Fico muito feliz em parar para escrever um pouco e divulgar esse livro. Ele é tão especial pois trata da uma parte da trajetória de um grandioso Mestre espiritual, Sri Ramakrishna.
A primeira parte do livro é uma introdução ao seu nascimento, circunstâncias, tornando-se adulto e até encontrar os primeiros discípulos. Ela também trata das diversas experiências místicas que teve desde a idade de criança, começando com uma experiência de samadhi ao ver uma revoada de pássaros contra nuvens carregadas de chuva. Por fim, como aconteceu de ficar morando no complexo de templos de Dakshineshwar. Ele experimentou as verdades e sublimes experiências de diversas religiões, como o hinduísmo, cristianismo, islamismo, etc, incorporando-as na sua individualidade única.
Sri Ramakrishna tinha, como diversos mestres, uma forma muito simples de ensinar. Seus ensinamentos não eram rebuscados, e eu ousaria frisar aqui alguns dos tópicos principais que ele recomendava aos buscadores:
Em primeiro lugar ansiar, chorar e clamar pela meta
Praticar diariamente
Aceitar a vida exterior como uma necessidade, mas ir além dela
Não se prender a “women and gold” – riqueza, trabalho, família e prazer
Buscar sempre orientação interior de Deus
O livro é enorme, e as restantes 900 páginas após a introdução são conversas tidas na presença do discípulo “M.” (Mahendranath Gupta), que escrevia tudo ao retornar para casa. É um insight muito belo aos ensinamentos de uma alma realizada como Sri Ramakrishna.
Também há trechos com o contato do Mestre com pessoas bem conhecidas à sua época em Calcutá, Índia, como Keshab Sen (líder religioso), Devendranath Tagore (pai de Rabindranath Tagore), Vidyanath Sagar e outros.
Abaixo, alguns trechos traduzidos no tema de superar os desejos em direção à universalidade divina e o anseio por Deus:
“…As pessoas derramam rios de lágrimas porque um filho não nasceu ou porque não conseguiram ficar ricas. Quem, entretanto, verte sequer uma lágrima por não ter visto Deus?”
“…como um rio que ao desaguar no oceano vai perdendo sua pequena individualidade numa individualidade maior: seu verdadeiro ser.”
“…somos como uma linha tentando passar pelo buraco de uma agulha – qualquer fibrazinha saliente impossibilita a passagem. Assim, qualquer pequeno desejo pelas coisas mundanas não nos deixará vê-Lo. Onde existir bhoga (desejos) não existirá yoga (união com Deus).”
“…Um sábio viu uma gaivota apanhar um peixe. Em seguida observou que um bando de corvos passou a persegui-la, grasnando, querendo tomar-lhe o peixe. A gaivota resistiu bravamente, mas só encontrou paz quando abandonou o peixe no ar. ‘O peixe é o objeto do desejo e os corvos são as preocupações e ansiedades’, realizou o sábio.”
Eu li a versão em inglês e traduzi a introdução, escrita originalmente por Sunanda, que aborda de forma resumida parte da filosofia contida no livro sobre o tema. Abaixo, traduzi alguns trechos para ilustrar o tema. Os capítulos são:
Prólogo: O Guru
O Papel do Guru
Escolhendo um Guru
O Mestre Realizado
O Mestre e o Discípulo
Unicidade com o Mestre
Estórias e Peças
Nosso Caminho
INTRODUÇÃO
O que é um Mestre espiritual genuíno, e que espécie de sabedoria ele incorpora? Quem são seus discípulos e que força os compele a segui-lo? Nesta expressiva coleção de escritos, o Mestre espiritual Sri Chinmoy ilumina para nós a dinâmica profundamente tocante que liga o Mestre espiritual ou Guru e seu discípulo. Essa dinâmica é eloquente com amor, e evidencia uma visão transformadora da vida. As palavras de Sri Chinmoy revelam uma verdade espiritual mais elevada, cuja conquista se dá através da odisseia que Mestre espiritual e discípulo empreendem juntos. A natureza dessa odisséia merece nosso entendimento.
Nos termos de Sri Chinmoy, um verdadeiro Mestre espiritual ou Guru é alguém que atingiu a Deus-realização, a perfeição última na sabedoria da vida, e que busca transmitir essa sabedoria a outros. A qualquer um com uma ardente sede por conhecimento interior e paz, tal sabedoria é facilmente visível na alma Deus-realizada. Sri Chinmoy emana brilho e paz tão profundas, e amor tão acolhedor e incondicional, que não se pode escapar de sentir um silencioso deleite em sua presença. O Mestre iluminado raramente transmite sua sabedoria através de palavras e nunca através de instruções didáticas. Seu ensinamento é o silêncio do seu olhar fixo e atento, a harmonia dos seus gestos, a compaixão do seu sorriso e a imensidão do seu coração. Sua autoridade advém do seu amor e paz, e é por estes que os discípulos se associam a ele com consciente devoção à vontade de seu Mestre.
Há poucas almas Deus-realizadas e menos ainda Mestres espirituais Deus-realizados. Como Sri Chinmoy enfatiza, o genuíno Mestre espiritual, reconhecendo que a riqueza interior que ele descobriu é direito de nascença e tesouro oculto de cada ser humano, oferece seu presente aos indivíduos sofredores e buscadores em todos os lugares. Esse presente necessário vem sem cobrança, porque amor e paz não têm preço e nos ensinam a ver seus reflexos em todas as coisas criadas. E assim, com infinita compaixão, o Mestre espiritual toma as frustrações e dores daqueles que vêm a ele e dá em troca sua paz e alegria.
Um Mestre espiritual é um artista de infinita paciência. Nele, estão juntas a determinação de um guerreiro destemido e a delicadeza da mais terna mãe. Usando anos como unidade de tempo, ele molda o material humano recalcitrante de seus discípulos na própria imagem da paz. Essa empreitada é enorme. A paz é tão natural para a alma humana como o ar é para a respiração, e ainda assim às vezes ela nos escapa. Todos nós dizemos querer nada mais do que paz, embora cada um viva num mar de turbulência. O problema está em nossa ignorância, dúvida e devoção inadequada à fonte de paz dentro de nós. Portanto, o Mestre espiritual deve repetidamente compelir seus discípulos a se afastarem das falsas soluções para as dificuldades da vida e a encontrar seu próprio e derradeiro refúgio no templo de seus corações.
Através da sua simplicidade de criança, alegria e serenidade, o Mestre continuamente oferece ao discípulo uma imagem do verdadeiro objetivo do discípulo. Primeiro, a influência do Mestre provê o discípulo com repetidas, porém temporárias, experiências de tranquilidade e deleite. Mas, com o passar do tempo, essas experiências despertam no discípulo uma fé florescente em seu próprio potencial interior. Essa fé anseia pela realização de sua própria visão interior. Sri Chinmoy escreve: “É trabalho do Mestre espiritual fazer seus discípulos sentirem que, sem amor, sem verdade e luz, a vida é sem sentido e infrutífera. A coisa mais importante que um Mestre espiritual faz por suas crianças espirituais é trazer a eles a percepção consciente de algo vasto e infinito dentro delas mesmas, o qual não é nada menos que o próprio Deus.”
Para Sri Chinmoy, o principal veículo de instrução espiritual é a meditação, através da qual o Mestre gradualmente desperta qualidades que permitirão ao discípulo progredir interiormente e combater os efeitos das forças e hábitos negativos e autodestrutivos. Através da meditação, o discípulo começa um processo que por fim transforma as raízes do seu ser. Esse processo o compele a cessar de se identificar com eventos exteriores, os sucessos e fracassos da sua vida. Em vez disso, ele começa a encontrar uma fonte confiável dentro de si, uma fonte tão profunda que é imperturbável pelas vicissitudes da vida. Cada evento da vida, alegre ou doloroso, torna-se uma ocasião através da qual o discípulo aprofunda sua devoção a essa fonte de notável beleza e acalenta o deleite que ela lhe oferece. A misteriosa jornada em direção a essa fonte desconhecida revela-se um milagre de alegria e gratidão, que, para o verdadeiro buscador, torna-se a realidade motriz da sua vida. Todas as demais experiências perdem importância frente à necessidade dessa jornada em direção à paz, luz e deleite.
Sri Chinmoy nos diz que, à medida que o Mestre espiritual alimenta a sede interior de seus queridos discípulos, ele os leva a perceber que a altura e a realização de Paz infinita do Mestre são deles mesmos. Quando o discípulo percebe essa verdade, ele entende que obediência verdadeira ao seu Mestre é nada mais que sua constante determinação em permanecer no seu coração e pedir a luz do Mestre para si. Obediência exterior, ou cumprimento dos conselhos e pedidos do Guru espiritual, apenas expressa o reconhecimento exterior de que, como o seu Mestre é todo para ele, o discípulo anseia ser todo por seu Mestre. Como ele é um com seu Mestre, o discípulo faz da visão do Mestre a sua própria. Porque o Mestre é um com seu discípulo, ele alegremente aceita as imperfeições do discípulo como suas, e assume total responsabilidade por transformar aquelas imperfeições em perfeições.
Com maravilhosa gratidão, o discípulo percebe incontáveis vezes que seu amor-próprio, carregado de dúvidas sobre si mesmo, é nada comparado ao amor que seu Mestre nutre por ele. A princípio hesitante, e depois com crescente devoção, ele se entrega à experiência desse amor. Com o poder curativo de sua compaixão, o Mestre lentamente substitui as limitações do seu discípulo por sinceridade da mente, pureza do coração e devoção a uma visão de vida santificada.
Sri Chinmoy chama seu caminho um caminho de amor, devoção e entrega. O discípulo ama seu Mestre, e através dele ama seu próprio eu mais elevado. Ele devota-se a nutrir, com infinito cuidado e afeição carinhosa, a realidade que seu Mestre traz à tona em seu interior. E, finalmente, ele alegremente entrega todo o seu ser, com todas as imperfeições, à vontade da sua própria realidade. Através da unicidade com seu Guru, ele aprende que cada um de nós possui Deus dentro de si, e que toda a criação é nada senão a Luz de Deus. Ele vê que seu papel é simplesmente ser dessa Luz, para manifestá-la e para amá-la e acalentá-la nos outros. Com uma enxurrada de deleite, ele abraça a dádiva da vida. Com gratidão, ele oferece essa vida à visão de seu Mestre. E com inimaginável compaixão, seu Mestre lhe mostra o oceano de paz da sua própria vida.
Sunanda
Trechos do livro:
SEU VERDADEIRO PROFESSOR
Aquele que o inspira
É o seu verdadeiro professor.
Aquele que o ama
É o seu verdadeiro professor.
Aquele que o força
É o seu verdadeiro professor.
Aquele que o aperfeiçoa
É o seu verdadeiro professor.
Aquele que o valoriza
É o seu verdadeiro professor.
O MESTRE E O DISCÍPULO
Um verdadeiro Mestre espiritual é aquele que tem unicidade inseparável com o Altíssimo. Por via de sua unicidade, ele pode facilmente entrar no buscador, ver seu desenvolvimento e aspiração, e saber tudo sobre sua vida interior e exterior. Quando o Mestre medita em frente aos seus discípulos, está trazendo Paz, Luz e Beatitude das Alturas, e isso entra neles. E do interior eles aprendem automaticamente como meditar. Todos os verdadeiros Mestres espirituais ensinam meditação em silêncio. Um Mestre genuíno não precisa explicar exteriormente como meditar ou dar-lhe uma forma específica de meditação. Ele pode simplesmente meditar em você, e seu olhar silencioso o ensinará como meditar. A sua alma entra na alma dele e traz dela a mensagem, o conhecimento de como meditar.
O MESTRE REALIZADO
Deus-realização é Auto-descoberta no mais elevado sentido do termo – a percepção consciente da sua unicidade com Deus. Enquanto permanecer em ignorância, sentirá que Deus é um outro ser, que tem Poder infinito, e que você é a mais débil pessoa na Terra. Mas, no momento que realizar Deus, virá a saber que você e Deus são absolutamente um, tanto na vida interior quanto na exterior. Deus-realização significa a sua identificação com seu próprio e absolutamente mais elevado Eu. Quando puder identificar-se com o seu mais elevado Eu e permanecer nessa consciência para sempre, quando puder revelá-la e manifestá-la à sua ordem, então saberá que realizou Deus.
A vida após a morte é inevitável. Se houvesse apenas uma vida sobre a Terra, seria-nos impossível cumprir aquilo que devemos cumprir. Deus, sendo todo Satisfação, não nos permitirá que fiquemos insatisfeitos. Ele sempre nos deseja verdadeiramente satisfeitos. Em uma só encarnação não conseguimos satisfazer a nossa aspiração, não podemos alcançar o Altíssimo. Portanto, aqui nós temos vida, e depois passamos por um túnel o qual chamamos de morte. Lá descansamos um pouco e então retornamos. Se não houvesse reencarnação, nenhuma alma seria capaz de manifestar a Verdade última. É impossível fazê-lo em uma só encarnação.
Você disse que, de certa forma, o nosso corpo é como uma casca para a nossa alma, e que no tempo certo nosso corpo morre e se desfaz. O que acontece com a alma? O que ela faz? Quão longe vai?
A alma nunca morre; ela é o imortal dentro de nós. Quem morre é o corpo. Com a morte, a alma retorna gradualmente para a sua própria região.
Tão logo o corpo falece, o físico entra no mundo físico, o vital entra no mundo vital, a mente entra no mundo mental e o coração entre no mundo psíquico.
A alma retorna então à sua própria região, para um breve descanso. Lá, existem sete mundos superiores, como sete degraus de uma escada espiritual, e sete mundos inferiores. No momento em que a alma deixa o corpo, ela escala um degrau, e então sobe, sobe, sobe, e passa pelos sete degraus de consciência dos sete mundos superiores. Finalmente, ela adentra o mar de imensa paz, e lá descansa. A duração do descanso depende da alma em questão. Algumas almas retornam ao mundo após seis, dez ou doze anos. Quanto mais avançada for a alma, mais tempo leva para retornar. No caso de uma alma comum que não foi capaz de manifestar ou oferecer significativamente à Terra, ela geralmente retorna da região da alma em seis anos. Mas, caso a alma seja muito avançada, como é no caso dos Mestres Espirituais, ela virá apenas uma vez a cada trezentos ou quatrocentos anos. Ainda assim, se for a Vontade do Supremo, mesmo uma pessoa espiritual bastante avançada pode ser fadada a retornar após quinze ou vinte anos.
Antes de voltar para o mundo da manifestação, a alma procura o Senhor Supremo para uma entrevista. Eles têm uma conversa de coração-a-coração. A alma conta o quanto ela realizou em sua encarnação passada e o Supremo lhe diz o quanto ela deve realizar em sua próxima encarnação. Ao dizer a ela o que fazer, o Supremo fornece à alma o poder e luz necessários.
Cada vez que a alma vem abaixo, para o mundo, como um soldado divino ela entra no campo de batalha da vida e luta contra dúvida, obscuridade, ignorância, imperfeição, limitações, preocupações e outros defeitos. Ela busca revelar a sua própria divindade interior e estabelecer a Verdade divina na Terra na medida da sua capacidade. E, então, ao final de sua jornada em uma certa encarnação, ela retorna para a sua própria região. Quando a hora do retorno chega, ela avisa o Supremo sobre o que pretende fazer, e o Supremo sanciona ou desaprova o seu plano. Às vezes, a alma não possui absoluta clareza em seu julgamento e, então, o Supremo entorna sobre ela luz abundante.
O que acontece com o vital na hora da morte?
Existem dois vitais. Um é o vital físico, o vital que está no físico. O outro é o vital central, o qual não pertence ao físico. Ele não se identifica com o físico, sendo completamente separado. Quando a alma deixa o corpo, o ser humano se decompõe em seus cinco elementos. O vital central segue para o envoltório vital. A mente permanece por um curto período com o vital, alguns dias ou meses, e então retorna para o nível da mente, para o envoltório mental. A alma fica no envoltório vital por dois meses, seis meses ou mesmo alguns anos, algo que depende de cada alma. Depois, ela segue para o mundo mental, e de lá para o mundo psíquico.
