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13 sintomas do despertar da visão interior

despertar da visao interior

Inspirado por um artigo que li sobre o despertar interior, resolvi fazer uma versão própria, com as experiências que eu e meus colegas tivemos na época em que a mudança já não era uma nuvem no céu, mas uma necessidade imediata e sólida. Uma visão interior. Depois encontramos o nosso caminho e nosso Mestre Sri Chinmoy. Acho que todos esses sintomas também podem ser distúrbios psicológicos – na verdade, depende do seu interior. Se essas coisas estiverem acontecendo como uma avalanche, descendo, provavelmente é um desequilíbrio. Se forem como uma limpeza, um desdobramento, sair dos escombros, provavelmente é parte do seu despertar interior. A sua visão começa a ficar mais clara (eu sei, no início é difícil, mas depois você vê que era um processo gradual) para o seu propósito ­– e logo você descobrirá qual ele é. Não falo em decidir qual emprego procurar ou que faculdade fazer ou com quem se casar – isso são coisas pequenas, meio que tanto faz. Falo da missão da sua alma – por que você está vivo agora?

Por sinal, tudo isso passa quando você encontrar o seu caminho espiritual. Aí você vai fazer que nem eu e vai escrever os sintomas que teve antes de encontrar o seu caminho para que as pessoas não se sintam sozinhas se elas também estiverem passando por isso.

Veja também o curso de meditação gratuito.

 

Sono e acordar

De repente, você começa a dormir menos. Acorda no meio da noite com uma sensação sublime. Ou acorda cedo, cheio de energia. Mas o que fazer com ela? Volto a dormir? Quem sabe tem algo de verdade para você fazer nesse tempo.

 

Sensações durante o dia – pessoas, lugares, atividades

De repente, você não aguenta mais certos lugares. Certas pessoas. Certas tarefas. Todo mundo continua achando aquilo normal, mas você sabe que tem algo errado naquilo. Mas como explicar? Dica: não precisa explicar pra ninguém.

 

Linguagem

Você começa a evitar linguajar vulgar, palavrões, falar mal dos outros. Dá vontade de sair do lugar onde os outros estiverem fazendo isso. Canções de amor dão vontade de desligar o rádio – socorro, não dá pra ver que é falso?

 

Chorar sem razão aparente

Rios de lágrimas. Sem motivo nenhum. Não aconteceu nada. Só rios de lágrimas.

 

Euforia sem motivo

De repente você tem um surto e quer fazer tudo. Parece que tem hora marcada, que tem que deixar tudo aquilo resolvido o quanto antes. Será que tem um trem que você não quer perder quando ele chegar?

 

Sentimento de profunda tristeza interna sem aparente razão

Nada faz sentido, ninguém faz sentido. Nem adianta começar coisa nova mundana, porque não leva a lugar nenhum mesmo.

 

Hábitos alimentares – dieta vegetariana ou natural

Não dá mais. Carne, frango, peixe, etc. Tem algo errado ali. Minha primeira experiência foi perceber que eu não bebia água. Só bebia sucos e refrigerantes. Aí eu pensei, será que estou louco? Aí me forcei a mudar e comecei a ver outras coisas que estavam estagnadas.

 

Distanciamento da família ou mudança na relação

Você quer encontrar pessoas que o entendam. Mesmo que a sua família goste muito de você e você dela, pode ser que não consigam se compreender mutuamente. Ou de repente você percebe que está ficando igual a um primo distante, a sua vó, etc… que você lembra que sempre foi um pouco diferente do resto.

 

Solidão

Amigos? Namorado(a)? Colega, se você não conhece a si mesmo, não conhece ninguém e vai ficar sozinho até se trouxer mil amigos para a sua casa para fazer uma festa.

 

Rejuvenescimento mental

Virando criança? Gostando de desenho animado? Cores leves, suaves? Risada de coisas inocentes? Ideias super complexas não trazem alegria alguma? Amigo, essa é a sua alma começando a vir à tona.

 

Confusão mental

Não sei, não entendo nada. Não quero saber, não quero conversar. Nem se quisesse eu conseguiria. Uma hora passa, eu acho.

 

Sentimento de estar desencaixado no seu meio

Quero ir embora. Não vejo a hora dessa festinha acabar ou chegar o fim do expediente. Não tenho nada em casa, mas aqui tá pior que nada.

 

Tempo acelerando

O tempo acelera para todo mundo, mas para você ele acelera ao quadrado. Tipo, “O quê? Estou com vinte (ou trinta, quarenta) anos! Tenho que fazer alguma coisa agora!”

 

Aprendizado acelerado

Entendi. Entendi. Entendi. Qual é a próxima? Nada é desafio mais.

 

Integridade aumentada

“Não, obrigado” “Não, obrigado mesmo, mas não.” Essa junta o despertar com a força interior.

 

Busca de um propósito

Tentando de tudo, desistindo de tudo – uma hora você acerta.

 

Acidentes que vêm para o bem

Doença, cirurgia, perdeu o emprego, perdeu a família, perdeu a esposa? Pode ser o começo da sua felicidade. Uma vida nova e mais satisfatória.

 


Depois, se quiser ler mais, pode também ler “estou buscando algo, mas não sei o quê é”.

Inspirado pelo artigo “51 sintomas do despertar espiritual

Significado espiritual dos sonhos parte 2

Significado espiritual dos sonhos parte 2

 Esta é uma página da coleção de posts sobre sonhos espirituais extraídos dos escritos de Sri Chinmoy, do livro Sonhos. As outras páginas são:

 

sonho espiritualQual é a melhor forma de sabermos o significado dos nossos sonhos?

É muito difícil dar o valor certo aos sonhos. Assim como há sete mundos superiores e sete mundos inferiores, também há muitos mundos dos sonhos. Se alguém tem um sonho num mundo particular, o seu significado será um e, se o tiver num mundo de sonhos mais elevado, o significado será totalmente diferente. Cada plano deve ser conhecido e compreendido corretamente. Cada plano oferece a verdade de uma maneira particular.

Muitos livros foram escritos sobre sonhos. Cada um tem a sua maneira própria de explicar os sonhos. Se você ler livros sobre a interpretação dos sonhos, cada livro mostrará um significado diferente para um mesmo evento similar. Não é possível existir uma explicação padrão dos sonhos porque se deve conhecer de que plano o sonho está vindo.

Se você não tiver um professor espiritual, precisará mergulhar fundo no seu interior para saber qual o verdadeiro significado do sonho. Tente sentir a sua própria existência dentro do sonho; tente sentir que está dentro do próprio sonho. Aqueles que meditam diariamente não acharão difícil fazer isso, pois, quando meditamos regularmente, ampliamos a nossa consciência. Se o significado não vier a partir do interior ou de um mestre espiritual, a melhor coisa é continuar aspirando. Chegará o dia em que você encontrará um professor que poderá ajudá-lo, ou então o seu ser interior será capaz de ensiná-lo o significado dos seus sonhos.

Se você conhecer o verdadeiro significado de um sonho, naturalmente obterá a inspiração para seguir em frente na sua jornada espiritual. Caso tenha um sonho maravilhoso e alguém explicá-lo corretamente, você terá mais inspiração para ir fundo interiormente. Às vezes, você pode ter uma experiência assustadora nos seus sonhos e pensar que isso significa que algo ruim para você acontecerá. Mas pode não ser verdade. Talvez o sonho indique a morte da sua vida vital ou emocional. É por isso que é bom ter um Mestre espiritual que possa orientá-lo nesse respeito. Você então saberá o verdadeiro significado dos seus sonhos. Se você tiver bons sonhos, sonhos inspiradores, terá a força de um elefante para seguir em frente, pois sentirá que o seu progresso já está ordenado. O verdadeiro benefício só pode ser obtido com a explicação adequada dos seus sonhos.

