre ou tentar encontrar outro meio de fazer progresso espiritual.” Assim, os Mestres espirituais sentem pesar quando os seus entes mais queridos choram ou derramam lágrimas amargas por eles, ao passo que uma pessoa comum ficaria feliz com o ato.

Sim, por um certo tempo os discípulos podem se sentir tristes por terem perdido o Mestre deles, porque não mais verão o Mestre no corpo físico. Mas a tristeza não deve durar, porque a alegria, o intenso amor e o todo-permeante cuidado da alma devem alcançar os discípulos que sinceramente aceitaram o Mestre como o único piloto de suas vidas.

 

 

     Em algum momento os Mestres espirituais se mostram no corpo sutil após a morte?

 

Na Índia, muitos Mestres espirituais provaram aos seus entes queridos que a morte não é o fim, ao aparecer de forma muito vívida no corpo sutil. Darei a vocês apenas um exemplo. Havia um grande Mestre espiritual chamado Sri Ramakrishna. Quando ele deixou o corpo, a sua esposa se tornou viúva. É costume na Índia que, quando o marido falece, a esposa pare de usar suas jóias e adornos. Mas quando a esposa de Sri Ramakrishna estava retirando as suas jóias, ele apareceu vividamente diante dela e disse: “O que você está fazendo? Você não deveria tirar esses adornos e jóias. Pelo contrário, de agora em diante você deveria usar jóias e braceletes de ouro. Agora sou imortal. Você agora deve usar algo ainda mais belo, significativo e frutífero.” Houve muitos incidentes como esse. Eles só não são registrados.

 

 

     A alma perdura na Terra após a morte, para poder ajudar os seus entes próximos e queridos?

 

Algumas almas não perdem muito tempo e simplesmente vão embora. Esperam por apenas alguns dias para ver se os seus familiares e amigos se importam com elas. Após três ou quatro dias, elas já viram o suficiente.

Todavia, algumas almas sábias permanecem, apesar de serem muito luminosas e poderosas, e procuram auxiliar seus amigos e familiares antes que tenham de entrar no mundo mental. Se podem ajudar os seus entes queridos de alguma forma, elas o fazem. E elas ajudam de muitas formas, inspirando os seus entes queridos. Às vezes aparecem para um amigo ou familiar em um sonho, trazendo alguma luz e oferecendo inspiração. Ou vêm até eles e dizem: “Não há nada duradouro na Terra. Da mesma forma que eu deixei o corpo, você também deixará. O meu tempo se esgotou e agora não posso fazer mais nada por Deus na Terra. Assim sendo, a melhor coisa a se fazer é realizar algo por Deus na Terra. Não desperdice tempo. Faça o máximo que puder.” Antes de deixar o corpo, cada alma sente pena por ter desperdiçado tanto tempo. Todos nós perdemos tempo.

A alma pode também dar respostas às pessoas através da sorte ou de comunicação interior. Ela possui muitas maneiras de ajudar os seus entes próximos e queridos.

 

 

     Por que as pessoas conservam o corpo por algumas horas ou mesmo alguns dias depois que a alma parte?

 

Pode-se dizer que é porque os familiares desejam ver os restos mortais. Eles sentem pesar, pois aquele corpo, aquela pessoa, os amou ou ajudou durante a vida. O pai não vê a alma da mãe durante sua vida, mas sim o corpo e, portanto, é apegado ao físico. Esse é o motivo pelo qual ele deseja manter o corpo por quanto tempo for possível. Quando a alma parte, o corpo é inútil, como uma peça de roupa velha, suja, colocada no cesto de lixo. No caso de uma pessoa comum, depois que deixa o corpo ela paira sobre a casa, jardim ou algum lugar próximo. Deus oferece à alma uma chance de ver se a família realmente se importava com ela, e a alma oferece à família uma chance de demonstrar se esta realmente sentiu a sua morte. Depois de algumas horas, normalmente cerca de onze ou mais, a alma parte e não retorna.

 

 

     Caso um buscador não realize Deus na Terra, poderá a sua alma ver ou realizar Deus após ter deixado o corpo?

 

Cada alma está fadada a ver Deus, pois a alma vem diretamente de Deus. Quando a alma deixa o corpo, ela vai para os mundos vital, mental, psíquico, e finalmente para o mundo próprio das almas. Lá, ela tem um breve descanso. E antes de retornar em sua encarnação seguinte, a alma tem uma entrevista com Deus. A alma deve ficar diante do Supremo e contar o quanto realizou durante sua encarnação anterior. Ela verá as possibilidades para a sua próxima encarnação, fazendo, em seguida, promessas ao Supremo. Os objetivos e ideais que a alma expressa para a sua tarefa no mundo da revelação e manifestação devem ter a aprovação do Supremo. E, às vezes, o próprio Supremo diz a ela: “Espero tal coisa de você. Procure alcançar isso na Terra por Mim.”

A alma que vê Deus e conversa com Ele é como um estranho para nós, pois a maioria de nós nunca viu a alma aqui na Terra. A não ser que tenhamos livre acesso à alma, a não ser que sejamos capazes de ouvir a voz da alma e tentemos escutar aos seus ditames, é simplesmente impossível para nós realizarmos Deus. Depois de deixar o corpo, cada alma vê a Deus do mesmo modo que eu vejo você por estar diante de você. Mas, quando alguém realiza Deus, é completamente diferente. A consciência por completo – a consciência física, a consciência individual – se funde com a Luz e Bem-Aventurança infinitas. Quando lemos livros espirituais ou escutamos outras pessoas, podemos sentir que Deus é nosso. Contudo, unicidade consciente é outra coisa. Quando conscientemente sentimos Deus como nosso, então a cada momento de nossa vida interior, de nossa existência interior, experimentamos paz ilimitada. Exteriormente poderemos estar entusiasmados ou conversando, mas em nossa vida interior seremos um mar de paz, luz e deleite. Quando esse mar de paz, luz e deleite chega até o nosso ser físico, até a nossa consciência física, a divindade dentro de nós pode se manifestar na Terra. No Céu, não podemos manifestar e nem realizar coisa alguma. Se a alma não realiza Deus enquanto está na Terra, presa às correntes do finito, também não poderá fazê-lo quando estiver em seu próprio mundo. A realização pode ser alcançada somente através do físico.

 

 

     Guru, nós o veremos quando deixarmos nossos corpos?

 

Se você é meu verdadeiro discípulo, está fadado a me ver quando deixar o corpo. Isso eu posso lhe assegurar. Se for meu verdadeiro discípulo, não será capaz de morrer sem o meu conhecimento e consentimento. Naquele momento, colocarei-me bem diante de você e o levarei em minha carruagem. Eu o carregarei numa carruagem dourada, prateada ou de bronze. Você verá. Esta é a promessa que os grandes Mestres espirituais fazem: eles levarão as almas de seus discípulos.

 

 

     Veremos você depois que tiver deixado o corpo?

 

Você poderá me ver num sonho, por um ou dois minutos. É muito comum que, ao deixar o corpo, os Mestres espirituais abram o terceiro olho de seus discípulos por alguns minutos.

 

 

     Todas as pessoas o verão no mundo interior após a morte?

 

A região das almas é um lugar grande, muito vasto. A Terra também é um lugar vasto. Se você não tivesse vindo até o meu Centro, eu não o teria visto. No mundo interior, eu me movimento de um lugar para o outro. Mas, sendo o meu verdadeiro quartel-general no lugar onde uma pessoa estiver, então certamente ela me verá. Teremos um grupo de pessoas que realmente me amam e que possuem devoção genuína, e iremos todos residir no mesmo plano. Mas aqueles que não se importam comigo, aqueles que não sabem nada sobre mim e não têm conexão alguma comigo, não me verão, a não ser que seja a Vontade expressa do Supremo. Aquelas pessoas verão a outros, os quais possuem o mesmo nível de desenvolvimento. Elas residirão com aqueles a quem amavam.

 

Vida e morte

Vida e morte

Textos de Sri Chinmoy, do livro Morte e Reencarnação

 


 

o que e meditarMORTE

 

A morte é natural. Nada natural pode ser prejudicial. Morte é descanso. Descanso é força disfarçada para uma aventura posterior.

 

No presente estágio de evolução humana, conquistar a morte pode ser uma impossibilidade. Mas superar o medo da morte não é apenas praticável, mas inevitável.

 

A morte é normalmente o sinal de que a alma, sob certas circunstâncias, exauriu as possibilidades para seu progresso num dado corpo.

 

Quando a força da possibilidade perde para a força da impossibilidade, isso se chama morte.

 

Uma vida inútil é um cordial convite à morte.

 

A morte é o hífen entre o crescente medo do homem e suas energias-vida que se retraem.

 

Aquele que prefere a morte à vida apenas tem de escalar a árvore. Mas aquele que prefere a vida à morte não apenas tem de subir, mas também deve retornar para fazer o trabalho de Deus.

 

Quando a morte se aproxima do homem, seu ser psíquico diz a ela: “Morte, espere, deixe-me ver o que desejo fazer em meu próximo nascimento.” A morte diz: “Desculpe-me, mas você está pedindo o favor à pessoa errada. Um segundo de atraso da minha parte pode adicionar algo valioso à sua experiência com essa vida.”

 

A morte diz que é imortal. As conquistas do homem dizem: “Morte, você está certa. Mas a verdade sobre o assunto é que nós brilharemos perpetuamente em seu próprio seio. Não apenas isso, nós brilharemos para sempre em você, através de você e além de você.”

 

 

VIDA

 

Vida é amor.

Amor é vida.

A vida satisfaz a Deus através do amor.

O amor satisfaz a Deus na vida.

 

A vida tem uma porta interior. A aspiração a abre. O desejo a fecha. A aspiração abre a porta por dentro. O desejo a fecha por fora.

 

A vida tem uma chama interior. Essa chama interior recebeu o nome de aspiração. E quando mantemos nossa aspiração acesa ela irá, sem falta, transmitir o seu brilho refulgente para toda a criação de Deus.

 

A vida tem uma voz interior. Essa voz é a Luz do Supremo. A vida é proteção, a vida é perfeição, a vida é satisfação, quando nos abrimos para a Luz do Supremo.

 

Deus está na vida. Mas a vida precisa despertar para a Luz de Sua Presença, Seus Pés Transcendentais.

 

Cada dia é a renovação da vida. Cada dia é o renascimento de nossa certeza interior de que cada indivíduo é o instrumento escolhido do Supremo para revelar e satisfazer o Divino infinito aqui na Terra.

 

Uma vida que se volta para o exterior não encontra nada além de problemas, tortura, tristeza e frustração. A vida que flui para o interior descobre o mar de paz e bem-aventurança.

 

Para iluminar nossa vida nós precisamos de pensamentos puros. Cada pensamento puro é mais precioso do que todos os diamantes do mundo, pois o Alento de Deus reside apenas nos pensamentos puros do homem.

 

Como iniciar a jornada interior da vida? Com a simples idéia, o pensamento espontâneo de que Deus-realização é seu direito de nascença. Por onde começar? Aqui, do interior. Quando começar? Agora, antes do próximo segundo.

 

A vida está sempre trabalhando. Ela é sempre-ativa, dinâmica, e procura ajudar a alma a completar sua tarefa ainda não cumprida, a Missão divina. A alma necessita da ajuda da vida para se revelar completamente. A vida precisa da ajuda da alma para sua plenitude, tanto física quanto espiritual.

 

A preocupação renitente e a desesperança são as piores inimigas, a acabar com a vida em toda sua inspiração divina. Na ausência da preocupação não haverá desesperança. Sua vida se tornará a beleza de uma rosa, a canção do despertar, a dança do crepúsculo.

 

O nascimento e a morte brincam, brincam juntos. A sua brincadeira é o jogo da harmonia. E brincam sempre no seio infinito da vida.

 

O significado da morte e experiências de quase morte

O significado da morte e experiências de quase morte

Textos de Sri Chinmoy, do livro Morte e Reencarnação

 


 

soul-birds-para-meditar-mandala-sri-chinmoyO significado da morte e experiências de quase morte


     Em uma de suas meditações diárias em seus livros, você se refere à morte como uma obstrução. Eu achava que você considerava a morte uma transição, que simplesmente nos permite renascer e fazer progresso contínuo.

 

Eu disse que a morte é uma transição. Disse que a vida e a morte são como dois cômodos: a vida é a minha sala e a morte é o meu quarto. Ao dizer que a morte é uma obstrução, falo da morte de um ponto de vista diferente. O que é uma obstrução? Uma obstrução é algo que nos impede de ir mais longe. É um limite através do qual não passamos.