Enquanto o vital estiver no envoltório vital, ele poderá sofrer consideravelmente. Se o vital for obscuro e impuro, ele será torturado de maneira absolutamente impiedosa. Quando nosso terceiro olho está aberto, vemos que nenhuma punição humana pode ser tão severa ou tão cruel quanto a punição vital. Todavia, se o vital aspirou da sua própria maneira para se tornar um com a alma, se o vital escutou a alma enquanto o buscador estava na Terra, ele não sofrerá na região do vital. Caso o indivíduo seja espiritualmente avançado, ele praticamente nada sofre, pois conhece os caminhos daquele reino. Se um Mestre espiritual intervier, este poderá muito rapidamente levar uma alma para os outros mundos interiores. O mais rápido que um Mestre espiritual pode fazer isso é em dezenove dias.
Dentro do próprio vital existem mundos superiores e mundos inferiores. Na Terra nós temos países, mas lá eles são chamados de mundos. Aqui, dizemos que alguns países são maus e outros países são bons. Todos os mundos interiores, excetuando o vital, são bons, apesar de alguns serem mais elevados do que os outros. No vital, alguns mundos já não são bons. Quanto mais a alma se eleva acima do vital inferior, subindo para o vital elevado e em direção aos mundos psíquicos, melhor para ela. Nos mundos interiores elevados, as almas são tratadas de forma melhor e mais bem nutridas. Tudo é melhor.
As circunstâncias em que uma pessoa morre determinam para onde vai após deixar o corpo?
Isso depende principalmente da consciência do indivíduo, a qual é composta das realizações acumuladas gradualmente durante toda a sua vida. Os meus bons discípulos irão imediatamente para um plano muito elevado se pensarem em mim na hora da morte. Se uma mãe é morta enquanto protege sua criança, sua alma vai para um mundo elevado. Quando um soldado morre defendendo o seu país enquanto este é atacado, ele irá para um mundo elevado.
Na Índia, havia uma época em que as esposas atiravam-se na pira funerária de seus maridos. As pessoas podem dizer que isso é suicídio, e certamente o é. Mas, nesses casos, as esposas não iam para os mundos inferiores inconscientes, lugares para onde as pessoas que cometem suicídio normalmente vão. Essas esposas tinham tremendo amor, devoção e unicidade com seus maridos, e Deus abençoou suas qualidades divinas e lhes concedeu a Graça de que fossem para mundos os quais teriam alcançado somente com base no desenvolvimento de suas almas.
Contudo, algumas esposas foram forçadas a fazer isso pela lei. Fizeram por medo, por necessidade, e não por um sentimento de amor ou unicidade. Para elas também, o tratamento no mundo interior não foi o mesmo daquelas que cometeram suicídio deliberadamente. Elas também foram para seus respectivos lugares, de acordo com o nível das suas almas. Mas aquelas que entregaram suas vidas em alegria e unicidade evidentemente criaram uma forte conexão com seus esposos, a qual será mantida em vidas futuras.
Quando vamos para o outro mundo depois de deixarmos o corpo, lá existem formas ou tudo é amorfo?
Quando alguém morre, se a alma deseja ver seus familiares que ainda estão na Terra, a alma normalmente toma a forma que tinha na Terra para que os familiares possam reconhecê-lo. Todavia, grandes Mestres espirituais podem reconhecer a alma, independentemente da forma que esta tome. Mesmo caso a alma se mostre como um pilar de luz, o Mestre pode usar o seu terceiro olho e reconhecê-la imediatamente.
O que acontecerá com as almas que não mais trabalham na Terra? Elas lotarão os outros mundos algum dia?
Existe muito espaço nos outros mundos. Lá, tratamos com a Infinidade.
O que acontece com a alma de um animal após deixar o corpo?
Ela tem o seu próprio mundo. Cada alma tem a sua própria capacidade. A alma de um santo não irá para o mesmo lugar que a alma de um ladrão. O santo irá para um lugar muito mais elevado. Tudo depende da consciência que a alma revelou aqui na Terra. Assim, animais vão para um mundo adequado a eles. Não irão para um mundo onde as almas são altamente desenvolvidas.
Enquanto estamos vivos, as nossas almas deixam o corpo, mesmo que por um segundo?
Por alguns segundos durante o dia a alma pode sair, mas a consciência da alma permanece no corpo em tais momentos. Este é o seu quarto e toda a sua vibração está aqui. Tão logo alguém chegue, essa pessoa sentirá imediatamente a sua vibração. Mas, se você sair e não voltar mais, então não haverá nada aqui. Se a alma permanecer afastada, então o seu próprio corpo se torna estranho; o próprio quarto é estranho a ela. Mas quando a questão é a morte, o corpo, como uma gaiola, é partido. E qual a utilidade de se permanecer em uma gaiola quebrada?
Disseram-me que ver as lágrimas dos familiares e amigos traz grande alegria para a alma no momento da sua partida. É verdade?
Em geral, existem três tipos de almas humanas: primeiro, existem aquelas que chamamos de mundanas, não-iluminadas; depois, as almas boas, mas comuns; e, ainda, as almas grandiosas, extraordinárias. Quando uma pessoa comum morre, olha por todo o lado para ver se os seus entes próximos e queridos estão chorando por ela. Se vê que ninguém chora, ela sente um aperto no coração e diz a si mesma: “A minha vida toda eu os ajudei de várias maneiras. Agora vejam essa ingratidão!” Essas almas comuns estão tão apegadas aos seus entes queridos e à Terra que ficam entristecidas se, naquele último momento, os entes queridos não reconhecem o amor e sacrifício prestados. Existem ainda algumas almas não-iluminadas que tomam uma postura maliciosa se os familiares não lamentam pela sua morte e, após deixarem o corpo, retornam em uma forma incorpórea para assustar os entes queridos. Se existem crianças na família, o falecido pode tomar uma forma das mais feias e aparecer diante das crianças para assustá-las.
O segundo tipo de pessoa foi boa, doce e extremamente prestativa aos membros de sua família, e quando pensa que está prestes a morrer ela sente que deveria existir um laço de afeição e apego que dure para sempre. Esse tipo de pessoa não quer deixar o palco-Terra. Pensa que apenas o apego pode manter a conexão entre este mundo e o outro mundo, e, portanto, ela tenta atrair a máxima afeição, simpatia e cuidado dos seus entes queridos. Quando vê que seus entes queridos não demonstram simpatia nem tristeza alguma pela sua partida, ou não estão chorando amargamente, uma tremenda angústia toca a sua existência interior. Ele pensa: “Estou aqui tentando estabelecer algo permanente, mas não recebo ajuda ou cooperação alguma dos membros da minha família.” Mas não é o assim chamado amor humano, nem o apego humano, que pode criar um eterno laço divino entre a alma que parte e as almas que estão no mundo dos viventes. O amor que amarra seres humanos não pode nunca durar; é como uma corda de areia. Somente o amor divino transcende todas as barreiras.
Por fim chegamos às almas grandiosas, e isso quer dizer Mestres espirituais. Quando um Mestre deixa o corpo e vê que seus discípulos estão chorando amargamente pelo seu falecimento, ele sente pesar, porque os discípulos não o reconhecem completamente como um Mestre espiritual. Uma pessoa espiritual, alguém que tenha realizado Deus, vive em todos os planos; a sua consciência permeia todos os mundos. E, se os discípulos choram amargamente pela sua morte, sentindo que não mais o verão, então estarão colocando o seu Mestre na mesma categoria de uma pessoa comum. É como um insulto. O Mestre sabe que aparecerá ante os discípulos que estão orando sinceramente a ele ou que meditam e aspiram sinceramente. Sabe que todo o tempo estará guiando, moldando e modelando os seus discípulos. Sabe que será capaz de entrar em seus discípulos e que eles serão capazes de entrar nele. Naturalmente, se sentirá triste se os discípulos tomarem a postura, “Agora o Mestre se foi e nunca mais ouviremos dele. Nossas orações para ele serão em vão, e portanto é inútil orar. Vamos buscar outro Mestre ou tentar encontrar outro meio de fazer progresso espiritual.” Assim, os Mestres espirituais sentem pesar quando os seus entes mais queridos choram ou derramam lágrimas amargas por eles, ao passo que uma pessoa comum ficaria feliz com o ato.
Sim, por um certo tempo os discípulos podem se sentir tristes por terem perdido o Mestre deles, porque não mais verão o Mestre no corpo físico. Mas a tristeza não deve durar, porque a alegria, o intenso amor e o todo-permeante cuidado da alma devem alcançar os discípulos que sinceramente aceitaram o Mestre como o único piloto de suas vidas.
Em algum momento os Mestres espirituais se mostram no corpo sutil após a morte?
Na Índia, muitos Mestres espirituais provaram aos seus entes queridos que a morte não é o fim, ao aparecer de forma muito vívida no corpo sutil. Darei a vocês apenas um exemplo. Havia um grande Mestre espiritual chamado Sri Ramakrishna. Quando ele deixou o corpo, a sua esposa se tornou viúva. É costume na Índia que, quando o marido falece, a esposa pare de usar suas jóias e adornos. Mas quando a esposa de Sri Ramakrishna estava retirando as suas jóias, ele apareceu vividamente diante dela e disse: “O que você está fazendo? Você não deveria tirar esses adornos e jóias. Pelo contrário, de agora em diante você deveria usar jóias e braceletes de ouro. Agora sou imortal. Você agora deve usar algo ainda mais belo, significativo e frutífero.” Houve muitos incidentes como esse. Eles só não são registrados.
A alma perdura na Terra após a morte, para poder ajudar os seus entes próximos e queridos?
Algumas almas não perdem muito tempo e simplesmente vão embora. Esperam por apenas alguns dias para ver se os seus familiares e amigos se importam com elas. Após três ou quatro dias, elas já viram o suficiente.
Todavia, algumas almas sábias permanecem, apesar de serem muito luminosas e poderosas, e procuram auxiliar seus amigos e familiares antes que tenham de entrar no mundo mental. Se podem ajudar os seus entes queridos de alguma forma, elas o fazem. E elas ajudam de muitas formas, inspirando os seus entes queridos. Às vezes aparecem para um amigo ou familiar em um sonho, trazendo alguma luz e oferecendo inspiração. Ou vêm até eles e dizem: “Não há nada duradouro na Terra. Da mesma forma que eu deixei o corpo, você também deixará. O meu tempo se esgotou e agora não posso fazer mais nada por Deus na Terra. Assim sendo, a melhor coisa a se fazer é realizar algo por Deus na Terra. Não desperdice tempo. Faça o máximo que puder.” Antes de deixar o corpo, cada alma sente pena por ter desperdiçado tanto tempo. Todos nós perdemos tempo.
A alma pode também dar respostas às pessoas através da sorte ou de comunicação interior. Ela possui muitas maneiras de ajudar os seus entes próximos e queridos.
Por que as pessoas conservam o corpo por algumas horas ou mesmo alguns dias depois que a alma parte?
Pode-se dizer que é porque os familiares desejam ver os restos mortais. Eles sentem pesar, pois aquele corpo, aquela pessoa, os amou ou ajudou durante a vida. O pai não vê a alma da mãe durante sua vida, mas sim o corpo e, portanto, é apegado ao físico. Esse é o motivo pelo qual ele deseja manter o corpo por quanto tempo for possível. Quando a alma parte, o corpo é inútil, como uma peça de roupa velha, suja, colocada no cesto de lixo. No caso de uma pessoa comum, depois que deixa o corpo ela paira sobre a casa, jardim ou algum lugar próximo. Deus oferece à alma uma chance de ver se a família realmente se importava com ela, e a alma oferece à família uma chance de demonstrar se esta realmente sentiu a sua morte. Depois de algumas horas, normalmente cerca de onze ou mais, a alma parte e não retorna.
Caso um buscador não realize Deus na Terra, poderá a sua alma ver ou realizar Deus após ter deixado o corpo?
Cada alma está fadada a ver Deus, pois a alma vem diretamente de Deus. Quando a alma deixa o corpo, ela vai para os mundos vital, mental, psíquico, e finalmente para o mundo próprio das almas. Lá, ela tem um breve descanso. E antes de retornar em sua encarnação seguinte, a alma tem uma entrevista com Deus. A alma deve ficar diante do Supremo e contar o quanto realizou durante sua encarnação anterior. Ela verá as possibilidades para a sua próxima encarnação, fazendo, em seguida, promessas ao Supremo. Os objetivos e ideais que a alma expressa para a sua tarefa no mundo da revelação e manifestação devem ter a aprovação do Supremo. E, às vezes, o próprio Supremo diz a ela: “Espero tal coisa de você. Procure alcançar isso na Terra por Mim.”
A alma que vê Deus e conversa com Ele é como um estranho para nós, pois a maioria de nós nunca viu a alma aqui na Terra. A não ser que tenhamos livre acesso à alma, a não ser que sejamos capazes de ouvir a voz da alma e tentemos escutar aos seus ditames, é simplesmente impossível para nós realizarmos Deus. Depois de deixar o corpo, cada alma vê a Deus do mesmo modo que eu vejo você por estar diante de você. Mas, quando alguém realiza Deus, é completamente diferente. A consciência por completo – a consciência física, a consciência individual – se funde com a Luz e Bem-Aventurança infinitas. Quando lemos livros espirituais ou escutamos outras pessoas, podemos sentir que Deus é nosso. Contudo, unicidade consciente é outra coisa. Quando conscientemente sentimos Deus como nosso, então a cada momento de nossa vida interior, de nossa existência interior, experimentamos paz ilimitada. Exteriormente poderemos estar entusiasmados ou conversando, mas em nossa vida interior seremos um mar de paz, luz e deleite. Quando esse mar de paz, luz e deleite chega até o nosso ser físico, até a nossa consciência física, a divindade dentro de nós pode se manifestar na Terra. No Céu, não podemos manifestar e nem realizar coisa alguma. Se a alma não realiza Deus enquanto está na Terra, presa às correntes do finito, também não poderá fazê-lo quando estiver em seu próprio mundo. A realização pode ser alcançada somente através do físico.
Guru, nós o veremos quando deixarmos nossos corpos?
Se você é meu verdadeiro discípulo, está fadado a me ver quando deixar o corpo. Isso eu posso lhe assegurar. Se for meu verdadeiro discípulo, não será capaz de morrer sem o meu conhecimento e consentimento. Naquele momento, colocarei-me bem diante de você e o levarei em minha carruagem. Eu o carregarei numa carruagem dourada, prateada ou de bronze. Você verá. Esta é a promessa que os grandes Mestres espirituais fazem: eles levarão as almas de seus discípulos.
Veremos você depois que tiver deixado o corpo?
Você poderá me ver num sonho, por um ou dois minutos. É muito comum que, ao deixar o corpo, os Mestres espirituais abram o terceiro olho de seus discípulos por alguns minutos.
Todas as pessoas o verão no mundo interior após a morte?
A região das almas é um lugar grande, muito vasto. A Terra também é um lugar vasto. Se você não tivesse vindo até o meu Centro, eu não o teria visto. No mundo interior, eu me movimento de um lugar para o outro. Mas, sendo o meu verdadeiro quartel-general no lugar onde uma pessoa estiver, então certamente ela me verá. Teremos um grupo de pessoas que realmente me amam e que possuem devoção genuína, e iremos todos residir no mesmo plano. Mas aqueles que não se importam comigo, aqueles que não sabem nada sobre mim e não têm conexão alguma comigo, não me verão, a não ser que seja a Vontade expressa do Supremo. Aquelas pessoas verão a outros, os quais possuem o mesmo nível de desenvolvimento. Elas residirão com aqueles a quem amavam.