 

Os sonhos que temos nessa idade tão jovem podem ser lembranças de vidas passadas?

Às vezes são lembranças de vidas passadas. Ou, se outros membros da família estiverem brigando, ou se as pessoas na vizinhança estiverem brigando, as vibrações ficam na atmosfera. Então a criança poderá sofrer, pois é a mais fraca na família. Ela pode nem saber conscientemente dessas brigas, mas se os seus pais ou irmãos e irmãs estiverem brigando, essas vibrações ruins entrarão na consciência da criança, e ela poderá sofrer.

 

Qual o significado espiritual de sonhar em cores e sonhar em preto e branco?

Sonhar em cores representa as diferentes fases da vida, diferentes tipos de consciência na vida da pessoa, sejam elas progressivas ou destrutivas. Sonhar em preto e branco significa a união da escuridão e da luz, da noite e do dia, das forças destrutivas e das forças positivas e construtivas.

 

Qual o significado de ver cores num sonhos?

Cada cor tem um significado espiritual. Num sonho você pode não enxergar ninguém ou ouvir quaisquer palavras; talvez só veja lampejos de luz. Quando ver luz nos seus sonhos, saiba que essa luz entrará em você e se manifestará em e através de você. Quando você conhecer o significado dessa luz, imediatamente será capaz de interpretar esses sonhos.

Ao ver uma cor branca pura no seu sonho, saiba que a pureza divina e consciência divina da Mãe estão entrando em você. A Mãe Universal possui todas as cores, mas a luz branca pura é a Sua cor predileta, e é através dessa cor que Ela Se manifesta. Portanto, a sua consciência virá como uma luz branca pura.

De forma parecida, se ver uma cor azul pálida, saiba que ela indica Infinidade, espiritualidade e grande poder. O verde significa nova vida, vitalidade e dinamismo. Ver luz verde quer dizer que uma nova vida despertou. Quando vê a cor vermelha, saiba que o poder divino está entrando em você.

 

Qual é o significado de voar num sonho?

Às vezes você sonhará que está voando a seu bel-prazer como um pássaro ou avião. Você voa dos telhados, tocando a terra e novamente sobe. Você pode pensar que esses sonhos estão vindo dos planos superiores, pois, se você é capaz de voar, isso quer dizer que está num nível muito elevado. Mas, na verdade, os sonhos sobre voo acontecem apenas no mundo vital superior. Não voamos no plano mental ou em qualquer outro plano, mas apenas no mundo vital superior. Se você tem sonhos de paz e luz, se a sua consciência por completa fica inundada de paz, luz ou beleza, esse tipo de sonho acontece dentro da região da alma e não do vital.

 

Qual é o significado de estar caindo num sonho?

Um sonho onde você está caindo possui três possíveis significados. Quando você cair, se ficar morrendo de medo, isso quer dizer que a sua consciência se tornou completamente uma com o seu ser vital.

Esse tipo de sonho só acontece no plano vital. Mas se você está caindo e apreciando a queda, como uma criança brincando num trampolim, isso quer dizer que está se tornando um com a realidade aspirante que está abaixo e ao seu redor. Esse tipo de sonho acontece no plano psíquico. Se você enxergar, enquanto cai, que muitos seres humanos estão olhando para você lá de baixo, com uma fome intensa, isso quer dizer que você está trazendo a luz das alturas para alimentar a humanidade aspirante. Esse tipo de sonho é incomum e, ao mesmo tempo, muito significativo. Ele só acontece no plano da alma.

 

Eu costumo sonhar que estou caindo de um penhasco, o que imediatamente me acorda. O que isso quer dizer?

Esse tipo de sonho pode ser interpretado de duas maneiras. Ou você é energizado por uma força divina, para mergulhar fundo dentro do seu ser e iluminar a sua consciência-corpo e satisfazer Deus em todas as partes do seu ser, ou uma força não divina está compelindo-o a cair da altura que você alcançou, pois não quer que você aproveite a bem aventurança do enlevo espiritual. Quando você cai, se não ficar morrendo de medo, se, pelo contrário, você sentir uma energia tremenda para fazer algo pelo Supremo no plano aonde você chegou, isso quer dizer que uma força divina está operando em e através de você. Contudo, se tiver medo, quer dizer que foi atacado por uma força ruim. Eu sempre recomendo a oração e meditação para que você esteja sempre inspirado e guiado pelas forças divinas para a total iluminação e perfeição da sua vida.

 

Qual é o significado dos oceanos, rios e outras formas de água nos sonhos?

Água significa consciência. Quando sonhamos com a água do oceano, quer dizer consciência na sua imensidão e vastidão. Num rio, a consciência é dinâmica. O rio é movimento, movimento em direção à meta. Quando sonhamos com um rio, devemos sentir que a consciência está fluindo em direção ao destino, que é o vasto oceano.

 

O que quer dizer quando vemos animais num sonho?

Sonhos com animais em geral acontecem no mundo vital. Mas, não importa de qual plano de consciência o seu sonho venha, se você ver um cervo, e esse cervo estiver correndo, isso quer dizer que você está correndo muito rápido na sua vida espiritual. Ao ver um elefante num sonho, a despeito do plano em que o sonho aconteça, sinta que está sendo energizado com uma enorme força na sua vida espiritual. Se ver um cão mordendo você, isso quer dizer que perdeu a fé na sua vida espiritual, no seu Mestre e em si mesmo. Mas se o cão estiver seguindo você, isso indica que você possui fé absoluta no seu Mestre e que é um discípulo obediente do seu Mestre.

E peixes?

O significado do peixe, no plano oculto, é maldade. Mas os peixes podem encorajar as pessoas a nadar no mar de conhecimento e sabedoria. Se você ver um belo peixe nadando, estará vendo a consciência-água, e isso pode significar que o peixe está inspirando você a nadar no mar de luz-conhecimento.

 

O que quer dizer quando sonhamos que estamos feridos ou numa batalha?

Quando você sonha que está ferido ou numa batalha, isso quer dizer que está sendo atacado por algumas forças não divinas. Essas forças podem atacar você no plano físico, no plano vital, no plano mental e até mesmo no plano psíquico. O ataque e o ferimento também podem acontecer em qualquer plano. Mas, quando você o vê, é a sua mente quem o convence que está ferido. Se você tem um sonho em que está numa batalha, se for num plano mais elevado, isso quer dizer que está lutando contra a ignorância. Se for num plano inferior, só quer dizer que a sua vida não divina está lutando contra a vida não divina de outra pessoa. Se você é um buscador espiritual e sonha com uma batalha, isso normalmente quer dizer que está lutando contra a ignorância. Você já tomou o lado de Deus, da verdade e da luz, então agora está lutando contra as forças que estão se opondo a você, se opondo à sua mais elevada realização da luz e da verdade, se opondo à revelação e manifestação da divindade dentro de você.

 

 

Se alguém tem um sonho com o seu próprio Mestre espiritual, o sonho é confiável?

