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Como encontrei o meu Caminho – Juliana

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por Juliana Francisco

Eu comecei a buscar por meditação quando assisti a alguns documentários que falavam que a meditação era o caminho para felicidade. Na época, estava buscando saber o que era felicidade. Literalmente eu busquei na internet o que era felicidade, porque eu não me sentia feliz. Pelo contrário, na maior parte do tempo estava ansiosa, confusa, com medo, triste, sem motivação e desconectada com tudo.

Eu sempre fui automotivada, alegre, determinada, consegui tudo o que sonhei e fui além do que poderia imaginar (só para esclarecer que não era algo relacionado a fracassos ou fuga da realidade ou frustrações da vida e etc.). Mas daí, cheguei em um momento em que tudo no que acreditava não me parecia real. Estava tudo vazio de significado. Eu trabalhava, tinha uma boa profissão, era casada, viajava para bons lugares, tinha amigos, ia para festas e coisas do tipo, mas nada disso estava me fazendo sentir satisfação genuína. Estava vendo a minha vida passar e sentia que nada estava acontecendo, eu ouvia as pessoas, os acontecimentos e parecia tudo igual sempre, o mesmo drama da vida comum. Será que a vida era só isso? Eu me perguntava. Até que chegou um momento em que eu pedi para Deus me mostrar meu caminho.

Quando comecei a fazer o curso de meditação, me deparei com um outro universo, uma outra realidade, muito mais bela e real do que eu poderia imaginar. Foi realmente um divisor de águas em minha vida. Eu não fazia ideia do que era meditação. E também não fazia ideia que era uma forma de trabalhar a minha espiritualidade, me autoconhecer e progredir em diversos aspectos. Não conhecia Sri Chinmoy e sinto que foi Deus atendendo ao meu pedido, pois além de começar a meditar encontrei o meu Mestre espiritual e me sinto outra pessoa desde então. Sri Chinmoy consegue trazer à tona o que há de melhor em nós. Seus ensinamentos tem uma profundidade que transcende o nosso tempo. Ele nos eleva até Deus com rapidez. A cada dia me deparo com algo novo.

Percebi que o que sentia era um completo distanciamento da minha alma e de Deus. Percebi que havia acordado deste mundo de ilusões e não podia mais voltar a dormir. A minha alma estava chorando e eu precisava alimentá-la. A meditação é a melhor forma de alimentarmos nossa alma e, se tivermos um Mestre, ele nos alimentará incondicionalmente. É o caso de Sri Chinmoy. Ele realizou Deus e traduziu essa realização através da sua consciência e ações aqui na terra, e o seu legado é tão imenso que continua se ampliando e impactando mais vidas. É muito lindo de ver, sentir e participar disso.

Hoje pratico meditação diariamente, ao menos duas vezes ao dia e faço quase tudo que Sri Chinmoy recomenda para nós buscadores, que inclui, mas não se limita, a praticar esporte, ler livros espirituais, fazer serviço desinteressado, orar e principalmente meditar. Mas além disso, ele nos ensina a como nos tornarmos pessoas melhores.

Infelizmente ainda não consigo fazer tudo que gostaria dos seus ensinamentos, pois ainda sou limitada pela minha ignorância, mas sinto que Ele tem me ajudado interiormente e estou muito feliz pelo meu progresso e mais feliz em sentir que isso é só o começo, que pode sempre ser melhor se eu fizer as escolhas certas. Sou muito grata por ter encontrado o curso, pelos meus amigos que o compartilharam e principalmente a meu querido e amado Mestre Espiritual, Ele já não estava aqui na terra quando encontrei o seu Centro, mas eu sinto sua presença na minha vida, seus ensinamentos e direcionamentos. Ele está vivo, sua consciência é eterna, a vejo e a sinto na minha vida. Sei que cada um de nós está direcionado a algum caminho espiritual, e sou realmente grata por ter encontrado o meu caminho. Lembro que busquei várias religiões e não me identificava com nenhuma delas. Daí foi muito especial e surpreendente me sentir pertencendo a um lugar que não é uma religião, mas que nos conecta com Deus.

É muito engraçado como agora fica tão claro que até os momentos mais felizes que já vivi antes de encontrar o meu caminho, nada se comparam ao sentimento que tenho hoje e que é constante. Não tenho como explicar; cada um de nós sabe de si. Eu ainda lembro de como me sentia, e o sentimento de hoje é incomparável. Não significa que os desafios cessaram, mas hoje me sinto segura e em paz.

Encontrar o Centro Sri Chinmoy foi o retorno ao lar. Voltei para minha casa; acabou a busca. Agora já tenho um caminho a seguir que me faz feliz e progredir rapidamente.

Eu lhe darei tudo

Eu lhe darei uma chance,

Se você quiser uma chance.

Eu lhe darei uma nova vida,

Se você quiser uma nova vida.

Eu lhe darei tudo de que precisa,

Mas você é quem deve receber isso de mim.

Na sua alegre luz-aceitação

Está a manifestação-perfeição da sua vida.

– Sri Chinmoy, do livro Transcendence-Perfection

O poder da gratidão

O poder da gratidão

A gratidão não é uma mera palavra. A gratidão não é uma ideia. A gratidão não é nem mesmo um ideal. A gratidão é a promessa-Deus-satisfação Do nosso coração Para Deus. -Sri Chinmoy

Estava um pouco cansado quando fui meditar em grupo no fim da tarde. Na meditação silenciosa, passei metade do tempo perdido entre pensamentos tolos e pensamentos negativos – uma verdadeira perda de tempo. Parecia que não teria um certo tempo para conseguir me concentrar, silenciar e mergulhar um pouquinho mais fundo.

Mas, por algum motivo, no meio desses pensamentos soltos, lembrei de alguns dos meus chefes mais queridos no trabalho. Essa lembrança me despertou um profundo sentimento de gratidão. Aprendi tanto com eles, e eles foram tão importantes em criar um espaço adequado para todos nós trabalharmos. Todos eles nunca quiseram ser chefes – eles aceitaram o cargo para um bem maior e geral de todos.

Isso mudou a minha postura interna. A partir dessa gratidão humana, lembrei o quanto devo realmente ao meu Mestre, que transformou a minha vida completamente – uma argila desforme está se transformando em algo útil, um instrumento para alguma coisa em seu plano.

Também a meditação mudou. Voltei-me para o que interessava – a meditação no Mestre. A sensação da gratidão despertou a minha vontade de focar na consciência dele. Ainda assim, minha mente estava inquieta, mas agora estava tomada de uma sensação expansiva, de crescimento. Foi uma experiência aparentemente bem pequena. Mas sinto ainda agora, enquanto escrevo, que foi uma forma de abrir as portas da minha consciência para algo maior do que eu me encontrava naquele momento. Fico só imaginando qual seria o resultado de um buscador sentir verdadeira e intensa gratidão espiritual mesmo por um fugaz momento.

Nas primeiras horas da aurora,

Nas tardias horas da noite,

Eu escrevo o meu diário.

O meu diário só abriga uma palavra:

Gratidão.

Gratidão à compaixão de Deus,

Gratidão ao serviço do homem,

Gratidão à busca pela minha auto-transcendência,

Gratidão ao meu auto-questionamento,

Gratidão à minha descoberta-Deus.

-Sri Chinmoy

Sândalo, ouro e almíscar – nossa busca espiritual

Histórias tradicionais, recontadas por Patanga Cordeiro

 

Um lenhador se embrenhou numa floresta, até que encontrou árvores de sândalo. A casca dessa árvore é muito valiosa. Ele pensou: “fiquei rico!”. Mas, em seguida, pensou: “Se aqui tem sândalo, será que não há algo mais valioso ainda mais adiante?”

Ele seguiu em frente, e encontrou prata. E seguiu mais em frente, e encontrou ouro. E seguiu mais em frente e encontrou diamantes.

 

O cervo é um animal que exala o almíscar, uma substância que possui uma fragrância muito valorizada. Um cervo sente o cheiro de almíscar, mas pensa que vem de outro cervo. Ele corre e corre, até a completa exaustão, e cai de um precipício.

Mas a fragrância que procurava estava em si mesmo.

Uma história espiritual: a resposta está nas suas mãos

recontado por Patanga Cordeiro

Hoje estávamos fazendo treinamento no meu ambiente de trabalho. O professor contou uma história que é muito interessante, e pareceu-me que vale em grande parte para a nossa vida espiritual, então acho que posso recontar aqui.

Uma parábola espiritual: a resposta está nas suas mãos

Na Índia antiga, tanto o ensino formal quando o ensino espiritual de meditação, yoga e oração era feito no sistema “Gurukul”, onde os jovens alunos iam morar com o professor em seu ashram, e efetivamente tornavam-se filhos até a sua graduação, por volta dos 16-18 anos. Era uma forma muito intensiva e amorosa de ensinar, e os professores eram vistos como verdadeiros pais e reverenciados tutores.

Num desses ashrams, um dos alunos que estavam prestes a graduar queria pregar uma peça no seu professor no dia da graduação. Ele queria fazer que o professor errasse uma pergunta que ele fizesse.

O plano era o seguinte. Diante de todos os alunos e o professor, no momento solene da graduação, ele estaria segurando uma borboleta dentro da sua mão. Com o abrir da mão, a borboleta sairia voando, viva. Se ele a apertasse um pouquinho mais, ela morreria. Assim, ele poderia perguntar ao mestre se ela estava viva ou morta, e, qualquer a resposta dada, ele poderia apertar ou abrir a mão e a resposta estaria errada de qualquer forma. Era um plano infalível.

Chegada a hora, ele fez a pergunta ao professor: “Tenho uma borboleta na minha mão. Se você é tão sabido, quero que me diga se ela está viva ou morta.”

O professor reclinou-se, ponderando profundamente o questionamento e a postura do aluno, até que a resposta lhe surgiu. “A resposta para a sua pergunta está nas suas mãos,” disse o mestre.

Mirabai e o sannyasi – uma história em Vrindavan

a santa mirabaiUma história sobre Mirabai e o sannyasi

Do livro Mantu’s Heart-Songs

Por Mantu Ranjan Ghose, traduzido ao inglês por Sri Chinmoy

Chinmoy traduziu uma das minhas histórias para o inglês. Era uma história sobre Mirabai e um sannyasin. Contarei a sinopse da história. Mirabai chegou em Brindavan vinda do Rajastão. Ela soube que havia um sannyasi bengali morando em Brindaban e quis muito visitá-lo. Seu nome era Haridas. Ela enviou uma mensagem para contatar Haridas e marcar uma reunião. Haridas respondeu que, sendo um sannyasi, seria impossível que ele encontrasse uma mulher, e falar com uma estaria fora de questão. Ele disse que estava praticando disciplinas espirituais rigorosas.

Quando Mirabai ouviu o que o sannyasi havia dito, ela ficou decidida a visitar o sannyasi pessoalmente. Ela foi até o lugar onde estava meditando e disse a ele: “Eu pensava que em Brindaban só havia um homem, e seu nome seria Sri Krishna. Você se diz um homem. Você pensa que é outro Krishna?”

Foi assim que Mirabai destruiu o orgulho do sannyasi.


Livro Bhagavad Gita – capítulo 15 – O Supremo Purusha

Livro Bhagavad Gita – capítulo 15 – O Supremo Purusha

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Livro Bhagavad Gita – capítulo 15 – O Supremo Purusha

 

O capítulo XII nos ensinou a verdade de que há um campo e há um Conhecedor desse campo. O capítulo XIV verteu abundante luz sobre o campo, o Jogo Cósmico da Prakriti. Neste capítulo particular, aprenderemos sobre o Conhecedor, o Eu Universal e o Eu Supremo.

Este capítulo começa com uma árvore. Essa árvore é chamada de árvore-mundo. Diferentemente das árvores terrenas ou botânicas, essa árvore tem raiz acima, no Supremo. O Supremo é a sua única Fonte. Seus ramos se espalham abaixo. Os Vedas são suas folhas. Aquele que envisionou as profundezas do mundo sempre-em-transformação e sempre-em-evolução possui todo o conhecimento védico a sua disposição.

Aqui na terra, essa árvore não é livre. Ela está presa por sua própria ação e reação neste nosso mundo. Ela é carinhosamente nutrida pelas três qualidades da Prakriti. Se alguém quer descobrir o início, o fim e a própria existência dessa árvore, é necessário livrar-se completamente dessa árvore-tentação.

Uma árvore significa aspiração. Essa aspiração por fim sobe ao Altíssimo. Incontáveis são os sadhus (monges) indianos que sentam-se debaixo das árvores e entram no mundo da meditação profunda. A aspiração da árvore os inspira e desperta sua aspiração dormente. O Senhor Buddha teve sua iluminação aos pés da Árvore-Bodhi. O mundo sabe disso.

O Gita é um oceano de espiritualidade. A filha mais carinhosa da espiritualidade é a poesia. O sutil alento da poesia é sempre acalentado pela vida-energizante espiritualidade. Identifiquemos nossa consciência com a consciência de uma poetisa, ao falar sobre a árvore.