Esta vida é uma oportunidade dourada que nos foi dada pelo Supremo. Mas, oportunidade é uma coisa e realização é outra. Nossa evolução espiritual, nosso progresso interior, é bastante certo, lento e, ao mesmo tempo, muito significativo. Naturalmente, existem pessoas que por centenas e milhares de encarnações seguirão um ciclo de vida e morte normal, natural. Num dia, na Eternidade de Deus, elas O realizarão. Mas alguns aspirantes sinceros e genuínos fazem uma promessa plena de alma de que nesta encarnação, aqui e agora, eles realizarão Deus. Isso é dito apesar de saberem que esta não é nem a primeira nem a última vida deles. Eles sabem que existem pessoas que realizaram Deus e, portanto, não querem esperar por alguma encarnação num futuro distante. Sentem que é inútil viver sem Deus-realização e almejam alcançá-la tão logo quanto possível. Nesses casos, se a morte chega e eles ainda não realizaram Deus, então ela é uma obstrução. Caso alguém destinado a morrer com a idade de cinquenta anos, alguém que esteja aspirando com toda alma, possa atrasar a sua morte por vinte ou trinta anos, tudo com a mais bondosa aprovação do Supremo, então o que fará durante esse tempo? Continuará com sua aspiração sincera, com sua meditação mais profunda, com sua contemplação mais elevada. Será como um corredor seguindo em direção à sua Meta, sem obstáculo. Durante esses vinte ou trinta anos adicionais ele pode alcançar o final mais longínquo, onde sua Meta reside.

Mas, se a morte interfere, então ele não realiza Deus nesta vida. Muito poucas almas podem encontrar imediatamente o fio da sua antiga aspiração na próxima vida. Tão logo se entra no mundo, as forças cósmicas não-divinas vêm e atacam; e a ignorância, as limitações e imperfeições do mundo tentam encobrir a alma. Durante os anos de formação, na infância, não lembramos de nada. Uma criança é inocente, ignorante e desamparada. Então, após alguns anos, a mente começa a funcionar. Quando se tem entre oito e doze anos de idade, a mente tenta complicar tudo. Portanto, pelos primeiros onze, doze ou treze anos da próxima encarnação, quase todas as almas, apesar de serem grandiosas e espirituais, esquecem suas conquistas do passado e seu clamor interior mais profundo. Existem Mestres espirituais ou buscadores grandiosos que têm algumas experiências elevadas durante a infância, ou que começam a pensar ou cantar sobre Deus em uma idade bastante tenra, mas normalmente não há um elo entre as conquistas da alma na Terra durante a encarnação anterior e os anos da infância desta encarnação. Existe uma ligação, uma ligação muito tênue, mas ela não opera de maneira significativa pelos primeiros doze ou treze anos.

Algumas almas não recuperam a aspiração de sua encarnação passada antes dos cinquenta ou sessenta anos. Do ponto de vista espiritual, esses cinquenta ou sessenta anos foram tempo perdido. Portanto, se nesta encarnação alguém perde cinquenta anos, e se na encarnação passada já perdeu vinte ou trinta anos, então serão oitenta anos desperdiçados. Nesse caso, digo que a morte é uma verdadeira obstrução. Precisamos remover a obstrução com nossa aspiração, nossa aspiração continuada. Esta deveria ser como uma bala, atravessando a barreira da morte.

Mas, mesmo que leve algum tempo, por fim o ser interior virá à tona conscientemente, e a pessoa, em sua nova encarnação, começará a orar e meditar em Deus o mais poderosa e sinceramente. E verá que nada do seu passado foi de fato perdido. Tudo ficou guardado na consciência-Terra, que é o depósito comum para todos. A alma saberá o quanto realizou na Terra, e tudo isso estará guardado de uma maneira muito segura dentro da consciência-Terra, do depósito-Terra. Aqui, você deposita dinheiro no banco. Então, pode ir à Inglaterra e depois de seis anos você pode voltar e retirar o seu dinheiro. A alma faz o mesmo após ter deixado o corpo por dez ou vinte anos. Todas as conquistas da alma são mantidas intactas, dentro da Mãe-Terra. Então, quando a alma retorna para trabalhar por Deus na Terra, a Mãe-Terra as devolve.

Na maioria dos casos, nada é perdido, exceto tempo, durante aqueles poucos anos da infância. Mas é melhor realizar Deus em uma encarnação, de modo a não perder mais uma vez a nossa aspiração consciente durante o período transitório. Se pudermos permanecer na Terra por cinquenta ou cem anos com aspiração formidável e sincera, então podemos conquistar muitas coisas. Se tivermos ajuda de um Mestre espiritual verdadeiro, é possível realizar Deus em uma encarnação, ou talvez em duas ou três. Se não houver um Mestre verdadeiro e se não houver aspiração, levará centenas e centenas de encarnações.

 

     Quando morremos, qual a melhor coisa a se fazer?

 

Para uma pessoa espiritual, a melhor coisa é lembrar da presença de seu Mestre. Os entes queridos deveriam colocar uma foto de seu guia espiritual bem à frente do buscador e deixar que o Mestre esteja com ele espiritualmente quando o buscador der o último suspiro. Deixe que o Mestre esteja dentro do próprio alento, do último suspiro do buscador. Então é dever e responsabilidade do guia interior fazer o que for necessário. No seu caso, bem antes de você deixar o seu corpo, seu Mestre já terá deixado o corpo dele. Você pode meditar em mim e eu o ajudarei.

No ano passado o seu pai morreu. Se você estivesse fisicamente presente, o que deveria ter feito é meditar o mais devotadamente possível. Apesar de seu pai não ser conscientemente meu discípulo e não ter aceitado o nosso caminho, quem sabe o que fará ele em sua próxima encarnação? Você sabia que havia alguém que poderia ter auxiliado seu pai enquanto estava morrendo, portanto deveria ter meditado em mim. Sempre se conhece alguém que possa ser de ajuda em qualquer situação. Quando se está doente, chama-se o médico. Quando se têm problemas legais, pede-se ajuda a um advogado. Se quisesse ajudar o seu pai, imediatamente deveria ter pensado em mim e meditado em mim. Se tivesse aspiração ou poder espiritual formidável, teria dado a ele toda a sua força espiritual. Sua força espiritual é a aspiração, e a fonte de sua aspiração está dentro do seu Mestre, do seu Guru. Portanto, se quiser ajudar seus entes queridos, é assim que deve agir.

Contudo, se estiver referindo-se a outras pessoas, para saber o que é o melhor a se fazer quando elas estão morrendo, é preciso saber quem deu a elas a maior alegria na Terra, ou em quem eles tinham a maior fé. Se alguém tinha toda fé no Cristo, mesmo que você não siga o caminho de Cristo, imediatamente invoque, consciente e o mais devotadamente possível, a presença de Cristo. Naquele momento, ajude seu amigo a aumentar sua fé no Cristo. Pode repetir em voz alta o nome de Cristo, trazer ao seu amigo uma imagem do Cristo e ler a Bíblia. Dessa maneira você o estará ajudando em sua aspiração. Se uma pessoa espiritual que me conhece está morrendo, naquele momento você deve ler meus escritos e falar sobre mim. Mas se a pessoa é apenas um conhecido, você deve aumentar a sua fé à maneira dela.

 

 

     Existe alguma maneira especial para meditarmos com alguém que está morrendo?

 

Suponha que você foi ver um conhecido no hospital. Então você deve se concentrar no coração dele. Não precisa olhar para a pessoa, apenas coloque toda a sua concentração no coração dela.

Tente primeiro imaginar um círculo no coração dela, e então sinta que esse círculo está girando como um disco. Isso significa que a energia-vida está a rodar conscientemente na aspiração ou no receptáculo da pessoa que está doente. Através da sua concentração e meditação, você estará entrando no pulsar do coração daquela pessoa. Quando entra nas batidas do coração, então a sua consciência e a consciência aspirante ou moribunda da outra pessoa rodam juntas. Enquanto estiverem rodando, ore com todo o seu ser para o Supremo, que é o seu Guru e o Guru de todos: “Que a Sua Vitória seja alcançada. Que a Sua Vontade seja feita através desse indivíduo. Quero apenas a Sua Vitória.” Vitória não implica que a pessoa será curada, não. Deus pode ter decidido por uma ótima razão que aquela pessoa precisa deixar o corpo. Se você orar a Deus de uma maneira entregue e a pessoa deixar o corpo, estará satisfazendo a Deus e lutando pela Vitória de Deus. Se Deus quiser levá-la ao Céu para que lá ela possa fazer algo por Ele, então naturalmente será a Vitória de Deus quando ela deixar o corpo. Se orar pela Vitória do Supremo, com sua aspiração você estará entregando toda a responsabilidade ao Supremo. Quando você conscientemente entrega a responsabilidade ao Supremo, está fazendo a coisa certa.

 

 

     Qual deveria ser a postura dos entes queridos de alguém que está morrendo?

 

Somos todos como passageiros num mesmo trem. O destino chegou para um dos passageiros. Ele deve descer nesta parada, mas nós devemos seguir adiante. Devemos saber que a hora dessa morte foi sancionada pelo Supremo. Sem a aprovação ou tolerância do Supremo, ser humano algum pode morrer. Portanto, se temos fé no Supremo, se temos amor e devoção pelo Supremo, sentimos que o Supremo é infinitamente mais compassivo do que qualquer ser humano, infinitamente mais compassivo do que nós, que desejamos ficar com nossos entes queridos. Mesmo se a pessoa que está morrendo for nosso filho, nossa mãe ou nosso pai, nós temos de saber que ela é infinitamente mais querida pelo Supremo do que é por nós. O Supremo é nosso Pai e nossa Mãe. Se um membro da família vai de encontro ao seu pai ou mãe, os outros membros nunca se entristecerão.

Se nos voltamos para a vida espiritual e queremos ter verdadeira alegria, devemos saber que podemos obtê-la apenas entregando nossa vida à Vontade do Supremo. Podemos agora não saber qual a Vontade do Supremo, mas sabemos o que é entrega. Se o Supremo quiser tirar alguém de nossas vidas, precisamos aceitar. “Seja feita a Vossa Vontade.” Se essa for a nossa postura, então teremos a maior alegria. E essa alegria faz o melhor por aquele que está partindo. Quando nos entregamos completamente ao Supremo, essa entrega se torna poder e força adicional para a alma que aqui sofre aprisionada e está partindo. Portanto, se realmente entregarmos nossa vontade à Vontade do Supremo, tal entrega trará paz verdadeira, uma paz duradoura, para a alma que está prestes a deixar o palco-Terra.

Aqueles que começaram a meditar e se concentrar podem estar recebendo vislumbres de suas encarnações passadas. Se acreditamos que tivemos um passado e sabemos que temos um presente, podemos também realizar que teremos um futuro. Sabendo disso, devemos estar sempre conscientes desta verdade: não existe morte. No Bhagavad Gita foi dito: “Como um homem descarta suas roupas velhas e veste novas, também a alma descarta o corpo físico e toma um novo corpo.” Sabendo que a pessoa que morre está apenas deixando seu corpo antigo antes de tomar um novo, e possuindo ela também esse mesmo conhecimento, como pode haver medo?

Não sabemos exatamente o que é a morte e por isso queremos ficar aqui na Terra pelo maior tempo possível. Mas a morte verdadeira não é a dissolução do corpo físico. A verdadeira morte, a morte espiritual, é outra coisa.

 

 

     Eu tinha um jovem amigo que morreu há apenas seis semanas. No dia anterior à sua morte, ele disse ao pai que morreria no dia seguinte, e de fato morreu. Como ele pôde saber?

 

Por que não deveria? Não é ele filho de Deus? Na época da morte, se uma pessoa pensa em Deus todo o tempo, ela pode receber a mensagem através de seu próprio ser interior. Quando minha mãe estava para morrer, eu estava a dez quilômetros de distância. Ela sofria de gota. De manhã cedo, ela disse: “Esta manhã estarei deixando o corpo. Onde está Madal? Chamem-no.” Então um dos meus primos trouxe a mensagem até mim e eu fui. Ela tomou minha mão, e então sorriu, seu último sorriso. Ela se foi um minuto depois que eu cheguei, como se tivesse esperado por mim. Agora eu devo ser sincero. Minha mãe era muito, muito espiritual, e costumava praticar a vida interior no sentido mais rigoroso da palavra. Mas quanto ao seu amigo, devo dizer que centenas e milhares de pessoas souberam de suas mortes antecipadamente. Para pessoas espirituais é bastante fácil. É comum que saibam com alguns meses de antecedência.

 

 

     Está escrito na palma da mão de uma pessoa quando ela morrerá?

 

Pela palma da mão nem sempre se pode dizer quando alguém morrerá. Caso a morte seja acidental, a palma pode não estar correta. Mas a fronte está sempre certa. Ela mostra uma vibração clara. Nela estará escrito o que acontecerá ao indivíduo amanhã, e será visível na região do nariz se uma morte acidental ocorrerá.

Eu tive um amigo que gostava muito de mim. Seu nome era Ravi. Num certo dia, às seis horas da tarde, ele praticava arremesso de dardo. Quando ele me deu o dardo, vi forças de morte nele, mas pensei: “A melhor coisa é esquecer, ou orar a Deus.” Eu não queria ficar sabendo. No dia seguinte, eu estava descendo as escadas, e ele estava perto da escadaria. Vi novamente a mesma força e praguejei contra mim mesmo, dizendo que era tudo alucinação da mente. Uma hora e meia mais tarde, me disseram que ele tinha sofrido um acidente junto com seu amigo, ao dirigir uma moto atrás de um caminhão. Eles estavam seguindo o caminhão, quando este reduziu a velocidade. O amigo dele pensou que estaria diminuindo sua velocidade também, mas, ao contrário, ele a aumentou, arremetendo contra o caminhão. O motorista do caminhão ouviu o barulho e levou ambos ao hospital, onde eles foram colocados num quarto. A mãe de Ravi quis vê-lo, mas não pôde, pois o médico disse que ambos os casos eram graves. Acho que ele viveu apenas três horas. Uma aparição havia vindo até mim enquanto eu praticava arremesso de dardo. O dia em que ele morreu era o dia da nossa competição de arremesso de dardo, à qual eu não fui; fui apenas ao funeral. Neste caso específico, Ravi estava destinado a morrer.