Infelizmente, é possível que as forças ruins tomem a forma de uma grande personalidade espiritual ou de um Mestre espiritual e apareçam num sonho. Às vezes elas são bem sucedidas e fazem muitas coisas ruins. Como você pode distinguir o Mestre verdadeiro das forças hostis? Quando uma força ruim aparece num sonho na forma de um Mestre espiritual ou de um grande santo, a primeira coisa que você notará é a sua impureza. Se você reparar que não há pureza, imediatamente saberá que não é o Mestre, mas sim uma força ruim na forma do Mestre. Muitas vezes aconteceu que forças negativas tomaram uma forma divina e apareceram diante do buscador, e o buscador se curvou a essas forças. Você nunca, nunca deve se curvar num sonho a não ser e até que tenha certeza de que aquela pessoa realmente é o seu Mestre, ou Krishna, o Cristo, o Buda ou outro grande Mestre espiritual. Caso contrário, no momento em que se curvar e tocar os pés da pessoa, através de um processo do ocultismo essa força ruim levará embora algumas das suas qualidades divinas.

Quando você vê um Mestre num sonho, primeiro veja se ele traz consigo uma enxurrada de pureza e a fragrância de uma flor ou o brilho da luz. Essa pureza nunca será trazida pelas forças hostis. No momento em que você sentir pureza absoluta e a fragrância de flores, saiba com certeza que é uma pessoa divina quem veio. Mas se sentir impureza ou se ficar incomodado ou com medo, saiba com certeza de que é uma força ruim em um disfarce.

Significado dos sonhos parte 1

Significado dos sonhos parte 1

Esta é uma página da coleção de posts sobre sonhos espirituais extraídos dos escritos de Sri Chinmoy, do livro Sonhos. As outras páginas são:

 

significado sonhosSe, durante um sonho, sentimos um amor profundo por alguém, como podemos melhor levar o amor desapegado para o nosso relacionamento exterior?

Se sentirmos amor profundo por alguém num sonho, primeiro devemos saber se esse amor é emocional ou não. Se for amor vital emocional, então devemos imediatamente oferecer o nosso amor e o objeto do amor ao Supremo em nós.

Esse tipo de sonho é como comer um bolo. Primeiro tentamos não comer o bolo, pois não queremos ganhar peso. Mas, se temos de comer o bolo, o faremos em segredo. Temos medo de comer o bolo em público por medo de que o mundo nos verá e rirá da nossa gula. Assim, comemos em segredo. Mas o melhor é não comer o bolo de forma alguma, nem mesmo em segredo.

Se interiormente fizermos algo errado conscientemente, será muito difícil, quase impossível, nos desapegar daquilo. Portanto, devemos buscar sempre estarmos completamente despertos, para que durante nossos sonhos não façamos as coisas que não devemos e não faríamos durante as horas de vigília. Podemos ficar completamente conscientes nos nossos sonhos ao desenvolvermos mais força de vontade consciente durante as horas de vigília.

 

Eu tive um sonho em que a minha mãe morreria. Eu sabia daquilo, então orei e orei. E ela morreu mesmo.

 O seu sonho o estava preparando. Se não soubesse, o seu choque e tristeza teriam sido maiores. Quando a sua mãe faleceu, por um lado você estava triste, mas, por outro lado, o seu sonho já o havia auxiliado a ficar mais forte.

 

Tive um sonho com a minha irmã mais velha. Ela estava vestindo um sari verde e estava numa estrada no crepúsculo.

 O verde significa nova vida. Se a sua irmã estava vestindo um sari verde, isso quer dizer que ela recebeu uma nova vida, uma nova esperança.

Mas há dois tipos de crepúsculo. Um é o crepúsculo da manhã, do nascer do sol, e o outro é o da noite, do por do sol. Seu sonho foi com qual deles?

Era o crepúsculo da noite.

O sari verde significa inspiração energia dinâmica, nova esperança, nova identidade, nova vida, e o crepúsculo significa metade luz e metade escuridão. Apesar de a sua irmã ter esperança e inspiração e esteja clamando por uma nova vida, ela não está completamente pronta para aceitar o caminho espiritual. Ela está pronta para aceitar cinquenta por cento escuridão e cinquenta por cento luz. Ela tem ou teve a oportunidade de ser dinâmica, muito energizada e cheia de entusiasmo, e entrar no mar de luz, mas ela não valorizou a oportunidade. Ela não a aproveitou. Ela quer desfrutar do mundo exterior de escuridão e, ao mesmo tempo, do mundo interior de iluminação, algo que é impossível. Ela quer metade luz e metade escuridão na vida, uma mistura de ambos. Mas uma mistura de ambos não poderá satisfazê-la.

 

Certa vez eu sonhei com um templo muito ancestral, onde muitas pessoas estavam venerando estátuas. Eu reconheci todos os rostos que vi. Qual é o significado disso?

 Essas são pessoas que você conhecia nas suas encarnações passadas. Esse tipo de sonho faz com que sinta que esta não é a sua primeira ou última encarnação. Você foi algo e conhecia algumas pessoas antes. Se não eram boas pessoas, você conhecerá melhores nesta encarnação. Dessa maneira, ele o encoraja. Se você não fez algo no passado, poderá fazê-lo agora e, se não fizer agora, poderá fazer aquilo amanhã. Esse é o propósito da reencarnação – se você não fez algo, terá a oportunidade de fazer aquilo em outra vida.

Se você viu uma pessoa não inspiradora na rua ontem e, hoje, num sonho você vê a pessoa novamente, que tipo de benefício há nisso? Quando o viu ontem, você não ganhou nada. Ao sonhar com a pessoa, ainda assim não ganhará nada. Mas se essa pessoa era muito espiritual, sincera e aspirante, você recebeu inspiração dela quando a viu. E, durante a noite, se você ver a mesma pessoa num sonho, receberá mais inspiração. Quando vê pessoas aspirantes, é uma bênção. Mas se você vê pessoas não aspirantes durante o dia, é só uma perda de tempo. Se vê-las de novo durante a noite, também será uma perda de tempo.

 

Eu tive um sonho onde você me pediu para fazer uma bola azul para você.

Azul significa algo muito vasto, algo infinito, e a bola significa o mundo ou a Consciência Universal. A bola azul aqui representa o instrumento eterno. Eu estava lhe contando que o Supremo está fazendo de você Seu instrumento confiável.

 

Eu sonhei que estava falando com alguém enquanto olhávamos para uma terra vasta e fértil. Eu vi um céu como um nascente dourado, com o sol nascendo sob a terra e lançando uma luz dourada.

O céu significa vastidão. E a terra vasta que você viu também representa vastidão. A satisfação só virá quando a vastidão acima e a vastidão ao redor se encontrarem. A vastidão superior é o Céu, e a outra vastidão é a Terra, o lugar onde você vive. Quando a nossa consciência-terra é ampliada, imediatamente a consciência-Céu, que é infinitamente mais ampla que a consciência-terra, encontra essa consciência-terra. Quando elas se encontram, você vê uma cor dourada. Essa é a cor da manifestação divina. Quando a Terra é receptiva, quando o coração da terra é amplo, a luz do Céu pode entrar nela. Então a consciência iluminadora do Céu e a consciência aspirante da Terra se tornam uma. Quando se tornam uma, isso é uma manifestação da Realidade divina.

 

Eu sonhei com uma serpente muito lustrosa, de cor laranja brilhante. O que isso significa?

Esse seu sonho foi muito relevante. Mas a cor que você viu não foi laranja; foi dourada. A cor dourada significa manifestação divina. A cobra significa energia. Você encontrará cobras ao redor do pescoço do Senhor Shiva, simbolizando a energia que há ao redor dele. Cada cobra possui um significado próprio. Se não forem pretas, elas serão todas boas. Caso veja uma cobra preta, saiba que é uma força não divina. Mas, se ver uma cobra com uma cor dourada ou vermelha, a cor dourada significa manifestação divina e a cor vermelha significa poder. Uma cobra dourada quer dizer a manifestação da energia divina. A energia divina entrou em você, na sua vida espiritual, e queria fluir através de você na forma de manifestação.