 

Por tolas como eu, poemas podem-se escrever,

Mas uma árvore, apenas Deus pode fazer.

– Joyce Kilmer

 

Já que a poesia é o meu forte, tomo a liberdade de enxergar a realidade da mesma forma que a poetisa abençoada.

Retornemos à nossa árvore filosófica. Os sábios cortam suas raízes com o machado do desapego. Tal é o caminho para a libertação. Tal é o caminho para o bem supremo.

Um homem sábio vive em perfeito auto-controle. Ele é devotado sem reservas e incondicionalmente à Verdade. Ele quer Deus, e Deus somente, que é a Fonte do mundo interior e do mundo exterior, e também do mundo além. Os acontecimentos, encorajadores ou desencorajadores, agradáveis ou desagradáveis, divinos ou não-divinos, não agitam a sua mente, e muito menos a sua existência interior. Ele nada no mar de frutífero silêncio e equanimidade. Sendo mestre dos sentidos, ele é senhor deles. Ele vem até Krishna, sua única fortaleza. Não é necessário sol, lua ou chama em Sua Morada. Essa Morada é a Fonte do universo inteiro. Ela é toda Iluminação. De Sua Morada eterna, não há retorno.

Não é para os desiludidos, mas para os buscadores imbuídos com a visão divina, saber reconhecer ou compreendê-Lo, o Senhor Supremo, que entra no corpo, reside no corpo e vivencia as realidades da Natureza, deixando o corpo à Sua Hora escolhida.

Certamente, todos os esforços sinceros de um homem serão em vão, a não ser e até que sua natureza esteja a seu comando, até que seu coração transborde com amor e devoção ao seu Professor espiritual (Guru), até que ele sirva o Alento vivente do Senhor na humanidade.

Há duas facetas da criação: a perecível e a imperecível. Além dessas duas está o Supremo Impessoal. Esse Supremo Impessoal é, ao mesmo tempo, tudo-permeante e tudo-sustentador.

O Senhor diz: “Eu, o Purushottama, o Supremo Senhor, transcendo tanto o perecível quanto o imperecível.” (15.18)

Há quatro Vedas. Todos os quatro Vedas falam significativamente sobre esse Ser Supremo.

 

O Ser Supremo, de mil cabeças, mil olhos, mil pés;

Ele permeia a extensão da terra;

Ele está além de todos os dez cantos.

(Rigveda X.90.1-2)

 

Aqui ‘mil’ certamente significa infinitos. A infinidade manifesta-se através do finito no campo da manifestação.

Purushottama está além de forma e sem-forma, além de impessoalidade e personalidade. Nele, o mais poderoso anseio dinâmico e o mais profundo Silêncio habitam juntos. Para Ele, tratam-se da mesma coisa. Para Ele, são iguais liberdade celestial e necessidade terrena, a sempre-mutante forma da terra e a imutável Realidade infinita.

 

 

Conceitos espirituais em quadrinhos – para crianças e adultos

por Patanga Cordeiro, com a obra de Bill Waterson

Conceitos morais e espirituais em quadrinhos para crianças e adultos

Eu estava lendo o livro com a famoso quadrinho “Calvin e Haroldo”. O livro é muito divertido, se não pelas marotices do Calvin, então pela sabedoria sutil e graça com a vida do dia a dia.

Resolvi separar alguns trechos do livro que compramos, “Tem alguma coisa babando embaixo da cama”, e o comentário e direcionamento deste texto será os cabeçalhos, que eu mesmo fiz e indicam uma possível moral espiritual para nós. É uma forma de reflexão individual.

Há muitos aspectos que eu gostaria de incluir aqui, mas não achei tirinhas que pudessem ilustrá-los. Então, o tom aqui ficou um pouco monocromático, mais voltado para a efemeridade das coisas externas. Peço desculpas por isso. Lembrem que a espiritualidade é mais que isso: é a permanência e satisfação da alma no seu coração aspirante.

 

Manter a imagem exterior e o sentimento de vazio

espiritualidade em quadrinhos

O que significa ter consciência de si

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Esforço pessoal é dispensável

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Prazer e satisfação exterior é insatisfação e não dura

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Não sabemos, mas fingimos saber

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Relacionamentos: o amor verdadeiro

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Instrumentos inadequados para o nosso objetivo e busca – até quando?

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A busca por mais e mais posses materiais

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Negamos a realidade bem diante do nosso nariz – uma defesa do ego

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Posso acalentar a imperfeição agora, pois um dia ela irá me deixar em paz e serei feliz de verdade… ou não?

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Queremos ser felizes?

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Relacionamentos: amor incondicional parte 2

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Prefiro viver num mundo irreal

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Histórias de Mestres Espirituais

 

O que é, como reconhecer, ensinamentos, discípulos e mais: a figura do Mestre espiritual

Logo abaixo está a página sobre o Histórias de Mestres espirituais, de uma de uma sequência de artigos sobre o Mestre espiritual, escritos por Sri Chinmoy. As outras páginas são:

Fonte: livro de Sri Chinmoy, chamado O Mestre e o Discípulo: considerações sobre a relação Guru-discípulo.


 

Histórias de Mestres Espirituais

por Sri Chinmoy, do livro O Mestre e o Discípulo

 

mestres espirituais vivekanandaESTA PLANTA É O HOMEM, ESTA PLANTA É DEUS

 

Era uma vez um buscador. Durante muitos anos, ele procurou por um Mestre, um Guru. Infelizmente, nunca encontrou um. Esteve em muitos grupos, mas os professores que conheceu não eram do seu gosto. E ele procurava e procurava por um Mestre espiritual. Um dia, enquanto andava por uma rua, viu um Mestre espiritual com alguns discípulos. Estavam sentados na relva, num lindo gramado, e alguns discípulos molhavam a grama.

O buscador aproximou-se do Mestre e falou, “Mestre, todos esses seus discípulos escutam o senhor, não importa o que diga. Eles acreditam no senhor e estão certos quando o ouvem. Mas, eu gostaria de dizer que tenho algo para contar-lhe, mesmo que o senhor possa discordar.”

O Mestre disse, “A verdade certamente não é meu monopólio. Se você descobriu alguma verdade, naturalmente aceitarei a sua verdade de todo coração. Agora, por favor, diga-me, que verdade você descobriu?”

O buscador falou, “Minha descoberta é esta: uma pessoa do mundo não pode realizar Deus tão facilmente. Sou uma pessoa do mundo, e sei que até mesmo encontrar um Mestre é impossível. Se não encontro um professor espiritual, porque nenhum me satisfaz, então como será possível que eu realize Deus, algo infinitamente mais difícil? Encontrar um Mestre já é tão difícil para mim; alcançar a realização nesta vida é simplesmente impossível. O senhor concorda comigo?”

O Mestre respondeu, “Infelizmente, não concordo com você. Outros podem pensar que o que diz está certo, mas eu gostaria de dizer que não é tão difícil encontrar um Mestre nem alcançar a Deus-realização.”

O buscador ficou surpreso, e até os discípulos ficaram um pouco admirados com a observação do Mestre, porque a maioria sabia quão difícil fora para eles encontrar um Mestre espiritual, e que a Deus-realização era ainda uma meta distante.

O Mestre falou, “Veja, agora mesmo, alguns dos meus discípulos estão molhando a grama. Há pequenas plantas por aqui.” O Mestre apontou duas plantinhas bem miúdas. Então, o Mestre pegou uma pazinha e arrancou uma delas. Pegou a planta toda, raiz e folhas, e dirigiu-se para a outra planta. Aí, também, removeu a planta inteira e substituiu-a pela primeira. Daí, pegou a segunda planta e replantou-a no lugar da primeira.

Então, o Mestre falou, “Olhe aqui. Esta planta é o homem e aquela é Deus. Agora, eu sou o Mestre. Eu cheguei aqui e toquei esta planta. Foi uma questão de minutos, poucos minutos. Tão logo a toquei, imediatamente a planta me deu a divina resposta, e eu a peguei e a coloquei lá onde a planta chamada ‘Deus’ estivera. Então, peguei a planta-Deus e obtive toda Sua Compaixão, Amor, Alegria e Deleite, e os coloquei aqui onde o homem a planta estivera. Foi uma questão de apenas poucos minutos. Levei o homem a Deus e trouxe Deus ao homem.”

O novo buscador disse, “Mestre, quero ser seu discípulo. Por favor, inicie-me.”

“Eu o iniciarei em breve, meu filho”, disse o Mestre. E continuou, “Se sente que é quase impossível realizar Deus, significa que a sua ideia de Deus está errada, a sua ideia da espiritualidade está errada. Agora, está apegado ao mundo, mas se tiver o mesmo apego a Deus, verá que pode facilmente alcançá-Lo. Quando vou a Deus, bato em Sua porta. Imediatamente, Ele vem a mim, e eu digo, ‘Por favor, venha comigo’. Ele então vem com seu infinito Amor, Alegria, Bênçãos e Compaixão. Então, eu bato à sua porta, mas, quando bato, você não a abre; mantém a sua porta fechada, trancada. Naturalmente, Deus e eu vamos embora. Então, quando quero levá-lo ao palácio de Deus, digo, ‘Venha comigo’. Quando bato à porta de Deus de novo, Deus diz que, assim como você não abriu a sua porta quando eu O levei até você, Ele não lhe abrirá a porta Dele. Se tivesse aberto a porta quando eu trouxe Deus como o Convidado e se tivesse permitido a Deus entrar, naturalmente, Deus também teria permitido a você entrar no Seu Palácio. Portanto, se mantém a porta do seu coração aberta, Deus pode facilmente entrar.

“Mas, quando eu me aproximo, você fica perturbado. Pensa que tem medo, dúvida, problemas emocionais, problemas vitais, inveja, e assim por diante. Não quer se expor; quer se esconder. Mas, a planta que eu mudei, homem a planta, não teve medo, dúvida e nem timidez quando a toquei – absolutamente nada. Não teve medo algum da sua própria ignorância. Sentiu uma comoção porque alguém a estava levando para outro lugar, o qual era Deus. Assim, quando eu o toco, quando um Mestre espiritual o abençoa ou medita em você, nesse momento, se você oferece a sua ignorância e suas imperfeições, juntamente com suas qualidades devotadas, fica muito fácil para o Mestre levá-lo completamente para Deus. Se não, é quase impossível para o Mestre fazer qualquer coisa para transformar ou mesmo purificar as consciências dos discípulos. É uma troca de duas plantas. Isso é o que o Mestre faz quando lida com seus filhos espirituais. Uma planta é Deus, a outra planta é o homem.”

Então, o Mestre se afastou caminhando lentamente.

 

 

OS CONSELHOS DO MESTRE SOBRE

A ESCOLHA DE UM CAMINHO

 

Havia um Mestre espiritual que queria dar a cada um de seus filhos espirituais atenção, cuidados, bênçãos e orientação especiais, a despeito do fato de ter centenas e centenas de discípulos. Ele conduzia muitas reuniões por semana, às vezes, duas no mesmo dia, de modo que cada reunião pudesse ser mantida pequena e íntima, independente de quantos novos buscadores ele admitisse em sua família espiritual.

Em um ou dois dias na semana, o Mestre permitia a participação de visitantes nos encontros, e alguns posteriormente decidiam seguir o seu caminho. Um dia, quatro visitantes – três rapazes e uma moça – vieram ao Mestre, após um encontro. Um dos rapazes curvou-se perante o Mestre e disse, “Mestre, o senhor me aceitaria como seu discípulo? Eu tenho vindo aqui a cada semana durante o último mês, e finalmente decidi que este é o meu caminho.”

O Mestre perguntou ao buscador o seu nome e algumas informações sobre sua vida exterior, e, então, em silêncio, concentrou-se em sua alma. Finalmente, falou: “Certamente, eu o aceitarei como discípulo. Você tem a minha aceitação, de todo o coração. Por favor, venha aos nossos encontros regularmente e devotadamente. Eu vejo claramente que este é o seu caminho.”

O novo discípulo ficou extremamente feliz e agradecido por ter sido aceito pelo Mestre.

Então, o segundo rapaz disse, “Mestre, eu também tenho vindo durante o último mês, mas acabo de descobrir que se pode vir apenas quatro ou cinco vezes antes de decidir tornar-se um discípulo. Sinto que este pode ser o meu caminho, mas não quero tornar-me um discípulo de imediato porque não gostaria de ter qualquer conflito interior ou ser parcial quanto ao meu compromisso. Quero estar absolutamente certo.”

O Mestre respondeu, “Admiro profundamente a sua sinceridade. Infelizmente, temos essa regra aqui no ashram, mas você é muito bem vindo aos encontros das quartas-feiras à noite fora do ashram. Muitas pessoas têm vindo a esses encontros há oito, nove meses, ou mesmo um ano, mas ainda não assumiram um compromisso e, de nossa parte, não lhes pedimos que assumam qualquer compromisso. Decerto, eu sou a mesma pessoa, o mesmo Mestre espiritual, no meu ashram ou fora dele, de modo que você poderá ter a mesma oportunidade de decidir se eu sou seu Mestre.”