 

 

     Quando uma pessoa está doente e, do ponto de vista médico, não há esperança de recuperação, seria bom dizer-lhe que ela morrerá e ajudá-la a se preparar para partir?

 

É uma pergunta bastante complicada – cada caso necessita ser considerado separadamente. A maioria das pessoas quer viver, não quer morrer, por não saber o que é a morte. Talvez pensem que a morte seja um tirano que as torturará de todos os modos e por fim as destruirá. Quando o karma de alguém acaba e o Supremo quer que ele deixe o corpo, se ainda tiver sede vital e desejos insatisfeitos – mesmo que a alma não os tenha – o indivíduo desejará permanecer na Terra, sem desejar obedecer à Vontade do Supremo. O que você deveria fazer quando uma pessoa está nesse nível? Se disser a ela que Deus não deseja a sua permanência na Terra por mais tempo, que já teve todas as experiências necessárias naquele corpo, ela poderá entender errado. E dirá: “Deus não quer que eu deixe o corpo – vocês é que o desejam.” Ela pensará que você é cruel e impiedoso. Portanto, se você sabe que é a Vontade do Supremo que ela deixe o mundo, a melhor coisa é falar silenciosamente à alma da pessoa e tentar inspirá-la a aceitar a Vontade de Deus.

Contudo, se a pessoa é bastante espiritual e uma buscadora sincera, ela mesma dirá aos seus familiares e entes queridos: “Orem a Deus para que Ele me leve. Eu terminei o meu jogo aqui na Terra; leiam para mim livros espirituais – as escrituras, a Bíblia, o Gita. Deixem que eu ouça apenas coisas divinas, espirituais, as quais me ajudarão a começar minha nova jornada.” Existem muitas, muitas pessoas na Índia que, quando sentem que seus dias estão contados, dizem: “Quanto mais cedo Ele me levar, melhor.” Quando minha mãe estava morrendo, ela costumava ler o Gita constantemente durante os seus últimos dias, com a seguinte visão: “Agora irei até o Eterno Pai. Estou me preparando.” Um paciente desse tipo tem a maior alegria em conhecer e obedecer à Vontade do Supremo.

 

 

     Os médicos devem sempre tentar manter as pessoas vivas tanto quanto for possível, ou depende do caso?

 

Se uma pessoa é espiritual, os médicos e familiares deveriam tentar mantê-la na Terra por quanto tempo for possível, porque pessoas espirituais estão sempre lutando contra a morte. Mas pode acontecer que alguém completamente imprestável esteja morrendo em duas horas. Mesmo se você o mantiver na Terra por mais vinte e quatro horas, ele não pronunciará o nome de Deus uma vez sequer. Mas se alguém tem a capacidade de entoar com toda a alma o nome de Deus apenas uma vez mais durante a sua vida, então ele realizará algo no mundo da alma. Isso será adicionado às outras realizações nesta vida e na próxima encarnação sua vida será um pouco melhor.

Na Índia, algumas pessoas vivem por mais de duzentos anos, mas não têm tempo para orar a Deus nem mesmo uma vez em seis meses ou em um ano. De um ponto de vista espiritual, essas pessoas são como um pedaço de rocha sólida. Para elas, cada ano representa mais tempo desperdiçado. Mas se alguém puder permanecer na Terra por apenas uma hora a mais para invocar a presença do Supremo durante essa hora, então é naturalmente melhor que permaneça na Terra. Mesmo que alguém esteja inconscientemente pensando em Deus, então é melhor que continue na Terra pelo tempo que for possível.

 

 

     Se os médicos tirarem a vida de um paciente que supostamente deveria permanecer vivo, eles adquirirão karma ruim?

 

Quando os médicos fazem algo errado conscientemente, criam problemas esplêndidos para suas futuras encarnações. Os médicos não são perfeitos – eles podem não saber o suficiente sobre ciência médica. Se cometerem um engano e acidentalmente matarem um paciente, sua ignorância é perdoada pelo Supremo. E, se não podem dar atenção suficiente porque têm muitos pacientes, o Supremo verá se é ou não culpa deles. Agora, se deliberadamente tirarem a vida de alguém apenas para se livrar do paciente, a lei do karma está presente para cuidar deles.

 

 

     Há uma moça que está completamente inconsciente há semanas. Eles dizem que ela pode viver sem consciência anos a fio. E num caso desses?

 

Se há a menor esperança da força-vida estar operando em e através dela, a melhor coisa é tentar mantê-la na Terra. Enquanto a alma está no corpo, existe esperança para tal pessoa. Se ela permanece na Terra por cinco meses, é porque há um motivo.

 

 

     Eles não estão tentando trazê-la de volta à consciência, estão apenas mantendo seu corpo vivo, e alegam que o cérebro dela não funciona, que não existem ondas cerebrais.

 

Devem continuar tentando, porque a energia-vida ainda opera. Se a alma não estiver presente, as máquinas não poderão manter o corpo vivo por mais do que algumas horas. Quando existe a vibração da alma numa casa, mesmo se alguém sair dela, você sentirá sua presença remanescente. Da mesma forma, o coração continua batendo porque permanece a vibração da alma.

 

 

     Existe alguma razão para esse tipo de experiência?

 

O Supremo está usando Sua lei do karma. Suponha que os pais fizeram algo grave para a moça em uma encarnação anterior. Agora a alma diz: “Pois não, nesta encarnação eu os purificarei. Eu perdurarei, perdurarei e perdurarei. Vocês terão de pagar pelas suas ações erradas. Nesta encarnação eu me vingarei.” Se a alma sabe que a paciente não será curada, e se for também de conhecimento da família, então é vingança.

A alma pode estar desfrutando a experiência, pode estar esperando pelo momento certo de ir embora ou pode simplesmente estar passando por uma experiência. Sentimos que a pessoa está realmente morta, mas quem sabe que tipo de experiência a alma está tendo? Ao invés de cinco minutos, ela pode continuar por cinco anos. Qualquer coisa é possível. Pode não ser uma experiência saudável, mas a alma deseja passar por ela. Os seres humanos comuns frequentemente fazem algo por muitos anos unicamente para mostrar ao mundo que aquilo é possível, mas esse algo pode não ser necessariamente encorajador ou inspirador.

 

 

     Você pode adiar a hora da morte com o seu poder-vontade?

 

Certamente.

 

 

     Você pode fazê-lo indefinidamente?

 

Mestres espirituais podem adiar a hora da morte indefinidamente se for a Vontade de Deus. Uma pessoa espiritual recebe esse poder quando atinge a perfeição espiritual, porque então estará absolutamente entregue a Deus. Um discípulo vai até o Guru e se entrega completamente. Da mesma forma, um Guru deve ser completamente entregue a Deus, o Infinito. Nessa entrega ele se torna um com Deus. Ele não viola a Lei de Deus – ele apenas procura satisfazê-la. Se Deus diz: “Eu quero que você deixe o corpo agora”, ele deixa o corpo. Mas, se ele vê que forças hostis o estão atacando e causando sua morte prematuramente, ele usa seu poder, porque Deus tem a intenção de que ele viva na Terra para ajudar a humanidade.

Ter esse poder não é de utilidade se você deseja permanecer na Terra por duzentos ou trezentos anos apenas para levar uma vida ordinária animal. Uma tartaruga vive por centenas de anos, mas isso não significa que ela seja melhor do que um ser humano. Do que precisamos é de iluminação direta, conhecimento da Verdade, conhecimento da Luz e conhecimento de Deus. Não são os anos que contam, mas sim as realizações.

 

Por que a morte é necessária?

Por que a morte é necessária?

Textos de Sri Chinmoy, do livro Morte e Reencarnação


 

mortereencarnacao     Por que a morte é necessária? Por que a alma não pode continuar a progredir e evoluir no mesmo corpo?

 

Por enquanto, morrer é preciso – a morte nos é necessária. Nada podemos fazer por um tempo muito prolongado, de uma vez só. Jogamos durante quarenta e cinco minutos ou uma hora e, então, precisamos descansar. Acontece o mesmo com a nossa aspiração. Suponha que vivamos até os sessenta ou setenta anos na Terra. De sessenta ou setenta anos podemos meditar por vinte ou trinta dias e, mesmo assim, por apenas algumas horas. Um ser humano comum sequer consegue aspirar continuamente por uma hora em sua meditação. Como terá ele a aspiração, a realidade ou a consciência que o levará à Verdade eterna ou à Consciência imortal, todas de uma só vez?

Por enquanto, a morte nos ajuda por um lado – nos permite que descansemos. Quando então retornamos, o fazemos com uma nova esperança, uma nova luz, uma nova aspiração. Mas, se fôssemos dotados de uma aspiração consciente, uma chama ascendente ardendo dentro de nós o tempo todo, veríamos que a morte física pode ser facilmente conquistada. Chegará o dia em que a morte não será necessária. Mas ainda não possuímos tal capacidade; somos fracos. Mestres espirituais, almas libertas, no entanto, possuem domínio sobre a morte, deixando seus corpos quando o Divino assim deseja.

Um homem comum que carregou o peso de uma família toda por vinte, trinta ou quarenta anos dirá: “Estou cansado. Agora preciso descansar.” Para ele, a morte tem significado; a alma entra na região das almas e desfruta de um breve descanso. Mas, para um guerreiro divino, para um buscador da Verdade Última, a morte não tem significado. Ele quer fazer progresso contínuo, sem interrupções. Portanto, tentará viver em eterna, constante aspiração. E com essa eterna aspiração buscará conquistar a morte, para que possa se tornar uma eterna manifestação exterior do Divino que há em seu interior.

 

 

 

Superando o medo da morte através da meditação

 

 

Como podemos vencer o medo da morte?

 

Neste momento você tem medo da morte porque pensa em si mesmo como o corpo, a sua mente, os seus sentidos. Mas chegará o dia em que, pela força de sua aspiração, oração e meditação, pensará em si mesmo não como o corpo, mas sim como a alma. Pensará em si próprio como um instrumento consciente de Deus. E, já que Deus é onipresente, já que Ele o está utilizando para Se manifestar, como poderia Ele, algum dia, abandoná-lo à morte?

Conquistar o medo da morte depende de quanto amor você tem por Deus e quão sinceramente precisa Dele. Se você precisa de alguém, imediatamente estabelece um acesso interior a essa pessoa. Se a sua necessidade de Deus é constante, devotada e plena de alma, então você estabelece no mundo interior um acesso livre ao Amor de Deus, à Compaixão de Deus, ao Cuidado de Deus. E, se pode sempre sentir o Amor, a Compaixão e o Cuidado de Deus, como pode ter medo da morte? Ao sentir que precisa de Deus e que Ele precisa de você, ao sentir Deus dentro de si mesmo, à sua frente e ao seu redor, a morte não mais existe para você. Quando Deus está longe da sua mente, quando não Se encontra dentro de seu coração e não Se encontra em nenhum lugar próximo, nesse momento a morte é real para você. À parte disso, onde há morte? O corpo físico pode deixar a Terra, mas a alma, que é parte consciente de Deus, permanecerá conscientemente em Deus e por Deus, através da Eternidade. É você quem decide pensar em si mesmo como o corpo ou como a alma. Se não aspira e pensa em si mesmo como o corpo, você já está morto na vida espiritual. Mas, se pensa em si mesmo como a alma, isso significa que já desenvolveu uma conexão interior com Deus. Se souber que a alma é a sua verdadeira realidade, você não terá medo algum da morte.

 

     A meditação pode ajudar as pessoas a conquistarem o medo da morte?

 

Certamente. A meditação pode facilmente ajudar o buscador a conquistar o medo da morte. Ela representa comunicação consciente com Deus. Alguém que possa estabelecer sua unicidade com Deus, Aquele que é todo Vida, não terá medo da morte. Conquistará não apenas a morte, mas também algo mais. Conquistará sua dúvida com relação à existência de Deus na sua vida e na vida dos outros. É muito fácil sentir que Deus existe apenas em nós, ou apenas em pessoas espirituais. Todavia, se meditamos, torna-se claro que Deus existe não apenas dentro de nós, mas também dentro de pessoas das quais não gostamos ou não apreciamos.

 

 

 

Vida eterna

 

 

     Você pode dizer algo sobre Eternidade e a Vida Eterna?

 

Sendo um homem espiritual, posso dizer na força de minha própria realização interior que a alma não morre. Sabemos que somos eternos. Viemos de Deus, estamos em Deus, crescemos em Deus e satisfaremos a Deus. Vida e morte são como dois quartos – ir da vida à morte é como ir de um aposento a outro. Onde estou agora é a sala de estar, e aqui estou falando e meditando com vocês, vendo-os. Aqui devo mostrar meu corpo físico; devo trabalhar, ser ativo e expor a minha vida. Contudo, há um outro aposento, o meu quarto. Lá eu descanso e durmo, e não preciso expor a minha existência a ninguém. Estarei por conta própria.