 

Eu sonhei que estava fora da casa dos meus pais e vi um velho amigo que conheci antes de me tornar seu discípulo. Ele fez voltar a mim uma espécie de sensação ruim, mas eu estava brincando com ele. De repente, uma poderosa e grande águia roxa veio do céu e me atacou. Eu a matei e senti a força mais poderosa que já senti em mim mesmo.

 Uma águia voa alto, mas a sua consciência é muito baixa. É como um buscador que finge estar num estado muito elevado de meditação quando, na verdade, sua consciência está no vital inferior ou no mundo das fofocas.

Quando você viu o seu velho amigo, que ainda estava na consciência que você tinha antes de entrar para a vida espiritual, a sua antiga vida não divina veio à tona de repente e atacou a sua vida espiritual. A vida não divina tem um tipo de arrogância e um sentimento de superioridade. Não é só a vida divina que sente ser superior. A vida de aspiração sente que ela é a vida real, mas a vida-desejo não divina também sente que ela é a vida real. A sua vida anterior era a vida de desejos; não havia aspiração alguma. Apesar de você ter vivido antes uma vida muito não aspirante, dentro de você havia um sentimento de superioridade. Você se sentia superior às pessoas que não estavam agindo como você. Você sentia que eles eram todos tolos que não experimentavam nada na vida, ou covardes que não eram corajosos o suficiente para adentrar a aventura da vida. Você tinha esse tipo de orgulho. Assim como a águia voa alto, mas tem uma consciência muito baixa, você também era orgulhoso e arrogante, a despeito da sua consciência estar num plano muito baixo.

Então, de repente, por você ter aceitado a vida espiritual, a sua alma veio à tona. Já que você aceitou a vida espiritual devotadamente e conscientemente, a sua alma utilizou o poder que tem e destruiu a águia. A águia representava a maneira falsa de subir. A alma quer que você suba e voe alto, mas de uma forma genuína, com aspiração, e não com desejos, arrogância e um sentimento de superioridade destrutivo e negativo. Foi a luz da sua alma que destruiu as suas qualidades divinas no sonho.

 

Eu senti que estava subindo uma colina muito íngreme com uma grama verde e bela. Estava ficando muito íngreme, e eu fiquei com medo, mas continuei subindo com a ajuda de uma pessoa não identificada. Quando eu estava prestes a chegar ao topo, fui distraído por algumas monjas oferecendo flores.

Eu gostaria de dizer que o caminho espiritual é muito árduo e muito íngreme. Quando você tem de subir, é muito difícil. Os seres que você viu não eram monjas; eram anjos. Mas você sentiu no sonho que eram monjas porque a sua mente física estava operando. A sua mente física não queria que você visse anjos, porque não queria que você sentisse tanta alegria. A mente é assim. Ela destrói tudo. Com o seu coração, você foi muito alto, mas a sua mente quis diminuir a sua alegria e fez com que você os visse como monjas. Se a mente não tivesse interferido, você teria ficado muito feliz em ver anjos com flores.

 

Eu tive um sonho onde tudo o que vi foi o seu rosto. Ele era muito poderoso e dinâmico, bem diante de mim, e parecia estar me puxando.

Esse sonho quer dizer que é necessário que você aceite a vida poderosamente e corajosamente. Você entrou para uma nova vida, mas há um medo sutil em você. Eu estava vertendo uma tremenda energia em você no sonho. Essa energia estava entrando em você e, como um ímã, estava puxando-o. Fiz uma entrada consciente na sua alma através da minha concentração, para que você não tenha medo. É necessário que você seja poderoso e dinâmico para que possa receber uma vastidão de verdade, luz e bem-aventurança na sua nova vida.

 

Eu sonhei que estava afundando em algo e, quando saí, era como sair de uma meditação. Eu quase queria ficar lá.

Não foi o caso de afundar. Você foi é muito fundo no seu interior. Você entrou na região da alma para um verdadeiro descanso e satisfação.

 

Eu tive um sonho onde eu ouvi música distante e, quando acordei, pensei que estava morto ou no Céu.

Essa foi uma experiência muito poderosa que você recebeu das profundezas da sua alma. A música que ouviu foi da alma. Essa música não pode ser apreciada pelo ouvido exterior; ela deve ser apreciada com o nosso órgão interior.

Na vida comum, quando o vital inferior ou o vital emocional não apreciam ou se identificam com algo, sentimos que estamos mortos. Quando o corpo e o vital não apreciam a música da alma, eles estão mortos para esse tipo de música, que inspira e eleva a nossa consciência. Portanto, quando o físico está separado da alma – da música da alma, da luz da alma – o físico está espiritualmente morto. Não é que você está morto, mas quando o corpo não aspirante não aceita a alma como sua fonte, sentimos que ele é como um soldado morto, assim como dizemos que quem não pratica nenhuma espiritualidade na vida é uma alma morta.

 

Eu tive um sonho em que eu entrei num quarto e vi que você e todos os seus discípulos tinham asas.

As asas querem dizer que os discípulos possuem uma aspiração intensa. Não são as asas de um anjo ou de um pássaro, mas a aspiração intensa que voa muito, muito alto, infinitamente mais alto do que um pássaro. É absolutamente verdade que os meus discípulos estão o mais sinceramente tentando desenvolver e aumentar o seu poder de aspiração. Os discípulos que aspiram certamente possuem essas asas interiores, que são chamadas de aspiração.

 

Eu sonhei que caí através da terra e me tornei prisioneiro em algum lugar. Um grupo de nós, eu e outros prisioneiros, tivemos de tentar trabalhar juntos para sair da prisão.

Essa prisão é a prisão da inconsciência, onde não há luz, não há esperança, não há absolutamente nada positivo. A prisão da inconsciência é a terra da destruição. Você saiu dela apenas porque dentro de você há algo muito sincero, muito cheio de alma, muito devotado. Assim, as Bênçãos incondicionais do Supremo entraram naquela inconsciência e o trouxeram de volta. Você saiu de lá porque a Graça divina, a Graça incondicional do Supremo, salvou você.

 

Eu tive um sonho com Krishna e Arjuna. No sonho, eu senti que era Arjuna. A palavra “Arjuna” saiu da minha barriga.

Krishna e Arjuna possuem a mais próxima das conexões. Eles são irmãos espirituais. Arjuna representa o instrumento interior, e Krishna representa o Altíssimo. Krishna quer que você seja o mais querido, efetivo, fiel e devotado instrumento escolhido de Deus. A voz que veio de dentro quer dizer que você se identificou com a consciência de Arjuna. Isso quer dizer que você queria ser tão poderoso, devotado e entregue ao seu próprio Mestre quanto Arjuna era a Krishna.

 

Eu sonhei que estava carregando uma caixa grande junto com alguém, levando-a até você. Você veio e me disse que eu não estava fazendo a coisa certa.

Você estava inconscientemente tomando a responsabilidade de outra pessoa e trazendo-a até mim. Eu lhe disse que era a coisa errada a se fazer, porque aquela pessoa não queria dar a você ou a mim a sua responsabilidade. Você sente que é o seu dever me trazer a carga, que aqui quer dizer alguma pessoa que tem a ver com a sua vida. Você queria trazer aquela pessoa até mim, e eu lhe dizia que a hora não havia chegado para aquela pessoa seguir o nosso caminho. Para ele será apenas um incômodo, e nada mais, pois ele não está pronto para a vida espiritual, principalmente para o nosso caminho. Se procurar no seu interior, você saberá quem é essa pessoa.