“Mestre, fico feliz em ouvir que poderei frequentar seus encontros nas quartas-feiras, e certamente continuarei vindo meditar com o senhor. Mas, porque o senhor tem esse regulamento rígido? Perdoe minha pergunta, mas porque a vida interior deveria ter essas limitações exteriores?”

O Mestre explicou, “Meu filho, se temos algumas regras e regulamentos como esse, podemos harmonizar mais efetivamente o grupo. Cada organização precisa de regras e regulamentos para funcionar bem. Também, é mais fácil disciplinar as vidas dos discípulos numa comunidade espiritual se há algumas regras.

“Há também uma razão espiritual, meu filho. Tenho visto claramente que, se alguém deseja selecionar um caminho, quatro visitas a um Mestre são mais que suficientes para a pessoa decidir se é o caminho certo para ela ou não. Após ver-me este número de vezes, se eu sou destinado a ser o seu Mestre, você deve sentir algo em mim. Não digo que, apenas por ser um Mestre espiritual você tem de sentir algo em mim; mas, se é meu destino ser o seu Mestre, definitivamente você sentirá algo em mim que o encorajará e o inspirará a tornar-se meu discípulo. Se diz, no entanto, que no seu caso, está demorando mais porque quer ser muito cauteloso e cuidadoso para evitar cometer um erro, então eu o convido a vir indefinidamente àquele outro encontro. Fique à vontade. Após uns seis meses, se sentir que este não é o caminho para você, poderá tentar outros caminhos.

“Sou seu irmão espiritual mais velho, digamos assim. Porque sou um pouco mais avançado que você no caminho espiritual, meu papel é levá-lo ao nosso Pai comum, mas eu mesmo não sou a Meta. Se há alguém espiritualmente um pouco mais avançado que você, então, naturalmente, ele também estará em posição de levá-lo ao Pai. Nós, Mestres espirituais, somos como mensageiros; apenas conduzimos os buscadores ao Pai. Você terá a mesma oportunidade de realizar Deus, se aceitar este caminho ou qualquer outro. Se quer aguardar, então por favor o faça, mas não se sinta triste ou perturbado. Nesse encontro e em todos os meus encontros – em todos os lugares – a porta do meu coração está toda aberta.”

O segundo buscador saudou o Mestre. “Mestre, estou verdadeiramente sensibilizado com a magnanimidade do seu coração e com a sua profunda sabedoria. Certamente continuarei vindo aos seus encontros. Muito obrigado.”

O terceiro rapaz aproximou-se do Mestre. “Mestre, sinto que minha vida está imersa em confusão. Como posso julgar minha própria sinceridade? Mestre, por favor, dê-me algum conselho.”

O Mestre falou, “Parece-me que você tem duas perguntas, não uma. Uma tem a ver com a sua confusão, outra com a sua sinceridade. Por que está confuso? O que o faz pensar que está tão confuso? Aceitação do nosso caminho é uma coisa, e confusão na sua vida, na sua mente, é um assunto completamente diferente. Pergunte-se se será feliz se não aceitar nosso caminho. Se sentir que será feliz, e se disser que não está confuso quanto a rejeitar ou aceitar nosso caminho, então a sua confusão está completamente separada de se você deve ou não aceitar a vida espiritual. Depende de você aceitar-nos ou rejeitar-nos. Este caminho é um meio de ver a verdade. A sua sinceridade lhe dirá se ele é para você.”

“Mas, Mestre,” o buscador interrompeu, “como posso julgar minha própria sinceridade?”

O Mestre respondeu, “Você pode facilmente julgar a sua sinceridade. Ela depende inteiramente da grandeza ou magnanimidade do seu coração. Você não tem de se tornar uma pessoa espiritual para ser sincero. Pense em si mesmo como duas pessoas. Pense no seu vital, mente e físico como alguém afogando no mar da ignorância, e pense no seu coração e alma como outra pessoa, atravessando o mar da ignorância a nado. Separe sua mente, vital e corpo de seu coração e alma. Sinta que, enquanto a sua mente, vital e corpo afundam, seu coração e alma têm a capacidade de salvá-los. O que deve fazer agora? Caso separe-se da pessoa que afunda, se ficar com o coração e a alma, imediatamente a grandeza do coração e a visão de futuro da alma virão salvar o homem que se afoga dentro de você. Mas, você tem de decidir se quer ou não seguir o caminho do coração e da alma para salvar o físico, o vital e a mente. Se sentir que o físico está lhe dando a mensagem certa, que o vital está lhe trazendo a mensagem certa e que a mente está lhe oferecendo a mensagem certa, estão não sentirá uma necessidade verdadeira da vida espiritual. Mas, se sentir que sua mente, por exemplo, está afundando, então deve voltar-se para o coração, porque o coração está em posição de oferecer iluminação à mente. Quando entrar para a vida espiritual, a sua mente intelectual será apenas um obstáculo inoportuno. A mente, como tal, não é ruim, mas a mente tem de ser iluminada pela luz do coração. E a luz do coração vem da própria alma.”

O terceiro buscador falou, “Mestre, seguirei seu conselho, e estou certo de que os problemas da minha confusão e da minha sinceridade logo serão resolvidos. Tentarei identificar-me com meu coração e minha alma.”

Então, o último visitante, uma moça, disse ao Mestre: “Embora tenha meditado e tido uma vida interior durante muitos anos, esta é a primeira vez que tento encontrar um Mestre. Sinto grande afinidade pelo senhor, mas não é muito cedo para eu tomar uma decisão?”

O Mestre falou, “Minha filha, entre em seu coração e alma. Se sentir que este é o caminho para você, certamente deverá vir. Se sentir que este não é o seu caminho, então vá a algum outro lugar. Mas este é o meu único pedido a você e a todos que não aceitaram um Mestre espiritual: encontre seu Mestre, o mais breve possível. Apenas porque é sincera, peço-lhe que não se adie. Você pode até dizer que tem de esperar pela Hora de Deus, mas eu digo que a hora já chegou. Este é o motivo pelo qual veio até aqui e está pensando em ir a alguns outros lugares também. Algumas pessoas são muito irrequietas. Embora vejam um objeto de que gostam na primeira loja que vão, pensam que, talvez, encontrarão algo melhor em outra loja. Vão a vinte outras lojas, esperando achar um objeto em particular, e após olhar e procurar, frequentemente acabam voltando à primeira loja.

“Porém, se são sábias, se estão realmente famintas e encontram a fruta que satisfará sua fome na primeira loja, comem lá mesmo e não se ocupam em ir de loja em loja. É certo que, se não gostarem da comida oferecida lá, têm todo o direito de ir a outro lugar. Mas, algumas pessoas exercitam o que chamam de sabedoria humana, a qual não tem validade do ponto de vista espiritual. Sua natureza é dizer ‘Vamos olhar outras coisas’. O problema é que o tempo é muito precioso. Se tenho de entrar em muitas lojas e examinar tudo, enquanto estou perdendo tempo, alguém pode comprar a fruta que eu queria a princípio. Além disso, o vendedor não mantém suas portas abertas vinte e quatro horas por dia. Se perambulo por sua loja durante muito tempo sem comprar o que preciso, ele pode decidir que é hora de fechá-la e pedir-me que vá procurar em outro lugar. Nessa hora, sou eu quem fica insatisfeito e incompleto.

“Então, após buscar em seu interior profundo, se seu coração e sua alma disserem que este não é o seu caminho, seja muito corajosa e procure outro Mestre. Mas, se sentir que este é o seu caminho, não permita que a mente se manifeste trazendo dúvida.

“Você pode pensar que a mente está sendo sinceramente cautelosa ao questionar o coração, mas, na verdade, a mente está apenas mostrando sua insegurança. A mente é perdidamente insegura, e por isso cria sempre confusão. Tenha fé somente no seu coração e na sua alma. Se a alma lhe envia a mensagem através do seu coração de que este é o seu caminho, aceite este caminho e mantenha-se nele.

“O que estou dizendo é que é melhor estar sempre alerta e não perder tempo. Temos de estudar três assuntos. O primeiro é Deus-realização, o segundo é Deus-revelação e o terceiro é Deus-manifestação. Mal começamos a estudar o primeiro, mas devemos completar todas as três disciplinas. Cada uma necessita de um grande investimento de tempo. Deus sabe quantos séculos, quantas encarnações cada uma exigirá. Então, quanto antes começarmos, melhor para nós.”

A buscadora se curvou ao Mestre e falou: “Mestre, não perderei um segundo. Buscarei fundo em meu interior e encontrarei o caminho para mim. Mestre, o senhor é nosso verdadeiro irmão espiritual, cuja única preocupação é o nosso progresso. Estamos profundamente sensibilizados com sua orientação incondicional. Faremos o que o senhor disse.” Os quatro buscadores curvaram-se agradecidos ao Mestre antes de saírem.

 

 

 

EU QUERO APENAS UM ALUNO: O CORAÇÃO

 

Havia um Mestre espiritual que tinha centenas de seguidores e discípulos. O Mestre sempre oferecia discursos em diferentes lugares – igrejas, sinagogas, templos, escolas e universidades. Sempre que era convidado, e sempre que seus discípulos encontravam oportunidades, ele proferia palestras. Ele deu palestras para crianças e adultos. Deu palestras para estudantes universitários e para donas de casa. Algumas vezes, proferiu palestras perante estudiosos e os mais avançados buscadores. E assim foi por cerca de vinte anos.

Finalmente, chegou o dia em que o Mestre decidiu interromper suas palestras. Ele disse aos discípulos: “Basta! Fiz isso durante muitos anos. Agora, não darei mais palestras. Apenas silêncio. Manterei silêncio.”

Durante cerca de dez anos, o Mestre não deu mais palestras. Manteve silêncio em seu ashram e em todo lugar. Ele havia respondido milhares de perguntas, mas agora, nem sequer meditava em público. Passados dez anos, seus discípulos lhe rogaram que retomasse seu antigo costume de dar palestras, responder perguntas e conduzir meditações públicas. Todos pediram, e ele por fim consentiu.

Imediatamente, seus discípulos organizaram eventos em muitos lugares. Colocaram anúncios em jornais e cartazes por toda parte, anunciando que seu Mestre iria proferir palestras novamente e conduzir elevadas meditações para o público. O Mestre ia a esses lugares com alguns de seus discípulos favoritos, que eram os mais devotados e dedicados. Centenas de pessoas se juntavam para ouvir o Mestre e ter suas perguntas respondidas. Mas, para a grande surpresa de todos, o Mestre não dizia coisa alguma. Do início ao fim dos encontros, por duas horas, ele mantinha silêncio.

Alguns dos buscadores na audiência ficavam incomodados. Diziam que estava escrito no jornal e nos cartazes que o Mestre daria uma curta palestra e responderia perguntas, bem como conduziria uma meditação. “Como, então, ele não disse coisa alguma?”, perguntavam. “É um mentiroso”, diziam muitos, que ficavam aborrecidos e iam embora. Outros permaneciam durante as duas horas, na esperança de que, talvez, o Mestre falasse ao final, mas ele encerrava as meditações sem dizer uma palavra. Algumas pessoas da audiência sentiam alegria interior. E algumas ficavam por medo de que, saindo cedo, as outras poderiam pensar que eles não eram espirituais e que não conseguiam meditar. Assim, alguns saíam, alguns ficavam com grande relutância, alguns ficavam a fim de se mostrarem para os outros, e muito poucos ficavam com grande sinceridade, devoção e clamor interior.

E assim se procedeu por três ou quatro anos. Muitos criticavam impiedosamente o Mestre e deixavam os discípulos envergonhados, dizendo: “Seu Mestre é um mentiroso. Como vocês justificam colocar anúncios no jornal dizendo que seu Mestre vai dar uma palestra, responder perguntas e conduzir meditação? Ele só faz a meditação e nós não aprendemos coisa alguma com ela. Quem consegue meditar por duas ou três horas? Ele está fazendo a gente de bobo, e se passando por tolo.”

Alguns discípulos próximos ficaram muito perturbados. Sentiam-se tristes porque seu Mestre era insultado e criticado. Rogavam ao Mestre para que desse apenas uma curta palestra e respondesse umas poucas perguntas ao final da meditação. Por fim, o Mestre aquiesceu.

Na ocasião seguinte, o Mestre não exatamente se esqueceu de que havia concordado, mas mudou de ideia. Em vez de duas, ficou meditando durante quatro horas. Até seus discípulos mais próximos ficaram tristes, já que não podiam zangar-se com o Mestre, pois é um séria falta kármica zangar-se com o próprio Mestre. Todavia, ficaram com medo de que alguém na audiência se levantasse e insultasse o Mestre. Em suas mentes, prepararam-se para proteger o Mestre caso ocorresse alguma calamidade.

Quando quatro horas haviam se passado sem sinal de que o Mestre falaria ou encerraria o encontro, um dos seus discípulos mais próximos levantou-se e disse, “Mestre, por favor, não se esqueça da sua promessa.”