Originamo-nos da Vida Infinita, da Vida Divina. Essa Vida Infinita permanece na Terra por um curto período de tempo, digamos cinquenta ou sessenta anos. Nesse ínterim possuímos em nosso interior a vida terrena. Todavia, dentro dessa vida terrena reside a Vida ilimitada. Depois de um certo tempo, essa Vida novamente passa pelo corredor da morte por cinco, dez, quinze ou vinte anos. Quando entramos nesse corredor, a alma sai do corpo, para um curto ou longo descanso, e retorna para a região da alma. Lá, se a pessoa foi espiritual, a alma retomará a Vida Eterna, a Vida Divina que existia antes do nascimento, que existe entre o nascimento e a morte, que existe na morte e, ao mesmo tempo, vai além da morte.

Agora, enquanto vivemos na Terra, podemos alcançar o reino da Vida Eterna através de nossa aspiração e meditação. Todavia, simplesmente entrando na Vida infindável, não possuiremos essa Vida; temos de crescer nela conscientemente. Quando entramos para a vida de meditação, por fim precisaremos nos tornar parte e parcela da meditação. E, quando formos capazes de meditar vinte e quatro horas por dia, estaremos constantemente vivendo a Vida sem fim. Em nossa consciência interior devemos nos tornar um com a alma. Quando vivemos no corpo, sempre existe morte. No momento em que o medo chega à nossa mente, no momento em que forças negativas chegam à nossa mente, nós morremos de imediato. Quantas vezes ao dia nós morremos! O medo, a dúvida e a ansiedade estão constantemente destruindo nossa existência interior. Mas quando vivemos na alma, não existe morte. O que há é uma constante evolução de nossa consciência, de nossa vida de aspiração.

 

 

O inferno existe?

 

     É o inferno um lugar nos mundos vitais ou é apenas um estado de consciência?

 

No nível físico-mental, o inferno é um lugar, e serve para a experiência da alma. Se você levar uma vida ruim irá para lá, onde existe tortura verdadeira, inimaginável. Principalmente para aqueles que cometeram suicídio, a tortura é infinitamente pior do que ser frito em óleo quente. O sofrimento que os suicidas passam no físico e vital sutis é impensável, intolerável. Não terão uma nova encarnação por um longo período. Após sofrer no mundo vital por muitos anos, quando finalmente encarnam, terão defeitos: cegueira, paralisia, retardo mental e todo o tipo de coisas. E isso não dura apenas uma encarnação. Se não forem perdoados por um Mestre espiritual ou pela Graça de Deus, poderá perdurar por algumas encarnações. Não bastando isso tudo, desde o início eles criam uma perturbação para toda a família em que nascem. Por exemplo, se um suicida encarna sendo insano, trará sérios problemas para toda a família. E essas almas também aumentam o seu karma ruim, pois continuam agindo da mesma maneira, sem mudar. Mas se a Graça de Deus se faz presente, ou se um Mestre espiritual intervém, a alma é auxiliada.

Quando vivemos na consciência física bruta ou na consciência-corpo, o inferno é realmente um lugar. Mas no nível espiritual mais elevado, devemos saber que o inferno, como o Céu, é um plano de consciência. Tanto o Céu quanto o inferno começam na mente. No momento em que pensamos em algo bom, no momento em que oramos e meditamos, e tentamos oferecer a luz interior que recebemos em nossa meditação e oração, começamos a viver no Céu. No momento em que pensamos maldades, criticamos e acalentamos pensamentos ruins sobre alguém, entramos no inferno. Nós criamos o Céu e o inferno. Com os nossos pensamentos divinos criamos o Céu. Com os nossos pensamentos ruins, insensatos, não-divinos, criamos o inferno dentro de nós. Céu e inferno são ambos estados de consciência em nosso interior. Quando buscamos em nosso interior profundo, vemos que o universo inteiro está lá dentro. Dentro deste corpo físico está o corpo sutil e dentro do corpo sutil, no coração, encontramos a presença da alma. E, de lá, se buscarmos ainda mais profundamente, veremos o universo inteiro.

 

 

A alma e a evolução no planeta Terra

 

 

     A alma pode reencarnar em outros mundos após a morte?

 

A alma que entrou em um corpo humano não pode e não reencarna em outros mundos. A alma pode passar através de outros mundos: os envoltórios físico, vital, mental e psíquico. Tão logo a alma deixa o corpo, ela passa através desses planos seguindo até a sua própria região. Mas lá a alma não reencarna. A alma está apenas atravessando esses lugares, os quais são parte da sua jornada de descoberta. Ela visita esses planos, mas não reencarna neles. A alma reencarna apenas no mundo físico, na Terra. Aqui e somente aqui deve a alma manifestar sua divindade.

Existem sete mundos superiores e sete mundos inferiores, e, durante o sono ou a meditação, a alma de todos viaja para essas outras regiões. Ela pode atravessar um mundo após o outro e ir até o mais elevado; ou pode vagar pelas regiões inferiores. Uma pessoa comum não é capaz de sentir os movimentos da alma, mas um grande aspirante espiritual ou um Mestre espiritual pode saber como está a alma e em que plano se localiza. Mas a reencarnação acontece apenas aqui na Terra, neste mundo.

 

 

     Você poderia, por favor, explicar por que a alma evolui apenas no planeta Terra?

 

A alma se manifesta apenas neste planeta porque ele está em evolução. Evolução significa progresso constante, realizações constantes. Quando se quer fazer progresso, quando se quer ir além, então este é o lugar. Nos outros mundos, os deuses cósmicos e outros seres estão satisfeitos com o que já alcançaram. Eles não querem ir sequer um centímetro além do que já alcançaram. Mas aqui na Terra você não está satisfeito, eu não estou satisfeito, ninguém está satisfeito com o que alcançou. Insatisfação não significa que estamos zangados com alguém ou com o mundo, não. Insatisfação significa que temos aspiração constante para ir além e além. Se tivermos apenas uma gota de luz, desejaremos então ter mais luz. Queremos sempre expandir.

Quando a criação iniciou, as almas tomaram caminhos diferentes. Aquelas que buscavam a Verdade derradeira, a Verdade infinita, aceitaram o corpo humano para que um dia pudessem possuir, revelar e manifestar a Verdade aqui na Terra. De acordo com a nossa tradição indiana, existem milhares de deuses cósmicos. Existem tantos deuses e divindades regentes quanto seres humanos. Esses deuses e divindades regentes permanecem nos mundos mais elevados, seja no mundo vital, no mundo intuitivo ou em outro plano elevado. Neste exato momento de acordo com a sua capacidade limitada, eles têm mais poder do que nós. Mas quando estivermos libertos e realizados, completamente unos com a Consciência do Supremo, com a Vontade do Supremo, então transcenderemos a condição deles.

A nossa capacidade humana é infinitamente maior do que a das assim chamadas divindades regentes, porque elas estão satisfeitas, ao passo que nós não estamos satisfeitos com o que temos. Na verdade não é uma questão de insatisfação, mas sim de aspiração constante. Sabemos que o nosso Pai Supremo é infinito. Sentimos que ainda não nos tornamos o Infinito, mas clamamos por expandir e expandir. Este planeta possui tal anseio interior. De um lado, é obscuro, ignorante, e não dá valor à vida divina. Mas por outro lado, tem um anseio interior tremendo, do qual a maioria dos seres humanos ainda não está ciente. Quando o anseio interior atua, então não há fim para as nossas possibilidades, não há fim para as nossas conquistas. E, quando conquistarmos o Infinito, teremos ido adiante das conquistas de outros mundos.

 

 

     É a alma quem determina pelo que passará enquanto estiver no plano da Terra?

 

É a alma quem determina o que ela fará aqui na Terra. Todavia, a nossa mente humana frequentemente faz amizade com a ignorância e a escuridão. Assim, certas almas têm dificuldades, algumas menores e outras maiores. A alma aceitou o destino humano. Se a mente física continua a tomar parte nos desejos mundanos e usufruir as coisas mundanas, naturalmente a alma precisará lutar mais bravamente para se erguer da ignorância. Por algum tempo ela pode ficar completamente encoberta pela ignorância.

Mas, ao mesmo tempo, existem algumas almas que não têm problemas pessoais. São bastante grandes e vastas. Esse tipo de alma poderosa sente que toda a humanidade é sua família. Com toda a sinceridade, ela toma os problemas dos outros sobre si mesma, como se fossem seus próprios problemas. Essas almas são muito graciosas e estão dispostas a aceitar e abrigar o sofrimento de outros. Os grandes Mestres espirituais aceitam as dificuldades da humanidade como se fossem suas. Se quisessem se separar da humanidade, não sofreriam. Mas, aceitando a humanidade, por ela escolhem sofrer, e o fazem muito intensamente. Um ser humano comum que tenta ajudar os outros que estão sofrendo fica preso no sofrimento deles. Já uma alma realizada aceitará a todos e a tudo, todavia sempre inundada de Deleite absoluto. Mesmo enquanto sofre ela sente Deleite interior, porque possui união constante com o Divino, com o Supremo.

 

 

 

Como saber qual a sua encarnação passada

 

 

     Ajudaria sabermos qual tipo de animal fomos nas encarnações passadas ou que tipo de pessoa éramos?

 

Quando entramos para a vida interior e desenvolvemos a nossa consciência interna, a nossa capacidade interior, reminiscências de encarnações passadas acabam vindo à tona. Em nossa meditação profunda, podemos facilmente perceber que tivemos vidas anteriores. E, se sabemos que tivemos um passado, que o presente ainda não está completo, e que nós mesmos não permaneceremos incompletos para sempre, o anseio do presente nos levará para o futuro, onde alcançaremos a nossa plenitude. Ao mesmo tempo, poderemos acelerar o nosso progresso se tivermos um Mestre. Se formos muito dedicados à vida interior e pudermos contar com o Guru, seremos capazes de fazer o progresso de vinte encarnações em uma vida.

Agora, imagine que tomamos conhecimento de que fomos um cervo em nossa última encarnação animal. A única vantagem é que podemos pensar em nossa velocidade e dizer: “Eu corria tão rápido na encarnação animal. E naquela época eu não tinha a alma avançada que tenho agora. Nesta encarnação, eu correrei ainda mais rápido!” Tão logo a lembrança de que corríamos rapidamente em uma encarnação passada nos vem, sentimos inspiração para correr velozmente nesta encarnação. Se conhecermos a nossa encarnação passada, poderemos utilizá-la positivamente, e nessa hora a inspiração vem rapidamente à tona. Se alguém sabe que era um buscador, sente alguma alegria e confiança. “Eu comecei a minha jornada em uma encarnação passada, apesar de ter sido uma estrada muito longa e árdua. Nesta encarnação eu ainda trilho o mesmo caminho, mas desta vez já não tenho mais toda aquela distância a percorrer. Também, será um pouco mais fácil porque eu tenho uma pequena ajuda, tenho a capacidade, tenho a disposição, tenho a experiência. Com um Mestre espiritual guiando-me, alcançarei a minha meta facilmente.”

Todavia, apenas em ocasiões muito raras fazemos bom uso do conhecimento das nossas encarnações passadas. Na maior parte dos casos, estar ciente delas não é nada encorajador. Se soubermos que na encarnação passada fomos ou um ladrão ou algo não-divino, isso nos traria alguma inspiração ou aspiração? Não, e pensaremos imediatamente: “Ó, eu era um ladrão, e nesta encarnação estou tentando me tornar um santo. É impossível! De nada adianta tentar me tornar uma pessoa espiritual nesta vida.” Mesmo quando fazemos algo de errado nesta encarnação, precisamos de um longo tempo para esquecer do desespero, pois argumentamos: “Eu era tão mau. Eu fiz isso. Eu fiz aquilo. Como poderei agora me tornar puro? Como serei capaz de realizar Deus?” Mesmo se tivermos feito algo errado, digamos, quatro anos atrás, aquilo pode ainda nos incomodar.

Imagine que estamos cientes de que em nossa encarnação passada éramos bastante grandiosos e nesta encarnação vemos que não somos ninguém. Nos sentiremos desolados, culpando a Deus e a nós mesmos, dizendo: “Se fui tão grandioso, como é que nesta encarnação eu sou tão imprestável? Que coisa impensável eu fiz para merecer este destino? Deus é tão indiferente; Ele não se importa comigo.” Mas, na verdade, nós não O compreendemos. Através de nós, Deus quer nesta encarnação uma experiência diferente, e pensamos que Ele está sendo cruel.

Um aspirante busca alegria interior, a alegria que verdadeiramente o satisfaz e também a Deus. Isso ele nunca receberá de suas encarnações passadas. Se, mergulhando em uma de suas encarnações passadas, vir que era o presidente dos Estados Unidos, ainda assim não terá satisfação. Verá que, como presidente, a sua vida também era cheia de desolação, frustração e todos os tipos de sofrimento. Pela verdadeira alegria, um aspirante deve seguir em frente na vida espiritual, com a sua própria aspiração e clamor interior, com a sua própria concentração e meditação.