A morte é natural. Nada natural pode ser prejudicial. Morte é descanso. Descanso é força disfarçada para uma aventura posterior.
No presente estágio de evolução humana, conquistar a morte pode ser uma impossibilidade. Mas superar o medo da morte não é apenas praticável, mas inevitável.
A morte é normalmente o sinal de que a alma, sob certas circunstâncias, exauriu as possibilidades para seu progresso num dado corpo.
Quando a força da possibilidade perde para a força da impossibilidade, isso se chama morte.
Uma vida inútil é um cordial convite à morte.
A morte é o hífen entre o crescente medo do homem e suas energias-vida que se retraem.
Aquele que prefere a morte à vida apenas tem de escalar a árvore. Mas aquele que prefere a vida à morte não apenas tem de subir, mas também deve retornar para fazer o trabalho de Deus.
Quando a morte se aproxima do homem, seu ser psíquico diz a ela: “Morte, espere, deixe-me ver o que desejo fazer em meu próximo nascimento.” A morte diz: “Desculpe-me, mas você está pedindo o favor à pessoa errada. Um segundo de atraso da minha parte pode adicionar algo valioso à sua experiência com essa vida.”
A morte diz que é imortal. As conquistas do homem dizem: “Morte, você está certa. Mas a verdade sobre o assunto é que nós brilharemos perpetuamente em seu próprio seio. Não apenas isso, nós brilharemos para sempre em você, através de você e além de você.”
‡
VIDA
Vida é amor.
Amor é vida.
A vida satisfaz a Deus através do amor.
O amor satisfaz a Deus na vida.
A vida tem uma porta interior. A aspiração a abre. O desejo a fecha. A aspiração abre a porta por dentro. O desejo a fecha por fora.
A vida tem uma chama interior. Essa chama interior recebeu o nome de aspiração. E quando mantemos nossa aspiração acesa ela irá, sem falta, transmitir o seu brilho refulgente para toda a criação de Deus.
A vida tem uma voz interior. Essa voz é a Luz do Supremo. A vida é proteção, a vida é perfeição, a vida é satisfação, quando nos abrimos para a Luz do Supremo.
Deus está na vida. Mas a vida precisa despertar para a Luz de Sua Presença, Seus Pés Transcendentais.
Cada dia é a renovação da vida. Cada dia é o renascimento de nossa certeza interior de que cada indivíduo é o instrumento escolhido do Supremo para revelar e satisfazer o Divino infinito aqui na Terra.
Uma vida que se volta para o exterior não encontra nada além de problemas, tortura, tristeza e frustração. A vida que flui para o interior descobre o mar de paz e bem-aventurança.
Para iluminar nossa vida nós precisamos de pensamentos puros. Cada pensamento puro é mais precioso do que todos os diamantes do mundo, pois o Alento de Deus reside apenas nos pensamentos puros do homem.
Como iniciar a jornada interior da vida? Com a simples idéia, o pensamento espontâneo de que Deus-realização é seu direito de nascença. Por onde começar? Aqui, do interior. Quando começar? Agora, antes do próximo segundo.
A vida está sempre trabalhando. Ela é sempre-ativa, dinâmica, e procura ajudar a alma a completar sua tarefa ainda não cumprida, a Missão divina. A alma necessita da ajuda da vida para se revelar completamente. A vida precisa da ajuda da alma para sua plenitude, tanto física quanto espiritual.
A preocupação renitente e a desesperança são as piores inimigas, a acabar com a vida em toda sua inspiração divina. Na ausência da preocupação não haverá desesperança. Sua vida se tornará a beleza de uma rosa, a canção do despertar, a dança do crepúsculo.
O nascimento e a morte brincam, brincam juntos. A sua brincadeira é o jogo da harmonia. E brincam sempre no seio infinito da vida.
O significado da morte e experiências de quase morte
Em uma de suas meditações diárias em seus livros, você se refere à morte como uma obstrução. Eu achava que você considerava a morte uma transição, que simplesmente nos permite renascer e fazer progresso contínuo.
Eu disse que a morte é uma transição. Disse que a vida e a morte são como dois cômodos: a vida é a minha sala e a morte é o meu quarto. Ao dizer que a morte é uma obstrução, falo da morte de um ponto de vista diferente. O que é uma obstrução? Uma obstrução é algo que nos impede de ir mais longe. É um limite através do qual não passamos.
Esta vida é uma oportunidade dourada que nos foi dada pelo Supremo. Mas, oportunidade é uma coisa e realização é outra. Nossa evolução espiritual, nosso progresso interior, é bastante certo, lento e, ao mesmo tempo, muito significativo. Naturalmente, existem pessoas que por centenas e milhares de encarnações seguirão um ciclo de vida e morte normal, natural. Num dia, na Eternidade de Deus, elas O realizarão. Mas alguns aspirantes sinceros e genuínos fazem uma promessa plena de alma de que nesta encarnação, aqui e agora, eles realizarão Deus. Isso é dito apesar de saberem que esta não é nem a primeira nem a última vida deles. Eles sabem que existem pessoas que realizaram Deus e, portanto, não querem esperar por alguma encarnação num futuro distante. Sentem que é inútil viver sem Deus-realização e almejam alcançá-la tão logo quanto possível. Nesses casos, se a morte chega e eles ainda não realizaram Deus, então ela é uma obstrução. Caso alguém destinado a morrer com a idade de cinquenta anos, alguém que esteja aspirando com toda alma, possa atrasar a sua morte por vinte ou trinta anos, tudo com a mais bondosa aprovação do Supremo, então o que fará durante esse tempo? Continuará com sua aspiração sincera, com sua meditação mais profunda, com sua contemplação mais elevada. Será como um corredor seguindo em direção à sua Meta, sem obstáculo. Durante esses vinte ou trinta anos adicionais ele pode alcançar o final mais longínquo, onde sua Meta reside.
Mas, se a morte interfere, então ele não realiza Deus nesta vida. Muito poucas almas podem encontrar imediatamente o fio da sua antiga aspiração na próxima vida. Tão logo se entra no mundo, as forças cósmicas não-divinas vêm e atacam; e a ignorância, as limitações e imperfeições do mundo tentam encobrir a alma. Durante os anos de formação, na infância, não lembramos de nada. Uma criança é inocente, ignorante e desamparada. Então, após alguns anos, a mente começa a funcionar. Quando se tem entre oito e doze anos de idade, a mente tenta complicar tudo. Portanto, pelos primeiros onze, doze ou treze anos da próxima encarnação, quase todas as almas, apesar de serem grandiosas e espirituais, esquecem suas conquistas do passado e seu clamor interior mais profundo. Existem Mestres espirituais ou buscadores grandiosos que têm algumas experiências elevadas durante a infância, ou que começam a pensar ou cantar sobre Deus em uma idade bastante tenra, mas normalmente não há um elo entre as conquistas da alma na Terra durante a encarnação anterior e os anos da infância desta encarnação. Existe uma ligação, uma ligação muito tênue, mas ela não opera de maneira significativa pelos primeiros doze ou treze anos.
Algumas almas não recuperam a aspiração de sua encarnação passada antes dos cinquenta ou sessenta anos. Do ponto de vista espiritual, esses cinquenta ou sessenta anos foram tempo perdido. Portanto, se nesta encarnação alguém perde cinquenta anos, e se na encarnação passada já perdeu vinte ou trinta anos, então serão oitenta anos desperdiçados. Nesse caso, digo que a morte é uma verdadeira obstrução. Precisamos remover a obstrução com nossa aspiração, nossa aspiração continuada. Esta deveria ser como uma bala, atravessando a barreira da morte.
Mas, mesmo que leve algum tempo, por fim o ser interior virá à tona conscientemente, e a pessoa, em sua nova encarnação, começará a orar e meditar em Deus o mais poderosa e sinceramente. E verá que nada do seu passado foi de fato perdido. Tudo ficou guardado na consciência-Terra, que é o depósito comum para todos. A alma saberá o quanto realizou na Terra, e tudo isso estará guardado de uma maneira muito segura dentro da consciência-Terra, do depósito-Terra. Aqui, você deposita dinheiro no banco. Então, pode ir à Inglaterra e depois de seis anos você pode voltar e retirar o seu dinheiro. A alma faz o mesmo após ter deixado o corpo por dez ou vinte anos. Todas as conquistas da alma são mantidas intactas, dentro da Mãe-Terra. Então, quando a alma retorna para trabalhar por Deus na Terra, a Mãe-Terra as devolve.
Na maioria dos casos, nada é perdido, exceto tempo, durante aqueles poucos anos da infância. Mas é melhor realizar Deus em uma encarnação, de modo a não perder mais uma vez a nossa aspiração consciente durante o período transitório. Se pudermos permanecer na Terra por cinquenta ou cem anos com aspiração formidável e sincera, então podemos conquistar muitas coisas. Se tivermos ajuda de um Mestre espiritual verdadeiro, é possível realizar Deus em uma encarnação, ou talvez em duas ou três. Se não houver um Mestre verdadeiro e se não houver aspiração, levará centenas e centenas de encarnações.
Quando morremos, qual a melhor coisa a se fazer?
Para uma pessoa espiritual, a melhor coisa é lembrar da presença de seu Mestre. Os entes queridos deveriam colocar uma foto de seu guia espiritual bem à frente do buscador e deixar que o Mestre esteja com ele espiritualmente quando o buscador der o último suspiro. Deixe que o Mestre esteja dentro do próprio alento, do último suspiro do buscador. Então é dever e responsabilidade do guia interior fazer o que for necessário. No seu caso, bem antes de você deixar o seu corpo, seu Mestre já terá deixado o corpo dele. Você pode meditar em mim e eu o ajudarei.
No ano passado o seu pai morreu. Se você estivesse fisicamente presente, o que deveria ter feito é meditar o mais devotadamente possível. Apesar de seu pai não ser conscientemente meu discípulo e não ter aceitado o nosso caminho, quem sabe o que fará ele em sua próxima encarnação? Você sabia que havia alguém que poderia ter auxiliado seu pai enquanto estava morrendo, portanto deveria ter meditado em mim. Sempre se conhece alguém que possa ser de ajuda em qualquer situação. Quando se está doente, chama-se o médico. Quando se têm problemas legais, pede-se ajuda a um advogado. Se quisesse ajudar o seu pai, imediatamente deveria ter pensado em mim e meditado em mim. Se tivesse aspiração ou poder espiritual formidável, teria dado a ele toda a sua força espiritual. Sua força espiritual é a aspiração, e a fonte de sua aspiração está dentro do seu Mestre, do seu Guru. Portanto, se quiser ajudar seus entes queridos, é assim que deve agir.
Contudo, se estiver referindo-se a outras pessoas, para saber o que é o melhor a se fazer quando elas estão morrendo, é preciso saber quem deu a elas a maior alegria na Terra, ou em quem eles tinham a maior fé. Se alguém tinha toda fé no Cristo, mesmo que você não siga o caminho de Cristo, imediatamente invoque, consciente e o mais devotadamente possível, a presença de Cristo. Naquele momento, ajude seu amigo a aumentar sua fé no Cristo. Pode repetir em voz alta o nome de Cristo, trazer ao seu amigo uma imagem do Cristo e ler a Bíblia. Dessa maneira você o estará ajudando em sua aspiração. Se uma pessoa espiritual que me conhece está morrendo, naquele momento você deve ler meus escritos e falar sobre mim. Mas se a pessoa é apenas um conhecido, você deve aumentar a sua fé à maneira dela.
Existe alguma maneira especial para meditarmos com alguém que está morrendo?
Suponha que você foi ver um conhecido no hospital. Então você deve se concentrar no coração dele. Não precisa olhar para a pessoa, apenas coloque toda a sua concentração no coração dela.
Tente primeiro imaginar um círculo no coração dela, e então sinta que esse círculo está girando como um disco. Isso significa que a energia-vida está a rodar conscientemente na aspiração ou no receptáculo da pessoa que está doente. Através da sua concentração e meditação, você estará entrando no pulsar do coração daquela pessoa. Quando entra nas batidas do coração, então a sua consciência e a consciência aspirante ou moribunda da outra pessoa rodam juntas. Enquanto estiverem rodando, ore com todo o seu ser para o Supremo, que é o seu Guru e o Guru de todos: “Que a Sua Vitória seja alcançada. Que a Sua Vontade seja feita através desse indivíduo. Quero apenas a Sua Vitória.” Vitória não implica que a pessoa será curada, não. Deus pode ter decidido por uma ótima razão que aquela pessoa precisa deixar o corpo. Se você orar a Deus de uma maneira entregue e a pessoa deixar o corpo, estará satisfazendo a Deus e lutando pela Vitória de Deus. Se Deus quiser levá-la ao Céu para que lá ela possa fazer algo por Ele, então naturalmente será a Vitória de Deus quando ela deixar o corpo. Se orar pela Vitória do Supremo, com sua aspiração você estará entregando toda a responsabilidade ao Supremo. Quando você conscientemente entrega a responsabilidade ao Supremo, está fazendo a coisa certa.
Qual deveria ser a postura dos entes queridos de alguém que está morrendo?
Somos todos como passageiros num mesmo trem. O destino chegou para um dos passageiros. Ele deve descer nesta parada, mas nós devemos seguir adiante. Devemos saber que a hora dessa morte foi sancionada pelo Supremo. Sem a aprovação ou tolerância do Supremo, ser humano algum pode morrer. Portanto, se temos fé no Supremo, se temos amor e devoção pelo Supremo, sentimos que o Supremo é infinitamente mais compassivo do que qualquer ser humano, infinitamente mais compassivo do que nós, que desejamos ficar com nossos entes queridos. Mesmo se a pessoa que está morrendo for nosso filho, nossa mãe ou nosso pai, nós temos de saber que ela é infinitamente mais querida pelo Supremo do que é por nós. O Supremo é nosso Pai e nossa Mãe. Se um membro da família vai de encontro ao seu pai ou mãe, os outros membros nunca se entristecerão.
Se nos voltamos para a vida espiritual e queremos ter verdadeira alegria, devemos saber que podemos obtê-la apenas entregando nossa vida à Vontade do Supremo. Podemos agora não saber qual a Vontade do Supremo, mas sabemos o que é entrega. Se o Supremo quiser tirar alguém de nossas vidas, precisamos aceitar. “Seja feita a Vossa Vontade.” Se essa for a nossa postura, então teremos a maior alegria. E essa alegria faz o melhor por aquele que está partindo. Quando nos entregamos completamente ao Supremo, essa entrega se torna poder e força adicional para a alma que aqui sofre aprisionada e está partindo. Portanto, se realmente entregarmos nossa vontade à Vontade do Supremo, tal entrega trará paz verdadeira, uma paz duradoura, para a alma que está prestes a deixar o palco-Terra.
Aqueles que começaram a meditar e se concentrar podem estar recebendo vislumbres de suas encarnações passadas. Se acreditamos que tivemos um passado e sabemos que temos um presente, podemos também realizar que teremos um futuro. Sabendo disso, devemos estar sempre conscientes desta verdade: não existe morte. No Bhagavad Gita foi dito: “Como um homem descarta suas roupas velhas e veste novas, também a alma descarta o corpo físico e toma um novo corpo.” Sabendo que a pessoa que morre está apenas deixando seu corpo antigo antes de tomar um novo, e possuindo ela também esse mesmo conhecimento, como pode haver medo?
Não sabemos exatamente o que é a morte e por isso queremos ficar aqui na Terra pelo maior tempo possível. Mas a morte verdadeira não é a dissolução do corpo físico. A verdadeira morte, a morte espiritual, é outra coisa.
Eu tinha um jovem amigo que morreu há apenas seis semanas. No dia anterior à sua morte, ele disse ao pai que morreria no dia seguinte, e de fato morreu. Como ele pôde saber?