O Mestre respondeu imediatamente: “Minha promessa, sim. Eu lhes prometi, e então é meu dever oferecer uma palestra. Hoje, minha palestra será muito curta. Quero dizer que dei centenas de palestras, milhares de palestras. Mas, quem ouviu minhas palestras? Milhares de olhos e milhares de ouvidos. Meus alunos eram os olhos e ouvidos das plateias – milhares e milhares de olhos e ouvidos. Mas falhei em ensinar-lhes qualquer coisa. Agora, quero ter um tipo diferente de aluno. Meus novos alunos serão os corações.

“Ofereci mensagens em milhares de lugares. Essas mensagens entraram por um ouvido e saíram pelo outro, todas no mais curto espaço de tempo. E o povo me viu dar palestras e responder perguntas. Apenas por um breve segundo, seus olhos percebiam algo em mim e, então, tudo se perdia. Enquanto eu falava sobre Verdade, Luz, Paz e Beatitude sublimes, os ouvidos não podiam captá-las porque já estavam cheios de rumores, dúvida, inveja, insegurança e impureza, coisas acumuladas durante muitos anos. Os ouvidos estavam totalmente poluídos e não receberam minha mensagem. E os olhos não receberam minha Verdade, Paz, Luz e Beatitude, porque viam tudo ao modo deles. Quando os olhos humanos veem algo belo, imediatamente começam a comparar. Dizem, ‘Como ele pode ser lindo, seu discurso ser lindo, suas perguntas e respostas serem lindas? Por que eu não posso ser assim?’ E, de pronto, chega a inveja. O olho humano e o ouvido humano ambos respondem através da inveja. Se o ouvido escuta algo bom sobre alguém, imediatamente a inveja chega. Se o olho vê alguém belo, imediatamente a pessoa sente inveja.

“Os ouvidos e olhos cumpriram seus papéis. Provaram ser alunos não-divinos, e não pude ensinar-lhes. Seu progresso foi totalmente insatisfatório. Agora, quero novos alunos e tenho novos alunos. Esses alunos são os corações, onde a unicidade crescerá – unicidade com a Verdade, unicidade com a Luz, unicidade com a beleza interior, unicidade com o que Deus tem e com o que Deus é. É o aluno-coração que tem a capacidade de se identificar com a Sabedoria, Luz e Beatitude do Mestre. E, quando ele se identifica com o Mestre, descobre a sua própria realidade: Verdade, Paz, Luz e Beatitude infinitas. O coração é o verdadeiro ouvinte, o verdadeiro observador; ele é o verdadeiro aluno que se torna um com o Mestre, com a visão, com a realização e com a Luz eterna do Mestre. De agora em diante, o coração será meu único aluno.”

 

 

 

 

EXPECTATIVA HUMANA E SATISFAÇÃO DIVINA

 

Um dia, um discípulo muito próximo de um grande Mestre espiritual o procurou e disse: “Mestre, o senhor me tem dito para não esperar nada da minha vida, mas esperar tudo apenas de Deus. Eu tenho fé em Deus, mas a menos e até que eu O tenha visto face a face, como posso esperar algo Dele? Se vejo uma pessoa, posso esperar algo dela, mas, se não a vejo, o que poderei esperar dela? Eu vejo minhas mãos e espero algo das minhas mãos. Vejo meus membros e, só porque os vejo, sinto que posso pedir-lhes um favor. Mas, no caso de Deus, como não O vejo, de que modo posso esperar algo Dele?”

O Mestre disse, “Meu filho, é verdade que não viu Deus, mas quero dizer-lhe que há muitas coisas que consegue, as quais não vêm de uma ação das suas mãos, nem dos seus olhos, nem de qualquer parte do seu corpo. Há muitas coisas que não espera, nem de você, nem de alguém mais, mas tais coisas ocorrem, mesmo que não perceba qualquer causa exterior ou qualquer providência feita por uma pessoa conhecida sua. Elas acontecem ao Modo de Deus, o qual está muito além da sua imaginação.”

“Mestre, isso é verdade. Mas devo dizer que, muito frequentemente, quando espero algo de Deus, minhas expectativas não são satisfeitas.”

O Mestre perguntou, “Quando esperas algo de si, as suas expectativas encontram satisfação sempre?”

“Não, Mestre.”

“Se não pode satisfazer tudo que espera de si, porque espera que Deus satisfaça tudo o que espera Dele?” Alguém espera algo porque estabeleceu um objetivo para si, e, ou espera que o objetivo venha alcançá-lo, ou procura ir ao seu alcance. Porque tem algum destino em mente, ou puxa o destino para si ou se conduz para o destino. Mas os esforços próprios nem sempre são suficientes para dar-lhe sucesso. Não. Há uma força maior, que se chama Graça, a Compaixão de Deus. Quando essa Compaixão desce das Alturas, nada há que não possa esperar da sua vida. Quando a Compaixão divina desce, se tiver uma expectativa divina, é certo que será satisfeita.

“Também há a possibilidade de que, no início da jornada, um buscador possa almejar uma meta menor porque não está consciente da sua maior capacidade, ou porque não está liberto de seus desejos. Se o indivíduo não tem verdadeira, sincera aspiração, se não é um buscador genuíno, Deus lhe dará o que ele conscientemente quer e espera. Mas, se ele ora e medita com toda alma, quando Deus vir a sua sinceridade e potencialidade, Deus não irá querer que ele alcance a meta inferior. Deus guarda uma meta infinitamente mais elevada pronta para ele.

“No início, sua expectativa pode ser uma gota de Luz, mas Deus está preparando você para poder receber uma vastidão infinita de Luz. No início, pode tentar obter apenas uma gota de Néctar; pode sentir que isto é suficiente. Mas Deus quer alimentá-lo com uma grande quantidade de Néctar. Assim, quando é absolutamente sincero na sua vida espiritual, se tem uma meta menor, Deus pode negar esse seu objetivo inferior, pois Ele guarda para você a Meta mais elevada. Mas, como não enxerga a Meta altíssima, sente que Deus não é bom nem Se importa com você.”

“O que é uma meta menor ou inferior?”, perguntou o discípulo.

“Deixe-me dar um exemplo”, replicou o Mestre. “Eu queria ser um cobrador de trem. Quando eu era criança e o cobrador passava pedindo os bilhetes, eu ficava tão fascinado pelos seus movimentos e com os seus gestos que eu queria ser igual a ele. Agora, veja! Eu me tornei um Mestre espiritual. Ser um Mestre espiritual é uma conquista infinitamente maior que ser um cobrador de trem. Assim, Deus não me permitiu atingir aquele objetivo menor.

“Eu também quis tornar-me um grande atleta, um corredor muito veloz, mas Deus quis algo mais. Ele quis que eu me tornasse um corredor muito rápido, não na vida exterior, mas na vida interior. O nome, a fama e as conquistas de um atleta campeão na vida exterior duram somente alguns anos. É verdade que ele inspira os jovens; mas a inspiração que oferece é nada se comparada com a inspiração que o campeão interior, o Mestre espiritual, oferece. Quando um Mestre inspira alguém, a consciência dessa pessoa é elevada, e ela dá um passo a frente em direção à Meta altíssima. O Objetivo derradeiro pode por fim ser alcançado com a ajuda da inspiração e aspiração de um Mestre.”

O discípulo disse, “Mas Mestre, mesmo quando eu espero de Deus a mais elevada Meta – Paz, Luz e Beatitude em quantidades infinitas – mesmo assim, minhas expectativas não são atendidas.”

“Meu filho, quando você espera Paz, Luz e Beatitude de Deus, significa que estabeleceu para si uma meta bastante elevada. Quando espera algo de seus amigos, parentes, vizinhos ou conhecidos, se eles não quiserem oferecer a você, então, simplesmente não o farão. E quando não obtém tal coisa, fica infeliz porque sente que, apesar de merecê-lo, não o conseguiu; ou sente que os outros não querem dar aquilo a você por causa de inveja e medo de que, se o conseguir, eles não serão capazes de mostrar sua supremacia.

“Mas, no caso de Deus, se Ele não lhe dá algo, não é porque Ele é invejoso ou porque Ele pensa que se der a você a Sua Infinidade não será capaz de manter Sua Supremacia. Não. Você pode sentir que o que tem recebido é apenas uma gota, enquanto o que espera é um oceano infinito; mas, quando Deus lhe dá somente uma gota, é porque Ele sente que mesmo essa pequena gota pode ser muito. Mas, gradualmente, Deus aumenta a sua capacidade, e chegará o dia que você será capaz de receber uma grande gota. E, por fim, será capaz de receber o oceano todo.

“Se espera algo de Deus, mas não o obtém, tenha certeza de que Deus tem razões muito boas e legítimas para não dar aquilo a você. É porque Ele lhe dará algo muito melhor no futuro. Também, Ele dirá a razão pela qual o está negando tal coisa. Se Ele não satisfaz sua expectativa, Ele oferece Luz a você. Através da Luz, Ele torna claro porque não está dando a você o que espera. E, se Ele dá de imediato o que quer, então Ele também diz o motivo de estar conseguindo aquilo agora. Assim, minha criança, se verdadeiramente quer esperar algo, espere não de si, nem de qualquer pessoa, mas somente de Deus.

“O atendimento de expectativas é simultaneamente uma necessidade humana e uma satisfação divina. Quando dizemos que estamos satisfeitos, referimo-nos ao atendimento da nossa expectativa. Mas essa satisfação de expectativa ocorre num modo divino apenas quando entregamos nossa vontade à Vontade de Deus.

“Senão, estaremos orando a Deus, meditando em Deus, adorando a Deus e tentando agradar a Deus com uma forma inadequada de expectativa. Porque rezamos durante oito horas, esperamos que Deus nos dê um sorriso. Mas como saber se, obtendo um sorriso de Deus, nossa vida será imortalizada, ou se, conseguindo outras coisas que queríamos, nossa vida será verdadeiramente satisfeita?

“Se esperarmos de Deus de um modo divino, a Realidade crescerá em nós; e com essa Realidade seremos capazes de seguirmos em direção à nossa Imortalidade, nossa Meta transcendental altíssima.”

 

 

 

 

 

 

QUEM É MAIS IMPORTANTE –

O GURU OU DEUS?

 

Um dia, um Mestre espiritual assistiu a uma triste discussão, uma disputa entre dois de seus discípulos. Os dois estavam quase brigando. O Mestre aproximou-se e falou, “Então, qual é o problema? Por que estão discutindo e brigando?”

Ambos exclamaram: “Mestre, Mestre, ajude-nos! Precisamos de sua orientação. Precisamos da sua luz.”

O Mestre disse: “Se falarem ao mesmo tempo, não poderei fazer qualquer julgamento. Então, diga-me, um dos dois, o que está aborrecendo vocês.”

Um deles falou: “Mestre, o pomo da discórdia é o senhor e ninguém mais.”

“O quê?”, exclamou o Mestre.

O discípulo continuou, “Ele diz que o Mestre, o Guru, é mais importante que Deus. Eu digo: impossível, Deus é mais importante. Ele diz que o Guru é mais importante porque o Guru mostra o caminho, pavimenta o caminho, e o Guru leva o discípulo até Deus. Ele também diz que, embora Deus se importe com todos, mesmo com o adormecido e o não aspirante, se alguém deseja as bênçãos e cuidados imediatos de Deus, é através do Guru que pode obtê-los. Por isso, o Guru é mais importante.

“Mas eu digo que não, que é Deus quem dá esse tipo de amor e compaixão ao Guru; é Deus quem faz do Guru um instrumento para ajudar a humanidade. Então, para mim, Deus é mais importante.

“Ele diz que há uma Meta, mas, se alguém não o levar até a Meta – esse alguém sendo o Guru – Deus será sempre um destino longínquo. Ele diz, ‘O Objetivo pode estar lá, mas quem me levará até lá? Não posso ir sozinho; não sei o caminho. Então, meu Guru é mais importante, porque a Meta não virá até mim.’

“Eu digo: não, a Meta pode não vir até mim, mas a Meta é Deus. Agora, se o Guru o leva até o Objetivo, Deus, e Deus não lhe dá atenção, qual a importância do mensageiro? O Guru pode levar alguém até perto da Meta; mas, se a Ela não se importa com essa pessoa, naturalmente a viagem é inútil. Um ser humano pode levar alguém a um Mestre, mas se o Mestre não se agrada da pessoa trazida, o caso é perdido. Mais importante não é quem leva o discípulo, mas quem se agrada do discípulo. Se Deus Se agrada de alguém, isto é mais do que suficiente.

“Ele diz que, se o Guru aceita alguém como seu mais querido discípulo, então ele toma em seus ombros a lei do karma. Quando o pai sabe que seu filho fez algo errado e o pai quer poupar o filho, ele mesmo assume a punição. Esse é o Guru. Mas Deus é o Pai Universal. Ele trabalha com a Sua Lei Cósmica. Quando fazemos algo errado, Ele nos dá as consequências, a punição. Ele sente que o Guru é mais importante, porque o Guru toma para si a punição que o discípulo merece, ao passo que Deus sempre administra a Sua Lei Cósmica.

“Mas eu digo que não, que Deus não nos pune; Ele apenas nos concede uma experiência. Quem pune quem? Deus tem Sua própria experiência em e através de nós. Não recebemos punição alguma, pois é Deus quem sofre ou Se alegra através de nós, em nós.