O melhor para nós é simplesmente não pensar no passado. A nossa meta não está atrás de nós, mas sim à nossa frente. A nossa direção é avante, e não para trás. Para uma pessoa espiritual eu sempre digo: “O passado já foi.” Digo isso pois o passado não nos deu aquilo que almejamos. O que desejamos é a Deus-realização. Conhecer as nossas encarnações anteriores não nos ajuda em nossa Deus-realização. Esta depende inteiramente do nosso choro interior. O importante não é o passado, mas sim o presente. Devemos dizer: “Eu não tenho passado. Estou começando aqui e agora, com a Graça de Deus e a minha própria aspiração. Agora começarei a correr. E o quão longe corri no passado é irrelevante. Pensarei apenas em quanto correrei nesta vida.”

Agora vemos o passado como algo completamente diferente do presente, e o presente como algo completamente diferente do futuro. Mas, uma vez que realizamos Deus, o passado, presente e futuro tornam-se um, formando um círculo, o qual é o nosso próprio ser interior, a nossa vida. Nesse momento, poderemos facilmente ver as nossas encarnações anteriores e saber o que fomos.

Se quiser saber sobre as suas encarnações passadas, certamente Deus lhe dará a capacidade. Mas a coisa mais importante não são as encarnações passadas ou futuras, mas, sim, o que você quer aqui e agora. Você quer Deus, e se medita com toda alma, Ele está fadado a conceder-lhe a dádiva. Você O possuirá, e Ele o clamará como Seu.

Desejo dizer uma coisa mais aos meus discípulos. Agora, permitam que eu me vanglorie um pouco, e vocês também podem se gabar um pouquinho. Vocês tiveram vidas espirituais nas encarnações passadas. Se não tivessem algum preparo, acham que Deus os teria trazido até mim? Não, ele os teria levado para algum outro Mestre que fosse um centímetro inferior a mim. Mestres espirituais do meu calibre recebem discípulos que buscaram ou realizaram algo no passado. Alguns fizeram mais, outros menos. Mas todos fizeram algo, senão teriam tido outro Mestre espiritual e não a mim. Deus é bondoso tanto comigo quanto com vocês. Ele não enviará alunos de jardim de infância para o professor de ensino médio. Guardará os alunos de jardim de infância para os professores que não podem ministrar aulas mais avançadas. Em raras ocasiões, um ou dois discípulos vêm até mim após algumas poucas encarnações humanas, mas essas poucas almas têm um desejo intenso de transcender a sua presente consciência.

 

 

     Caso alguém seja um buscador bastante avançado e desenvolva a capacidade de ver as suas encarnações passadas, isso irá, na verdade, dificultar o seu progresso? Em outras palavras, é sempre ruim se um buscador descobrir que foi um ladrão ou algo assim no passado?

 

Se você medita o mais sinceramente nesta vida, a sua força interior irá automaticamente se desenvolver, e você alcançará o ponto onde não será perturbado mesmo se descobrir que era o pior criminoso em uma encarnação anterior. Sabe que veio aqui para se transformar, para ir em direção ao Divino. O Senhor Buddha revelou todas as suas encarnações anteriores: ele foi um cabrito e muitas outras coisas. Mas, porque tinha realizado Deus e alcançado a Verdade altíssima, foi fácil para ele dizer o que foi em nascimentos anteriores. Era irrelevante o fato de ele ter sido bastante mundano em suas encarnações anteriores.

 

 

     Se um homem morre e possui muita estima e compaixão por um cão ou outro animal, isso fará com que reencarne como um animal também? Soube de uma história em que, na Índia, algo aconteceu a um cordeirinho enquanto um grande sábio estava meditando. O sábio tomou conta do cordeiro e ficou bastante afeiçoado, o que fez com que se tornasse também um cordeiro em sua próxima encarnação.

 

A maior escritura da Índia e também a mais extensa no mundo é chamada Mahabharata. No Mahabharata existe um bom número de histórias em que um ser humano mais tarde reencarna como animal. Existe uma história famosa sobre um rei chamado Bharata, que tinha muito apreço por um cervo, e que supostamente se tornou um cervo em sua encarnação posterior. Ramakrishna, o grande Mestre espiritual, demonstrava muito afeto a Swami Vivekananda, o seu mais querido discípulo. Ele costumava procurar o discípulo para falar com ele, e as pessoas achavam que Ramakrishna era louco. Um dia Vivekananda disse a ele: “O que você está fazendo? Não conhece a história do Rei Bharata, que, de tão apegado ao seu cervo, tornou-se um cervo em sua próxima encarnação? A sua sorte será a mesma que a dele, se pensar constantemente em um ser humano comum como eu.” Ramakrishna levou o que Vivekananda disse a sério e perguntou à Mãe Kali: “É verdade que o meu destino será similar ao do Rei Bharata?” Ela disse: “Isso é besteira! Você gosta de Naren [Vivekananda] porque vê Deus nele. Não é porque ele é belo ou algo assim. Não, você gosta dele porque a manifestação de Deus é expressa nele. Por isso fica tão feliz em vê-lo.”

Portanto, se demonstrar compaixão a alguém, isso não significa que se tornará aquela pessoa. Se um pedinte pede esmola e você demonstra a sua profunda compaixão por ele e lhe dá dinheiro ou comida, isso não quer dizer que você mesmo se tornará um pedinte. De maneira similar, se tiver um cão, você pode demonstrar o seu amor pelo cão, porque ele é extremamente leal a você e por outras coisas. Mas isso não implica que você se tornará um cão por admirar as qualidades do seu amado cão. As boas qualidades, a lealdade do cão, você pode, sim, possuir em sua existência humana, mas sem viver uma vida animal. Simplesmente por demonstrar apego a um animal, você não se tornará um animal, pois já passou por aquele estágio. O que se aproveita são as boas qualidades do animal.

 

 

     É possível para um indivíduo se lembrar de detalhes das suas encarnações passadas?

 

A alma pode facilmente lembrar-se de suas encarnações passadas, mas não deseja fazê-lo. Digamos que em uma encarnação passada você estava vivendo em Connecticut e agora está vivendo em Porto Rico. Por que deveria lembrar-se diariamente de como era a sua casa em Connecticut ou quantos quartos havia lá? O seu dever agora é ficar em Porto Rico, na sua casa atual. Se alguém perguntar onde você vive, você dirá: “Eu vivo em Porto Rico.” E se alguém perguntar o número de quartos da sua casa, imediatamente pensará nessa casa e não na sua casa anterior.

Por favor, não dê atenção alguma ao passado. Agora você deve fazer o seu próprio trabalho. Deve manifestar as qualidades que Deus lhe concedeu. Você tem de fazer tudo aqui e agora. A alma não se importa muito com o corpo em que viveu numa encarnação anterior. Ela pode se lembrar que em uma encarnação passada as circunstâncias, o ambiente e as oportunidades eram melhores. Mas a alma não se importa. Ela quer apenas satisfazer a Deus à maneira própria Dele.

Você aceitou o seu destino. Trabalhará e estudará aqui em Porto Rico. A alma também se sente assim. Ela diz: “Agora estou neste corpo. Deixe-me manifestar o quanto eu puder. Pensar sobre o que eu poderia ter feito no passado não resolverá os meus problemas. Apenas o que farei agora poderá solucionar todos os meus problemas.”

Caminhar em sentido contrário seria uma perda de tempo. A nossa meta está à nossa frente, e não atrás de nós. A alma não se importa nem um pouco com o passado. Ela deseja apenas alcançar a meta. A Deus-realização se encontra à nossa frente, e não em nosso passado. Se caminharmos para trás, estaremos desperdiçando o nosso tempo.

 

 

     Todas as almas passam por centenas ou milhares de encarnações antes da realização?

 

Sim, apenas Mestres espirituais não passam por tantas encarnações. Existem algumas exceções entre os Mestres espirituais, mas a maioria deles não deseja passar por tantas encarnações.

 

 

 

 

Suicídio

 

 

Às vezes, as pessoas suicidam-se ateando fogo em si mesmas como protesto contra a guerra. Do ponto de vista espiritual, o que se ganha com isso?

 

Em uma família, frequentemente os irmãos lutam entre si. Então a mãe diz: “Se vocês não pararem, eu cometerei suicídio.” Conheço muitos casos onde os pais cometeram suicídio quando sentiram que era impossível manter a harmonia na família. Os filhos mudam imediatamente. Ao ver que seus pais morreram por causa das suas brigas, começam uma nova página na vida. Mas isso não dura, e logo estão os irmãos brigando novamente.

Do ponto de vista espiritual, o suicídio não serve a propósito algum. A mãe se sacrificou por seus filhos. Através de seu próprio sacrifício físico ela achava que criaria harmonia, mas no mundo vital não há escapatória, não há perdão para ela. Ela irá para o mundo vital pela sua tolice, e lá ficará. Por que ela não teve a sabedoria de ver que seus filhos não são seus filhos, mas filhos de Deus? Se Deus deu a ela esses filhos, então por que ela não buscou Deus, para que iluminasse a consciência deles? Por que não orou a Deus pela sua harmonia e paz?

O mundo permanecerá ignorante a não ser e até que o Supremo ilumine a consciência mundial. Se sacrificarmos nossas próprias vidas para trazer paz, os problemas do mundo nunca serão solucionados.

Muitos mártires, aspirantes e personalidades espirituais cometeram suicídio, mas aquilo não resolveu os problemas do mundo. Tais problemas se resolverão apenas através da aspiração, ao orar a Deus pela iluminação do mundo, enquanto estamos na Terra. Nossa morte nunca transformará a face do mundo. Mas se invocarmos a Bênção de Deus, a Graça e o Cuidado de Deus, o problema poderá ser solucionado.

 

 

     É o inferno um lugar nos mundos vitais ou é apenas um estado de consciência?

 

No nível físico-mental, o inferno é um lugar, e serve para a experiência da alma. Se você levar uma vida ruim irá para lá, onde existe tortura verdadeira, inimaginável. Principalmente para aqueles que cometeram suicídio, a tortura é infinitamente pior do que ser frito em óleo quente. O sofrimento que os suicidas passam no físico e vital sutis é impensável, intolerável. Não terão uma nova encarnação por um longo período. Após sofrer no mundo vital por muitos anos, quando finalmente encarnam, terão defeitos: cegueira, paralisia, retardo mental e todo o tipo de coisas. E isso não dura apenas uma encarnação. Se não forem perdoados por um Mestre espiritual ou pela Graça de Deus, poderá perdurar por algumas encarnações. Não bastando isso tudo, desde o início eles criam uma perturbação para toda a família em que nascem. Por exemplo, se um suicida encarna sendo insano, trará sérios problemas para toda a família. E essas almas também aumentam o seu karma ruim, pois continuam agindo da mesma maneira, sem mudar. Mas se a Graça de Deus se faz presente, ou se um Mestre espiritual intervém, a alma é auxiliada.

Quando vivemos na consciência física bruta ou na consciência-corpo, o inferno é realmente um lugar. Mas no nível espiritual mais elevado, devemos saber que o inferno, como o Céu, é um plano de consciência. Tanto o Céu quanto o inferno começam na mente. No momento em que pensamos em algo bom, no momento em que oramos e meditamos, e tentamos oferecer a luz interior que recebemos em nossa meditação e oração, começamos a viver no Céu. No momento em que pensamos maldades, criticamos e acalentamos pensamentos ruins sobre alguém, entramos no inferno. Nós criamos o Céu e o inferno. Com os nossos pensamentos divinos criamos o Céu. Com os nossos pensamentos ruins, insensatos, não-divinos, criamos o inferno dentro de nós. Céu e inferno são ambos estados de consciência em nosso interior. Quando buscamos em nosso interior profundo, vemos que o universo inteiro está lá dentro. Dentro deste corpo físico está o corpo sutil e dentro do corpo sutil, no coração, encontramos a presença da alma. E, de lá, se buscarmos ainda mais profundamente, veremos o universo inteiro.

 

 

     Se alguém morre de maneira violenta, a sua alma é submetida ao mesmo sofrimento a que é submetida a alma de alguém que comete suicídio?

 

Não, não é o mesmo. Se alguém se torna vítima de guerra ou se morre violentamente em um acidente de carro, é porque algumas forças ruins a levaram. No entanto, se alguém destrói o próprio corpo, ele se torna o agressor. Portanto, vítima e agressor não podem ser colocados na mesma categoria.

 

 

     Mas e se um prisioneiro político comete suicídio para acabar com o insuportável sofrimento? Essa pessoa teria o mesmo tipo de punição que alguém teria ao tirar a própria vida como um capricho de escapismo?

 

Depende dos méritos e deméritos. Durante a guerra, quão desumana e brutalmente as pessoas nos campos de concentração foram torturadas e mortas. Mas, e se eles mesmos tiraram suas próprias vidas porque não queriam ser mortos ou surrados sem motivo? Saibamos que existe algo chamado isenção de Deus. Digamos que essas pessoas são inocentes e estão sendo mortas. Para que não sejam mortas pelo inimigo, elas podem desejar tirar suas próprias vidas.

Na Índia e também em outros lugares ocorreram muitos casos onde dois guerreiros estão lutando e um deles sabe que o outro certamente já venceu, sendo uma questão de minutos ou segundos até que seja destruído ou derrotado. Este imediatamente dará um fim à sua vida. O seu sofrimento não seria o mesmo caso houvesse simplesmente cometido suicídio.

