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Livro Bhagavad Gita – capítulo 15 – O Supremo Purusha

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Livro Bhagavad Gita – capítulo 15 – O Supremo Purusha

 

O capítulo XII nos ensinou a verdade de que há um campo e há um Conhecedor desse campo. O capítulo XIV verteu abundante luz sobre o campo, o Jogo Cósmico da Prakriti. Neste capítulo particular, aprenderemos sobre o Conhecedor, o Eu Universal e o Eu Supremo.

Este capítulo começa com uma árvore. Essa árvore é chamada de árvore-mundo. Diferentemente das árvores terrenas ou botânicas, essa árvore tem raiz acima, no Supremo. O Supremo é a sua única Fonte. Seus ramos se espalham abaixo. Os Vedas são suas folhas. Aquele que envisionou as profundezas do mundo sempre-em-transformação e sempre-em-evolução possui todo o conhecimento védico a sua disposição.

Aqui na terra, essa árvore não é livre. Ela está presa por sua própria ação e reação neste nosso mundo. Ela é carinhosamente nutrida pelas três qualidades da Prakriti. Se alguém quer descobrir o início, o fim e a própria existência dessa árvore, é necessário livrar-se completamente dessa árvore-tentação.

Uma árvore significa aspiração. Essa aspiração por fim sobe ao Altíssimo. Incontáveis são os sadhus (monges) indianos que sentam-se debaixo das árvores e entram no mundo da meditação profunda. A aspiração da árvore os inspira e desperta sua aspiração dormente. O Senhor Buddha teve sua iluminação aos pés da Árvore-Bodhi. O mundo sabe disso.

O Gita é um oceano de espiritualidade. A filha mais carinhosa da espiritualidade é a poesia. O sutil alento da poesia é sempre acalentado pela vida-energizante espiritualidade. Identifiquemos nossa consciência com a consciência de uma poetisa, ao falar sobre a árvore.

 

Por tolas como eu, poemas podem-se escrever,

Mas uma árvore, apenas Deus pode fazer.

– Joyce Kilmer

 

Já que a poesia é o meu forte, tomo a liberdade de enxergar a realidade da mesma forma que a poetisa abençoada.

Retornemos à nossa árvore filosófica. Os sábios cortam suas raízes com o machado do desapego. Tal é o caminho para a libertação. Tal é o caminho para o bem supremo.

Um homem sábio vive em perfeito auto-controle. Ele é devotado sem reservas e incondicionalmente à Verdade. Ele quer Deus, e Deus somente, que é a Fonte do mundo interior e do mundo exterior, e também do mundo além. Os acontecimentos, encorajadores ou desencorajadores, agradáveis ou desagradáveis, divinos ou não-divinos, não agitam a sua mente, e muito menos a sua existência interior. Ele nada no mar de frutífero silêncio e equanimidade. Sendo mestre dos sentidos, ele é senhor deles. Ele vem até Krishna, sua única fortaleza. Não é necessário sol, lua ou chama em Sua Morada. Essa Morada é a Fonte do universo inteiro. Ela é toda Iluminação. De Sua Morada eterna, não há retorno.

Não é para os desiludidos, mas para os buscadores imbuídos com a visão divina, saber reconhecer ou compreendê-Lo, o Senhor Supremo, que entra no corpo, reside no corpo e vivencia as realidades da Natureza, deixando o corpo à Sua Hora escolhida.

Certamente, todos os esforços sinceros de um homem serão em vão, a não ser e até que sua natureza esteja a seu comando, até que seu coração transborde com amor e devoção ao seu Professor espiritual (Guru), até que ele sirva o Alento vivente do Senhor na humanidade.

Há duas facetas da criação: a perecível e a imperecível. Além dessas duas está o Supremo Impessoal. Esse Supremo Impessoal é, ao mesmo tempo, tudo-permeante e tudo-sustentador.

O Senhor diz: “Eu, o Purushottama, o Supremo Senhor, transcendo tanto o perecível quanto o imperecível.” (15.18)

Há quatro Vedas. Todos os quatro Vedas falam significativamente sobre esse Ser Supremo.

 

O Ser Supremo, de mil cabeças, mil olhos, mil pés;

Ele permeia a extensão da terra;

Ele está além de todos os dez cantos.

(Rigveda X.90.1-2)

 

Aqui ‘mil’ certamente significa infinitos. A infinidade manifesta-se através do finito no campo da manifestação.

Purushottama está além de forma e sem-forma, além de impessoalidade e personalidade. Nele, o mais poderoso anseio dinâmico e o mais profundo Silêncio habitam juntos. Para Ele, tratam-se da mesma coisa. Para Ele, são iguais liberdade celestial e necessidade terrena, a sempre-mutante forma da terra e a imutável Realidade infinita.