Por que não deveria? Não é ele filho de Deus? Na época da morte, se uma pessoa pensa em Deus todo o tempo, ela pode receber a mensagem através de seu próprio ser interior. Quando minha mãe estava para morrer, eu estava a dez quilômetros de distância. Ela sofria de gota. De manhã cedo, ela disse: “Esta manhã estarei deixando o corpo. Onde está Madal? Chamem-no.” Então um dos meus primos trouxe a mensagem até mim e eu fui. Ela tomou minha mão, e então sorriu, seu último sorriso. Ela se foi um minuto depois que eu cheguei, como se tivesse esperado por mim. Agora eu devo ser sincero. Minha mãe era muito, muito espiritual, e costumava praticar a vida interior no sentido mais rigoroso da palavra. Mas quanto ao seu amigo, devo dizer que centenas e milhares de pessoas souberam de suas mortes antecipadamente. Para pessoas espirituais é bastante fácil. É comum que saibam com alguns meses de antecedência.
Está escrito na palma da mão de uma pessoa quando ela morrerá?
Pela palma da mão nem sempre se pode dizer quando alguém morrerá. Caso a morte seja acidental, a palma pode não estar correta. Mas a fronte está sempre certa. Ela mostra uma vibração clara. Nela estará escrito o que acontecerá ao indivíduo amanhã, e será visível na região do nariz se uma morte acidental ocorrerá.
Eu tive um amigo que gostava muito de mim. Seu nome era Ravi. Num certo dia, às seis horas da tarde, ele praticava arremesso de dardo. Quando ele me deu o dardo, vi forças de morte nele, mas pensei: “A melhor coisa é esquecer, ou orar a Deus.” Eu não queria ficar sabendo. No dia seguinte, eu estava descendo as escadas, e ele estava perto da escadaria. Vi novamente a mesma força e praguejei contra mim mesmo, dizendo que era tudo alucinação da mente. Uma hora e meia mais tarde, me disseram que ele tinha sofrido um acidente junto com seu amigo, ao dirigir uma moto atrás de um caminhão. Eles estavam seguindo o caminhão, quando este reduziu a velocidade. O amigo dele pensou que estaria diminuindo sua velocidade também, mas, ao contrário, ele a aumentou, arremetendo contra o caminhão. O motorista do caminhão ouviu o barulho e levou ambos ao hospital, onde eles foram colocados num quarto. A mãe de Ravi quis vê-lo, mas não pôde, pois o médico disse que ambos os casos eram graves. Acho que ele viveu apenas três horas. Uma aparição havia vindo até mim enquanto eu praticava arremesso de dardo. O dia em que ele morreu era o dia da nossa competição de arremesso de dardo, à qual eu não fui; fui apenas ao funeral. Neste caso específico, Ravi estava destinado a morrer.
Quando uma pessoa está doente e, do ponto de vista médico, não há esperança de recuperação, seria bom dizer-lhe que ela morrerá e ajudá-la a se preparar para partir?
É uma pergunta bastante complicada – cada caso necessita ser considerado separadamente. A maioria das pessoas quer viver, não quer morrer, por não saber o que é a morte. Talvez pensem que a morte seja um tirano que as torturará de todos os modos e por fim as destruirá. Quando o karma de alguém acaba e o Supremo quer que ele deixe o corpo, se ainda tiver sede vital e desejos insatisfeitos – mesmo que a alma não os tenha – o indivíduo desejará permanecer na Terra, sem desejar obedecer à Vontade do Supremo. O que você deveria fazer quando uma pessoa está nesse nível? Se disser a ela que Deus não deseja a sua permanência na Terra por mais tempo, que já teve todas as experiências necessárias naquele corpo, ela poderá entender errado. E dirá: “Deus não quer que eu deixe o corpo – vocês é que o desejam.” Ela pensará que você é cruel e impiedoso. Portanto, se você sabe que é a Vontade do Supremo que ela deixe o mundo, a melhor coisa é falar silenciosamente à alma da pessoa e tentar inspirá-la a aceitar a Vontade de Deus.
Contudo, se a pessoa é bastante espiritual e uma buscadora sincera, ela mesma dirá aos seus familiares e entes queridos: “Orem a Deus para que Ele me leve. Eu terminei o meu jogo aqui na Terra; leiam para mim livros espirituais – as escrituras, a Bíblia, o Gita. Deixem que eu ouça apenas coisas divinas, espirituais, as quais me ajudarão a começar minha nova jornada.” Existem muitas, muitas pessoas na Índia que, quando sentem que seus dias estão contados, dizem: “Quanto mais cedo Ele me levar, melhor.” Quando minha mãe estava morrendo, ela costumava ler o Gita constantemente durante os seus últimos dias, com a seguinte visão: “Agora irei até o Eterno Pai. Estou me preparando.” Um paciente desse tipo tem a maior alegria em conhecer e obedecer à Vontade do Supremo.
Os médicos devem sempre tentar manter as pessoas vivas tanto quanto for possível, ou depende do caso?
Se uma pessoa é espiritual, os médicos e familiares deveriam tentar mantê-la na Terra por quanto tempo for possível, porque pessoas espirituais estão sempre lutando contra a morte. Mas pode acontecer que alguém completamente imprestável esteja morrendo em duas horas. Mesmo se você o mantiver na Terra por mais vinte e quatro horas, ele não pronunciará o nome de Deus uma vez sequer. Mas se alguém tem a capacidade de entoar com toda a alma o nome de Deus apenas uma vez mais durante a sua vida, então ele realizará algo no mundo da alma. Isso será adicionado às outras realizações nesta vida e na próxima encarnação sua vida será um pouco melhor.
Na Índia, algumas pessoas vivem por mais de duzentos anos, mas não têm tempo para orar a Deus nem mesmo uma vez em seis meses ou em um ano. De um ponto de vista espiritual, essas pessoas são como um pedaço de rocha sólida. Para elas, cada ano representa mais tempo desperdiçado. Mas se alguém puder permanecer na Terra por apenas uma hora a mais para invocar a presença do Supremo durante essa hora, então é naturalmente melhor que permaneça na Terra. Mesmo que alguém esteja inconscientemente pensando em Deus, então é melhor que continue na Terra pelo tempo que for possível.
Se os médicos tirarem a vida de um paciente que supostamente deveria permanecer vivo, eles adquirirão karma ruim?
Quando os médicos fazem algo errado conscientemente, criam problemas esplêndidos para suas futuras encarnações. Os médicos não são perfeitos – eles podem não saber o suficiente sobre ciência médica. Se cometerem um engano e acidentalmente matarem um paciente, sua ignorância é perdoada pelo Supremo. E, se não podem dar atenção suficiente porque têm muitos pacientes, o Supremo verá se é ou não culpa deles. Agora, se deliberadamente tirarem a vida de alguém apenas para se livrar do paciente, a lei do karma está presente para cuidar deles.
Há uma moça que está completamente inconsciente há semanas. Eles dizem que ela pode viver sem consciência anos a fio. E num caso desses?
Se há a menor esperança da força-vida estar operando em e através dela, a melhor coisa é tentar mantê-la na Terra. Enquanto a alma está no corpo, existe esperança para tal pessoa. Se ela permanece na Terra por cinco meses, é porque há um motivo.
Eles não estão tentando trazê-la de volta à consciência, estão apenas mantendo seu corpo vivo, e alegam que o cérebro dela não funciona, que não existem ondas cerebrais.
Devem continuar tentando, porque a energia-vida ainda opera. Se a alma não estiver presente, as máquinas não poderão manter o corpo vivo por mais do que algumas horas. Quando existe a vibração da alma numa casa, mesmo se alguém sair dela, você sentirá sua presença remanescente. Da mesma forma, o coração continua batendo porque permanece a vibração da alma.
Existe alguma razão para esse tipo de experiência?
O Supremo está usando Sua lei do karma. Suponha que os pais fizeram algo grave para a moça em uma encarnação anterior. Agora a alma diz: “Pois não, nesta encarnação eu os purificarei. Eu perdurarei, perdurarei e perdurarei. Vocês terão de pagar pelas suas ações erradas. Nesta encarnação eu me vingarei.” Se a alma sabe que a paciente não será curada, e se for também de conhecimento da família, então é vingança.
A alma pode estar desfrutando a experiência, pode estar esperando pelo momento certo de ir embora ou pode simplesmente estar passando por uma experiência. Sentimos que a pessoa está realmente morta, mas quem sabe que tipo de experiência a alma está tendo? Ao invés de cinco minutos, ela pode continuar por cinco anos. Qualquer coisa é possível. Pode não ser uma experiência saudável, mas a alma deseja passar por ela. Os seres humanos comuns frequentemente fazem algo por muitos anos unicamente para mostrar ao mundo que aquilo é possível, mas esse algo pode não ser necessariamente encorajador ou inspirador.
Você pode adiar a hora da morte com o seu poder-vontade?
Certamente.
Você pode fazê-lo indefinidamente?
Mestres espirituais podem adiar a hora da morte indefinidamente se for a Vontade de Deus. Uma pessoa espiritual recebe esse poder quando atinge a perfeição espiritual, porque então estará absolutamente entregue a Deus. Um discípulo vai até o Guru e se entrega completamente. Da mesma forma, um Guru deve ser completamente entregue a Deus, o Infinito. Nessa entrega ele se torna um com Deus. Ele não viola a Lei de Deus – ele apenas procura satisfazê-la. Se Deus diz: “Eu quero que você deixe o corpo agora”, ele deixa o corpo. Mas, se ele vê que forças hostis o estão atacando e causando sua morte prematuramente, ele usa seu poder, porque Deus tem a intenção de que ele viva na Terra para ajudar a humanidade.
Ter esse poder não é de utilidade se você deseja permanecer na Terra por duzentos ou trezentos anos apenas para levar uma vida ordinária animal. Uma tartaruga vive por centenas de anos, mas isso não significa que ela seja melhor do que um ser humano. Do que precisamos é de iluminação direta, conhecimento da Verdade, conhecimento da Luz e conhecimento de Deus. Não são os anos que contam, mas sim as realizações.
Por que a morte é necessária? Por que a alma não pode continuar a progredir e evoluir no mesmo corpo?
Por enquanto, morrer é preciso – a morte nos é necessária. Nada podemos fazer por um tempo muito prolongado, de uma vez só. Jogamos durante quarenta e cinco minutos ou uma hora e, então, precisamos descansar. Acontece o mesmo com a nossa aspiração. Suponha que vivamos até os sessenta ou setenta anos na Terra. De sessenta ou setenta anos podemos meditar por vinte ou trinta dias e, mesmo assim, por apenas algumas horas. Um ser humano comum sequer consegue aspirar continuamente por uma hora em sua meditação. Como terá ele a aspiração, a realidade ou a consciência que o levará à Verdade eterna ou à Consciência imortal, todas de uma só vez?
Por enquanto, a morte nos ajuda por um lado – nos permite que descansemos. Quando então retornamos, o fazemos com uma nova esperança, uma nova luz, uma nova aspiração. Mas, se fôssemos dotados de uma aspiração consciente, uma chama ascendente ardendo dentro de nós o tempo todo, veríamos que a morte física pode ser facilmente conquistada. Chegará o dia em que a morte não será necessária. Mas ainda não possuímos tal capacidade; somos fracos. Mestres espirituais, almas libertas, no entanto, possuem domínio sobre a morte, deixando seus corpos quando o Divino assim deseja.
Um homem comum que carregou o peso de uma família toda por vinte, trinta ou quarenta anos dirá: “Estou cansado. Agora preciso descansar.” Para ele, a morte tem significado; a alma entra na região das almas e desfruta de um breve descanso. Mas, para um guerreiro divino, para um buscador da Verdade Última, a morte não tem significado. Ele quer fazer progresso contínuo, sem interrupções. Portanto, tentará viver em eterna, constante aspiração. E com essa eterna aspiração buscará conquistar a morte, para que possa se tornar uma eterna manifestação exterior do Divino que há em seu interior.
Superando o medo da morte através da meditação
Como podemos vencer o medo da morte?
Neste momento você tem medo da morte porque pensa em si mesmo como o corpo, a sua mente, os seus sentidos. Mas chegará o dia em que, pela força de sua aspiração, oração e meditação, pensará em si mesmo não como o corpo, mas sim como a alma. Pensará em si próprio como um instrumento consciente de Deus. E, já que Deus é onipresente, já que Ele o está utilizando para Se manifestar, como poderia Ele, algum dia, abandoná-lo à morte?
Conquistar o medo da morte depende de quanto amor você tem por Deus e quão sinceramente precisa Dele. Se você precisa de alguém, imediatamente estabelece um acesso interior a essa pessoa. Se a sua necessidade de Deus é constante, devotada e plena de alma, então você estabelece no mundo interior um acesso livre ao Amor de Deus, à Compaixão de Deus, ao Cuidado de Deus. E, se pode sempre sentir o Amor, a Compaixão e o Cuidado de Deus, como pode ter medo da morte? Ao sentir que precisa de Deus e que Ele precisa de você, ao sentir Deus dentro de si mesmo, à sua frente e ao seu redor, a morte não mais existe para você. Quando Deus está longe da sua mente, quando não Se encontra dentro de seu coração e não Se encontra em nenhum lugar próximo, nesse momento a morte é real para você. À parte disso, onde há morte? O corpo físico pode deixar a Terra, mas a alma, que é parte consciente de Deus, permanecerá conscientemente em Deus e por Deus, através da Eternidade. É você quem decide pensar em si mesmo como o corpo ou como a alma. Se não aspira e pensa em si mesmo como o corpo, você já está morto na vida espiritual. Mas, se pensa em si mesmo como a alma, isso significa que já desenvolveu uma conexão interior com Deus. Se souber que a alma é a sua verdadeira realidade, você não terá medo algum da morte.
A meditação pode ajudar as pessoas a conquistarem o medo da morte?
Certamente. A meditação pode facilmente ajudar o buscador a conquistar o medo da morte. Ela representa comunicação consciente com Deus. Alguém que possa estabelecer sua unicidade com Deus, Aquele que é todo Vida, não terá medo da morte. Conquistará não apenas a morte, mas também algo mais. Conquistará sua dúvida com relação à existência de Deus na sua vida e na vida dos outros. É muito fácil sentir que Deus existe apenas em nós, ou apenas em pessoas espirituais. Todavia, se meditamos, torna-se claro que Deus existe não apenas dentro de nós, mas também dentro de pessoas das quais não gostamos ou não apreciamos.
Vida eterna
Você pode dizer algo sobre Eternidade e a Vida Eterna?
Sendo um homem espiritual, posso dizer na força de minha própria realização interior que a alma não morre. Sabemos que somos eternos. Viemos de Deus, estamos em Deus, crescemos em Deus e satisfaremos a Deus. Vida e morte são como dois quartos – ir da vida à morte é como ir de um aposento a outro. Onde estou agora é a sala de estar, e aqui estou falando e meditando com vocês, vendo-os. Aqui devo mostrar meu corpo físico; devo trabalhar, ser ativo e expor a minha vida. Contudo, há um outro aposento, o meu quarto. Lá eu descanso e durmo, e não preciso expor a minha existência a ninguém. Estarei por conta própria.
Originamo-nos da Vida Infinita, da Vida Divina. Essa Vida Infinita permanece na Terra por um curto período de tempo, digamos cinquenta ou sessenta anos. Nesse ínterim possuímos em nosso interior a vida terrena. Todavia, dentro dessa vida terrena reside a Vida ilimitada. Depois de um certo tempo, essa Vida novamente passa pelo corredor da morte por cinco, dez, quinze ou vinte anos. Quando entramos nesse corredor, a alma sai do corpo, para um curto ou longo descanso, e retorna para a região da alma. Lá, se a pessoa foi espiritual, a alma retomará a Vida Eterna, a Vida Divina que existia antes do nascimento, que existe entre o nascimento e a morte, que existe na morte e, ao mesmo tempo, vai além da morte.
