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felicidade-para-meditar-mandala-sri-chinmoypor Akrura Bogéa

Yogod, um ancião, morava numa casa simples, com uma pequena varanda de frente para o leste, onde o mestre sentava-se todas as manhãs para ver o nascer do sol. Na frente de sua varanda, tinha uma velha mangueira, que projetava a sua sombra na pequena varanda, tornando-a o lugar mais fresco da casa e vez por outra soprava uma brisa refrescante. Definitivamente aquele lugar era o predileto de Yogod. O ancião era um homem de poucas palavras. Quando lhe perguntavam algo pertinente, respondia monossilábico. Quando considerava que a pergunta era tola, nem se dava ao trabalho de respondê-la. Seus alunos conheciam as características e particularidades do seu professor e ainda assim o amavam, pois consideravam-no um sábio.

Certa vez, Yogod resolve encostar seu ouvido no tronco de uma velha árvore, diante de sua pequena varanda. Algumas pessoas caçoavam dele, outras acreditavam que ali tinha algo de muito especial, outras pessoas tentavam imitá-lo, nada ouviam e logo desistiam. O velho professor entrava em transe quando encostava o ouvido no tronco da velha mangueira. Certo dia, um de seus alunos resolve perguntar a Yogod:

– Mestre, o que essa frondosa mangueira é para você?

-Deus. Responde o professor, que não se move e continua a sua escuta.

Passados alguns meses, a casa de Yogod se tornou um local de peregrinação, e ele ficou conhecido como o mestre da árvore. Vinham pessoas de todos os lugares, umas davam-se as mãos em torno da árvore, outras cantavam mantras, outras acendiam velas, outras ajoelhavam-se diante da árvore e nada disso alterava as vidas dessas pessoas, que continuavam as mesmas.

O tempo foi passando, Yogod continuava ali diariamente com seus ouvidos colados no tronco da velha árvore, ora do lado esquerdo e ora do lado direito. Algumas pessoas diziam que Yogod era um louco, já que por anos estava ali diariamente na mesma prática e as pessoas que faziam o mesmo, nada ouviam, portanto ninguém era capaz de entender o que se passava ali, entre o mestre e a árvore.

-O senhor sente alguma coisa, quando escuta a árvore? alguém pergunta.

-Paz, responde o mestre.

A partir dessa resposta, os artistas e compositores invadem o terreiro de Yogod, para compor canções enaltecendo a paz e encenando peças de teatro com o mesmo tema. As pessoas iam e vinham e nada conseguiam, suas vidas continuavam a mesma. Em outra ocasião, alguém perguntou ao mestre:

-O Sr. vê alguma coisa quando escuta a árvore?

-Sim. Vejo luz, responde Yogod.

A partir daquela resposta do sábio para uns e louco para outros, as pessoas que o visitavam procuravam a luz da árvore, nada viam, desistiam e suas vidas permaneciam as mesmas.

Muitos anos se passaram, até que chega um determinado garoto e cola seu ouvido no tronco da árvore imitando o mestre quando de repente entra em êxtase. As pessoas fazem fila, para colocarem seus ouvidos o mais próximo possível do garoto. Yogod se afasta da árvore, senta-se na sua varanda sorrindo, vendo as pessoas se acotovelarem para sentirem o que o garotinho sente. Uma das pessoas ali presentes, resolve então perguntar ao garoto:

– O que você está exatamente ouvindo? faz-se uma pausa e o garoto responde:

-Nada.

O velho Yogod sorri, e entra em transe, iluminando-se junto com o garoto. Dizem que até nos dias de hoje, estão lá o garoto e o ancião Yogod, com seus ouvidos junto a velha árvore. Seus olhos brilham, seus sorrisos se abrem, suas feições tornam-se serenas e tranquilas para todos aqueles que resolvem visitá-los.

(Outras histórias de Yogod – o despertar espiritual)