“Além do mais, Deus existia antes do Guru vir ao campo da manifestação, e Deus continuará sendo Deus por muito tempo após o Guru deixar o campo da manifestação. O Guru veio de Deus e retornará a Deus, sua Fonte. Mas Deus é infinito e eterno, e jamais deixará de existir. Deus é o Todo; o Guru é a personificação temporária.

“Guru, eu tenho total devoção ao senhor. Embora ele diga que você é mais importante que Deus e eu diga que Deus é mais importante, tenho profunda fé no senhor. Você poderia, por favor, iluminar-nos neste assunto?”

O Guru disse, “Vejam, pensando que o Guru é o corpo, então o Guru não tem importância alguma. Pensando que o Guru é a alma, então o Guru e Deus são igualmente importantes; eles são um e o mesmo. Mas, sentindo que o Guru é o Eu Infinito, o Eu Transcendental, então se faz necessário perceber que não é o corpo do Guru nem a alma do Guru, mas sim o Supremo nele o Eu Transcendental. O Supremo é o Guru, o Guru de todos. Tentando separar o físico, a alma e o Eu Transcendental em três partes diferentes, jamais Deus será realizado, jamais será possível realizar a Verdade altíssima. Para se realizar a Verdade altíssima, deve-se servir ao aspecto físico do Mestre, amar a alma do Mestre e adorar o Eu Transcendental do Mestre. O mais importante é ver no físico a luz sem limites do Mestre; na alma, a consciência de inseparável unicidade; e no Eu, a eterna libertação. Só então, o Mestre e Deus podem tornar-se um.

“Deus e o Guru são igualmente importantes no Jogo Eterno, o Teatro Divino.”

 

 

 

 

 

 

DEVE-SE SEGUIR

A PRÓPRIA NATUREZA

 

(Um homem santo nada no rio, e um observador está sentado na margem, assistindo. O homem santo vê um escorpião bem diante de si. Com pena da pobre criatura, ele o pega e, bem devagar, com toda gentileza, o põe em terra. Enquanto faz isto, o escorpião o ferroa severamente. O homem começa a chorar de dor.)

 

HOMEM SANTO: Eu queria salvá-la e salvei-a. É essa a minha recompensa? De qualquer modo, cumpri meu dever.

 

(Alguns minutos depois, o escorpião cai de novo no rio. O observador continua assistindo.)

 

HOMEM SANTO: Ah, pobre criatura, você sofre novamente. Sinto pena de você.

 

(Ele pega o escorpião outra vez e o coloca em terra. Uma vez mais, o escorpião o ferroa, desta vez com mais força ainda, e o homem santo grita com tremenda dor.)

 

OBSERVADOR: Você é um tolo! Por que fez isso? Da primeira vez, errou, e da segunda, repetiu o mesmo erro.

 

HOMEM SANTO: Meu amigo, o que posso fazer? Minha natureza é amar, minha natureza é salvar. A natureza do escorpião é odiar, a natureza do escorpião é ferroar. Eu tenho de seguir minha própria natureza e o escorpião tem de seguir sua própria natureza. Se ele cair na água outra vez, eu o tirarei, não importando quantas vezes ele venha a cair. Serei picado, chorarei, lamentarei; mas não negarei minha natureza, que é amar, salvar e proteger os outros.

 

(O observador, imediatamente, pula no rio e toca os pés do homem santo.)

 

OBSERVADOR: O senhor é meu professor, meu Guru. Eu tenho procurado, ansiado por um Guru. Hoje, encontro no senhor meu verdadeiro Guru. E como sou seu discípulo, de agora em diante, se o escorpião cair no rio, serei eu quem vai colocá-lo de volta em terra.

 

(O discípulo canta.)

 

Amar bhabana

Amar kamana

Amar eshana

Amar sadhana

Tomar charane

Peyechhe ajike thai

Moher bandhan hiyar jatan

Timir jiban shaman shasan

Halo abasan nai nai ar nai

 

[Meus pensamentos, meus desejos, minha aspiração, as disciplinas da minha vida

Hoje encontraram morada a Seus Pés.

As amarras do apego tentador e as dores do coração,

A vida de escuridão e a tortura da morte,

Não mais vejo, não mais sinto.]

(Ele ajuda o homem santo a sair do rio. O Guru, agora sentado na margem, observa a cena. Em poucos minutos, o escorpião cai no rio. O discípulo o pega e o põe em terra firme, mas o escorpião não o fere.)

 

DISCÍPULO: Como pode, Mestre? Eu não fui ferido. Pensei que eu também seria ferroado pelo escorpião. O senhor foi ferido impiedosamente duas vezes. Eu não entendo.

 

MESTRE: Minha criança, você não compreende? Devo lhe dizer? Você acreditará em mim?

 

DISCÍPULO: Por favor, por favor, diga-me. Eu acreditarei no senhor, Mestre.

 

MESTRE: O escorpião também tem uma alma, e ela lhe disse que, se ele o picasse, ao invés de colocá-lo em terra, você o mataria imediatamente. O escorpião sabia que você não aceitaria aquilo, que não toleraria a ingratidão dele. De você, o escorpião não obteve qualquer garantia de sua segurança. O escorpião não o picou porque sentiu isso. No meu caso, a alma do escorpião sabia que eu jamais o mataria, independente de quantas vezes ele me picasse; eu apenas o pegaria e o colocaria em terra, para a segurança dele. No dia-a-dia, as pessoas também brigam, discutem e ameaçam outras apenas quando percebem que seus oponentes são fracos ou não querem brigar. Mas, caso vejam que alguém é mais forte do que elas, então ficam caladas.

 

DISCÍPULO: Mestre, o senhor tem discípulos?

 

MESTRE: Tenho muitos, muitos discípulos.

 

DISCÍPULO: O que o senhor faz com eles?

 

MESTRE: Eu dou e recebo, recebo e dou. Recebo seu veneno todos os dias e dou-lhes néctar. Recebo sua aspiração e dou-lhes realização. Recebo deles o que eles têm, ignorância, e dou-lhes o que eu tenho, sabedoria. Eles me dão a garantia da minha manifestação e eu lhes dou a garantia da sua realização. Nós necessitamos um do outro. Você precisa de mim para poder esvaziar-se – esvaziar sua impureza, imperfeição, obscuridade e ignorância – em mim. E eu preciso de você para poder enchê-lo com o meu todo, com tudo que há em meu interior. Assim é como completamos um ao outro. A sua natureza é dar-me o que você tem: impureza, obscuridade, imperfeição, limitação, apego e morte. Minha natureza é dar a você o que eu tenho: pureza, amor, alegria, luz, beatitude e perfeição. Quando sua natureza entra na minha natureza e minha natureza entra na sua natureza, ambos somos totalmente manifestos e totalmente completos. Assim é como o buscador e o professor satisfazem ao Piloto Eterno, o Supremo.

 

 

 

 

DOIS DISCÍPULOS

 

(Dois discípulos numa sala no ashram de seu Mestre)

 

PRIMEIRO DISCÍPULO: Eu disse, eu disse, eu disse!

 

SEGUNDO DISCÍPULO: O quê foi?

 

PRIMEIRO DISCÍPULO: Eu disse a você que nosso Mestre não tinha nada. Nada! Ele não tem poder espiritual. Ele não tem poder oculto. Ele só sabe falar. Ele fala sobre Realidade Transcendental, e Consciência Universal, e tudo o que ele pode fazer com seu poder oculto. Mas é tudo mentira. Ele sabe como falar e nós sabemos como ouvi-lo. Mas ele não tem nada, nada. Veja só, ele vem sofrendo desse reumatismo há três meses. Se tivesse ao menos um pingo de poder oculto, já poderia ter se curado.

 

SEGUNDO DISCÍPULO: Meu coração me diz que ele tem capacidade de se curar, mas Deus está pedindo-lhe que tenha essa experiência.

 

PRIMEIRO DISCÍPULO: Ele diz que está tirando nosso karma, mas não fizemos coisa alguma. Eu nada fiz de errado. Você e os outros discípulos também não. O que acontece é que ele nos culpa quando ele faz algo errado. Quem sabe o que ele fez de errado no mundo interior? É a razão para ser punido. E, exteriormente, ele nos culpa.

 

SEGUNDO DISCÍPULO: Ele nunca nos culpa. E eu acredito nele quando diz que está limpando nosso karma.

 

PRIMEIRO DISCÍPULO: Você acredita? Então, acredite. Fique com ele e sofra. Morra com ele.

 

SEGUNDO DISCÍPULO: Eu morrerei com ele. Não apenas morrerei com ele, mas morrerei por ele.

 

PRIMEIRO DISCÍPULO: Deus criou dois tipos de pessoas na Terra: um tipo para enganar, outro tipo para ser enganado; um tipo para tirar vantagens, outro tipo para ser explorado.

 

(Entra o Mestre. O primeiro discípulo começa a esgueirar-se para longe.

O segundo toca os pés do Mestre.)

 

MESTRE (para o primeiro discípulo): Então, você entende que eu não tenho capacidade, que apenas me vanglorio? Não sou o Mestre adequado para você. Você fará melhor indo para outro Mestre, ou esperando pelo Mestre adequado chegar. Deixe-me. Vá para casa e viva em paz. (Para o segundo discípulo) Você acredita em mim. É meu dever ajudá-lo, guiá-lo. Agora, diga-me, você realmente sente que tomo a sua ignorância, a sua imperfeição em meu corpo? Ou diz isso apenas porque estudou minha filosofia e livros escritos por outros? Você leu sobre Ramakrishna, que removeu a impureza, imperfeição e ignorância dos seus discípulos e sofreu tanto. Muitos, muitos Mestres espirituais disseram terem feito o mesmo. Você pensa que eu digo isso só porque tantos outros já o disseram? Pensas que estou apenas falando, ou acha que eu realmente removo coisas de vocês?

 

SEGUNDO DISCÍPULO: Mestre, eu sei o que o senhor tira de mim. Todos os dias, o senhor tira de mim insinceridade, obscuridade, impureza, inveja, dúvida, insegurança e muitas outras imperfeições. Para onde elas vão? Eu as dou ao senhor; elas vão para o senhor. Se ninguém mais na Terra acredita, não me importo. Mesmo que o senhor me diga que não as toma, que é o seu próprio karma, eu não acreditarei. Eu sei que Deus está dando-lhe essa experiência para o meu bem. Se eu tivesse de passar por essa experiência, talvez até morresse.

 

MESTRE: Minha criança, há duas razões para eu sofrer. Uma é que realmente tomo para mim os fardos, as imperfeições, as qualidades não-divinas dos meus discípulos próximos. Isso é o que o Supremo quer que eu faça. Há dois modos de extrair esse karma. Um é assumi-lo e sofrer; o outro modo é lançar as imperfeições do discípulo na Consciência Cósmica. Mas a maneira mais fácil, infinitamente mais fácil, é assumi-lo. É um caminho direto. Você sofre, e eu o toco e retiro seu sofrimento. O outro caminho é como levá-lo a um local diferente, para a Consciência Universal. A Consciência Cósmica pode ser vista como um monte de rejeito. Eu pego as suas impurezas e imperfeições e faço um pacote. Então, tenho de levar o pacote até lá e jogá-lo fora. Mas, daquela outra maneira, eu apenas o toco e, como um ímã, retiro seus sofrimentos, dores e qualidades não-divinas. É mais fácil, e é por isso que o faço. Deus quer que eu faça isso.

Eu digo a Deus: “Deus, minhas crianças me amam tanto e eu não as amo, eu não as agrado.” E então, Deus me diz: “Veja o quanto você sofre por elas. Veja o seu próprio amor, Meu filho – quão sinceramente, quão devotadamente você as ama. Você sente que na perfeição dos seus filhos está a sua perfeição, o que é absolutamente correto. Eles o amam apenas porque sentem que, se o possuírem, possuirão tudo. Elas o amam para terem-no; você as ama para poder trazê-las a Mim. Você as ama porque sente que, se puder trazê-las a Mim, terá cumprido o seu papel. Amando você por benefício próprio, elas sentem que fazem a parte delas. E, quando você as ama, quando as traz até Mim, para seu Altíssimo, você também sente que cumpriu a sua parte.”

Mas Deus também me deu outra razão para sofrer. Muitas pessoas vêm a mim com apenas desejos, desejos, desejos. Vêm a mim apenas para satisfazerem seus desejos. E quando veem que eu fico paralisado de dor, que também estou sujeito a sofrimentos e doenças, que sou tão fraco quanto eles, dizem: “Ele está inválido, desamparado. Como pode ajudar-nos? Como ele pode ser melhor do que nós?” Sentem que o melhor é procurarem outro que possa ajudá-los, e muitos partem. Mas a verdade é que Deus quer que essas pessoas me deixem. Quando se vão, meu barco fica mais leve e pode ir mais rápido em direção à Meta. Deus quer que aqueles que não aspiram deixem seu Mestre, assim tornando o barco do Mestre mais leve.