 

 

     A alma sofrerá se uma pessoa cometer hara-kiri, uma forma de suicídio considerada honrada no Japão?

 

Depende da particularidade de cada caso. Normalmente, as pessoas cometem suicídio porque não conseguem encarar a realidade; elas têm problemas emocionais ou os seus desejos não são satisfeitos. Mas cada caso é diferente e apenas Deus pode decidir. No caso de Mestres espirituais, estes podem deixar o corpo quando quiserem. Mas eles não ferem o físico. A alma sai de maneira ocultista e espiritual. Mas primeiro eles devem ter a permissão do Supremo.

 

 

     Se alguém tenta algo quase impossível para salvar a vida de outra pessoa e morre nessa tentativa, seria como suicídio?

 

Deve-se saber o motivo. A mãe que vê o filho se afogando pode não saber que a intenção de Deus é que ela permaneça na Terra e cuide de seus outros filhos. Ela vê apenas que seu filho está se afogando e então tenta salvá-lo. Caso ela morra, isso não seria suicídio.

 

     A sua filosofia afirma que a alma está sempre fazendo progresso, mas como você concilia isso com o fato de que quando alguém comete suicídio a sua alma cai?

 

Quando se comete suicídio a alma da pessoa na verdade não cai. Mas permanece em um certo lugar e é encoberta por infinitos mais véus de ignorância. É a consciência do indivíduo que cai, retornando ao ponto de partida, quase até à consciência mineral, onde não há evolução. A alma fica eclipsada por abundante ignorância, isto quer dizer, infinitas camadas de ignorância. Antes, talvez a alma tivesse dez camadas, mas agora possui incontáveis camadas de ignorância. Ela deve começar tudo novamente, removendo-as uma a uma. É claro, fica infinitamente mais difícil para a alma levar o indivíduo à perfeita perfeição, libertação ou salvação.

Mas se o Supremo quiser agir em um ser humano em particular, o qual cometeu suicídio, em ocasiões muito, muito raras, o Supremo pede aos Mestres espirituais, os quais possuem a capacidade, que cuidem daquela alma e que não permitam que ela seja envolvida por tão vasta ignorância. Nesses casos, o que quer que a alma já possua é suficiente para trazer a Graça e Compaixão do Supremo, e Ele não permitirá que um véu a cubra mais do que o habitual. Entretanto, isso é feito somente em ocasiões muito raras.

De outra forma, se alguém comete suicídio, a evolução pára indefinidamente para ele – por cem, duzentos, quinhentos, seiscentos anos ou mais. Ele não consegue ir adiante, e a carga mais pesada é colocada em seus ombros. O processo de evolução pára. Por ter violado as leis do Jogo Cósmico, ele deve se submeter à punição cósmica. Essa punição não pode nunca ser concebida por qualquer ser humano na Terra. A pior tortura terrena não é nada quando comparada com a punição cósmica que o indivíduo recebe quando comete suicídio.

Você não pode dizer às forças cósmicas: “Eu fiz algo errado, mas não é da sua conta. Alcançarei a minha meta apenas quando tiver vontade.” Você saiu do Jogo Cósmico intencionalmente, sem a permissão de Deus e contra a Sua intenção. Ele não permitiu que você deixasse o jogo, mas ativa e abertamente você O contrariou e tentou arruinar o jogo. Para essa má ação, a punição é das mais severas, tão intensa que não podemos senti-la com o nosso coração humano, e somos incapazes de imaginá-la com a nossa mente humana.

 

 

 

 

Cremação e enterro

 

 

 

 

     Qual a diferença entre a cremação e um enterro comum?

 

A diferença exterior você sabe: quando há cremação, o corpo é queimado; quando há enterro, o corpo é colocado num esquife e enterrado. Particularmente adoradores do fogo são os indianos. Sentem que o fogo não só consome tudo, mas também purifica tudo. Portanto, para o fogo nós temos um deus, cujo nome é Agni. Oramos a Agni por purificação e auto-conhecimento, e também entregamos nossos mortos a ele.

Do ponto de vista espiritual, sabemos que o corpo veio a existir a partir de cinco elementos: terra, água, ar, éter e energia. Dos cinco elementos a casca material veio à existência, e com a ajuda do fogo ela retorna aos cinco elementos. Com a cremação, o corpo físico se dissolverá em purificação absoluta, que aqui significa transformação.

Mas, no Ocidente, aqueles que preferem o enterro também têm sua interpretação espiritual. Surge uma espécie de compaixão espiritual, pois o corpo nos serviu tão fielmente, e então dizemos: “Oh!, eu utilizei este corpo por tantos anos e nunca dei descanso a ele. Agora a alma não está mais lá; o pássaro voou. Deixe-me dar uma chance de descanso ao corpo, colocando-o num esquife.” Os que preferem queimar o corpo sentem que ele, que fez tantas coisas tolas e más na vida, precisa de purificação. E aqueles que dão importância ao enterro querem proporcionar ao corpo um descanso confortável.

 

 

O que é a alma?

O que é a alma?

Textos de Sri Chinmoy, do livro Morte e Reencarnação


 

     São as mesmas almas que continuam retornando à Terra?

 

     As mesmas almas retornam, mas o Supremo também cria novas almas. Por várias razões, muitas almas pediram para descansar antes de completar a sua parte no Jogo Cósmico. Aqueles que seguem rigorosamente o caminho do Senhor Buddha e entraram em Nirvana não retornaram. Então o Supremo envia novas almas ao mundo para substituí-las.

 

 

     A alma costuma ter a mesma aparência desde o princípio e no decorrer de suas várias encarnações?

 

     Sim, ela costuma parecer a mesma. Mas dentro da alma está o ser psíquico, o qual cresce. Uma vez que toma forma, a alma costuma permanecer daquele jeito, e o ser psíquico cresce gradualmente, como uma criança pequena. De início o ser psíquico é bastante pequeno, mas ele cresce. Em buscadores espirituais o ser psíquico está mais desenvolvido do que em outros seres humanos.

 

 

     Uma alma bela sempre escolhe um ser exterior belo?

 

     Todas as almas são originalmente belas. Mas se uma certa alma é especial, em sua manifestação exterior também veremos doçura, beleza, serenidade, pureza e todas as outras qualidades divinas. Aquilo que somos interiormente também o somos exteriormente.

     Alguns têm almas muito refinadas, almas maravilhosas, mas em seus hábitos exteriores essas pessoas são infelizmente muito rudes, não iluminadas e não civilizadas. Por que isso acontece? É porque a mente e o vital não foram tocados de maneira adequada pela luz da alma. Esses indivíduos não estão interessados na luz da alma e querem continuar muito rudes, e, portanto, suas vidas carecem de harmonia. Em sua manifestação exterior eles são absolutamente infelizes e desolados.

     Existe outra razão para desarmonia entre a vida exterior e a vida interior. Se plantarmos uma semente de mangueira, naturalmente teremos mangas. Mas, às vezes, existem outras árvores ao redor dela, as quais arruínam a sua beleza. De maneira similar, se os membros de uma família não querem saber da vida espiritual, se são absolutamente obscuros, não-aspirantes, eles podem simplesmente esmagar as boas qualidades de uma criança. Como pode uma criança maravilhosa chegar a essa família não-divina? É o seu destino. Mas, geralmente, se alguém tem uma alma bela, então a expressão exterior da alma também será bela.

 

 

     A alma sempre precisa de pais físicos para reencarnar?

 

     Nesse momento o corpo físico deve vir de pais físicos. Mas, de acordo com a maioria das autoridades espirituais, chegará o dia onde não serão necessários pais para se trazer uma criança à Terra em um corpo físico. Isso será feito no plano oculto, e a alma virá num corpo luminoso. O mundo está evoluindo gradualmente em direção a esse estágio.

 

 

     Eu li que quando a alma encarna no mundo é como se estivesse entrando num campo de batalha. É verdade?

 

     Cada vez que retornamos ao campo da manifestação e adentramos o mundo, é como entrar numa batalha. Aqui o buscador espiritual, o soldado divino, deve lutar contra o medo, dúvida, ansiedade, preocupação, limitação, contra as amarras e contra o seu maior inimigo, a morte. Ele luta constantemente contra a ignorância, e a morte é prole da ignorância. Luta, e então perde a batalha e morre, ou então conquista todas essas imperfeições e forças negativas, retornando vitorioso para Deus.

 

 

     Quando a alma reencarna em um novo corpo, o que acontece com o coração espiritual? Ele também segue de uma vida à outra como a alma faz?

 

     Quando a alma deixa o corpo, ela leva consigo a quintessência das experiências que o corpo, mente, vital e coração tiveram naquela vida. Mas, ao retornar para a região da alma, não leva consigo o coração, o vital ou a mente. E quando reencarna em um novo corpo, a alma – ou você pode dizer o corpo psíquico ou Purusha – é a mesma. Ela ainda carrega as realizações e experiências de suas vidas passadas, mas agora aceita um novo coração, uma nova mente, um novo vital e um novo corpo.

 

 

     Quando a alma retorna, ela não retoma o mesmo vital?

 

     Ela pode retomar o mesmo vital ou um vital que esteja mais desenvolvido. É como comprar coisas numa loja. Você deixa algo na loja e então retorna e leva aquela mesma coisa, ou algo mais belo. Ao invés de ficar com o seu antigo relógio de pulso, pode comprar um novo. E uma outra pessoa, que tenha menos dinheiro, gostará do seu relógio antigo.

 

 

     Todos têm um vital e mente que já foram usados? Alguém já usou o meu vital antes, ou o meu coração?

 

     A alma não se importa, contanto que ela os tenha. É como uma bola de futebol ou um instrumento qualquer. Você o usa por um tempo e, então, se não gostar daquele que esteve usando, pode escolher outro. Mas, se você gostar de uma certa bola, poderá usá-la diversas vezes, até que fique totalmente gasta ou que você fique completamente satisfeito. Depende do que a alma deseja realizar. Às vezes, a alma escolhe uma mente bastante poderosa, e às vezes não a considera necessária. Quando se joga futebol com bons jogadores, deseja-se usar uma bola de boa qualidade. Entretanto, caso esteja jogando com jogadores que não são tão bons, você poderá usar qualquer tipo de bola. Portanto, depende de com quem a alma vai jogar no campo de batalha da vida.

 

 

     Porque a alma escolheria uma mente que duvida ou um vital agressivo?

 

     A alma não escolhe uma mente duvidosa. A alma aceita a mente, mas a própria natureza da mente é duvidar.

 

 

     A alma procuraria encontrar uma mente mais iluminada?

 

     Onde está a graça se todos os bons estão no mesmo time? Onde estaria o jogo? A mente também está evoluindo. Quando algo está no processo de evolução, naturalmente levará tempo para que alcance a meta. Para você, mesmo um dia possui significado. Na Visão de Deus, duzentos anos é menos do que um segundo; não é nada. Aqui na Terra, mesmo se a mente é muito iluminada, a consciência da Terra pode não ser capaz de receber a luz da mente. É como um coração puro. Um coração puro sofre simplesmente por ser um coração puro. Por que as pessoas espirituais sofrem? Por causa da magnanimidade de seus corações. Existem muitas pessoas que têm um coração puro, mas não um coração forte. Mas, se quiser permanecer na Terra, precisará de um coração puro e também forte.

 

 

     Se a mente faz progresso, o que acontece?

 

     Se a mente faz progresso, ela tentará sustentar o seu progresso, e da próxima vez que a alma receber aquela mente, ela será de valia. Se uma mente em particular alcançou alguma iluminação, esta será mantida.

 

 

     A mente esquece os detalhes de sua experiência terrena?

 

     A mente não precisa se lembrar daquelas coisas. É como lembrar do que comi hoje, de como alguma discípula cozinhou. Mas, se souber que a discípula foi muito amável comigo, que trouxe comida sempre que eu quis, isso basta. Não tenho de lembrar quantas vezes ela me trouxe comida ou quantas vezes eu apreciei. Lembrarei apenas do seu serviço abnegado. Se a mente quiser saber que tipo de comida foi trazida, ela não será capaz de dizer. Mas será de fato capaz de lembrar-se do trabalho abnegado da discípula.

 

 

     O que fazem os seres mentais no mundo da mente?

 

     Às vezes eles dormem, às vezes eles inspiram, às vezes eles entram nas mentes humanas e instigam os seres humanos. De repente um pensamento pode aparecer na sua mente sem que você saiba de onde veio.

 

 

     Quando a alma escolhe uma mente ou vital, ela já sabe que tipo de vida terá?

 

     É uma questão de possibilidades. Deus sabe de tudo, mas Ele mantém o futuro encoberto. Mesmo o próprio Deus não usa a Sua Visão última todo o tempo; se o fizesse, não haveria jogo. Digamos que em quarenta e cinco minutos o jogo acabará. Ele pode colocar diante da Sua Mente esses quarenta e cinco minutos, e digamos então que hoje Ele contará de um até quarenta e cinco, passando por cada número: um, dois, três, quatro, cinco, seis, e assim por diante. Mas, se no dia seguinte Deus contasse “um” e logo em seguida pulasse para o “quarenta e cinco”, as pessoas diriam: “Qual é a graça em jogar com Você, se Você pode pular do um para o quarenta e cinco e nós não?” É por isso que Deus não joga dessa maneira.

