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Vida em família

Por Sri Chinmoy, do livro Meditação, Yoga e a Arte de Viver: a Aventura da Vida

 

O propósito sagrado e divino da família é auxiliar cada membro a descobrir sua própria verdadeira realidade.

 

O papel da família

 

Pergunta: Quanto a nossa infância nos influencia?

Sri Chinmoy: Depende da família, dos pais, do ambiente. Se você vem de uma família religiosa, uma família espiritual, há toda possibilidade de que isso esteja escrito na sua testa ou na lápide do seu coração. Existe toda chance de que a semente plantada pelos seus pais germine e se torne uma grande árvore com muitas flores e frutos.

Tudo depende do indivíduo. Há muitas pessoas que receberam uma afeição enorme quando eram crianças. Por vezes, até o fim da vida o afeto e compaixão dos pais continuam, pois influenciaram tanto a vida da pessoa. Por vezes, após quinze ou vinte anos, algumas pessoas não valorizam as boas qualidades do pai ou da mãe. Elas querem seu próprio estilo. Muitos filhos não mantêm qualquer conexão com seus pais. Tudo depende do indivíduo – quanto o indivíduo quer manter o afeto, amor, doçura e carinho dos pais.

 

Pergunta: E no caso das nossas experiências da infância não terem sido tão boas?

Sri Chinmoy: Se você sente que os seus pais não foram bons, se não recebeu um bom tratamento deles durante a sua infância, encare a sua imaginação como uma realidade. Imagine novamente a sua infância. Você cresceu numa família, mas ao seu redor, nas vizinhanças, alguns pais eram extremamente, extremamente carinhosos com seus filhos. Identifique-se, identifique-se com eles!

Procure sempre se identificar. Você talvez não tenha recebido amor e afeto, mas com certeza pode usar a sua imaginação e imaginar amor e afeição. Pense numa família onde os pais são muito afetuosos com seus filhos. Essa imaginação certamente lhe trará doçura, felicidade e um sentimento de satisfação interior.

Caso os seus pais não tenham sido gentis, simplesmente imagine doçura, doçura e mais doçura. De manhã cedo, observe uma flor, observe o nascer do Sol. Identificando-se com a natureza, você sentirá uma grande alegria. Nesse momento você ficará pensando sobre como seus pais batiam em você? Você é a mesma pessoa de antes, mas pode usar a sabedoria. Traga à tona as mais doces, doces e doces memórias. Se você não tem doces memórias da sua família próxima, isso não o impedirá de sentir a doçura da sua infância.

Agora que você é adulto, deve utilizar a sabedoria a todo o momento. Exercite sabedoria, mais e mais sabedoria! É possível que os pais possam ficar irritados. Eles impedem que seus filhos vão para a universidade, ou não pagam os custos. Mas, no fim das contas, quando alguém aceita a vida espiritual, essa pessoa deve perdoá-los. É muito difícil, quando não perdoamos alguém, sentir doçura nas lembranças que temos da pessoa.

Se os seus pais não foram carinhosos, primeiro perdoe-os. Acalentando memórias amargas das ditas ações inadequadas dos seus pais, você nunca será capaz de trazer a sua própria doçura interior à tona. Você tem de perdoar os seus pais e esquecer-se daquela triste experiência. Simplesmente imagine-se na consciência que tinha aos sete anos de idade e logo verá como as outras crianças recebiam sim tremenda afeição, doçura e carinho.

 

Pergunta: Você sente que a prática espiritual formal é de auxílio para manter a harmonia num casamento? Caso sim, que tipo de prática você recomendaria?

Sri Chinmoy: Sim, deve haver sempre práticas espirituais. Essas práticas espirituais é que capacitarão os buscadores a ter harmonia no seu casamento. Pureza em pensamento e ação, paciência na vida exterior e interior, e viver no coração de amor ao invés de na mente de dúvida: essas são as práticas espirituais que podem apoiar um casamento.

 

Pergunta: Você tem alguma recomendação quanto a lidar com as brigas e o desentendimento num casamento espiritual?

Sri Chinmoy: Oração constante por paz na mente e para que a alma venha à tona, pela expansão da capacidade tudo-amorosa do coração é a única coisa que pode resolver todos os desentendimentos e brigas.