 

Durante várias manhãs eu ouvi um pássaro cantando uma bela música durante o meu sono, como uma flauta. Mas, quando eu acordo, não consigo me lembrar da música.

 Esse pássaro é a sua alma, e a música está vindo da sua alma. Quando você está dormindo, a sua consciência possui um livre acesso à sua alma. Mas quando acorda e volta à vida comum, não consegue manter esse livro acesso, pois a sua consciência física não está em contato com a sua alma. Se tiver uma meditação bem poderosa antes de ir para a cama, será capaz de manter a consciência da alma na manhã seguinte. Durante a sua meditação, tente sentir que você não é o corpo, mas sim a alma, e, ao mesmo tempo, que você existe para a alma. Então facilmente conseguirá se lembrar da música do seu pássaro-alma.

 

Certa vez num sonho eu senti que Sócrates e Benjamin Franklin eram duas encarnações da mesma alma. Pode-se confiar num sonho que parece tão claro?

 Depende do seu desenvolvimento. Hoje você está pensando que Sócrates era Benjamin Franklin; amanhã você poderá pensar que ele era Aristóteles e muitos outros nomes podem passar pela sua cabeça. Se for simplesmente um sonho comum ou um tipo de flash mental, não dê importância alguma a ele. Mas se despertar como uma visão, então poderá sentir que é algo verdadeiro e assim receberá algum benefício.

Como não ter sonhos ruins pesadelos

Quem pode sonhar?

Quem está sonhando?

Quem sempre sonhará?

Apenas o amante-Deus

Dentro do coração-aspiração do buscador.

– Sri Chinmoy

 

Esta é uma página da coleção de posts sobre sonhos espirituais extraídos dos escritos de Sri Chinmoy, do livro Sonhos. As outras páginas são:


nao ter sonhos ruinsComo não ter sonhos ruins

 

Eu deveria orar para não ter sonhos ruins, ou seria melhor simplesmente deixar que os sonhos que vierem venham?

Primeiro medite no coração e sinta a verdadeira presença da luz. Então pegue essa luz e lance-a no escuro abismo do umbigo para sua purificação. Você não terá sonhos ruins porque o seu vital estará purificado.

 

Quando vamos dormir, deveríamos tentar ter sonhos divinos ou simplesmente seria melhor dormir naturalmente?

Caso sintamos que alguns sonhos divinos nos inspirarão, pois nos últimos dias ou semanas ou meses não conseguimos meditar bem, seria recomendável tentar ter sonhos divinos quando formos dormir. Nesse caso, eles serão uma inspiração para nos ajudar a meditar tão bem quanto costumávamos anteriormente. Mas, se apenas ficamos encantados com a palavra “sonho” e queremos ter um sonho simplesmente pelo sentimento agradável ou prazeroso que traz, isso não nos auxiliará na nossa vida espiritual de maneira alguma.

 

Quando temos sonhos ruins, isso quer dizer que forças ruins entraram em nós?

Antes de dormir, às vezes comemos algo que não é bom para nós. Então não é por causa das forças ruins que temos sonhos ruins, mas simplesmente por causa da comida que ingerimos. E, se tivermos pensamentos ruins enquanto comemos, talvez achemos que tudo acaba por ali mesmo. Mas não acaba. Durante a noite esses pensamentos podem causar sonhos ruins. Às vezes, os sonhos ruins acontecem por conta da comida e, às vezes, eles ocorrem por conta daquilo que pensamos enquanto estamos comendo.

Se dormir com as mãos unidas no peito, em cima do coração, poderá ter pesadelos. É melhor dormir de lado ou de costas, sem qualquer pressão no peito enquanto dorme. Dormir com as mãos no peito não é nada bom. Você poderá dormir muitas horas, mas não dormirá bem. E também não é bom cobrir o rosto com cobertores ou lençóis.

 

O que deveríamos fazer se tivermos um sonho assustador?

Quando você tem um sonho amedrontador, não lhe dê importância indevida. Você pode até sonhar que algo ruim acontecerá na sua vida. Mas se ficar incomodado ou com medo do sonho, isso por si só já é algo ruim. Digamos que você tem um sonho em que um amigo ou familiar morre. O seu sonho pode estar absolutamente correto; amanhã essa pessoa certamente morrerá. Mas, se ficar com medo hoje, então hoje ela já estará morta para você. Caso se renda ao sonho, você sofrerá desnecessariamente antes da hora chegar. Também, o seu medo entrará imediatamente na vítima e será mais um fardo para ela.

Por outro lado, se não tiver medo, durante o tempo que há entre o sonho que teve e a possibilidade do seu acontecimento, você poderá lutar contra aquilo com oração e meditação. Ao invés de ficar assustado, tente oferecer as suas orações a Deus. Talvez você pense que a oração é algo feminino ou delicado, mas não é. A sua oração é a sua maior força. A força de Deus é a Sua Compaixão, e a força do homem é a sua oração. Se puder meditar, essa será uma força ainda mais poderosa. Se orar e meditar sinceramente e a Graça de Deus se fizer presente, eu lhe asseguro que você pode atrasar o acontecimento de qualquer sonho profético. Muitas vezes os buscadores espirituais sonharam que seus familiares morreriam e imediatamente eles começaram a meditar e orar a Deus, e a Graça de Deus veio. Deus nem sempre anula a possibilidade, mas Ele pode atrasar o acontecimento.

Porque Deus auxilia o aspirante em casos como esse? Deus ajuda porque Ele não está preso pela lei cósmica. Já que a lei cósmica foi criada por Deus, a qualquer hora Ele pode quebrar a Sua própria lei. Se Deus não pudesse quebrar a Sua própria lei, Ele não seria onipotente. E você pode fazer Deus quebrar a Sua lei através de orações repletas de alma. Deus pode ter dito: “Que isto aconteça.” Ele marcou aquilo. Mas, quando a oração humana entra no Seu Coração, Ele pode cancelar o Seu próprio decreto.

 

É possível transformar um sonho ruim num sonho bom?

Enquanto estiver tendo um sonho ruim, se realmente quiser transformar o seu sonho ruim num sonho bom, você precisará imediatamente tentar acordar. Levante-se e espreguice os braços; então se sente e medite. Se mergulhar fundo, a força da sua luz e meditação interiores estará fadada a transformar os seus sonhos ruins em sonhos bons, iluminadores e preenchedores. Isso é o que deve fazer se quiser transformá-los. Mas, se quiser se livrar dos sonhos ruins, levante-se imediatamente após ter tido o sonho e diga: “Ah, estou livre desse ataque maligno.” Antes de voltar a dormir, sorria, ria e dance, porque o ataque acabou.

Se você tem sonhos ruins frequentemente, deverá ser mais cuidadoso, mais consciente, mais devotado à sua vida espiritual, principalmente na hora da meditação. A cada vez que meditar, sinta que os resultados da meditação são como um rio fluindo em direção ao mar, a sua meta final. Quando tiver um sonho ruim, sinta que o sonho não é a meta. Ele é apenas parte de uma jornada. Durante a jornada, você pode encontrar condições climáticas ruins e obstáculos no caminho, mas, se for corajoso, inevitavelmente alcançará o seu destino.

Seja corajoso durante os seus sonhos e sinta que o sonho não é o fim. Se tiver um sonho infeliz, sinta que foi um passo necessário que o fortalecerá na sua vida espiritual. É desnecessário dizer, mas a própria Realidade anseia para que você chegue à sua porta. Ela desesperadamente precisa de você, do choro do seu coração e da unicidade constante e consciente da sua vida, para que ela possa se manifestar em e através de você, para a vida-perfeição e amor-manifestação na Terra.