 

 

     Quando uma criança encarna em uma família, é possível que a alma da criança seja menos desenvolvida do que as almas dos pais?

 

     Às vezes os pais são inferiores, muito inferiores às crianças, e outras vezes os pais são superiores. Mas, da mesma maneira que no mundo exterior os pais tentam fazer com que suas crianças sejam sábias e bem-educadas, no mundo interior, se os pais oram e meditam em seus filhos, as crianças farão progresso e crescerão.

 

 

     A alma pode fazer alguma escolha com relação ao ambiente para o qual retornará e quanto ao corpo que tomará quando reencarnar?

 

     Ninguém impõe nada à alma. Ela é quem faz a escolha, mas esta deve ser aprovada pelo Supremo. A alma, enquanto sentada no topo da árvore sente que, se retornar à Terra, será para a sua verdadeira satisfação. Mas, como você sabe, o mundo é cheio de imperfeições e limitações. E quando a alma toca a base da árvore, sente que lá existem forças obscuras, forças malignas, tentando capturá-la e devorá-la. Então, após fazer a escolha, às vezes a alma sente que o ambiente que escolheu não é saudável, e pode deixar o corpo.

 

 

     Você disse que a alma escolhe a família em que nascerá. O que acontece com a alma se ela escolhe uma família ruim?

 

     Vamos pensar na alma como a proprietária da casa e na família como a casa. Como proprietário, se você não sente que essa casa esteja lhe trazendo alegria ou satisfação verdadeira, imediatamente tentará conseguir outra que lhe traga satisfação sincera. Caso uma alma sinta aversão a uma certa família, ela pode deixar o seu presente corpo e entrar em outro. Já que a alma tem sabedoria e luz, ela retornará para um lugar onde tenha um ambiente melhor, um ambiente que permita maior plenitude. Se a casa for boa, então a alma não precisa se mudar. Quando tem uma boa casa, você não quer se mudar dela, mas sim tirar o maior proveito dela. Quando a alma recebe uma casa adequada, o que quer dizer um bom ambiente e uma boa família, em que todos aspiram, naturalmente ela permanecerá lá.

 

“Vida após a morte” – escrevendo suas experiências espirituais

vida apos a morte experiencia espiritualApesar do nome “vida após a morte” possa ser bastante impactante, na verdade vamos falar sobre algo muito natural na vida de um buscador espiritual, e como isso pode auxiliá-lo e aos outros também.

É algo que o Cristo disse como:

“ Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus.”
Nicodemos perguntou-lhe: Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez?
Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus.
O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito.
Não te maravilhes de que eu te tenha dito: Necessário vos é nascer de novo.
O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito.
João 3:3-7

 

 

Na verdade, não está se falando de forma alguma da morte física nem de uma EQM (experiência de quase morte) . Trata-se do homem, ainda vivo, ter uma vida completamente nova.

Isso é algo que os buscadores e praticantes espirituais experimentam no decorrer das suas vidas. Pude ver isso na minha própria vida, na minha avó e também em diversos colegas do nosso Centro Sri Chinmoy. Em alguns dos casos pude até presenciar toda a transição, do zero ao renascimento (que, diga-se, não tem fim antes da completa perfeição).

Na maior parte das vezes, não acontece nada muito espetacular do ponto de vista mágico. Mas a pessoa muda. Ela ganha um brilho especial no sorriso, um brilho raro. Um brilho nos olhos. Um brilho nas palavras. Um brilho no silêncio.

Coisas que não eram importantes passam a ser primordiais. Satisfação genuína – um sentimento de preenchimento – uma meta clara e real para a vida – a certeza inamovível de estar fazendo a coisa certa.

Coisas que eram primordiais parecem de repente superficiais – como sonho vazio que acaba e nos descobrimos tendo uma vida real.

O caminho normal e natural é através do nosso anseio interior por transformação, por luz, por verdade, por vezes com momentos marcantes. Aí chegamos no próximo ponto.

Escrevendo suas experiências espirituais

Na nossa jornada, por vezes nos deparamos com experiências especiais. Às vezes é uma pequena oração que é atendida. Algo que nos faz lembrar de que o nosso Pai está sempre cuidando dos filhos, por vezes agradando-os com pequenos regalos.

Eu vez eu estava voltando para casa, um pouco chateado, pois o dia tinha sido bem difícil e eu não tinha ficado bem equilibrado. Eu voltei para casa, e até pensei, falando com o Mestre: “Guru, bem que podia ter algo, como uma carta dos meus amigos, para mim.” Cheguei em casa e abri a caixa de correio sem esperanças. Lá estava uma carta de um amigo de San Francisco, o Hiyamallar, junto com uma das canções de Sri Chinmoy com dez páginas de comprimento! São 20 minutos cantando sem parar! Eu chorei ao ver o que o Guru tinha feito por mim, só para me consolar. Ele talvez já soubesse até que eu ia ter um dia assim e que ele gostaria de me fazer sentir amado e cuidado por ele, e por isso criou todo o plano.

Ou são experiências maiores. Fazemos algo, tomamos uma decisão importante para a vida ou temos uma meditação extraordinária e sentimos por um momento a felicidade da alma. Eu já tive essa experiência – quando terminei o relacionamento que tinha com a pessoa que seria a minha esposa. Nós dois sentimos que tínhamos metas diferentes, então não valeria a pena um atrasar o outro. Eu estava um pouco choroso, mas, ao mesmo tempo, repleto, absolutamente repleto de uma felicidade que eu nunca tinha experimentado antes.

Escrevi também uma experiência de sonho que tive, relacionada com a iniciação.

Apesar de eu ter contado algumas experiências, o importante e mais recomendado é você guardar elas para você. Quando estiver passando por dias de dúvida da sua prática, ler esses escritos irão ajudá-lo imensamente. Mesmo grandes almas como Swami Vivekananda usaram desse artifício divino.

Comece hoje, pois o tempo corre mais rápido na vida espiritual, e a memória fica para trás!

 

Como interpretar sonhos e visões interiores

Sri Chinmoy: Há outra coisa importante que gostaria de dizer. Sempre que tiverem sonhos ou visões, por favor, não tentem interpretá-los ou pedir a outras pessoas que os interpretem, pois vocês vão cometer um erro terrível. Se vocês tiverem uma visão ou uma experiência interior, mergulhem profundamente em seus interiores e descubram o significado ou me perguntem sobre o significado. Se tiverem uma experiência maravilhosa, escrevam para mim. Posso não responder exteriormente ou dar uma mensagem interior específica, mas vou abençoá-los e apreciarei suas experiências. Se tiverem uma experiência realmente divina, meu ser interior saberá imediatamente.

Meditation: God´s Duty and Man´s Beauty, p. 55-56

 

Todas as experiências são boas?

Pergunta: Venho tendo experiências telepáticas com pessoas que se chamam de mágicos. Converso com eles enquanto estão em outros lugares. Posso entrar nesse reino quando quiser. Estou curioso em saber como você responderia a essas experiências.

 Sri Chinmoy: Do mais elevado ponto de vista espiritual eu gostaria de responder à sua questão. Essas experiências o ajudarão a ir mais rápido em direção à sua meta? Não, não ajudarão. Essas experiências são fascinantes, indubitavelmente, mas nunca o levarão à realidade. Pelo contrário: elas são tentações noseu caminho para a realização em Deus, a elevadíssima Verdade. Em nossa vida espiritual, muitas vezes temos experiências fascinantes e não queremos mais aspirar. É verdade que essas experiências podem nos incentivar, mas muitas vezes, quando temos experiências demais, entramos no mundo vital. Vemos um caleidoscópio: vemos todos os tipos de coisas belas, mas elas são só tentações. Suponha que você esteja andando por uma rua em direção a um lugar específico. Se vê árvores, flores e lagos bonitos pela rua, o que acontece? O cenário é tão bonito que você acaba descansando. Você diz: “Deixe-me ficar aqui e apreciar isso,” e então para e aprecia a paisagem. Mas o seu destino permanece uma meta distante.

Um buscador sincero sabe que a meta dele é a Verdade mais elevada. Ele não adiará a jornada. Mas, no seu caso, posso ver que você aprecia essas experiências; você dá a elas a sua atenção consciente. Isso é muito errado. Na vida espiritual, aspiramos pela mais alta Verdade, por Deus, e por nada mais. Essas experiências são verdadeiras tentações para você. Você deveria sentir: “Tendo realizado Deus, terei experiências infinitamente mais belas, significantes e frutíferas”. Com essa idéia, você deveria deixar de lado essas experiências telepáticas. Se sente que entrando nessas experiências ou permitindo que elas entrem em você, acalentando-as, conseguirá experiências mais elevadas, está enganado. Você não irá nem um pouco mais adiante. Se insistir nelas a toda hora, se estiver constantemente fascinado por elas e sentir que é parte delas, será pego por essas experiências. Muitas pessoas cometeram esse engano, e para elas a realização em Deus permaneceu uma meta distante.

Buscadores sinceros tomam essas experiências como obstruções no caminho. Por favor, não dê atenção a esses tipos de experiências. Elas são fascinantes, mas não estão satisfazendo a sua vida de dedicação, realização e manifestação. De manhã cedo, tente silenciar a sua mente. Se conseguir silenciar a sua mente, não terá essas experiências. Elas estão vindo do mundo vital até você. Você está acalentando essas criações do mundo vital e tentando colocá-las à sua disposição, como se fossem muito suas. Mas elas não podem levá-lo à Meta mais elevada. Se a sua intenção é o Altíssimo, então essas coisas têm de ser descartadas. Quero que você vá até alguém que o inspire a entrar no reino da pura aspiração. Você será capaz de trazer à tona a luz da sua alma e correr o mais rápido possível em direção à Meta mais elevada.

Fifty Freedom-Boats to One Golden Shore 6, p.71-73

 

 

Contando suas experiências interiores aos outros

 

Pergunta: Você pode explicar o valor de tentar contar aos outros suas experiências interiores?

Sri Chinmoy: Alguns Mestres aconselham seus discípulos a compartilharem suas experiências apenas com eles. Na maioria das vezes não é aconselhável compartilhar as experiências interiores de alguém com outros. Suponha que você tenha tido uma muito elevada esublime experiência.Mesmo se você contá-la a seu amigo mais íntimo, o ciúme dele poderá tentar devorar a riqueza, a realidade viva da sua experiência. Ocorre algumas vezes que ao dividir suas experiências com um iniciante, este irá tentar ter a mesma experiência de qualquer jeito.Na vida espiritual isso nunca acontece. O progresso espiritual é um processo lento, constante e gradual. Por você ter provado uma manga e me contado, eu poderei talvez subir na mangueira.Mas se não souber como subir, ao tentar eu cairei e irei me machucar. Outra coisa: se você contar suas experiências interiores para outros, o orgulho humano deles poderá entrar em você.

Experiências interiores somente devem ser compartilhadas com a permissão do Mestre.

Se a pessoa não tem um Mestre,deve então mergulhar dentro de si profundamente e ouvir os ditames da sua alma. Se a alma ou o Mestre pedir a um ao buscador que compartilhe suas experiências com o resto do mundo, não haverá problema então. Pode ocorrer nesse caso que se a pessoa contar suas experiências, seus amigos fiquem inspirados a entrar no mundo de aspiração. Porém é sempre aconselhável perguntar ao Mestre ou ir fundo dentro de si, para saber quando se deve compartilhar suas experiências. De outra forma isso poderá criar resultados imprevistos e deploráveis para o próprio buscador ou para os outros com quem ele tenta compartilhar suas próprias experiências.

Earth-Bound Journey and Heaven-Bound Journey, p. 62-63

 

Pergunta: Quando estamos no mundo exterior, estamos livre e desimpedidos para falar de nossa vida espiritual ou devemos reservar isso só para os que aspiram?

Sri Chinmoy: Se você falar sobre suas experiências, poderá ficar em apuros.O solo tem que estar fértil. Se as pessoas são genuínas e sinceras, então sua conversa será frutífera. Do contrário, eles terão todo o direito de não compreendê-lo e ridicularizá-lo.Você pode não se importar se alguém zomba de você, porém a pessoa que não se beneficiou ou não se inspirou com o que você disse, infelizmente poderá tentar bloquear sua própria inspiração e aspiração. Nós devemos então usar nossa sabedoria que ele também é uma criança de Deus; deixe o momento do seu despertar chegar na Hora escolhida por Deus.Não é da sua conta acordá-lo. Quando alguém está pronto, clamando por uma vida mais elevada, aí então é a hora de você acordá-lo do sono que é a ignorância.

Se você der uma nota de mil dólares para uma criança, ela a rasgará. Para ela a nota não tem valor. Porém um adulto saberá o valor dos mil dólares. Similarmente quando você compartilha suas experiências interiores com um aspirante ou buscador, ele irá se beneficiar com isso. Ele sabe quão difícil é ter uma experiência interior. Aqueles que clamam pela vida interior, são as pessoas certas para compartilhar suas experiências.

Realization-Soul and Manifestation –Goal, p. 46-47

 

Experiências espirituais verdadeiras e falsas

 

Pergunta: Como posso dizer se as minhas experiências interiores são genuínas ou falsas?