Agora, enquanto vivemos na Terra, podemos alcançar o reino da Vida Eterna através de nossa aspiração e meditação. Todavia, simplesmente entrando na Vida infindável, não possuiremos essa Vida; temos de crescer nela conscientemente. Quando entramos para a vida de meditação, por fim precisaremos nos tornar parte e parcela da meditação. E, quando formos capazes de meditar vinte e quatro horas por dia, estaremos constantemente vivendo a Vida sem fim. Em nossa consciência interior devemos nos tornar um com a alma. Quando vivemos no corpo, sempre existe morte. No momento em que o medo chega à nossa mente, no momento em que forças negativas chegam à nossa mente, nós morremos de imediato. Quantas vezes ao dia nós morremos! O medo, a dúvida e a ansiedade estão constantemente destruindo nossa existência interior. Mas quando vivemos na alma, não existe morte. O que há é uma constante evolução de nossa consciência, de nossa vida de aspiração.
O inferno existe?
É o inferno um lugar nos mundos vitais ou é apenas um estado de consciência?
No nível físico-mental, o inferno é um lugar, e serve para a experiência da alma. Se você levar uma vida ruim irá para lá, onde existe tortura verdadeira, inimaginável. Principalmente para aqueles que cometeram suicídio, a tortura é infinitamente pior do que ser frito em óleo quente. O sofrimento que os suicidas passam no físico e vital sutis é impensável, intolerável. Não terão uma nova encarnação por um longo período. Após sofrer no mundo vital por muitos anos, quando finalmente encarnam, terão defeitos: cegueira, paralisia, retardo mental e todo o tipo de coisas. E isso não dura apenas uma encarnação. Se não forem perdoados por um Mestre espiritual ou pela Graça de Deus, poderá perdurar por algumas encarnações. Não bastando isso tudo, desde o início eles criam uma perturbação para toda a família em que nascem. Por exemplo, se um suicida encarna sendo insano, trará sérios problemas para toda a família. E essas almas também aumentam o seu karma ruim, pois continuam agindo da mesma maneira, sem mudar. Mas se a Graça de Deus se faz presente, ou se um Mestre espiritual intervém, a alma é auxiliada.
Quando vivemos na consciência física bruta ou na consciência-corpo, o inferno é realmente um lugar. Mas no nível espiritual mais elevado, devemos saber que o inferno, como o Céu, é um plano de consciência. Tanto o Céu quanto o inferno começam na mente. No momento em que pensamos em algo bom, no momento em que oramos e meditamos, e tentamos oferecer a luz interior que recebemos em nossa meditação e oração, começamos a viver no Céu. No momento em que pensamos maldades, criticamos e acalentamos pensamentos ruins sobre alguém, entramos no inferno. Nós criamos o Céu e o inferno. Com os nossos pensamentos divinos criamos o Céu. Com os nossos pensamentos ruins, insensatos, não-divinos, criamos o inferno dentro de nós. Céu e inferno são ambos estados de consciência em nosso interior. Quando buscamos em nosso interior profundo, vemos que o universo inteiro está lá dentro. Dentro deste corpo físico está o corpo sutil e dentro do corpo sutil, no coração, encontramos a presença da alma. E, de lá, se buscarmos ainda mais profundamente, veremos o universo inteiro.
A alma e a evolução no planeta Terra
A alma pode reencarnar em outros mundos após a morte?
A alma que entrou em um corpo humano não pode e não reencarna em outros mundos. A alma pode passar através de outros mundos: os envoltórios físico, vital, mental e psíquico. Tão logo a alma deixa o corpo, ela passa através desses planos seguindo até a sua própria região. Mas lá a alma não reencarna. A alma está apenas atravessando esses lugares, os quais são parte da sua jornada de descoberta. Ela visita esses planos, mas não reencarna neles. A alma reencarna apenas no mundo físico, na Terra. Aqui e somente aqui deve a alma manifestar sua divindade.
Existem sete mundos superiores e sete mundos inferiores, e, durante o sono ou a meditação, a alma de todos viaja para essas outras regiões. Ela pode atravessar um mundo após o outro e ir até o mais elevado; ou pode vagar pelas regiões inferiores. Uma pessoa comum não é capaz de sentir os movimentos da alma, mas um grande aspirante espiritual ou um Mestre espiritual pode saber como está a alma e em que plano se localiza. Mas a reencarnação acontece apenas aqui na Terra, neste mundo.
Você poderia, por favor, explicar por que a alma evolui apenas no planeta Terra?
A alma se manifesta apenas neste planeta porque ele está em evolução. Evolução significa progresso constante, realizações constantes. Quando se quer fazer progresso, quando se quer ir além, então este é o lugar. Nos outros mundos, os deuses cósmicos e outros seres estão satisfeitos com o que já alcançaram. Eles não querem ir sequer um centímetro além do que já alcançaram. Mas aqui na Terra você não está satisfeito, eu não estou satisfeito, ninguém está satisfeito com o que alcançou. Insatisfação não significa que estamos zangados com alguém ou com o mundo, não. Insatisfação significa que temos aspiração constante para ir além e além. Se tivermos apenas uma gota de luz, desejaremos então ter mais luz. Queremos sempre expandir.
Quando a criação iniciou, as almas tomaram caminhos diferentes. Aquelas que buscavam a Verdade derradeira, a Verdade infinita, aceitaram o corpo humano para que um dia pudessem possuir, revelar e manifestar a Verdade aqui na Terra. De acordo com a nossa tradição indiana, existem milhares de deuses cósmicos. Existem tantos deuses e divindades regentes quanto seres humanos. Esses deuses e divindades regentes permanecem nos mundos mais elevados, seja no mundo vital, no mundo intuitivo ou em outro plano elevado. Neste exato momento de acordo com a sua capacidade limitada, eles têm mais poder do que nós. Mas quando estivermos libertos e realizados, completamente unos com a Consciência do Supremo, com a Vontade do Supremo, então transcenderemos a condição deles.
A nossa capacidade humana é infinitamente maior do que a das assim chamadas divindades regentes, porque elas estão satisfeitas, ao passo que nós não estamos satisfeitos com o que temos. Na verdade não é uma questão de insatisfação, mas sim de aspiração constante. Sabemos que o nosso Pai Supremo é infinito. Sentimos que ainda não nos tornamos o Infinito, mas clamamos por expandir e expandir. Este planeta possui tal anseio interior. De um lado, é obscuro, ignorante, e não dá valor à vida divina. Mas por outro lado, tem um anseio interior tremendo, do qual a maioria dos seres humanos ainda não está ciente. Quando o anseio interior atua, então não há fim para as nossas possibilidades, não há fim para as nossas conquistas. E, quando conquistarmos o Infinito, teremos ido adiante das conquistas de outros mundos.
É a alma quem determina pelo que passará enquanto estiver no plano da Terra?
É a alma quem determina o que ela fará aqui na Terra. Todavia, a nossa mente humana frequentemente faz amizade com a ignorância e a escuridão. Assim, certas almas têm dificuldades, algumas menores e outras maiores. A alma aceitou o destino humano. Se a mente física continua a tomar parte nos desejos mundanos e usufruir as coisas mundanas, naturalmente a alma precisará lutar mais bravamente para se erguer da ignorância. Por algum tempo ela pode ficar completamente encoberta pela ignorância.
Mas, ao mesmo tempo, existem algumas almas que não têm problemas pessoais. São bastante grandes e vastas. Esse tipo de alma poderosa sente que toda a humanidade é sua família. Com toda a sinceridade, ela toma os problemas dos outros sobre si mesma, como se fossem seus próprios problemas. Essas almas são muito graciosas e estão dispostas a aceitar e abrigar o sofrimento de outros. Os grandes Mestres espirituais aceitam as dificuldades da humanidade como se fossem suas. Se quisessem se separar da humanidade, não sofreriam. Mas, aceitando a humanidade, por ela escolhem sofrer, e o fazem muito intensamente. Um ser humano comum que tenta ajudar os outros que estão sofrendo fica preso no sofrimento deles. Já uma alma realizada aceitará a todos e a tudo, todavia sempre inundada de Deleite absoluto. Mesmo enquanto sofre ela sente Deleite interior, porque possui união constante com o Divino, com o Supremo.
Como saber qual a sua encarnação passada
Ajudaria sabermos qual tipo de animal fomos nas encarnações passadas ou que tipo de pessoa éramos?
Quando entramos para a vida interior e desenvolvemos a nossa consciência interna, a nossa capacidade interior, reminiscências de encarnações passadas acabam vindo à tona. Em nossa meditação profunda, podemos facilmente perceber que tivemos vidas anteriores. E, se sabemos que tivemos um passado, que o presente ainda não está completo, e que nós mesmos não permaneceremos incompletos para sempre, o anseio do presente nos levará para o futuro, onde alcançaremos a nossa plenitude. Ao mesmo tempo, poderemos acelerar o nosso progresso se tivermos um Mestre. Se formos muito dedicados à vida interior e pudermos contar com o Guru, seremos capazes de fazer o progresso de vinte encarnações em uma vida.
Agora, imagine que tomamos conhecimento de que fomos um cervo em nossa última encarnação animal. A única vantagem é que podemos pensar em nossa velocidade e dizer: “Eu corria tão rápido na encarnação animal. E naquela época eu não tinha a alma avançada que tenho agora. Nesta encarnação, eu correrei ainda mais rápido!” Tão logo a lembrança de que corríamos rapidamente em uma encarnação passada nos vem, sentimos inspiração para correr velozmente nesta encarnação. Se conhecermos a nossa encarnação passada, poderemos utilizá-la positivamente, e nessa hora a inspiração vem rapidamente à tona. Se alguém sabe que era um buscador, sente alguma alegria e confiança. “Eu comecei a minha jornada em uma encarnação passada, apesar de ter sido uma estrada muito longa e árdua. Nesta encarnação eu ainda trilho o mesmo caminho, mas desta vez já não tenho mais toda aquela distância a percorrer. Também, será um pouco mais fácil porque eu tenho uma pequena ajuda, tenho a capacidade, tenho a disposição, tenho a experiência. Com um Mestre espiritual guiando-me, alcançarei a minha meta facilmente.”
Todavia, apenas em ocasiões muito raras fazemos bom uso do conhecimento das nossas encarnações passadas. Na maior parte dos casos, estar ciente delas não é nada encorajador. Se soubermos que na encarnação passada fomos ou um ladrão ou algo não-divino, isso nos traria alguma inspiração ou aspiração? Não, e pensaremos imediatamente: “Ó, eu era um ladrão, e nesta encarnação estou tentando me tornar um santo. É impossível! De nada adianta tentar me tornar uma pessoa espiritual nesta vida.” Mesmo quando fazemos algo de errado nesta encarnação, precisamos de um longo tempo para esquecer do desespero, pois argumentamos: “Eu era tão mau. Eu fiz isso. Eu fiz aquilo. Como poderei agora me tornar puro? Como serei capaz de realizar Deus?” Mesmo se tivermos feito algo errado, digamos, quatro anos atrás, aquilo pode ainda nos incomodar.
Imagine que estamos cientes de que em nossa encarnação passada éramos bastante grandiosos e nesta encarnação vemos que não somos ninguém. Nos sentiremos desolados, culpando a Deus e a nós mesmos, dizendo: “Se fui tão grandioso, como é que nesta encarnação eu sou tão imprestável? Que coisa impensável eu fiz para merecer este destino? Deus é tão indiferente; Ele não se importa comigo.” Mas, na verdade, nós não O compreendemos. Através de nós, Deus quer nesta encarnação uma experiência diferente, e pensamos que Ele está sendo cruel.
Um aspirante busca alegria interior, a alegria que verdadeiramente o satisfaz e também a Deus. Isso ele nunca receberá de suas encarnações passadas. Se, mergulhando em uma de suas encarnações passadas, vir que era o presidente dos Estados Unidos, ainda assim não terá satisfação. Verá que, como presidente, a sua vida também era cheia de desolação, frustração e todos os tipos de sofrimento. Pela verdadeira alegria, um aspirante deve seguir em frente na vida espiritual, com a sua própria aspiração e clamor interior, com a sua própria concentração e meditação.
O melhor para nós é simplesmente não pensar no passado. A nossa meta não está atrás de nós, mas sim à nossa frente. A nossa direção é avante, e não para trás. Para uma pessoa espiritual eu sempre digo: “O passado já foi.” Digo isso pois o passado não nos deu aquilo que almejamos. O que desejamos é a Deus-realização. Conhecer as nossas encarnações anteriores não nos ajuda em nossa Deus-realização. Esta depende inteiramente do nosso choro interior. O importante não é o passado, mas sim o presente. Devemos dizer: “Eu não tenho passado. Estou começando aqui e agora, com a Graça de Deus e a minha própria aspiração. Agora começarei a correr. E o quão longe corri no passado é irrelevante. Pensarei apenas em quanto correrei nesta vida.”
Agora vemos o passado como algo completamente diferente do presente, e o presente como algo completamente diferente do futuro. Mas, uma vez que realizamos Deus, o passado, presente e futuro tornam-se um, formando um círculo, o qual é o nosso próprio ser interior, a nossa vida. Nesse momento, poderemos facilmente ver as nossas encarnações anteriores e saber o que fomos.
Se quiser saber sobre as suas encarnações passadas, certamente Deus lhe dará a capacidade. Mas a coisa mais importante não são as encarnações passadas ou futuras, mas, sim, o que você quer aqui e agora. Você quer Deus, e se medita com toda alma, Ele está fadado a conceder-lhe a dádiva. Você O possuirá, e Ele o clamará como Seu.
Desejo dizer uma coisa mais aos meus discípulos. Agora, permitam que eu me vanglorie um pouco, e vocês também podem se gabar um pouquinho. Vocês tiveram vidas espirituais nas encarnações passadas. Se não tivessem algum preparo, acham que Deus os teria trazido até mim? Não, ele os teria levado para algum outro Mestre que fosse um centímetro inferior a mim. Mestres espirituais do meu calibre recebem discípulos que buscaram ou realizaram algo no passado. Alguns fizeram mais, outros menos. Mas todos fizeram algo, senão teriam tido outro Mestre espiritual e não a mim. Deus é bondoso tanto comigo quanto com vocês. Ele não enviará alunos de jardim de infância para o professor de ensino médio. Guardará os alunos de jardim de infância para os professores que não podem ministrar aulas mais avançadas. Em raras ocasiões, um ou dois discípulos vêm até mim após algumas poucas encarnações humanas, mas essas poucas almas têm um desejo intenso de transcender a sua presente consciência.
Caso alguém seja um buscador bastante avançado e desenvolva a capacidade de ver as suas encarnações passadas, isso irá, na verdade, dificultar o seu progresso? Em outras palavras, é sempre ruim se um buscador descobrir que foi um ladrão ou algo assim no passado?
Se você medita o mais sinceramente nesta vida, a sua força interior irá automaticamente se desenvolver, e você alcançará o ponto onde não será perturbado mesmo se descobrir que era o pior criminoso em uma encarnação anterior. Sabe que veio aqui para se transformar, para ir em direção ao Divino. O Senhor Buddha revelou todas as suas encarnações anteriores: ele foi um cabrito e muitas outras coisas. Mas, porque tinha realizado Deus e alcançado a Verdade altíssima, foi fácil para ele dizer o que foi em nascimentos anteriores. Era irrelevante o fato de ele ter sido bastante mundano em suas encarnações anteriores.
Se um homem morre e possui muita estima e compaixão por um cão ou outro animal, isso fará com que reencarne como um animal também? Soube de uma história em que, na Índia, algo aconteceu a um cordeirinho enquanto um grande sábio estava meditando. O sábio tomou conta do cordeiro e ficou bastante afeiçoado, o que fez com que se tornasse também um cordeiro em sua próxima encarnação.