 

Por que é que eu tenho uma meditação maravilhosa e durante a noite tenho sonhos vitais impuros?

Quando você tem sonhos vitais, isso quer dizer que o seu vital deve ser purificado. Se deixar o seu quarto bagunçado, você não pode esperar entrar no quarto e de repente encontrar tudo espontaneamente limpo. Você tem de entrar no quarto e tentar limpar a bagunça, colocando algo de lado e jogando fora outras coisas.

Durante a sua meditação, você está recebendo luz. Quando essa luz entra no seu ser, ela pode mostrar que o seu vital necessita de purificação.

Se você entrar num quarto escuro sem uma luz, não enxergará nada e talvez ache que está tudo certo. Mas uma vez que ligar a luz, verá que nada está certo, que todos os tipos de forças destrutivas estão no quarto. Isso é bom, porque então você estará em posição para transformar essas forças. Quando obtém paz, luz e deleite da sua meditação, você tem a possibilidade de entrar no seu vital e purificá-lo. Quando tiver uma meditação poderosa, tente trazer a luz da sua meditação para o vital. Os sonhos serão purificados pelo poder da sua meditação.

 

Como podemos obter mais controle sobre a pureza no estado de sonho?

Durante o tempo de vigília você tem certo controle sobre a pureza, ao passo que, enquanto dorme, praticamente não possui controle. Mas é uma questão de prática. Se quiser ser um bom músico, você tem de praticar, praticar e praticar. Você pode até tocar todas as notas corretamente, desde o início até o fim. Mas, se não praticar, você estará fadado a cometer erros. Se quiser ser um bom dançarino, você tem de praticar os passos dia após dia. Senão, nunca será perfeito.

Se você puder meditar em pureza com toda a alma e se puder ser perfeito na sua vida interior durante o dia, eu lhe asseguro que também será perfeito mesmo enquanto dorme profundamente. Uma vez que tenha pureza nos sonhos, ficará muito satisfeito, pois sonho representa realidade, e realidade representa sonho. O que você sonha é realidade em algum outro mundo, num mundo superior ou num mundo inferior. Se puder ter certa mestria sobre a impureza no mundo físico, eu lhe asseguro que no mundo dos sonhos também você terá mestria sobre a sua impureza.

 

A alma obtém experiências a partir dos sonhos negativos para ajudar na sua evolução, assim como acontece com as experiências reais na vida?

“Sonho negativo” é uma expressão muito complicada. Um sonho positivo nós conhecemos como algo que é inspirador, algo que aspira em e através de nós. Mas sonhos negativos podem ser de diversos tipos. Se, por falta de aspiração alguém sonha com a vida vital inferior, a vida sexual, esses sonhos não ajudam a alma de forma alguma. Mas se alguém sonha que está tentando fazer algo, como estudar, mas está fracassando nos exames, ou se quer correr em direção à luz, mas não consegue mover os pés, esses tipos de sonhos negativos podem ser benéficos. Essas experiências negativas, essas dores temporárias, não atrapalharão a nossa jornada como fariam se fossem experiências na vida exterior. A pessoa sofre por cinco minutos, mas quando acorda está determinada a fazer a coisa certa e ser bem sucedida. Nova determinação e nova aspiração aparecem e ela se torna mais forte e mais poderosa.

Devemos encarar esses tipos de sonhos como experiências que às vezes são de ajuda para nos tornarmos fortes. O filho de um boxeador está lutando com o seu pai. O pai está ensinando ele a boxear e, a todo tempo, o atinge e derruba. Ou um praticante de luta livre está ensinando seu filho a lutar, e o filho é empurrado e lançado. Essas experiências da vida auxiliam a alma, pois elas fazem tudo o que compõe a existência – o físico, vital, mental e psíquico – fortes no campo de batalha da vida. Essas experiências podem ajudar a alma ao fortalecer as outras partes do ser. Quanto mais fortes somos na nossa existência integral, mais oportunidades a nossa alma tem para trabalhar em e através de nós pela manifestação da sua própria luz.

Os sonhos negativos desse tipo podem certamente ajudar a alma, assim como os sonhos de progresso e sucesso. Se o sonho for sobre sucesso no mundo vital, a alma não ganhará nada. Mas se o sucesso for alcançado através das qualidades divinas que se possui, através da sinceridade e devoção, então a alma se beneficiará. E, se o sonho for sobre progresso na vida espiritual, esse sonho pode certamente oferecer ajuda substancial à alma, caso lhe dermos a importância correta.

Como lembrar dos sonhos espirituais

Encantar-se com um doce sonho

É o início

De uma realidade

Florescente, iluminadora e preenchedora.

– Sri Chinmoy

 

Esta é uma página da coleção de posts sobre sonhos espirituais extraídos dos escritos de Sri Chinmoy, do livro Sonhos. As outras páginas são:

 

lembrar dos sonhosComo lembrar dos sonhos espirituais

Eu tenho sonhos muito raramente. Se isso quer dizer que não estou me lembrando deles, eu deveria então tentar lembrar?

Se você não costuma ter sonhos, isso quer dizer que não precisa deles. Mas se você tem sonhos dos quais esquece quando acorda, você pode tentar recuperá-los. Para fazer isso, você tem de sentir que a sua vida não é uma realidade despida de sonhos. Você também tem de saber que cada sonho divino é uma indicação clara de uma realidade iminente. Se você valorizar o sonho como valoriza a realidade, um dos seus seres interiores irá ajudá-lo a lembrar dos seus sonhos.

 

Como podemos nos lembrar dos sonhos quando acordamos?

Se você sentiu que teve um sonho, mas não consegue lembrar-se dele, tente se concentrar na parte de trás da cabeça, na parte superior do pescoço. Quando você tem sonhos, eles se manifestam através da mente física ou, por algum tempo, por algumas horas ou mesmo um dia ou dois, eles ficarão registrados num lugar na parte de trás da sua cabeça. Portanto, se quiser se lembrar de qualquer sonho, tente se concentrar ali e sentir que está batendo numa porta. Quando a porta se abrir, você será capaz de se lembrar dos sonhos completamente.

 

Quão importante é se lembrar dos sonhos?

Se você tem sonhos ruins, nem tente se lembrar deles. Pelo contrário, esqueça-se deles imediatamente! Quanto mais cedo esquecer, melhor será para você em todos os planos de consciência. Se for um sonho ruim, encare-o como uma alucinação mental e jogue-o fora. Se for um sonho bom, lembre-se dele, mas não dê um valor exagerado ao sonho. Ou seja, não pense no sonho o tempo todo e se esqueça da sua vida-realidade, que exige a sua atenção constante e consciente. Se puder se lembrar do sonho dentro do seu coração, isso lhe trará alegria, inspiração e aspiração para que, na sua vida-realidade, você possa ser mais devotado, espiritual, divino e perfeito.

 

Quando eu vou para a cama, às vezes tenho uma forte impressão de um sonho que tive na noite anterior. Por que isso acontece?

Isso quer dizer que o seu sonho, tenha sido ele positivo ou negativo, foi muito forte. Com os sonhos positivos podemos seguir adiante. Com os sonhos negativos, retrocedemos. Um sonho positivo é como uma flor. Você mantém algumas flores no seu altar, e elas emitem uma fragrância. Se depois de um tempo você tirar as flores, ainda assim a fragrância permanecerá. Se queimar um incenso, você sentirá o seu cheiro. Mas, quando remover o incenso, a mesma fragrância estará lá. A coisa vai embora, mas a sua essência permanece.