 

Pergunta: Quando você sente que o divórcio é o melhor caminho?

Sri Chinmoy: Quando tudo o mais falha. Quando o poder de unicidade falha, quando o poder do amor falha, quando o poder da concessão falha, quando tudo falha em manter duas vidas juntas, o divórcio é o melhor caminho.

O divórcio é prejudicial quando os seres interiores querem continuar juntos, quando sentem que, com o tempo, marido e mulher compreenderão melhor um ao outro e terão uma vida mais iluminadora. Os seres interiores determinam se o casamento deve ou não continuar. Se os buscadores não ouvem a voz dos seus seres interiores, se suas mentes exteriores os compelem ao divórcio, ele será prejudicial ao progresso interior. Os seres interiores devem decidir tanto o casamento quanto o divórcio.

 

Pergunta: Qual é o dever da mãe e do pai na criação dos filhos?

Sri Chinmoy: O dever da mãe é ensinar os filhos a orar, a serem simples, sinceros e amorosos. Essas são algumas das coisas que a mãe deveria encarar como um dever indispensável na criação dos filhos.

A responsabilidade do pai é ensinar o seu conhecimento e sabedoria e trazer aos filhos o sentimento de que o vasto mundo também existe. A pequena família não é tudo o que existe; há uma grande família também. A mãe usará todas as suas qualidades afetivas, íntimas e amorosas. O pai também fará isso, mas ele também trará a percepção do mundo exterior para os filhos. A mãe fará com que a família seja doce, mais doce, dulcíssima, e o pai trará o mundo externo para perto dos filhos. Ele fará com que sintam que há outro mundo que deve ser abrigado dentro do pequeno mundo, ou que o pequeno mundo deve ser parte integrante desse grande mundo.

 

Pergunta: Qual é a responsabilidade dos pais quanto à educação formal dos filhos?

Sri Chinmoy: Os pais devem tomar completa responsabilidade pela educação formal dos filhos. Eles devem mandá-los para a escola. Eles devem dar atenção adequada aos estudos dos filhos, ao seu comportamento e ao seu crescimento interior. Os filhos não devem ser deixados por conta própria. A cada momento os pais devem tomar interesse significativo pelo bem estar dos filhos. Os pais devem cumprir um papel muito importante nos anos formativos. Os filhos são como pequenas mudas de plantas. Elas devem ser abrigadas e cuidadas pelos pais até que se tornem árvores grandes e fortes.

 

Pergunta: Que conselho você daria para pais solteiros?

Sri Chinmoy: Aos pais que são solteiros por causa de divórcio, minha única sugestão é que não devem falar mal do outro genitor para os filhos. Os filhos não devem ser influenciados. Que eles ouçam o próprio coração. Que sintam que ambos pai e mãe são boas pessoas. Que seus corações, como ímãs, atraiam todas as boas qualidades do pai e da mãe. Nem o pai e nem a mãe devem influenciar os filhos contra o outro genitor, consciente ou inconscientemente.

Os pais devem ser muito cuidadosos caso se divorciem. Eles devem dar atenção adicional aos filhos, pois, quando a família se separa, a consciência das crianças se parte automaticamente. E quem é responsável? Os pais são cem por cento responsáveis; assim, eles devem agir para corrigir a situação tão bem quanto puderem. E a única forma de fazer isso é dar aos filhos mais amor, amor abundante, e mostrar que a separação não afetará de qualquer maneira o amor por eles. O amor é primordial. Os pais devem oferecer um amor ilimitado aos filhos.

 

Pergunta: Qual é a postura correta quanto ao dinheiro e bens para os arrimos de família?

Sri Chinmoy: Os arrimos de família devem enxergar o dinheiro como um poder material que deve ser utilizado divinamente. O poder-dinheiro não deve ser usado para mandar nos outros, mas para atender as necessidades da vida. Esse poder deve ser usado judiciosamente, devotadamente e de uma maneira que traga um sentimento de satisfação e preenchimento. O dinheiro possui um poder considerável, mas a questão de ele ser bom ou ruim depende do indivíduo. O indivíduo pode utilizá-lo divinamente ou de forma não divina. Quando o poder-dinheiro é utilizado corretamente, é uma dádiva divina. Quando é mal utilizado, é uma verdadeira maldição.