A maior escritura da Índia e também a mais extensa no mundo é chamada Mahabharata. No Mahabharata existe um bom número de histórias em que um ser humano mais tarde reencarna como animal. Existe uma história famosa sobre um rei chamado Bharata, que tinha muito apreço por um cervo, e que supostamente se tornou um cervo em sua encarnação posterior. Ramakrishna, o grande Mestre espiritual, demonstrava muito afeto a Swami Vivekananda, o seu mais querido discípulo. Ele costumava procurar o discípulo para falar com ele, e as pessoas achavam que Ramakrishna era louco. Um dia Vivekananda disse a ele: “O que você está fazendo? Não conhece a história do Rei Bharata, que, de tão apegado ao seu cervo, tornou-se um cervo em sua próxima encarnação? A sua sorte será a mesma que a dele, se pensar constantemente em um ser humano comum como eu.” Ramakrishna levou o que Vivekananda disse a sério e perguntou à Mãe Kali: “É verdade que o meu destino será similar ao do Rei Bharata?” Ela disse: “Isso é besteira! Você gosta de Naren [Vivekananda] porque vê Deus nele. Não é porque ele é belo ou algo assim. Não, você gosta dele porque a manifestação de Deus é expressa nele. Por isso fica tão feliz em vê-lo.”
Portanto, se demonstrar compaixão a alguém, isso não significa que se tornará aquela pessoa. Se um pedinte pede esmola e você demonstra a sua profunda compaixão por ele e lhe dá dinheiro ou comida, isso não quer dizer que você mesmo se tornará um pedinte. De maneira similar, se tiver um cão, você pode demonstrar o seu amor pelo cão, porque ele é extremamente leal a você e por outras coisas. Mas isso não implica que você se tornará um cão por admirar as qualidades do seu amado cão. As boas qualidades, a lealdade do cão, você pode, sim, possuir em sua existência humana, mas sem viver uma vida animal. Simplesmente por demonstrar apego a um animal, você não se tornará um animal, pois já passou por aquele estágio. O que se aproveita são as boas qualidades do animal.
É possível para um indivíduo se lembrar de detalhes das suas encarnações passadas?
A alma pode facilmente lembrar-se de suas encarnações passadas, mas não deseja fazê-lo. Digamos que em uma encarnação passada você estava vivendo em Connecticut e agora está vivendo em Porto Rico. Por que deveria lembrar-se diariamente de como era a sua casa em Connecticut ou quantos quartos havia lá? O seu dever agora é ficar em Porto Rico, na sua casa atual. Se alguém perguntar onde você vive, você dirá: “Eu vivo em Porto Rico.” E se alguém perguntar o número de quartos da sua casa, imediatamente pensará nessa casa e não na sua casa anterior.
Por favor, não dê atenção alguma ao passado. Agora você deve fazer o seu próprio trabalho. Deve manifestar as qualidades que Deus lhe concedeu. Você tem de fazer tudo aqui e agora. A alma não se importa muito com o corpo em que viveu numa encarnação anterior. Ela pode se lembrar que em uma encarnação passada as circunstâncias, o ambiente e as oportunidades eram melhores. Mas a alma não se importa. Ela quer apenas satisfazer a Deus à maneira própria Dele.
Você aceitou o seu destino. Trabalhará e estudará aqui em Porto Rico. A alma também se sente assim. Ela diz: “Agora estou neste corpo. Deixe-me manifestar o quanto eu puder. Pensar sobre o que eu poderia ter feito no passado não resolverá os meus problemas. Apenas o que farei agora poderá solucionar todos os meus problemas.”
Caminhar em sentido contrário seria uma perda de tempo. A nossa meta está à nossa frente, e não atrás de nós. A alma não se importa nem um pouco com o passado. Ela deseja apenas alcançar a meta. A Deus-realização se encontra à nossa frente, e não em nosso passado. Se caminharmos para trás, estaremos desperdiçando o nosso tempo.
Todas as almas passam por centenas ou milhares de encarnações antes da realização?
Sim, apenas Mestres espirituais não passam por tantas encarnações. Existem algumas exceções entre os Mestres espirituais, mas a maioria deles não deseja passar por tantas encarnações.
Suicídio
Às vezes, as pessoas suicidam-se ateando fogo em si mesmas como protesto contra a guerra. Do ponto de vista espiritual, o que se ganha com isso?
Em uma família, frequentemente os irmãos lutam entre si. Então a mãe diz: “Se vocês não pararem, eu cometerei suicídio.” Conheço muitos casos onde os pais cometeram suicídio quando sentiram que era impossível manter a harmonia na família. Os filhos mudam imediatamente. Ao ver que seus pais morreram por causa das suas brigas, começam uma nova página na vida. Mas isso não dura, e logo estão os irmãos brigando novamente.
Do ponto de vista espiritual, o suicídio não serve a propósito algum. A mãe se sacrificou por seus filhos. Através de seu próprio sacrifício físico ela achava que criaria harmonia, mas no mundo vital não há escapatória, não há perdão para ela. Ela irá para o mundo vital pela sua tolice, e lá ficará. Por que ela não teve a sabedoria de ver que seus filhos não são seus filhos, mas filhos de Deus? Se Deus deu a ela esses filhos, então por que ela não buscou Deus, para que iluminasse a consciência deles? Por que não orou a Deus pela sua harmonia e paz?
O mundo permanecerá ignorante a não ser e até que o Supremo ilumine a consciência mundial. Se sacrificarmos nossas próprias vidas para trazer paz, os problemas do mundo nunca serão solucionados.
Muitos mártires, aspirantes e personalidades espirituais cometeram suicídio, mas aquilo não resolveu os problemas do mundo. Tais problemas se resolverão apenas através da aspiração, ao orar a Deus pela iluminação do mundo, enquanto estamos na Terra. Nossa morte nunca transformará a face do mundo. Mas se invocarmos a Bênção de Deus, a Graça e o Cuidado de Deus, o problema poderá ser solucionado.
É o inferno um lugar nos mundos vitais ou é apenas um estado de consciência?
No nível físico-mental, o inferno é um lugar, e serve para a experiência da alma. Se você levar uma vida ruim irá para lá, onde existe tortura verdadeira, inimaginável. Principalmente para aqueles que cometeram suicídio, a tortura é infinitamente pior do que ser frito em óleo quente. O sofrimento que os suicidas passam no físico e vital sutis é impensável, intolerável. Não terão uma nova encarnação por um longo período. Após sofrer no mundo vital por muitos anos, quando finalmente encarnam, terão defeitos: cegueira, paralisia, retardo mental e todo o tipo de coisas. E isso não dura apenas uma encarnação. Se não forem perdoados por um Mestre espiritual ou pela Graça de Deus, poderá perdurar por algumas encarnações. Não bastando isso tudo, desde o início eles criam uma perturbação para toda a família em que nascem. Por exemplo, se um suicida encarna sendo insano, trará sérios problemas para toda a família. E essas almas também aumentam o seu karma ruim, pois continuam agindo da mesma maneira, sem mudar. Mas se a Graça de Deus se faz presente, ou se um Mestre espiritual intervém, a alma é auxiliada.
Quando vivemos na consciência física bruta ou na consciência-corpo, o inferno é realmente um lugar. Mas no nível espiritual mais elevado, devemos saber que o inferno, como o Céu, é um plano de consciência. Tanto o Céu quanto o inferno começam na mente. No momento em que pensamos em algo bom, no momento em que oramos e meditamos, e tentamos oferecer a luz interior que recebemos em nossa meditação e oração, começamos a viver no Céu. No momento em que pensamos maldades, criticamos e acalentamos pensamentos ruins sobre alguém, entramos no inferno. Nós criamos o Céu e o inferno. Com os nossos pensamentos divinos criamos o Céu. Com os nossos pensamentos ruins, insensatos, não-divinos, criamos o inferno dentro de nós. Céu e inferno são ambos estados de consciência em nosso interior. Quando buscamos em nosso interior profundo, vemos que o universo inteiro está lá dentro. Dentro deste corpo físico está o corpo sutil e dentro do corpo sutil, no coração, encontramos a presença da alma. E, de lá, se buscarmos ainda mais profundamente, veremos o universo inteiro.
Se alguém morre de maneira violenta, a sua alma é submetida ao mesmo sofrimento a que é submetida a alma de alguém que comete suicídio?
Não, não é o mesmo. Se alguém se torna vítima de guerra ou se morre violentamente em um acidente de carro, é porque algumas forças ruins a levaram. No entanto, se alguém destrói o próprio corpo, ele se torna o agressor. Portanto, vítima e agressor não podem ser colocados na mesma categoria.
Mas e se um prisioneiro político comete suicídio para acabar com o insuportável sofrimento? Essa pessoa teria o mesmo tipo de punição que alguém teria ao tirar a própria vida como um capricho de escapismo?
Depende dos méritos e deméritos. Durante a guerra, quão desumana e brutalmente as pessoas nos campos de concentração foram torturadas e mortas. Mas, e se eles mesmos tiraram suas próprias vidas porque não queriam ser mortos ou surrados sem motivo? Saibamos que existe algo chamado isenção de Deus. Digamos que essas pessoas são inocentes e estão sendo mortas. Para que não sejam mortas pelo inimigo, elas podem desejar tirar suas próprias vidas.
Na Índia e também em outros lugares ocorreram muitos casos onde dois guerreiros estão lutando e um deles sabe que o outro certamente já venceu, sendo uma questão de minutos ou segundos até que seja destruído ou derrotado. Este imediatamente dará um fim à sua vida. O seu sofrimento não seria o mesmo caso houvesse simplesmente cometido suicídio.
A alma sofrerá se uma pessoa cometer hara-kiri, uma forma de suicídio considerada honrada no Japão?
Depende da particularidade de cada caso. Normalmente, as pessoas cometem suicídio porque não conseguem encarar a realidade; elas têm problemas emocionais ou os seus desejos não são satisfeitos. Mas cada caso é diferente e apenas Deus pode decidir. No caso de Mestres espirituais, estes podem deixar o corpo quando quiserem. Mas eles não ferem o físico. A alma sai de maneira ocultista e espiritual. Mas primeiro eles devem ter a permissão do Supremo.
Se alguém tenta algo quase impossível para salvar a vida de outra pessoa e morre nessa tentativa, seria como suicídio?
Deve-se saber o motivo. A mãe que vê o filho se afogando pode não saber que a intenção de Deus é que ela permaneça na Terra e cuide de seus outros filhos. Ela vê apenas que seu filho está se afogando e então tenta salvá-lo. Caso ela morra, isso não seria suicídio.
A sua filosofia afirma que a alma está sempre fazendo progresso, mas como você concilia isso com o fato de que quando alguém comete suicídio a sua alma cai?
Quando se comete suicídio a alma da pessoa na verdade não cai. Mas permanece em um certo lugar e é encoberta por infinitos mais véus de ignorância. É a consciência do indivíduo que cai, retornando ao ponto de partida, quase até à consciência mineral, onde não há evolução. A alma fica eclipsada por abundante ignorância, isto quer dizer, infinitas camadas de ignorância. Antes, talvez a alma tivesse dez camadas, mas agora possui incontáveis camadas de ignorância. Ela deve começar tudo novamente, removendo-as uma a uma. É claro, fica infinitamente mais difícil para a alma levar o indivíduo à perfeita perfeição, libertação ou salvação.
Mas se o Supremo quiser agir em um ser humano em particular, o qual cometeu suicídio, em ocasiões muito, muito raras, o Supremo pede aos Mestres espirituais, os quais possuem a capacidade, que cuidem daquela alma e que não permitam que ela seja envolvida por tão vasta ignorância. Nesses casos, o que quer que a alma já possua é suficiente para trazer a Graça e Compaixão do Supremo, e Ele não permitirá que um véu a cubra mais do que o habitual. Entretanto, isso é feito somente em ocasiões muito raras.
De outra forma, se alguém comete suicídio, a evolução pára indefinidamente para ele – por cem, duzentos, quinhentos, seiscentos anos ou mais. Ele não consegue ir adiante, e a carga mais pesada é colocada em seus ombros. O processo de evolução pára. Por ter violado as leis do Jogo Cósmico, ele deve se submeter à punição cósmica. Essa punição não pode nunca ser concebida por qualquer ser humano na Terra. A pior tortura terrena não é nada quando comparada com a punição cósmica que o indivíduo recebe quando comete suicídio.
Você não pode dizer às forças cósmicas: “Eu fiz algo errado, mas não é da sua conta. Alcançarei a minha meta apenas quando tiver vontade.” Você saiu do Jogo Cósmico intencionalmente, sem a permissão de Deus e contra a Sua intenção. Ele não permitiu que você deixasse o jogo, mas ativa e abertamente você O contrariou e tentou arruinar o jogo. Para essa má ação, a punição é das mais severas, tão intensa que não podemos senti-la com o nosso coração humano, e somos incapazes de imaginá-la com a nossa mente humana.
Cremação e enterro
Qual a diferença entre a cremação e um enterro comum?
A diferença exterior você sabe: quando há cremação, o corpo é queimado; quando há enterro, o corpo é colocado num esquife e enterrado. Particularmente adoradores do fogo são os indianos. Sentem que o fogo não só consome tudo, mas também purifica tudo. Portanto, para o fogo nós temos um deus, cujo nome é Agni. Oramos a Agni por purificação e auto-conhecimento, e também entregamos nossos mortos a ele.
Do ponto de vista espiritual, sabemos que o corpo veio a existir a partir de cinco elementos: terra, água, ar, éter e energia. Dos cinco elementos a casca material veio à existência, e com a ajuda do fogo ela retorna aos cinco elementos. Com a cremação, o corpo físico se dissolverá em purificação absoluta, que aqui significa transformação.
Mas, no Ocidente, aqueles que preferem o enterro também têm sua interpretação espiritual. Surge uma espécie de compaixão espiritual, pois o corpo nos serviu tão fielmente, e então dizemos: “Oh!, eu utilizei este corpo por tantos anos e nunca dei descanso a ele. Agora a alma não está mais lá; o pássaro voou. Deixe-me dar uma chance de descanso ao corpo, colocando-o num esquife.” Os que preferem queimar o corpo sentem que ele, que fez tantas coisas tolas e más na vida, precisa de purificação. E aqueles que dão importância ao enterro querem proporcionar ao corpo um descanso confortável.
São as mesmas almas que continuam retornando à Terra?
As mesmas almas retornam, mas o Supremo também cria novas almas. Por várias razões, muitas almas pediram para descansar antes de completar a sua parte no Jogo Cósmico. Aqueles que seguem rigorosamente o caminho do Senhor Buddha e entraram em Nirvana não retornaram. Então o Supremo envia novas almas ao mundo para substituí-las.
A alma costuma ter a mesma aparência desde o princípio e no decorrer de suas várias encarnações?
Sim, ela costuma parecer a mesma. Mas dentro da alma está o ser psíquico, o qual cresce. Uma vez que toma forma, a alma costuma permanecer daquele jeito, e o ser psíquico cresce gradualmente, como uma criança pequena. De início o ser psíquico é bastante pequeno, mas ele cresce. Em buscadores espirituais o ser psíquico está mais desenvolvido do que em outros seres humanos.
Uma alma bela sempre escolhe um ser exterior belo?
Todas as almas são originalmente belas. Mas se uma certa alma é especial, em sua manifestação exterior também veremos doçura, beleza, serenidade, pureza e todas as outras qualidades divinas. Aquilo que somos interiormente também o somos exteriormente.
Alguns têm almas muito refinadas, almas maravilhosas, mas em seus hábitos exteriores essas pessoas são infelizmente muito rudes, não iluminadas e não civilizadas. Por que isso acontece? É porque a mente e o vital não foram tocados de maneira adequada pela luz da alma. Esses indivíduos não estão interessados na luz da alma e querem continuar muito rudes, e, portanto, suas vidas carecem de harmonia. Em sua manifestação exterior eles são absolutamente infelizes e desolados.