A mesma coisa pode acontecer com uma pessoa. Se um santo fica num certo lugar, por algum tempo depois de ele ir embora, a pureza, paz, alegria e amor que ele tinha continuarão a vibrar no local. Se uma pessoa ruim e cheia de raiva e outras qualidades não divinas ficar num certo lugar, suas qualidades não divinas também permanecem lá e vibram por um tempo depois de ele sair. Quando a pessoa vai embora, a qualidade que ele incorpora permanece no lugar, e você sente o efeito da consciência que ele tinha quando estava fisicamente presente. O mesmo acontece com um sonho que permanece após acabar. Se o sonho foi muito poderoso, a essência do sonho, a sua principal qualidade, fica com você.

 

Como podemos ter sonhos espirituais?

Se quiser ter sonhos doces, sonhos inspiradores, você deverá meditar com toda alma de manhã cedo – às três, quatro ou mesmo cinco horas. Se você costuma acordar as cinco, levante-se às quatro horas. Tome uma ducha adequada e medite por pelo menos meia hora. Após a meditação, sente-se ou deite-se e se concentre no seu umbigo. Não pense em sonhos. Tente sentir que o seu chakra umbilical está se abrindo. Imagine que uma roda está girando bem rápido lá. Porque você meditou por meia hora, não precisará se preocupar com o fato de estar entrando nesse chakra, mesmo se tratando do chakra vital. Volte a dormir por meia hora ou quarenta minutos. Se a sua meditação foi boa e genuína, se veio das profundezas do seu coração, quaisquer sonhos que tenha depois dela serão divinos, dinâmicos, belos, coloridos e repletos de alma. Serão sonhos sobre anjos e deuses, ou sobre a sua vida espiritual. Ou então você verá algumas coisas inspiradoras, encorajadoras.

Se você quer ter bons sonhos antes das três da manhã, então durante a noite tente meditar no seu umbigo por cerca de dez minutos antes de ir para a cama. O umbigo é onde a emoção começa. A emoção em si não é ruim. A questão é como a utilizamos. Quando temos emoções humanas, apenas aprisionamos nós mesmos e os outros. Mas, quando temos emoções divinas, expandimos a nossa consciência. Caso se concentre no centro umbilical por dez minutos, você poderá ter controle da emoção humana e permitir que a emoção divina vá mais alto a partir do coração, em direção ao altíssimo.

Se você quer ter sonhos dos mundos superiores e não dos mundos inferiores, antes de dormir medite por pelo menos cinco minutos no centro umbilical e nos centros abaixo do umbigo. Você fará isso para trancar as portas que levam a esses centros. E medite por cinco minutos no seu centro cardíaco e nos centros acima do coração. Você fará isso para destrancar as portas que levam a esses centros. Enquanto tranca as portas do centro umbilical e dos centros inferiores, tente sentir a energia dinâmica e vulcânica de um herói-guerreiro. Enquanto destranca o centro do coração e os centros superiores, tente sentir a alegria e o deleite de uma criança. Se puder fazer isso, sem falha você terá sonhos dos mundos superiores.

 

Existem pessoas que não têm sonhos?

Não há sequer um ser humano na Terra que não tenha tido sonhos. Algumas pessoas dizem que não têm nenhum sonho, mas elas estão enganadas. Elas sonham, mas, quando acordam, provavelmente esquecem-se dos sonhos. Outras pessoas têm a capacidade de manter a memória dos sonhos enquanto estão totalmente despertas.

Benefícios da meditação comprovados cientificamente – saúde e concentração, ou além?

Preciso da minha saúde física

Todos os dias

Preciso da minha saúde espiritual

Constante e incansavelmente.

– Sri Chinmoy, My Christmas-New Year-Vacation Aspiration-Prayers, Part 07, Agni Press, 2002


beneficios cientificos da meditacaoAo juntar os textos para este artigo sobre a parte científica dos benefícios da meditação, pensei naquela ideia de que há verdade em tudo. O quanto valorizamos essa verdade é que depende do ponto de vista.

Para mim e para, imagino, quase 100% dos meus colegas que praticam a meditação, a meditação é uma necessidade – é algo que apareceu nas nossas vidas como a lava que brota de um vulcão. Não era uma questão de pesar benefícios da meditação contra não praticar.

A vida como se encontrava não nos trazia o sentimento de progresso e satisfação verdadeiros, então precisávamos encontrá-los. E isso apareceu na figura de um caminho espiritual, um Mestre espiritual, e a disciplina espiritual. (conforme o mantra budista Buddham saranam gacchami, que representa essas três necessidades para uma busca completa e bem sucedida). Dessas três, a meditação é parte da disciplina e prática espiritual que, sim, traz imensos benefícios.

Separei dois trechos do texto principal que elucidam o que penso.

“Meditar é uma boa forma de alcançar uma vida mais feliz, saudável e produtiva”.

“Um estudo revelou que as pessoas que utilizaram a meditação de cunho espiritual tiveram maior redução da ansiedade, maior relato de afetos positivos e maior tolerância à dor, em comparação com o grupo que utilizou a meditação secular. Além disso, alguns autores sustentam que a meditação realizada fora de seu contexto original não é tão facilitadora de características tradicionalmente atreladas à prática, como níveis mais profundos de propósito na vida e auto-atualização.”

No entanto, deixei aqui três artigos que encontrei, com algumas omissões para simplificar e encurtar o texto. Eles falam de testes, resultados, impressões, etc, dos benefícios mensuráveis, seculares da meditação. Não é o que me interessa pessoalmente, mas talvez você ou outros se interessem. E também faz parte da verdade, né?

Por sinal, se quiserem ler um livro propriamente falando (pois aqui neste texto tem trechos de artigos científicos), e que tem uma compilação de perguntas e respostas sobre a prática em si, concentração, benefícios, etc, recomendo o livro Meditação, do meu professor Sri Chinmoy.

beneficios da meditacao

Meditação ganha, enfim, aval científico

Estudos sérios estão afastando as dúvidas que costumavam pairar sobre a prática e mostram que ela é extremamente eficaz no tratamento do stress e da insônia, pode diminuir o risco de sofrer ataque cardíaco e até melhorar a reação do organismo aos tratamentos contra o câncer

Por Tiago Cordeiro

Meditação ganha, enfim, aval científico

 

A receita para lidar com dezenas de problemas de saúde é fechar os olhos, parar de pensar em si e se concentrar exclusivamente no presente. A ciência está descobrindo que os benefícios da meditação são muitos, e vão além do simples relaxamento. “As grandes religiões orientais já sabem disso há 2.500 anos. Mas só recentemente a medicina ocidental começou a se dedicar a entender o impacto que meditar provoca em todo o organismo. E os resultados são impressionantes”, afirma Judson A. Brewer, professor de psiquiatria da Universidade Yale.

Iniciada na Índia e difundida em toda a Ásia, … Até a década passada, não contava com respaldo médico. Nos últimos anos, os pesquisadores ocidentais começaram a entender por que, afinal, meditar funciona tão bem, e para tantos problemas de saúde diferentes. “Com a ressonância magnética e a tomografia, percebemos que a meditação muda o funcionamento de algumas áreas do cérebro, e isso influencia o equilíbrio do organismo como um todo”, diz o psicólogo Michael Posner, da Universidade de Oregon.

A meditação não se resume a apenas uma técnica: são várias, diferindo na duração e no método (em silêncio, entoando mantras etc.). Essas variações, no entanto, não influenciam no resultado final, pois o efeito produzido no cérebro é parecido. Na prática, aumenta a atividade do córtex cingulado anterior (área ligada à atenção e à concentração), do córtex pré-frontal (ligado à coordenação motora) e do hipocampo (que armazena a memória). Também estimula a amígdala, que regula as emoções e, quando acionada, acelera o funcionamento do hipotálamo, responsável pela sensação de relaxamento.