Essas são as razões por que sofro. Quando um discípulo sincero vê que estou sofrendo por ele, diz, “Se eu realmente amo meu Mestre, devo dar-lhe apenas alegria.” Então, o discípulo faz uma promessa, uma promessa interior: “Quero que ele sinta, constantemente, orgulho de mim. Nada me dará maior alegria do que ver meu Mestre sempre orgulhoso de mim.” E, assim, o discípulo não comete mais erros e o Mestre fica feliz e orgulhoso.

 

(O primeiro discípulo toca os pés do Mestre.)

 

PRIMEIRO DISCÍPULO: Mestre, por tanto tempo eu fui uma criatura inumana, desprovida de fé. De agora em diante, serei seu fiel e devotado discípulo.

 

SEGUNDO DISCÍPULO: Mestre, eu tenho sido um discípulo devotado e fiel por um longo tempo. Hoje, o senhor me contou o segredo do seu sofrimento. De hoje em diante, eu me considero uma importante parte consciente do senhor. Eu me considero um braço seu. Mestre, sua compaixão é a única salvação da minha vida.

 

PRIMEIRO DISCÍPULO: Mestre, seu perdão é a única salvação da minha vida.

 

MESTRE (para o primeiro discípulo): Reconhecendo a sua estupidez, a sua ignorância, você trouxe a sua divindade para a tona. (Para o segundo discípulo) Reconhecendo-me, a minha Verdade espiritual, você manifestou a Divindade de Deus na Terra. Manifestou a Vontade de Deus na Terra.

O som do silêncio – Yogod escuta uma velha árvore

felicidade-para-meditar-mandala-sri-chinmoypor Akrura Bogéa

Yogod, um ancião, morava numa casa simples, com uma pequena varanda de frente para o leste, onde o mestre sentava-se todas as manhãs para ver o nascer do sol. Na frente de sua varanda, tinha uma velha mangueira, que projetava a sua sombra na pequena varanda, tornando-a o lugar mais fresco da casa e vez por outra soprava uma brisa refrescante. Definitivamente aquele lugar era o predileto de Yogod. O ancião era um homem de poucas palavras. Quando lhe perguntavam algo pertinente, respondia monossilábico. Quando considerava que a pergunta era tola, nem se dava ao trabalho de respondê-la. Seus alunos conheciam as características e particularidades do seu professor e ainda assim o amavam, pois consideravam-no um sábio.

Certa vez, Yogod resolve encostar seu ouvido no tronco de uma velha árvore, diante de sua pequena varanda. Algumas pessoas caçoavam dele, outras acreditavam que ali tinha algo de muito especial, outras pessoas tentavam imitá-lo, nada ouviam e logo desistiam. O velho professor entrava em transe quando encostava o ouvido no tronco da velha mangueira. Certo dia, um de seus alunos resolve perguntar a Yogod:

– Mestre, o que essa frondosa mangueira é para você?

-Deus. Responde o professor, que não se move e continua a sua escuta.

Passados alguns meses, a casa de Yogod se tornou um local de peregrinação, e ele ficou conhecido como o mestre da árvore. Vinham pessoas de todos os lugares, umas davam-se as mãos em torno da árvore, outras cantavam mantras, outras acendiam velas, outras ajoelhavam-se diante da árvore e nada disso alterava as vidas dessas pessoas, que continuavam as mesmas.

O tempo foi passando, Yogod continuava ali diariamente com seus ouvidos colados no tronco da velha árvore, ora do lado esquerdo e ora do lado direito. Algumas pessoas diziam que Yogod era um louco, já que por anos estava ali diariamente na mesma prática e as pessoas que faziam o mesmo, nada ouviam, portanto ninguém era capaz de entender o que se passava ali, entre o mestre e a árvore.

-O senhor sente alguma coisa, quando escuta a árvore? alguém pergunta.

-Paz, responde o mestre.

A partir dessa resposta, os artistas e compositores invadem o terreiro de Yogod, para compor canções enaltecendo a paz e encenando peças de teatro com o mesmo tema. As pessoas iam e vinham e nada conseguiam, suas vidas continuavam a mesma. Em outra ocasião, alguém perguntou ao mestre:

-O Sr. vê alguma coisa quando escuta a árvore?

-Sim. Vejo luz, responde Yogod.

A partir daquela resposta do sábio para uns e louco para outros, as pessoas que o visitavam procuravam a luz da árvore, nada viam, desistiam e suas vidas permaneciam as mesmas.

Muitos anos se passaram, até que chega um determinado garoto e cola seu ouvido no tronco da árvore imitando o mestre quando de repente entra em êxtase. As pessoas fazem fila, para colocarem seus ouvidos o mais próximo possível do garoto. Yogod se afasta da árvore, senta-se na sua varanda sorrindo, vendo as pessoas se acotovelarem para sentirem o que o garotinho sente. Uma das pessoas ali presentes, resolve então perguntar ao garoto:

– O que você está exatamente ouvindo? faz-se uma pausa e o garoto responde:

-Nada.

O velho Yogod sorri, e entra em transe, iluminando-se junto com o garoto. Dizem que até nos dias de hoje, estão lá o garoto e o ancião Yogod, com seus ouvidos junto a velha árvore. Seus olhos brilham, seus sorrisos se abrem, suas feições tornam-se serenas e tranquilas para todos aqueles que resolvem visitá-los.

(Outras histórias de Yogod – o despertar espiritual)

Iniciação – o que é ser iniciado

compartilhando a meditaçãopor Patanga Cordeiro

Desde o início dos tempos, essa palavra foi usada e reusada, recebendo uma enorme força e significado profundíssimo. Não estou falando da iniciação num aspecto mais secular, como iniciação científica ou iniciação a uma certa prática, ou realizar algo pela primeira vez. A iniciação espiritual é:

  • Quando você estabelece uma conexão viva com o seu Mestre
  • Quando o seu Mestre estabelece uma conexão viva com você
  • Quando você está desperto e aceita a vida espiritual como o propósito da vida

Todos os três são sinônimos. Se você aceita a vida espiritual, foi o seu Mestre quem o inspirou e deu forças para tanto, mesmo que você nem saiba que tenha um Mestre. Igualmente, se encontrou o Mestre, é porque está desperto e aceitou a vida espiritual como o seu propósito na vida. O Mestre verdadeiro não lhe aceitará se não estiver pronto, pois ao aceitá-lo ele está fazendo uma promessa solene de que o levará até a meta final – apenas quem estiver pronto para essa jornada conseguirá chega lá. Disse o famoso ditado:

“Quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece.”

Essa hora é quando tudo na sua vida muda. Eu disse tudo. Quando você muda, todas as coisas mudam. Se você enxergar perfeição dentro de si, verá perfeição no exterior também. Tal é a beleza da vida espiritual.

O significado da iniciação

Primeiro, a iniciação não é necessariamente preto ou branco, sim ou não. Você pode ir gradualmente se abrindo, se descobrindo, até que percebe um ponto onde está “mais para lá do que para cá”. Quando chega esse ponto, podemos dizer que a iniciação ocorreu.

Quando você está iniciado (como você já viu, poderá nem ter certeza se é ou não iniciado), a conexão que tiver com o seu Mestre, com a sua vida espiritual, com a sua alma, será forte o suficiente para fazer com que o seu progresso adquira uma velocidade inigualável. O próprio Mestre poderá entrar em você e desobstruir os pontos de estagnação na sua busca espiritual, se você mantiver a porta do seu coração aberta.

Ao fim do artigo deixei o texto mais bonito que conheço sobre a iniciação. Lá, você pode ler mais sobre o significado da iniciação.

 

música sri chinmoyO início e o fim da jornada, e um pouco mais

Uma vez iniciado, basta seguir fielmente as instruções do seu Mestre. Mas saiba que as instruções não são simplesmente conjuntos de procedimentos exteriores. Um Mestre verdadeiro ensina em silêncio primordialmente. Você precisará desenvolver o seu amor, devoção e entrega ao Divino, ao máximo. Precisará ter autoconhecimento, devoção à causa suprema e agir de forma incondicional e perfeita. Precisará de paciência e velocidade. Se sua velocidade for muito grande, ainda assim poderá levar mais de uma vida para que a sua iniciação floresça até o resultado final, a perfeição completa. O seu Mestre é o molde. Você tenta se assemelhar a ele, não como uma cópia, mas como a argila inserida na forma. Ela toma o formato utilizado do objeto desenhado, mas mantém uma leve característica própria. Assim, tendo entregue toda a sua essência à Forma Divina, poderá agir com a sua individualidade aperfeiçoada no mundo. Essa é a consumação da iniciação – quando você mesmo alcançou a perfeição e pode tomar parte em tornar o mundo perfeito também.

 

Uma experiência de iniciação

Contarei uma experiência que eu poderia fazer referência como, de certa forma, um dos marcos para a minha iniciação (pois houve mais de um). Não costumo contar minhas experiências interiores, até porque não costumo ter nenhuma experiência muito extraordinária para contar, mas essa é uma das coisas que gosto de contar nos cursos de meditação, então escreverei aqui também.

Já estando no Caminho de Sri Chinmoy por cerca de 4-6 meses, um dia tive um sonho consciente (que é algo raro para mim). Eu estava numa espécie de boate, com música, bebidas, mulheres, fumaça, etc. Era um lugar realmente desagradável. Se eu acordasse num lugar desses hoje em dia, teria saído imediatamente. Mas era um sonho. Lá, as pessoas me ofereciam coisas como álcool, as mulheres se colocavam disponíveis para relacionamentos, etc. Mas eu recusava tudo. Depois de um tempo, as pessoas desistiram de tentar me atrair. Nessa hora eu pensei “Agora posso ir embora.”

Saindo do prédio, eu estava num deserto de terra. Eu vi uma rodovia em frente e, nela, vi um colega discípulo de Sri Chinmoy, o Nandika, correndo pela estrada. Eu me juntei a ele. Fomos correndo pela estrada por um tempo, até que chegamos numa parte que tinha um acostamento, também de terra. Ao parar de correr e olhar para a frente, me deparei com uma surpresa: o meu Mestre, Sri Chinmoy.

Ali estava o Meste, juntando humildade e magnificência numa mesma presença. Ele estava inteiro de uma cor de cobre, algo entre o laranja e o dourado. Não só a roupa, mas a pele, os olhos, os dentes, tudo era de um material só. O interessante é que as estátuas de Sri Chinmoy, inauguradas a partir de 2008, são bem parecidas!

Com o Nandika do lado, ele chegou bem perto de mim, bem perto mesmo, a uns trinta centímetros do meu rosto. Ele parou, deu uma volta ao meu redor caminhando (eu fiquei congelado no lugar!), deu uns passos a mais e virou para mim, bem sério:

“Quem é o seu Mestre!?”

“É você, Guru!”, eu disse, pois é óbvio. Como se ele mesmo não soubesse, né?

O Guru sacudiu a cabeça com força, em negação. Eu falei:

“Eu SEI que é você.”

O Guru meneou a cabeça, inclinando-a pros lados, o que entendi claramente como “Sim, essa é a resposta certa, mas eu não quero ouvir dessa forma.” Na hora entendi o seu intuito. Eu disse:

“O Supremo é o meu Guru,” (pois a filosofia do Sri Chinmoy diz que Deus é o único Guru,) ao que o Guru acenou com vigor que ‘sim, sim’, com a cabeça. “Mas você é (representa) o Supremo!”, completei.

Ele deu uma gargalhada muito alegre e satisfeita, demonstrando claramente que estava feliz com a resposta e que eu realmente tinha entendido a sua filosofia. O sonho acabou. Acordei (felizzz!!!)


Eu gosto de contar essa experiência porque todos os seus momentos possuem um significado bem claro na vida espiritual, pelos quais acredito que todos os buscadores passam algum dia:

Estar numa situação de vida que não condiz com a sua busca (a boate)

Deixar de lado ou perder o gosto por coisas que atrasam o nosso progresso espiritual (álcool/drogas, música emocional, relacionamentos superficiais)

Sair sozinho sem saber exatamente aonde vai (sair da boate sem saber o que teria lá fora)

Encontrar a estrada no meio do deserto, que você sabe que leva até a meta (encontrar a rodovia)

Reconhecer e se inspirar com seus irmãos discípulos de caminho espiritual (encontrar o Nandika já correndo na estrada)

Deparar-se com o Mestre e reconhecê-lo, assim como ele o reconhece e, ainda, ter dentro de si como algo natural os pontos principais da sua filosofia (o teste “Quem é o seu Mestre!?”)

Acordar e seguir em frente! (foi isso mesmo!)

Abaixo eu separei um texto muito, muito especial, onde Sri Chinmoy comenta sobre quem está querendo ser iniciado e quais os passos ou graus. Leia até o fim.

 

Iniciação nas palavras de um Mestre

trechos do livro O Mestre e o Discípulo, de Sri Chinmoy

 

     Se você sente que ao aceitar um Mestre estará evitando as próprias responsabilidades, está enganado. Dessa forma estará separando-se do seu Mestre. Aqueles que são meus discípulos muito devotados não se sentem estranhos. Eles sentem sua unicidade comigo, sentem que tenho mais capacidade que eles e, então, identificam sua pouca capacidade com a minha capacidade maior. Quando entram em minha capacidade, sentem que estão entrando em suas próprias capacidades, porque dentro de mim, veem todo o amor e cuidado.