Existe outra razão para desarmonia entre a vida exterior e a vida interior. Se plantarmos uma semente de mangueira, naturalmente teremos mangas. Mas, às vezes, existem outras árvores ao redor dela, as quais arruínam a sua beleza. De maneira similar, se os membros de uma família não querem saber da vida espiritual, se são absolutamente obscuros, não-aspirantes, eles podem simplesmente esmagar as boas qualidades de uma criança. Como pode uma criança maravilhosa chegar a essa família não-divina? É o seu destino. Mas, geralmente, se alguém tem uma alma bela, então a expressão exterior da alma também será bela.
A alma sempre precisa de pais físicos para reencarnar?
Nesse momento o corpo físico deve vir de pais físicos. Mas, de acordo com a maioria das autoridades espirituais, chegará o dia onde não serão necessários pais para se trazer uma criança à Terra em um corpo físico. Isso será feito no plano oculto, e a alma virá num corpo luminoso. O mundo está evoluindo gradualmente em direção a esse estágio.
Eu li que quando a alma encarna no mundo é como se estivesse entrando num campo de batalha. É verdade?
Cada vez que retornamos ao campo da manifestação e adentramos o mundo, é como entrar numa batalha. Aqui o buscador espiritual, o soldado divino, deve lutar contra o medo, dúvida, ansiedade, preocupação, limitação, contra as amarras e contra o seu maior inimigo, a morte. Ele luta constantemente contra a ignorância, e a morte é prole da ignorância. Luta, e então perde a batalha e morre, ou então conquista todas essas imperfeições e forças negativas, retornando vitorioso para Deus.
Quando a alma reencarna em um novo corpo, o que acontece com o coração espiritual? Ele também segue de uma vida à outra como a alma faz?
Quando a alma deixa o corpo, ela leva consigo a quintessência das experiências que o corpo, mente, vital e coração tiveram naquela vida. Mas, ao retornar para a região da alma, não leva consigo o coração, o vital ou a mente. E quando reencarna em um novo corpo, a alma – ou você pode dizer o corpo psíquico ou Purusha – é a mesma. Ela ainda carrega as realizações e experiências de suas vidas passadas, mas agora aceita um novo coração, uma nova mente, um novo vital e um novo corpo.
Quando a alma retorna, ela não retoma o mesmo vital?
Ela pode retomar o mesmo vital ou um vital que esteja mais desenvolvido. É como comprar coisas numa loja. Você deixa algo na loja e então retorna e leva aquela mesma coisa, ou algo mais belo. Ao invés de ficar com o seu antigo relógio de pulso, pode comprar um novo. E uma outra pessoa, que tenha menos dinheiro, gostará do seu relógio antigo.
Todos têm um vital e mente que já foram usados? Alguém já usou o meu vital antes, ou o meu coração?
A alma não se importa, contanto que ela os tenha. É como uma bola de futebol ou um instrumento qualquer. Você o usa por um tempo e, então, se não gostar daquele que esteve usando, pode escolher outro. Mas, se você gostar de uma certa bola, poderá usá-la diversas vezes, até que fique totalmente gasta ou que você fique completamente satisfeito. Depende do que a alma deseja realizar. Às vezes, a alma escolhe uma mente bastante poderosa, e às vezes não a considera necessária. Quando se joga futebol com bons jogadores, deseja-se usar uma bola de boa qualidade. Entretanto, caso esteja jogando com jogadores que não são tão bons, você poderá usar qualquer tipo de bola. Portanto, depende de com quem a alma vai jogar no campo de batalha da vida.
Porque a alma escolheria uma mente que duvida ou um vital agressivo?
A alma não escolhe uma mente duvidosa. A alma aceita a mente, mas a própria natureza da mente é duvidar.
A alma procuraria encontrar uma mente mais iluminada?
Onde está a graça se todos os bons estão no mesmo time? Onde estaria o jogo? A mente também está evoluindo. Quando algo está no processo de evolução, naturalmente levará tempo para que alcance a meta. Para você, mesmo um dia possui significado. Na Visão de Deus, duzentos anos é menos do que um segundo; não é nada. Aqui na Terra, mesmo se a mente é muito iluminada, a consciência da Terra pode não ser capaz de receber a luz da mente. É como um coração puro. Um coração puro sofre simplesmente por ser um coração puro. Por que as pessoas espirituais sofrem? Por causa da magnanimidade de seus corações. Existem muitas pessoas que têm um coração puro, mas não um coração forte. Mas, se quiser permanecer na Terra, precisará de um coração puro e também forte.
Se a mente faz progresso, o que acontece?
Se a mente faz progresso, ela tentará sustentar o seu progresso, e da próxima vez que a alma receber aquela mente, ela será de valia. Se uma mente em particular alcançou alguma iluminação, esta será mantida.
A mente esquece os detalhes de sua experiência terrena?
A mente não precisa se lembrar daquelas coisas. É como lembrar do que comi hoje, de como alguma discípula cozinhou. Mas, se souber que a discípula foi muito amável comigo, que trouxe comida sempre que eu quis, isso basta. Não tenho de lembrar quantas vezes ela me trouxe comida ou quantas vezes eu apreciei. Lembrarei apenas do seu serviço abnegado. Se a mente quiser saber que tipo de comida foi trazida, ela não será capaz de dizer. Mas será de fato capaz de lembrar-se do trabalho abnegado da discípula.
O que fazem os seres mentais no mundo da mente?
Às vezes eles dormem, às vezes eles inspiram, às vezes eles entram nas mentes humanas e instigam os seres humanos. De repente um pensamento pode aparecer na sua mente sem que você saiba de onde veio.
Quando a alma escolhe uma mente ou vital, ela já sabe que tipo de vida terá?
É uma questão de possibilidades. Deus sabe de tudo, mas Ele mantém o futuro encoberto. Mesmo o próprio Deus não usa a Sua Visão última todo o tempo; se o fizesse, não haveria jogo. Digamos que em quarenta e cinco minutos o jogo acabará. Ele pode colocar diante da Sua Mente esses quarenta e cinco minutos, e digamos então que hoje Ele contará de um até quarenta e cinco, passando por cada número: um, dois, três, quatro, cinco, seis, e assim por diante. Mas, se no dia seguinte Deus contasse “um” e logo em seguida pulasse para o “quarenta e cinco”, as pessoas diriam: “Qual é a graça em jogar com Você, se Você pode pular do um para o quarenta e cinco e nós não?” É por isso que Deus não joga dessa maneira.
Quando uma criança encarna em uma família, é possível que a alma da criança seja menos desenvolvida do que as almas dos pais?
Às vezes os pais são inferiores, muito inferiores às crianças, e outras vezes os pais são superiores. Mas, da mesma maneira que no mundo exterior os pais tentam fazer com que suas crianças sejam sábias e bem-educadas, no mundo interior, se os pais oram e meditam em seus filhos, as crianças farão progresso e crescerão.
A alma pode fazer alguma escolha com relação ao ambiente para o qual retornará e quanto ao corpo que tomará quando reencarnar?
Ninguém impõe nada à alma. Ela é quem faz a escolha, mas esta deve ser aprovada pelo Supremo. A alma, enquanto sentada no topo da árvore sente que, se retornar à Terra, será para a sua verdadeira satisfação. Mas, como você sabe, o mundo é cheio de imperfeições e limitações. E quando a alma toca a base da árvore, sente que lá existem forças obscuras, forças malignas, tentando capturá-la e devorá-la. Então, após fazer a escolha, às vezes a alma sente que o ambiente que escolheu não é saudável, e pode deixar o corpo.
Você disse que a alma escolhe a família em que nascerá. O que acontece com a alma se ela escolhe uma família ruim?
Vamos pensar na alma como a proprietária da casa e na família como a casa. Como proprietário, se você não sente que essa casa esteja lhe trazendo alegria ou satisfação verdadeira, imediatamente tentará conseguir outra que lhe traga satisfação sincera. Caso uma alma sinta aversão a uma certa família, ela pode deixar o seu presente corpo e entrar em outro. Já que a alma tem sabedoria e luz, ela retornará para um lugar onde tenha um ambiente melhor, um ambiente que permita maior plenitude. Se a casa for boa, então a alma não precisa se mudar. Quando tem uma boa casa, você não quer se mudar dela, mas sim tirar o maior proveito dela. Quando a alma recebe uma casa adequada, o que quer dizer um bom ambiente e uma boa família, em que todos aspiram, naturalmente ela permanecerá lá.
Apesar do nome “vida após a morte” possa ser bastante impactante, na verdade vamos falar sobre algo muito natural na vida de um buscador espiritual, e como isso pode auxiliá-lo e aos outros também.
É algo que o Cristo disse como:
“ Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus.”
Nicodemos perguntou-lhe: Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez?
Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus.
O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito.
Não te maravilhes de que eu te tenha dito: Necessário vos é nascer de novo.
O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito. João 3:3-7
Na verdade, não está se falando de forma alguma da morte física nem de uma EQM (experiência de quase morte) . Trata-se do homem, ainda vivo, ter uma vida completamente nova.
Isso é algo que os buscadores e praticantes espirituais experimentam no decorrer das suas vidas. Pude ver isso na minha própria vida, na minha avó e também em diversos colegas do nosso Centro Sri Chinmoy. Em alguns dos casos pude até presenciar toda a transição, do zero ao renascimento (que, diga-se, não tem fim antes da completa perfeição).
Na maior parte das vezes, não acontece nada muito espetacular do ponto de vista mágico. Mas a pessoa muda. Ela ganha um brilho especial no sorriso, um brilho raro. Um brilho nos olhos. Um brilho nas palavras. Um brilho no silêncio.
Coisas que não eram importantes passam a ser primordiais. Satisfação genuína – um sentimento de preenchimento – uma meta clara e real para a vida – a certeza inamovível de estar fazendo a coisa certa.
Coisas que eram primordiais parecem de repente superficiais – como sonho vazio que acaba e nos descobrimos tendo uma vida real.
O caminho normal e natural é através do nosso anseio interior por transformação, por luz, por verdade, por vezes com momentos marcantes. Aí chegamos no próximo ponto.
Escrevendo suas experiências espirituais
Na nossa jornada, por vezes nos deparamos com experiências especiais. Às vezes é uma pequena oração que é atendida. Algo que nos faz lembrar de que o nosso Pai está sempre cuidando dos filhos, por vezes agradando-os com pequenos regalos.
Eu vez eu estava voltando para casa, um pouco chateado, pois o dia tinha sido bem difícil e eu não tinha ficado bem equilibrado. Eu voltei para casa, e até pensei, falando com o Mestre: “Guru, bem que podia ter algo, como uma carta dos meus amigos, para mim.” Cheguei em casa e abri a caixa de correio sem esperanças. Lá estava uma carta de um amigo de San Francisco, o Hiyamallar, junto com uma das canções de Sri Chinmoy com dez páginas de comprimento! São 20 minutos cantando sem parar! Eu chorei ao ver o que o Guru tinha feito por mim, só para me consolar. Ele talvez já soubesse até que eu ia ter um dia assim e que ele gostaria de me fazer sentir amado e cuidado por ele, e por isso criou todo o plano.
Ou são experiências maiores. Fazemos algo, tomamos uma decisão importante para a vida ou temos uma meditação extraordinária e sentimos por um momento a felicidade da alma. Eu já tive essa experiência – quando terminei o relacionamento que tinha com a pessoa que seria a minha esposa. Nós dois sentimos que tínhamos metas diferentes, então não valeria a pena um atrasar o outro. Eu estava um pouco choroso, mas, ao mesmo tempo, repleto, absolutamente repleto de uma felicidade que eu nunca tinha experimentado antes.
Apesar de eu ter contado algumas experiências, o importante e mais recomendado é você guardar elas para você. Quando estiver passando por dias de dúvida da sua prática, ler esses escritos irão ajudá-lo imensamente. Mesmo grandes almas como Swami Vivekananda usaram desse artifício divino.
Comece hoje, pois o tempo corre mais rápido na vida espiritual, e a memória fica para trás!
Como interpretar sonhos e visões interiores
Sri Chinmoy: Há outra coisa importante que gostaria de dizer. Sempre que tiverem sonhos ou visões, por favor, não tentem interpretá-los ou pedir a outras pessoas que os interpretem, pois vocês vão cometer um erro terrível. Se vocês tiverem uma visão ou uma experiência interior, mergulhem profundamente em seus interiores e descubram o significado ou me perguntem sobre o significado. Se tiverem uma experiência maravilhosa, escrevam para mim. Posso não responder exteriormente ou dar uma mensagem interior específica, mas vou abençoá-los e apreciarei suas experiências. Se tiverem uma experiência realmente divina, meu ser interior saberá imediatamente.
Meditation: God´s Duty and Man´s Beauty, p. 55-56
Todas as experiências são boas?
Pergunta: Venho tendo experiências telepáticas com pessoas que se chamam de mágicos. Converso com eles enquanto estão em outros lugares. Posso entrar nesse reino quando quiser. Estou curioso em saber como você responderia a essas experiências.
Sri Chinmoy: Do mais elevado ponto de vista espiritual eu gostaria de responder à sua questão. Essas experiências o ajudarão a ir mais rápido em direção à sua meta? Não, não ajudarão. Essas experiências são fascinantes, indubitavelmente, mas nunca o levarão à realidade. Pelo contrário: elas são tentações noseu caminho para a realização em Deus, a elevadíssima Verdade. Em nossa vida espiritual, muitas vezes temos experiências fascinantes e não queremos mais aspirar. É verdade que essas experiências podem nos incentivar, mas muitas vezes, quando temos experiências demais, entramos no mundo vital. Vemos um caleidoscópio: vemos todos os tipos de coisas belas, mas elas são só tentações. Suponha que você esteja andando por uma rua em direção a um lugar específico. Se vê árvores, flores e lagos bonitos pela rua, o que acontece? O cenário é tão bonito que você acaba descansando. Você diz: “Deixe-me ficar aqui e apreciar isso,” e então para e aprecia a paisagem. Mas o seu destino permanece uma meta distante.
Um buscador sincero sabe que a meta dele é a Verdade mais elevada. Ele não adiará a jornada. Mas, no seu caso, posso ver que você aprecia essas experiências; você dá a elas a sua atenção consciente. Isso é muito errado. Na vida espiritual, aspiramos pela mais alta Verdade, por Deus, e por nada mais. Essas experiências são verdadeiras tentações para você. Você deveria sentir: “Tendo realizado Deus, terei experiências infinitamente mais belas, significantes e frutíferas”. Com essa idéia, você deveria deixar de lado essas experiências telepáticas. Se sente que entrando nessas experiências ou permitindo que elas entrem em você, acalentando-as, conseguirá experiências mais elevadas, está enganado. Você não irá nem um pouco mais adiante. Se insistir nelas a toda hora, se estiver constantemente fascinado por elas e sentir que é parte delas, será pego por essas experiências. Muitas pessoas cometeram esse engano, e para elas a realização em Deus permaneceu uma meta distante.
Buscadores sinceros tomam essas experiências como obstruções no caminho. Por favor, não dê atenção a esses tipos de experiências. Elas são fascinantes, mas não estão satisfazendo a sua vida de dedicação, realização e manifestação. De manhã cedo, tente silenciar a sua mente. Se conseguir silenciar a sua mente, não terá essas experiências. Elas estão vindo do mundo vital até você. Você está acalentando essas criações do mundo vital e tentando colocá-las à sua disposição, como se fossem muito suas. Mas elas não podem levá-lo à Meta mais elevada. Se a sua intenção é o Altíssimo, então essas coisas têm de ser descartadas. Quero que você vá até alguém que o inspire a entrar no reino da pura aspiração. Você será capaz de trazer à tona a luz da sua alma e correr o mais rápido possível em direção à Meta mais elevada.
Fifty Freedom-Boats to One Golden Shore 6, p.71-73
Contando suas experiências interiores aos outros
Pergunta: Você pode explicar o valor de tentar contar aos outros suas experiências interiores?