Sri Chinmoy: Se ficar em dúvida quando tiver uma experiência interior, concentre-se no coração. Se a experiência for genuína, você vai sentir uma sensação sutil de formigamento. Se sentir como se uma formiga estivesse escalando ou se arrastando no seu coração, então saberá que a sua experiência é genuína.

Quando tiver uma experiência interior, tente respirar tão lenta e silenciosamente quanto possível, e sinta que está trazendo pureza ao seu sistema. Sinta que a pureza está entrando em você como uma linha e está girando ao redor do seu umbigo. Se você sentir que o seu coração espiritual não está disposto a entrar no seu umbigo, então a sua experiência é uma mera alucinação. No entanto, se o coração entra de bom grado no umbigo, esteja certo de que a sua experiência não é uma alucinação; é absolutamente verdadeira e genuína.

Quando tiver uma experiência e quiser saber se ela é válida, tente sentir por alguns minutos se você cresce naquela experiência ou não. Se sentir que pode crescer naquela experiência, mais cedo ou mais tarde, em uma hora ou duas, ou em um dia ou seis meses, então a sua experiência é genuína. Porém, se sentir que a realidade é alguma outra coisa e você nunca vai poder crescer naquela experiência, então ela não é genuína.

Quando tiver uma experiência, tente separar a sua vida exterior da sua vida interior. A vida exterior é uma vida de necessidade, demanda e exigência. A vida interior também é uma vida de necessidade, mas é da necessidade por Deus, não da sua necessidade; das exigências de Deus, não das suas demandas ou exigências. Tente sentir se é a necessidade de Deus que está operando em e através da sua experiência, se Ele precisa de você e quer satisfazer a Si mesmo em e através de você. Se você pode crescer nesse tipo de sentimento ou realização, a sua experiência é genuína. No entanto, se você se identifica conscientemente com as suas exigências, então a experiência não é verdadeira. É só uma alucinação.

Meditation: God’s Beauty and Man’s Duty, p. 45-47

Hipnose e meditação

cropped-sri-chinmoy-soul-bird.jpgAbaixo uma pergunta interessante do livro Astrologia, o Sobrenatural e o Além, onde Sri Chinmoy comenta sobre a prática da hipnose e autohipnose.


     Pergunta: Do seu ponto de vista, a hipnose é aceitável ou não? Por quê?

Sri Chinmoy: Quando alguém quer realizar a Verdade, a qual é Deus, não há necessidade de hipnose ou auto-hipnose. O que é necessário é paz, beatitude e poder. Estas coisas podemos adquirir através da aspiração. Ao levar alguém para o mundo da inconsciência ou para o plano subconsciente através da hipnose, fazendo com que a pessoa torne-se consciente dos seus defeitos, imperfeições e impurezas do passado, não seremos capazes de ajudá-la a alcançar sua derradeira Meta. Contudo, ao trazer do alto as coisas que podem mudar e moldar sua vida, e fazer dela uma pessoa melhor, poderemos ser de grande ajuda.

Eu tenho discípulos que se entregam à prática da hipnose. Porém, eu digo a eles: “O que vocês querem de si mesmos? O que esperam da outra pessoa? Caso queiram que as outras pessoas fiquem livres da tristeza, da frustração e da preocupação, então mostrem a elas a luz, e não pesem as falhas passadas ou os defeitos que os impedem que expandam as suas livres consciências.”

Se alguém quer paz, se alguém quer satisfação verdadeira, se alguém quer obter alegria da sua vida, a espiritualidade é a resposta imediata. A espiritualidade não é algo teórico e irreal. Ela é natural e praticável, uma conquista e realização prática e natural. A espiritualidade é uma coisa espontânea, o traço de união entre a vida interior e a vida exterior. Ela pode solucionar todos os problemas humanos, interiores e exteriores, e também aqueles que nem mesmo apareceram em nossas vidas. A espiritualidade pode solucionar esses problemas antes mesmo de suas manifestações; ela pode entrar dentro deles e fazê-los em pedaços. Eu sinto que a hipnose não é de valia alguma. O que possui valor é a aspiração – trazer infinita paz, bem-aventurança e poder para a consciência física através de constante aspiração.

Meditação, mediunidade, psicografia e os espíritos

mediunidade psicografia meditacaoVejo com frequência nos cursos de meditação os alunos nos perguntar sobre o espiritismo, sobre os espíritos e mediunidade, em particular no aspecto da meditação. Algumas pessoas que são espíritas são indicadas a praticar meditação por alguém, e por isso chegam até os nossos cursos.

Na verdade, não há muita relação. A busca espiritual e o mundo dos espíritos e mediunidade são sistemas paralelos, com poucos pontos em comum. O livro Astrologia, o Sobrenatural e o Além, de Sri Chinmoy, fala muito sobre assuntos que são bastante curiosos ou populares. Abaixo deixamos algumas perguntas referentes ao tema dos médiuns e espíritos. Também escrevemos uma página sobre ocultismo, poderes psíquicos e meditação.


     Pergunta: Eu gostaria de saber qual a diferença entre alma e espírito. Sei que são coisas completamente diferentes, mas não consigo entender a diferença.

Sri Chinmoy: Um espírito, da maneira que o termo é utilizado no ocidente, é uma entidade vital, e não costuma ser bondosa. A alma, a qual incorpora Deus, fica em nossas profundezas interiores; ela é parte do Eu. Através da alma, entramos em nossa tudo-permeante divindade. Quando utilizamos o termo ‘alma’, ele se refere a uma centelha do Eu, o Onisciente e o Onipotente. Um espírito, da forma com que utilizamos o termo aqui, é uma entidade vital que está descontente ou mesmo insatisfeita quando a pessoa morre, e que permanece no mundo vital por algum tempo. Existem muitas, muitas forças perturbadoras, conflitantes e obstrutoras que tomam a forma de espíritos.

Esses espíritos procuram criar desarmonia, separação e coisas similares. É o papel deles. Às vezes, os espíritos ajudarão alguém a encontrar informações no mundo vital sobre o que está acontecendo lá ou o que acontecerá amanhã ou depois. Eles possuem essa capacidade porque o mundo vital é mais elevado do que o mundo físico. Se você escalar uma árvore e observar do topo, terá uma vista mais ampla e poderá ver tudo de uma forma mais clara. É mais fácil observar o que acontece no mundo físico a partir do mundo vital. Mas é bastante difícil entrar no mundo vital a partir do físico. Estarão envolvidas práticas ocultas ou que lidam com espíritos.

É bastante comum que espíritos digam a uma pessoa enlutada que eles trarão as almas dos seus entes queridos para visitá-la. Gostaria de dizer que as pessoas que ouvem o que esses espíritos falam estão cometendo um grande erro, porque os espíritos não trazem realmente a alma daquela pessoa, do ente querido. Ao invés, eles trazem do mundo vital entidades insatisfeitas, famintas.

Existem alguns espíritos que tomam posse das pessoas que lidam com eles. Os seres exteriores dessas pessoas permitem que o espírito entre nelas, resultando disso a possessão. Às vezes, essas pessoas predizem coisas que podem, ou não, acontecer. No entanto, infelizmente isso não as traz para a vida espiritual. Depois de alguns anos o espírito dirá: “Agora me dê o pagamento. Eu dei a você fama e renome. Você não sabia nada sobre o passado ou sobre o futuro. Eu mostrei a você, e agora você deve me pagar.” Com o que pode a pessoa pagar? A sua fama e renome não trazem alegria para os seres famintos, e os espíritos então a estrangulam. Muitos, muitos praticantes de magia negra e pessoas que lidam com espíritos foram estranguladas ou mortas. Sei disso porque estive próximo de um número significativo de casos.

Voltando para o termo ‘espírito’, na Índia o utilizamos com um ‘E’ maiúsculo, e ele possui um significado diferente do assumido no ocidente. Esse Espírito é a forma masculina de Deus, que não entra no campo da criação. É o Além não-manifestado, o Eu. Quando nos voltamos para a vida interior e fazemos progresso espiritual, enquanto trazemos para nós realização e libertação do medo, dúvida e limitações, ganhamos acesso livre ao Espírito. Lá, alcançamos a nossa própria identidade com a Visão e Realidade Cósmicas. Esta concepção de Espírito não é utilizada no ocidente, onde utilizamos o termo ‘espírito’ para nos referir a práticas com espíritos e a seres do mundo vital.

 

     Pergunta: Como o espírito faz para possuir uma pessoa? Como ele ganha acesso à sua consciência? Ou ele simplesmente a penetra?

Sri Chinmoy: Eles possuem poder no mundo vital. Podem possuí-lo facilmente enquanto você anda pela rua ou a qualquer hora. Mas por que apenas espíritos? Pensamentos humanos também podem entrar. Se justo agora você abriga bons pensamentos, muito poderosos, com esses pensamentos poderosos você pode entrar em outra pessoa. Estará emitindo ondas de pensamento para alguém, e essa pessoa poderá ver um ser à sua frente, como num sonho. O ser pode tomar qualquer forma que você desejar. Podemos criar formas a partir do pensamento, pois este é muito poderoso. Quando os Yogis utilizam o poder-vontade ou seus pensamentos, imediatamente dão a eles uma forma.

 

     Pergunta: O que contatam os médiuns enquanto oferecem mensagens? Com quem ou com o quê eles estão falando?

Sri Chinmoy: Eles buscam falar com a alma. Caso eu queira ver o falecido irmão, pai ou mãe de alguém, eu posso ver e posso falar com a alma da pessoa. Quando você for realizado também poderá falar com os seus pais dessa maneira, caso eles não estejam na Terra. Se eles ainda estiverem no Céu ou em algum outro mundo elevado, será fácil falar com a alma. Se eles tiverem tomado uma encarnação humana, fica um pouco difícil, mas ainda é possível.

A alma tem a sua própria linguagem. Assim como podemos falar diretamente com um ser humano, podemos falar com a alma. Um homem que não tenha alcançado a realização pode falar com a alma se tiver alguma conexão ou controle sobre algum espírito no plano vital. No entanto, a informação recebida através de espíritos é freqüentemente imperfeita ou incorreta. Se o pai ou mãe de alguém faleceu e quer se dar ao trabalho de ajudar um filho na Terra, o espírito do falecido, não importa onde esteja, pode vir e trazer mensagens. A qualquer hora, os espíritos podem se concentrar nos filhos, pensar neles e então transmitir a mensagem. Existem pessoas das mais comuns, que não oram por um segundo sequer, mas que ainda assim recebem mensagens dos familiares no plano da alma. No entanto, todo esse processo não é de forma alguma preciso ou confiável. As pessoas que recebem mensagens dessa maneira sempre ficarão à mercê dos caprichos de seus entes queridos que já faleceram.

 

     Pergunta: Uma pessoa pode emprestar o seu corpo de forma que um espírito possa entrar e falar através daquele corpo?

Sri Chinmoy: É possível. É isso o que os médiuns procuram fazer. Isso costuma ocorrer espontaneamente, principalmente nas crianças. Elas falam com os seus pais e estes notam que elas possuem uma expressão peculiar nas suas faces, uma personalidade diferente, com uma maneira de expressão diferente. A criança estaria então possuída por algum espírito.

 

     Pergunta: O que são espíritos ou seres vitais?

Sri Chinmoy: Alguns deles já fizeram parte de um ser humano, mas outros são apenas parte da existência universal. Essas entidades não desejam a luz da alma. Elas sentem prazer em criar problemas e destruição.

Não podemos dizer que essas forças são alucinações mentais. No ocidente utilizamos os termos ‘alucinação’ e ‘superstição’. Sabemos que alucinações e superstições existem, mas os seres de que falamos existem no mundo real. Eu os vi com os meus próprios olhos, como também os viram outros membros da minha família, nossos empregados e vizinhos. E lidei com eles com a minha própria luz e poder espiritual.

 

     Pergunta: Um espírito pode ajudar uma pessoa?

Sri Chinmoy: Sim. Pais podem vir em um sonho e instruir alguém a fazer algo bom, podem contar o futuro, ou simplesmente avisar a você que algo acontecerá.

 

     Pergunta: Qual a relação entre psicografia e os médiuns?

Sri Chinmoy: A espiritualidade não se abandona à escrita automática e coisas desse tipo. Procurar um médium para saber o que acontece no Céu, na Terra ou no mundo vital não é nada espiritual. Espiritualidade significa aspiração constante por ser completamente um com Deus. Espiritualidade representa a nossa unicidade natural com Deus. Espiritualidade verdadeira é algo absolutamente normal e natural. Se alguém está interessado em psicografia e coisas desse tipo, você deve buscar atiçar a chama da aspiração que está dentro dela. Caso essa pessoa seja muito próxima e querida, ela poderá ouvi-lo. Tente fazer com que perceba que ela mesma descobriu a verdade, e não que você é quem está revelando ou inserindo a verdade nela. Quando alguém sente que descobriu a verdade por conta própria, vinda de seu próprio interior, essa verdade passa a ser normal e natural.

Esta noite, durante a sua meditação, gentilmente procure entrar na pessoa e deixá-la sentir que ela mesma repentinamente percebeu a verdade, que a psicografia não é na verdade algo bom, mas que a concentração, a meditação e a contemplação – as quais provêm da aspiração – são verdadeiramente boas. Dessa maneira você será capaz de levá-la ao caminho certo. Por favor, tente interiormente e não exteriormente.