     Somente sentindo a sua unicidade com o Mestre é que poderá fazer progresso real. Sentindo-se um estranho ou um intruso no coração do Mestre, ou mesmo pensando ser apenas um convidado, nunca terá sucesso na vida espiritual. Quanto tempo poderá ficar na casa de um amigo como convidado? Apenas alguns dias ou um mês, e então terá de ir embora. Mesmo sentindo que vem como amigo, ainda assim deverá partir. Mas, se sentir que a casa dele é a sua casa, então estará seguro, eternamente seguro.

     Quando o discípulo e o Mestre se sentem seguros um no coração do outro, a hora da iniciação está próxima. Quando o Mestre inicia alguém, ele dá à pessoa uma porção de seu alento-vida. Na ocasião da iniciação, o Guru faz uma promessa solene ao buscador e ao Supremo de que dará o melhor de si para ajudar o buscador na sua vida espiritual, que oferecerá seu coração e sua alma para conduzir o discípulo até a mais elevada região do Além. O Mestre diz ao Supremo: “A menos e até que eu tenha levado esta criança até Ti eu não a deixarei, meu jogo não estará terminado.” E ao discípulo: “De agora em diante, pode contar comigo; pode considerar-me como muito seu.”

     Na hora da iniciação, o Mestre realmente assume as abundantes imperfeições do discípulo, tanto desta quanto das encarnações passadas. Certamente, há Mestres espirituais verdadeiros e sinceros e, também, os falsos. Aqui, refiro-me aos verdadeiros. Alguns Mestres que são muito sinceros somente iniciam um discípulo por mês. Após a iniciação, ficam doentes e sofrem terrivelmente, porque assumiram verdadeiramente as imperfeições do discípulo. Todavia, existem alguns Mestres espirituais capazes de iniciar muitos discípulos, sem sofrimento, porque têm a capacidade de lançar na Consciência Universal as imperfeições que retiram deles. Mas também há alguns falsos Mestres que iniciam cinquenta, sessenta ou cem discípulos de uma vez, ou que iniciam por procuração. Esse tipo de iniciação em massa é uma grande ilusão.

     O Guru pode iniciar o discípulo por vários meios. Pode fazer a iniciação à tradicional maneira indiana, enquanto o discípulo medita. Também pode iniciar enquanto o discípulo dorme ou mesmo em sua consciência normal, mas calmo e tranquilo. O Guru pode iniciar o discípulo simplesmente através dos olhos. Ele olha para o discípulo e imediatamente este é iniciado – mas ninguém fica sabendo. Um Mestre também pode proceder à iniciação física, que é pressionar a cabeça ou o coração ou qualquer parte do corpo do discípulo. Nessa ocasião, ele tenta fazer a consciência física sentir que a iniciação ocorreu. Mas junto com essa ação física, o Guru iniciará o discípulo de uma forma psíquica. O Guru vê e sente a alma do discípulo, agindo sobre ela. A iniciação também pode ser feita através de processos ocultos ou num sonho. Se não houver Mestre espiritual disponível na época, o próprio Deus pode tomar uma forma humana muito luminosa no seu sonho ou durante sua meditação e Ele próprio pode iniciar você. Mas isso é muito raro. Na maioria dos casos, a iniciação é feita por um Mestre.

     Meus discípulos não precisam pedir-me para iniciá-los exteriormente, porque eu sei o que é melhor para eles; isto é, eu sei quando ou não a iniciação exterior vai acelerar seu progresso interior. Frequentemente, eu inicio meus discípulos através de meu terceiro olho, que percebo ser o modo mais convincente e efetivo. Muitos já viram meus olhos quando estou em minha consciência mais elevada. Nessas ocasiões, meus olhos humanos tornam-se um com meu terceiro olho. Estes dois olhos comuns então recebem infinita Luz do terceiro olho, e a Luz proveniente dos meus olhos divinamente radiantes entra nos olhos do aspirante. Imediatamente, a Luz entra no corpo todo do aspirante e o permeia da cabeça aos pés. Então, vejo a Luz, a minha própria Luz, a Luz do Supremo, brilhando na ignorância do discípulo, e aquela ignorância oferece sua gratidão. Ela diz: “Agora que me tornei sua, agora que o senhor me fez sua, serei sua para sempre.” Nessa ocasião, torno-me responsável por iluminar a ignorância do discípulo e o discípulo se torna responsável por ajudar-me a manifestar o Supremo na Terra.

     Apenas porque eu o iniciei, não significa que poderá iniciar alguém mais. Não é como se eu lhe contasse uma Verdade que agora pode contar a mais alguém. Frequentemente, ouço que um Mestre iniciou alguém, e o discípulo segue iniciando outro, e então este prossegue para outro mais – como descendentes de uma família. Esse tipo de iniciação não tem valor algum. A verdadeira iniciação tem de ser feita por um Mestre Deus-realizado; não pode ser feita por procuração. Se um Mestre tem o poder espiritual de iniciar um discípulo diretamente no plano oculto, não há problema. Mas, se diz que pode iniciar alguém através de um discípulo que ainda é um iniciante, esse tipo de iniciação é um absurdo. Quando pessoas nos Estados Unidos dizem que foram solicitadas a iniciar outras por seu Mestre espiritual na Índia, então não se trata mesmo de iniciação; é só ilusão. A iniciação tem de ser feita diretamente por um Mestre, no plano físico ou nos planos interiores.

     Quando o Guru inicia um discípulo, ele o aceita sem reservas e incondicionalmente. Mesmo se o discípulo parte após a iniciação, pensando mal do Guru, o Guru atuará em e através desse discípulo para sempre. O discípulo pode até ir a outro Guru, mas o Guru que o iniciou sempre ajudará aquele buscador no mundo interior. E, se o novo Guru é suficientemente nobre, permitirá que o Guru original aja em e através do discípulo. Embora a conexão física com o Guru original esteja cortada, e fisicamente o Guru não veja o discípulo, espiritualmente ele está fadado a ajudá-lo, pois fez uma promessa ao Supremo.

     Mesmo se o discípulo não buscar outro Guru, mas simplesmente sair do caminho da Verdade, ainda assim, seu Guru original tem de manter a promessa. O discípulo pode sair do caminho espiritual por uma encarnação, duas ou mesmo muitas encarnações, mas seu Guru – esteja ele encarnado ou nas regiões superiores – constantemente olha pelo discípulo e espera pela oportunidade de ajudá-lo ativamente, quando ele uma vez mais retornar ao caminho espiritual. Na verdade, o Guru é sinceramente desapegado, mas como fez uma promessa ao discípulo e ao Supremo no discípulo, ele espera indefinidamente por uma oportunidade de conduzir o discípulo para a Meta.

     Alguns dos meus discípulos que em algum momento seguiram meu caminho com toda a sinceridade também me deixaram com toda a sinceridade. Mas, se eles são meus discípulos no mundo interior, se eu já os havia aceitado e eles eram meus discípulos verdadeiros, então gostaria de dizer que não os esqueci. Eles podem levar uma, duas, cinco ou seis encarnações para retornarem à vida de aspiração, mas não importa quanto tempo levem, eu os ajudarei nas suas marchas em direção à Deus-realização.

     Devido à promessa que fiz à alma do meu discípulo e a Deus, sou mais responsável por meu discípulo do que ele próprio. Mas, quem me permite assumir essa responsabilidade? É o discípulo! Estou à mercê dos meus discípulos. Agora mesmo, Deus é uma ideia vaga para eles, de modo que hoje podem me aceitar e amanhã podem me deixar. No plano exterior, o discípulo pode me deixar, mas, enquanto o Supremo desejar que eu me concentre naquela pessoa e envie Sua Luz para aquela pessoa, eu tenho de fazê-lo. Após deixar nosso caminho, o discípulo pode seguir algum outro caminho ou mesmo nenhum. Mas, uma vez que eu aceite alguém, a menos e até que o Supremo me diga que aquela pessoa está em outras mãos, eu sou responsável por ela.

     Eu digo aos meus alunos, “Estou pronto para assumir todos os seus problemas, desde que você esteja pronto para sentir que é por mim e apenas por mim. Se sua dedicação fica dividida aqui e ali, nesse e naquele grupo, e se vem meditar no nosso Centro só de vez em quando, então, mesmo que diga que eu sou o seu Mestre, você me tornou impotente para fazer algo por você. Se verdadeiramente me der a sua completa existência, interior e exterior, somente então poderei fazer algo por você. É na força da minha total unicidade com você e na sua aceitação de mim que eu posso assumir os seus problemas.”

     Quando um Mestre da maior grandeza diz que você tem uma relação eterna com ele, ele está falando pela força da sua absoluta unicidade com o Supremo e com a sua alma. Ele sabe que você estará sempre sob sua orientação interior. E quando realizar o Altíssimo, verá que a suprema Consciência que realizou é a mesma Consciência que o Mestre representou na Terra. Um verdadeiro Mestre espiritual incorpora a infinita Consciência do Supremo e a representa na Terra.

     Quando o Mestre fala de uma relação eterna, trata-se de uma relação de aceitação mútua. O Mestre não diz, “Quer você esteja consciente disso ou não, eu manterei minha eterna conexão com você e seremos eternamente um.” Não, se o Mestre tem verdadeiramente a capacidade de estabelecer essa eterna relação com o discípulo, então ele também tem a capacidade de fazer o discípulo sentir que ele o fez. O Mestre oferece essa mensagem para a alma do buscador, e o buscador sente que sua conexão interior com seu Mestre durará para sempre. Então, com sua extrema doçura, carinho, compaixão, gratidão e orgulho, o Mestre aceita o discípulo de todo o coração e permanentemente. E o discípulo tem o mesmo sentimento pelo Mestre; ele sente que seu Mestre não é uma entidade separada, mas sim ele mesmo, o próprio discípulo. Ele sente que o mais elevado, o qual chama de Mestre, é sua própria parte mais iluminada. Quando tem esse tipo de sentimento, essa espécie de realização, então a relação eterna entre Mestre e discípulo poderá ter o seu início.

     A relação eterna entre o Mestre e o discípulo possui relevância somente no caso de um Mestre realizado. Se o Mestre não é completamente realizado, então está só enganando o discípulo. Há muitos Mestres que não realizaram Deus e ainda assim dizem, “Oh, nós temos uma eterna conexão. Tomarei conta de você, mesmo após eu ter deixado o meu corpo.” Quando esse tipo de Mestre deixa o corpo, o discípulo poderá chamar por seu Mestre constantemente, mas não obterá resposta. Mesmo no plano físico esse tipo de Mestre é sem utilidade. Ele só pode fazer falsas promessas.

    O principal objetivo da iniciação é trazer a alma à tona. Se não há iniciação, a purificação do corpo, do vital, da mente e do coração nunca poderá ser completa. Se não há iniciação, a Meta altíssima nunca poderá ser realizada. Os que são próximos de mim sentiram o real florescimento de suas iniciações no momento que, do fundo do coração, dedicaram ao Supremo em mim suas vidas por completo – corpo, vital, mente, coração e alma. Esse florescimento da iniciação é verdadeiramente mais do que iniciação. É a revelação da própria divindade interior dos discípulos. Nesse momento, eles sentem que eles e seu Guru se tornaram totalmente um. Sentem que seu Guru não possui existência sem eles e que eles não têm existência sem seu Guru. O Guru e o discípulo se completam mutuamente e sentem que essa satisfação vem diretamente do Supremo. E o maior segredo que o discípulo aprende do Guru é que somente satisfazendo o Supremo primeiro pode ele trazer plenitude ao resto do mundo.

     Como pode o Guru satisfazer ao Supremo? O Guru faz a sua parte assumindo a ignorância, imperfeição, obscuridade, impureza e indisposição do discípulo, conduzindo-as com fé e devotadamente ao Supremo. O discípulo satisfaz ao Supremo permanecendo constantemente no barco do Guru e no mais profundo recesso do coração dele, sentindo que existe somente para a satisfação divina de seu Mestre. Satisfazê-lo, manifestá-lo: essa é a única razão, o único propósito, o único significado da vida do discípulo.

 

*

 

O Guru não é o corpo. O Guru é a revelação e manifestação de um Poder divino sobre a terra.

 

*

Encontrar Deus sem um intermediário

Pode não ser impossível,

Mas é certamente a mais ambiciosa

Empreitada montanha-escalada.

 

*

 

Você recebeu alguma ajuda para aprender o alfabeto? Requisitou um professor para ajudá-lo a aprimorar-se em seu instrumento musical? Recebeu instrução para capacitar-se a receber o seu diploma? Se precisou de quem o ajudasse a fazer essas coisas, também não necessitará de um professor que possa guiá-lo no conhecimento do Divino – a sabedoria do Infinito? Esse professor é o seu Guru e ninguém mais.

 

*

 

O Guru e o discípulo devem se testar docemente, seriamente e perfeitamente antes da aceitação mútua. De outro modo, se errarem na escolha, o Guru terá de dançar com o fracasso e o discípulo com a perdição.