Sri Chinmoy: Alguns Mestres aconselham seus discípulos a compartilharem suas experiências apenas com eles. Na maioria das vezes não é aconselhável compartilhar as experiências interiores de alguém com outros. Suponha que você tenha tido uma muito elevada esublime experiência.Mesmo se você contá-la a seu amigo mais íntimo, o ciúme dele poderá tentar devorar a riqueza, a realidade viva da sua experiência. Ocorre algumas vezes que ao dividir suas experiências com um iniciante, este irá tentar ter a mesma experiência de qualquer jeito.Na vida espiritual isso nunca acontece. O progresso espiritual é um processo lento, constante e gradual. Por você ter provado uma manga e me contado, eu poderei talvez subir na mangueira.Mas se não souber como subir, ao tentar eu cairei e irei me machucar. Outra coisa: se você contar suas experiências interiores para outros, o orgulho humano deles poderá entrar em você.
Experiências interiores somente devem ser compartilhadas com a permissão do Mestre.
Se a pessoa não tem um Mestre,deve então mergulhar dentro de si profundamente e ouvir os ditames da sua alma. Se a alma ou o Mestre pedir a um ao buscador que compartilhe suas experiências com o resto do mundo, não haverá problema então. Pode ocorrer nesse caso que se a pessoa contar suas experiências, seus amigos fiquem inspirados a entrar no mundo de aspiração. Porém é sempre aconselhável perguntar ao Mestre ou ir fundo dentro de si, para saber quando se deve compartilhar suas experiências. De outra forma isso poderá criar resultados imprevistos e deploráveis para o próprio buscador ou para os outros com quem ele tenta compartilhar suas próprias experiências.
Earth-Bound Journey and Heaven-Bound Journey, p. 62-63
Pergunta: Quando estamos no mundo exterior, estamos livre e desimpedidos para falar de nossa vida espiritual ou devemos reservar isso só para os que aspiram?
Sri Chinmoy: Se você falar sobre suas experiências, poderá ficar em apuros.O solo tem que estar fértil. Se as pessoas são genuínas e sinceras, então sua conversa será frutífera. Do contrário, eles terão todo o direito de não compreendê-lo e ridicularizá-lo.Você pode não se importar se alguém zomba de você, porém a pessoa que não se beneficiou ou não se inspirou com o que você disse, infelizmente poderá tentar bloquear sua própria inspiração e aspiração. Nós devemos então usar nossa sabedoria que ele também é uma criança de Deus; deixe o momento do seu despertar chegar na Hora escolhida por Deus.Não é da sua conta acordá-lo. Quando alguém está pronto, clamando por uma vida mais elevada, aí então é a hora de você acordá-lo do sono que é a ignorância.
Se você der uma nota de mil dólares para uma criança, ela a rasgará. Para ela a nota não tem valor. Porém um adulto saberá o valor dos mil dólares. Similarmente quando você compartilha suas experiências interiores com um aspirante ou buscador, ele irá se beneficiar com isso. Ele sabe quão difícil é ter uma experiência interior. Aqueles que clamam pela vida interior, são as pessoas certas para compartilhar suas experiências.
Realization-Soul and Manifestation –Goal, p. 46-47
Experiências espirituais verdadeiras e falsas
Pergunta: Como posso dizer se as minhas experiências interiores são genuínas ou falsas?
Sri Chinmoy: Se ficar em dúvida quando tiver uma experiência interior, concentre-se no coração. Se a experiência for genuína, você vai sentir uma sensação sutil de formigamento. Se sentir como se uma formiga estivesse escalando ou se arrastando no seu coração, então saberá que a sua experiência é genuína.
Quando tiver uma experiência interior, tente respirar tão lenta e silenciosamente quanto possível, e sinta que está trazendo pureza ao seu sistema. Sinta que a pureza está entrando em você como uma linha e está girando ao redor do seu umbigo. Se você sentir que o seu coração espiritual não está disposto a entrar no seu umbigo, então a sua experiência é uma mera alucinação. No entanto, se o coração entra de bom grado no umbigo, esteja certo de que a sua experiência não é uma alucinação; é absolutamente verdadeira e genuína.
Quando tiver uma experiência e quiser saber se ela é válida, tente sentir por alguns minutos se você cresce naquela experiência ou não. Se sentir que pode crescer naquela experiência, mais cedo ou mais tarde, em uma hora ou duas, ou em um dia ou seis meses, então a sua experiência é genuína. Porém, se sentir que a realidade é alguma outra coisa e você nunca vai poder crescer naquela experiência, então ela não é genuína.
Quando tiver uma experiência, tente separar a sua vida exterior da sua vida interior. A vida exterior é uma vida de necessidade, demanda e exigência. A vida interior também é uma vida de necessidade, mas é da necessidade por Deus, não da sua necessidade; das exigências de Deus, não das suas demandas ou exigências. Tente sentir se é a necessidade de Deus que está operando em e através da sua experiência, se Ele precisa de você e quer satisfazer a Si mesmo em e através de você. Se você pode crescer nesse tipo de sentimento ou realização, a sua experiência é genuína. No entanto, se você se identifica conscientemente com as suas exigências, então a experiência não é verdadeira. É só uma alucinação.
Pergunta: Do seu ponto de vista, a hipnose é aceitável ou não? Por quê?
Sri Chinmoy: Quando alguém quer realizar a Verdade, a qual é Deus, não há necessidade de hipnose ou auto-hipnose. O que é necessário é paz, beatitude e poder. Estas coisas podemos adquirir através da aspiração. Ao levar alguém para o mundo da inconsciência ou para o plano subconsciente através da hipnose, fazendo com que a pessoa torne-se consciente dos seus defeitos, imperfeições e impurezas do passado, não seremos capazes de ajudá-la a alcançar sua derradeira Meta. Contudo, ao trazer do alto as coisas que podem mudar e moldar sua vida, e fazer dela uma pessoa melhor, poderemos ser de grande ajuda.
Eu tenho discípulos que se entregam à prática da hipnose. Porém, eu digo a eles: “O que vocês querem de si mesmos? O que esperam da outra pessoa? Caso queiram que as outras pessoas fiquem livres da tristeza, da frustração e da preocupação, então mostrem a elas a luz, e não pesem as falhas passadas ou os defeitos que os impedem que expandam as suas livres consciências.”
Se alguém quer paz, se alguém quer satisfação verdadeira, se alguém quer obter alegria da sua vida, a espiritualidade é a resposta imediata. A espiritualidade não é algo teórico e irreal. Ela é natural e praticável, uma conquista e realização prática e natural. A espiritualidade é uma coisa espontânea, o traço de união entre a vida interior e a vida exterior. Ela pode solucionar todos os problemas humanos, interiores e exteriores, e também aqueles que nem mesmo apareceram em nossas vidas. A espiritualidade pode solucionar esses problemas antes mesmo de suas manifestações; ela pode entrar dentro deles e fazê-los em pedaços. Eu sinto que a hipnose não é de valia alguma. O que possui valor é a aspiração – trazer infinita paz, bem-aventurança e poder para a consciência física através de constante aspiração.
Vejo com frequência nos cursos de meditação os alunos nos perguntar sobre o espiritismo, sobre os espíritos e mediunidade, em particular no aspecto da meditação. Algumas pessoas que são espíritas são indicadas a praticar meditação por alguém, e por isso chegam até os nossos cursos.
Na verdade, não há muita relação. A busca espiritual e o mundo dos espíritos e mediunidade são sistemas paralelos, com poucos pontos em comum. O livro Astrologia, o Sobrenatural e o Além, de Sri Chinmoy, fala muito sobre assuntos que são bastante curiosos ou populares. Abaixo deixamos algumas perguntas referentes ao tema dos médiuns e espíritos. Também escrevemos uma página sobre ocultismo, poderes psíquicos e meditação.
Pergunta: Eu gostaria de saber qual a diferença entre alma e espírito. Sei que são coisas completamente diferentes, mas não consigo entender a diferença.
Sri Chinmoy: Um espírito, da maneira que o termo é utilizado no ocidente, é uma entidade vital, e não costuma ser bondosa. A alma, a qual incorpora Deus, fica em nossas profundezas interiores; ela é parte do Eu. Através da alma, entramos em nossa tudo-permeante divindade. Quando utilizamos o termo ‘alma’, ele se refere a uma centelha do Eu, o Onisciente e o Onipotente. Um espírito, da forma com que utilizamos o termo aqui, é uma entidade vital que está descontente ou mesmo insatisfeita quando a pessoa morre, e que permanece no mundo vital por algum tempo. Existem muitas, muitas forças perturbadoras, conflitantes e obstrutoras que tomam a forma de espíritos.
Esses espíritos procuram criar desarmonia, separação e coisas similares. É o papel deles. Às vezes, os espíritos ajudarão alguém a encontrar informações no mundo vital sobre o que está acontecendo lá ou o que acontecerá amanhã ou depois. Eles possuem essa capacidade porque o mundo vital é mais elevado do que o mundo físico. Se você escalar uma árvore e observar do topo, terá uma vista mais ampla e poderá ver tudo de uma forma mais clara. É mais fácil observar o que acontece no mundo físico a partir do mundo vital. Mas é bastante difícil entrar no mundo vital a partir do físico. Estarão envolvidas práticas ocultas ou que lidam com espíritos.
É bastante comum que espíritos digam a uma pessoa enlutada que eles trarão as almas dos seus entes queridos para visitá-la. Gostaria de dizer que as pessoas que ouvem o que esses espíritos falam estão cometendo um grande erro, porque os espíritos não trazem realmente a alma daquela pessoa, do ente querido. Ao invés, eles trazem do mundo vital entidades insatisfeitas, famintas.
Existem alguns espíritos que tomam posse das pessoas que lidam com eles. Os seres exteriores dessas pessoas permitem que o espírito entre nelas, resultando disso a possessão. Às vezes, essas pessoas predizem coisas que podem, ou não, acontecer. No entanto, infelizmente isso não as traz para a vida espiritual. Depois de alguns anos o espírito dirá: “Agora me dê o pagamento. Eu dei a você fama e renome. Você não sabia nada sobre o passado ou sobre o futuro. Eu mostrei a você, e agora você deve me pagar.” Com o que pode a pessoa pagar? A sua fama e renome não trazem alegria para os seres famintos, e os espíritos então a estrangulam. Muitos, muitos praticantes de magia negra e pessoas que lidam com espíritos foram estranguladas ou mortas. Sei disso porque estive próximo de um número significativo de casos.
Voltando para o termo ‘espírito’, na Índia o utilizamos com um ‘E’ maiúsculo, e ele possui um significado diferente do assumido no ocidente. Esse Espírito é a forma masculina de Deus, que não entra no campo da criação. É o Além não-manifestado, o Eu. Quando nos voltamos para a vida interior e fazemos progresso espiritual, enquanto trazemos para nós realização e libertação do medo, dúvida e limitações, ganhamos acesso livre ao Espírito. Lá, alcançamos a nossa própria identidade com a Visão e Realidade Cósmicas. Esta concepção de Espírito não é utilizada no ocidente, onde utilizamos o termo ‘espírito’ para nos referir a práticas com espíritos e a seres do mundo vital.
Pergunta: Como o espírito faz para possuir uma pessoa? Como ele ganha acesso à sua consciência? Ou ele simplesmente a penetra?
Sri Chinmoy: Eles possuem poder no mundo vital. Podem possuí-lo facilmente enquanto você anda pela rua ou a qualquer hora. Mas por que apenas espíritos? Pensamentos humanos também podem entrar. Se justo agora você abriga bons pensamentos, muito poderosos, com esses pensamentos poderosos você pode entrar em outra pessoa. Estará emitindo ondas de pensamento para alguém, e essa pessoa poderá ver um ser à sua frente, como num sonho. O ser pode tomar qualquer forma que você desejar. Podemos criar formas a partir do pensamento, pois este é muito poderoso. Quando os Yogis utilizam o poder-vontade ou seus pensamentos, imediatamente dão a eles uma forma.
Pergunta: O que contatam os médiuns enquanto oferecem mensagens? Com quem ou com o quê eles estão falando?
Sri Chinmoy: Eles buscam falar com a alma. Caso eu queira ver o falecido irmão, pai ou mãe de alguém, eu posso ver e posso falar com a alma da pessoa. Quando você for realizado também poderá falar com os seus pais dessa maneira, caso eles não estejam na Terra. Se eles ainda estiverem no Céu ou em algum outro mundo elevado, será fácil falar com a alma. Se eles tiverem tomado uma encarnação humana, fica um pouco difícil, mas ainda é possível.
A alma tem a sua própria linguagem. Assim como podemos falar diretamente com um ser humano, podemos falar com a alma. Um homem que não tenha alcançado a realização pode falar com a alma se tiver alguma conexão ou controle sobre algum espírito no plano vital. No entanto, a informação recebida através de espíritos é freqüentemente imperfeita ou incorreta. Se o pai ou mãe de alguém faleceu e quer se dar ao trabalho de ajudar um filho na Terra, o espírito do falecido, não importa onde esteja, pode vir e trazer mensagens. A qualquer hora, os espíritos podem se concentrar nos filhos, pensar neles e então transmitir a mensagem. Existem pessoas das mais comuns, que não oram por um segundo sequer, mas que ainda assim recebem mensagens dos familiares no plano da alma. No entanto, todo esse processo não é de forma alguma preciso ou confiável. As pessoas que recebem mensagens dessa maneira sempre ficarão à mercê dos caprichos de seus entes queridos que já faleceram.
Pergunta: Uma pessoa pode emprestar o seu corpo de forma que um espírito possa entrar e falar através daquele corpo?
Sri Chinmoy: É possível. É isso o que os médiuns procuram fazer. Isso costuma ocorrer espontaneamente, principalmente nas crianças. Elas falam com os seus pais e estes notam que elas possuem uma expressão peculiar nas suas faces, uma personalidade diferente, com uma maneira de expressão diferente. A criança estaria então possuída por algum espírito.
Pergunta: O que são espíritos ou seres vitais?
Sri Chinmoy: Alguns deles já fizeram parte de um ser humano, mas outros são apenas parte da existência universal. Essas entidades não desejam a luz da alma. Elas sentem prazer em criar problemas e destruição.
Não podemos dizer que essas forças são alucinações mentais. No ocidente utilizamos os termos ‘alucinação’ e ‘superstição’. Sabemos que alucinações e superstições existem, mas os seres de que falamos existem no mundo real. Eu os vi com os meus próprios olhos, como também os viram outros membros da minha família, nossos empregados e vizinhos. E lidei com eles com a minha própria luz e poder espiritual.
Pergunta: Um espírito pode ajudar uma pessoa?
Sri Chinmoy: Sim. Pais podem vir em um sonho e instruir alguém a fazer algo bom, podem contar o futuro, ou simplesmente avisar a você que algo acontecerá.
Pergunta: Qual a relação entre psicografia e os médiuns?
Sri Chinmoy: A espiritualidade não se abandona à escrita automática e coisas desse tipo. Procurar um médium para saber o que acontece no Céu, na Terra ou no mundo vital não é nada espiritual. Espiritualidade significa aspiração constante por ser completamente um com Deus. Espiritualidade representa a nossa unicidade natural com Deus. Espiritualidade verdadeira é algo absolutamente normal e natural. Se alguém está interessado em psicografia e coisas desse tipo, você deve buscar atiçar a chama da aspiração que está dentro dela. Caso essa pessoa seja muito próxima e querida, ela poderá ouvi-lo. Tente fazer com que perceba que ela mesma descobriu a verdade, e não que você é quem está revelando ou inserindo a verdade nela. Quando alguém sente que descobriu a verdade por conta própria, vinda de seu próprio interior, essa verdade passa a ser normal e natural.
Esta noite, durante a sua meditação, gentilmente procure entrar na pessoa e deixá-la sentir que ela mesma repentinamente percebeu a verdade, que a psicografia não é na verdade algo bom, mas que a concentração, a meditação e a contemplação – as quais provêm da aspiração – são verdadeiramente boas. Dessa maneira você será capaz de levá-la ao caminho certo. Por favor, tente interiormente e não exteriormente.