 

*

 

O que significa a aceitação do discípulo por um Guru? Significa que o Guru viverá alegremente no mundo de dourado sacrifício.

 

*

 

A suprema iniciação é quando o Mestre diz ao discípulo, “Tome o que eu tenho”, e o discípulo diz ao Mestre, “Tome a mim como eu sou.”

 


livro inspirador espiritual iniciacao elizabeth haichAos que tiverem interesse, há um outro livro, muito inspirador, da Elizabeth Haich, chamado Iniciação (Initiation).

Sidarta, o Buda, os desejos, o caminho e um poema

sri chinmoy meditaçãopor Akrura Bogéa

O príncipe Sidarta concentra-se no inimigo desejo, para solucionar o sofrimento humano e profetiza que “a semente do sofrimento é o desejo”. Isso dá origem a outro questionamento mental. Como vencer o desejo sem desejar? O príncipe tentou resolver esse enigma e após muitas frustrações e sofrimentos, descobriu o ABC do caminho espiritual. O A ele descobre com a “concentração” no desejo, o B quando descobre a “meditação”, que vai além das dualidades do desejar e do não desejar. Finalmente no C, descobre a ”contemplação” que é quando o príncipe contempla o Buda, o Nirvana, a iluminação, a realização e assim por diante. O príncipe Sidarta troca o seu título terreno por um título divino, nos ensinando o “caminho do meio”, evitando os excessos, as extremidades, sendo moderado inclusive nas moderações, para encontrar dentro de si a realização.

O nosso caminho espiritual é o caminho de amar a Deus, mas gosto de citar os mestres e sábios realizados, pois eles são sempre bem vindos para alimentar a nossa inspiração e aspiração. Abaixo uns versos de homenagem ao sábio Buda:

 

O caminho do Buda

 

A dor é um fruto amargo

Todo mal tem sua raiz

O desejo é radical

Penetra no coração

E engana-se quem diz

Que o desejo não faz mal

Frustração e sofrimento

É o resultado final.

 

Existe um antigo caminho

Que o Buda pavimentou

Não tem pedras nem espinhos

Nem sofrimento, nem dor

Dissipa as ilusões

Não há “fracos” nem “valor”

É um caminho de paz

De perdão e de amor.

 

A semente do desejo

Gera o frutinho da dor.

 

Ensinamento do Buda

Resolve atribulações

Transmuta o sofrimento

Cicatriza os corações

É o bálsamo dos feridos

Para os famintos o pão

É a água do sedentos

E uma luz na escuridão.

 

A luz ilumina as trevas

Clareia nossa visão.

 

Não há culpa nem pecados

Onde impera o perdão

Aos que estão abatidos

Ergam os olhos para a luz

Que traz coragem, vigor

Dissolve as ilusões

A luz é a completude

Do jardim interior.

 

Dentro do seu coração

Tem um vasto jardim em flor.

 

– Akrura Bogéa

Três poços – uma história

flor meditação branca

Tem uma história que ilustra bem o princípio da concentração dos esforços. Talvez vocês já tenham ouvido ela. É uma versão pessoal de uma história com milênios de uso.

Uma pessoa queria cavar um poço para encontrar água. Ela começou a cavar no quintal de sua casa, ainda de manhã, bem cedo. Algumas horas depois, um vizinho reparou e indagou o motivo de estar cavando. “Estou procurando água”, disse o escavador. O vizinho respondeu: “Aqui você não vai encontrar água. É por isso que nossas plantas não crescem bem.” O escavador achou que aquilo fazia sentido. Ele fechou o buraco que tinha feito e começou a cavar em outro lugar, que parecia mais propício. Já no início da tarde, um conhecido o encontrou e perguntou por que estava cavando. Ao ouvir a resposta, ele explicou que aquele lugar não tinha água e sugeriu um novo lugar, juntamente com uma nova explicação de por que seria melhor.

Por fim, começou a cavar o terceiro buraco. Jà anoitecendo, cansado e com as mãos feridas, sangrando de tanto manejar o cabo da pá, ele sentou-se na beira do buraco que tinha feito até então. Sentindo-se inútil, começou a pensar mal de suas capacidades e sentir-se destinado a não encontrar água, a despeito de seus esforços. Mais uma pessoa – um geólogo da prefeitura – chegou. Ele, ao invés de perguntar por que estava cavando, perguntou por que a pessoa estava desalentada. A pessoa explicou toda a história e que já não aguentava mais cavar – apesar de não ter ainda encontrado seu objetivo. O geólogo explicou com um riso. “Ha! Que triste mesmo! Na verdade, em qualquer um dos lugares você teria encontrado água. A questão é que você deveria ter cavado em apenas um dos lugares! Ao cavar diversos buracos rasos, você não chegou em resultado algum. Mas ao cavar apenas um buraco com a profundidade dos três, você encontraria água em qualquer um dos locais.”

Essa é uma parábola que ilustra a necessidade de fazermos algo até o fim para conhecermos o seu sentido real. Existem alguns caminhos verdadeiros levando até a meta. Qualquer um deles terá o mesmo destino. Mas, se você trilhar um deles por um quilômetro e voltar, só para seguir outro por um quilômetro e depois voltar, por fim perceberá que – a despeito do esforço empreendido – você está ainda no ponto de partida. E mais: que o seu tempo, a sua vida e a sua energia já foram gastas nesse processo. Você nem saberá se algum daqueles caminhos realmente o levariam até a meta.

Nós não temos ainda a visão interior para “criar um caminho próprio”. Temos de ter a humildade e sinceridade para reconhecer as trilhas estabelecidas que certamente nos levarão até o destino. Uma vez lá, já saberemos reconhecê-lo.

Artes Marciais e Meditação

meditacao maus habitospor Patanga Cordeiro

Beleza e disciplina

A beleza na fluidez dos movimentos de quem dedicou a vida à arte marcial possui pontos em comum com a meditação: disciplina diária, dedicação diária, intensidade diária. Um atleta verdadeiro deixa de perseguir sonhos menores e escolhe as coisas que o levam adiante no seu caminho. Sua recompensa é caminhar em direção à auto-descoberta, a única coisa que precisamos descobrir, o único propósito de nossa existência. É algo que faz valer a superação de qualquer desafio.

No entanto, esse caminho (palavra “do” que compõe parte do nome das artes marciais, em judo, kendo, aikido, karate-do, taekwonwdo) não é de negação. Um caminho espiritual representa exatamente o contrário. É descobrir o que vale a pena ser descoberto, é ser feliz de verdade. Aliás, o termo correto para Kung Fu como arte marcial seria Wushu. Kung Fu em si é um termo da língua chinesa que possui um significado mais elevado, além do estilo de luta; em verdade, significa “alcançar uma meta elevada, excelência na busca.”

Luta x arte

As artes marciais não são estilos de luta. A arte marcial é uma arte. Ela não tem um propósito-fim evidente. Aprender a lutar pertence aos estilos de luta. Mas os monges Shaolin foram os primeiros a codificar uma arte marcial, que mais tarde passou a ser o kung fu. Em adição à meditação zen e as tarefas diárias a serem realizadas nos templos, uma rotina de exercícios físicos – mas sempre voltados para a interiorização da consciência – foi implementada. Isso ajudou muito os monges a praticarem a meditação, visto que seus corpos ficaram mais dinâmicos, saudáveis, despertos e – o segredo das artes marciais – sensíveis à energia interna, canais adequados para o fluxo dessa energia.

Igualmente, a meditação, por equilibrar as energias internas (prana, chi, qi), traz uma reflexão física. Eu mesmo tive experiências onde tanto a meditação e a dieta vegetariana melhoraram meu treino de artes marciais, quanto as artes marciais melhoraram minha prática de meditação.

Indo além

Gostaria de deixar uma dica: sinto que, por conta das nossa próprias barreiras internas e externas, apenas a prática de artes marciais não basta para a nossa auto descoberta. Seria extremanente valioso adicionar uma forma consciente de aspiração, como a oração ou meditação diárias, de no mínimo 30 minutos. (por exemplo: 20 minutos de manhã e 10 à noite).

A relação entre meditação e artes marciais

Para chegarmos realmente ao cerne do assunto, eu deixo aqui duas perguntas feitas a Sri Chinmoy sobre as artes marciais, no inglês original.

* * *

What is the relationship between meditation and sports? I know in martial arts, which is something I’ve done for many years, there is a direct relationship, but does it also exist with sports?

Sri Chinmoy: In sports we need energy, strength and dynamism. When we meditate, we make our mind calm and quiet. If inside us there is peace, then we will derive tremendous strength from our inner life. That is to say, if I have a peaceful moment, even for one second, that peace will come to me as solid strength in my sports, whether I am running or jumping or throwing. That strength is almost indomitable strength, whereas if we are restless, we do not have strength like that.

Look at an elephant. An elephant has tremendous strength. It is not restless like a monkey which is moving here and there. It is exactly the same for us. In our inner life if we have the strength of an elephant, then only in our outer life can we be peaceful. A lion is very peaceful. Then when something happens, he starts roaring. But its strength is the peace that it has. It has confidence. But a monkey and other animals that are very, very restless, what kind of strength do they have? Meditation gives us inner strength. Once we have inner strength, we are bound to be successful in our outer life.

 Sri Chinmoy, Run And Smile, Smile And Run, Agni Press, 2000

A Talk by Sri Chinmoy to the students of Karate Teacher, Mr. Kimo Wall of Honolulu, Hawaii, at the Sagrado Corazon College in San Juan, at 2:00 p.m. on Jan. 19, 1971, after Kimo and his students had given a lengthy and extraordinarily skillful performance of Karate for the Master and the disciples of the San Juan Centre.

Sri Chinmoy: Your teacher, our sweet Kimo, has performed something entirely unique. Today we have learned quite a few things from him. The most important thing we have learned is that his combined concentration in the physical, in the vital, in the mental, in the psychic and in the spiritual were all directed in a superb way for his purpose. You all know that Karate is primarily for self-defence, but again I wish to tell you, and I am sure that your teacher has already taught you, that it is not for self-defence alone, as such. It is for something deeper. Self-protection is necessary, but along with self-protection, what is necessary is self-realisation. What are you going to protect if you do not know what you are? In order to know the highest and the deepest and the inmost, we have to concentrate and meditate.

While he was performing this unique and extraordinary set of movements that we saw a few minutes ago, we observed, along with his superb skill, a power of concentration that ran from the sole of his foot to the crown of his head. Every part of his being was surcharged with a dynamic will. Now this will comes from the soul, not from the body. His physical body became the conscious instrument of his soul’s dynamic will. Now where did he, how did he, learn this so-called technique, which is actually the concentration of a spiritual Master? He learned it from his soul’s inner will.

So what you are getting here is a great opportunity; and this is not the end. You will be taught by him for a few months or a few years and that is just the beginning. The very essence of everything you do is meditation. Kimo’s performance was the result of inner concentration and meditation. So, this is my sincere request to each of you, that every day in the morning, you will please try to concentrate for a few minutes or meditate for a few minutes. Meditation is a vast subject. If I speak about it, it would take hours and hours and there would be no end. I have spoken considerably on meditation at various places: spiritual centres, churches, synagogues, American universities, Puerto Rican universities, European universities. I just came back from a tour on the Continent. There I spoke on meditation.

What I feel would be best for you here is to ask me a few questions on meditation. Otherwise if I give a talk on meditation, it may not serve your immediate purpose, because each one here has a different problem. Your problem need not and cannot be the same as someone else’s problem. In your inner life, you have a problem of your own, or you want Light in a different way from your neighbour. You want to grow into the Light, the Light divine. For real growth, your way of approaching the Truth has to be different from the one who is sitting right beside you.

Now, in the spiritual life, we always say that we must grow and become. Now some people will say that unless you have become something yourself, you cannot give anything to others. Yes, it is true. If you don’t know something and you try to teach others, it is a matter of the blind leading the blind. But I also wish to say that if you know something better than I do, then you are perfectly entitled to teach me that particular thing. And if I know something which you do not know, you should learn it from me. Now here is the golden opportunity to coordinate your knowledge of the physical, the vital, the mental and the psychic with the spiritual. The spiritual life teaches us the unification of all the members of the family: the physical, the vital and the mental must run abreast and inside the physical, the physic and the soul must predominate. Otherwise if you just become an expert in Karate, if you learn it mechanically, you are serving no purpose. But if you exercise your inner will through Karate, while you are performing, you are not only learning the technique of self-defence, but you are discovering your inner reality which is God-realisation. Everything you do when you study or when you speak to a person should have the soul’s will coming to the fore from deep within; then your life will have a purpose. Otherwise you will achieve success, the so-called success, but if the spiritual part of your life is lagging behind, if meditation is missing, your joy will be limited, fleeting, and your achievement will be very insignificant. But if you meditate, you will see an abiding Peace, abiding Light, abiding Joy deep within you.

Now I wish to invite a few questions from those who are interested in the inner life, the spiritual life.

Sri Chinmoy, Earth’s Cry Meets Heaven’s Smile, Part 3, Agni Press, 1978