Não se trata de encarar a meditação como uma panaceia universal, os estudos mostram também que ela tem aplicações bem específicas. Mas, ao contrário de outras terapias alternativas que carecem de comprovação científica, a meditação ganha cada vez mais respaldo de pesquisas realizadas por grandes instituições.

Hoje, os estudos sobre os benefícios da meditação estão concentrados em seis áreas.

Redução do stress

Meditar é mais repousante do que dormir. Uma pessoa em estado de meditação consome seis vezes menos oxigênio do que quando está dormindo. Mas os efeitos para o cérebro vão mais longe: pessoas que meditam todos os dias há mais de dez anos têm uma diminuição na produção de adrenalina e cortisol, hormônios associados a distúrbios como ansiedade, déficit de atenção e hiperatividade e stress. E experimentam um aumento na produção de endorfinas, ligadas à sensação de felicidade. A mudança na produção de hormônios foi observada por pesquisadores do Davis Center for Mind and Brain da Universidade da Califórnia. Eles analisaram o nível de adrenalina, cortisol e endorfinas antes e depois de um grupo de voluntários meditar. E comprovaram que, quanto mais profundo o estado de relaxamento, menor a produção de hormônios do stress.

Este efeito positivo não dura apenas enquanto a pessoa está meditando. Um estudo conduzido pelo Wake Forest Baptist Medical Center, na Carolina do Norte, colocou 15 voluntários para aprender a meditar em quatro aulas de 20 minutos cada. A atividade cerebral foi examinada antes e depois das sessões. Em todos os pesquisados, foi observada uma redução na atividade da amígdala, região do cérebro responsável por regular as emoções. E os níveis de ansiedade caíram 39%.

Para quem já está estressado, a meditação funciona como um remédio. Foi o que os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos descobriram ao analisar 28 enfermeiras do hospital da Universidade do Novo México, 22 delas com sintomas de stress pós-traumático. A metade que realizou duas sessões por semana de alongamento e meditação viram os níveis de cortisol baixar 67%. A outra metade continuou com os mesmos níveis.

Resultados parecidos foram observados entre refugiados do Congo, que tiveram que deixar suas terras para escapar da guerra. O grupo que meditou ao longo de um mês viu os sintomas de stress pós-traumático reduzir três vezes mais do que as pessoas que não meditaram – índices parecidos aos já observados entre veteranos americanos das guerras do Vietnã e do Iraque.

Melhoria do sistema cardiovascular

A Universidade de Ciências da Saúde da Geórgia conseguiu melhorar a sobrecarga cardíaca de 31 adolescentes americanos hipertensos. Os jovens apenas acrescentaram um hábito a suas rotinas: meditar duas vezes por dia, durante 15 minutos, ao longo de quatro meses. Outros 31 receberam orientações médicas, mas não meditaram. A primeira metade terminou o período de testes com a massa do ventrículo esquerdo menor – sinal de redução dos riscos de desenvolver doenças cardíacas e vasculares.

Outro levantamento, este da Universidade da Califórnia em Los Angeles, mediu o acúmulo de gordura nas artérias de 30 pessoas com pressão alta. Depois de meditar 20 minutos, duas vezes por dia, ao longo de sete meses, a quantidade estava menor, enquanto que ela não havia sido alterada no grupo de controle.

Meditar também é útil para reduzir em 47% as chances de ataque cardíaco e infarto em adultos. Foi o que concluiu a Associação Americana do Coração, depois de acompanhar um grupo de pacientes de 59 anos de idade, em média, ao longo de nove anos, de 2000 a 2009. Todos continuaram recebendo a medicação necessária, mas metade foi convidada a participar de sessões de meditação sem regularidade definida. Neste grupo, a pressão arterial caiu significativamente. “Foi como se a meditação funcionasse como um medicamento totalmente novo e muito eficiente para prevenir doenças cardíacas”, afirma o fisiologista americano Robert Schneider, diretor do Center for Natural Medicine and Prevention e responsável pelo estudo.

Insônia e distúrbios mentais

Técnicas de relaxamento profundo, colocadas em prática durante o dia, podem melhorar a quantidade e a qualidade do sono. É o que aponta um estudo de 2008, do Northwestern Memorial Hospital, de Illinois. Cinco pessoas, com 25 a 45 anos e sofrendo de insônia crônica, foram submetidas à meditação durante dois meses. Passaram a dormir duas horas a mais por dia e alcançaram níveis de sono REM mais próximos do considerado saudável.

Em muitos casos, a insônia é sintoma de depressão. A meditação também funciona para atacar a causa. A Universidade da Califórnia conseguiu reduzir os casos de depressão entre 20 idosos com um simples programa de oito semanas de relaxamento, meia hora por dia. “No limite, meditar atrasa o aparecimento de sintomas do Alzheimer. A depressão na terceira idade é um fator de risco para o desenvolvimento desta doença”, afirma o psiquiatra Michael Irwin, professor do Semel Institute for Neuroscience and Human Behavior da universidade.

O psicólogo Michael Posner e o neurocientista e professor da Universidade de Tecnologia do Texas Yi-Yuan Tang mediram a densidade dos axônios de pessoas que começaram a meditar. Quanto mais densos, maior a capacidade de realizar conexões cerebrais e menores os riscos de sofrer distúrbios mentais, de depressão a esquizofrenia. “A quantidade de conexões cerebrais está diretamente relacionada à saúde mental. Neste sentido, podemos dizer que a meditação é um exercício para a mente, excelente para deixá-la mais musculosa e prevenir doenças”, afirma o professor Posner.

Alívio da dor

Quem tem a meditação como hábito sente menos dor. O pesquisador Joshua Grant, do Departamento de Fisiologia da Universidade de Montreal comprovou esta hipótese encostando placas aquecidas nas nucas de 26 pessoas, 13 delas sem contato com a técnica e outras 13 com mais de 1000 horas de experiência em meditação. A placa era aquecida a 46 graus, depois 47, e assim sucessivamente, até 56. Todos os meditadores suportaram temperaturas acima dos 52 graus.

Nenhuma das pessoas inexperientes aguentou mais do que 50 graus. Na medida, o grupo que medita respirou 12 vezes por minuto. O outro respirou 15 vezes, um indício de stress maior. “As pessoas que meditam precisam menos de analgésicos. Elas sofrem menos pela antecipação da dor”, diz Grant, que, no cruzamento de dados, concluiu que o hábito de meditar provocou uma resistência à dor 18% maior. De acordo com um grupo de neurocientistas do Center for Investigating Healthy Minds da Universidade de Wisconsin-Madison, a resistência de quem medita é maior em situações em que o stress influencia diretamente no nível de dor – caso de artrite e inflamações intestinais.

Reforço do sistema imunológico

O sistema imunológico também é favorecido. “O aumento da atividade cerebral relacionada a pensamentos positivos tem influência direta na maior produção de anticorpos. A meditação também intensifica a ação da enzima telomerase”, diz Judson A. Brewer, de Yale. As implicações desta descoberta são fundamentais para o tratamento de tumores malignos. A Associação Americana de Urologia já declarou que a meditação é recomendada para ajudar a conter o câncer de próstata.

Também ajuda a lidar com o câncer de mama. Um grupo de 130 mulheres com a doença, todas com mais de 55 anos, aceitaram participar de um teste que reforça esta teoria. Ao longo de dois anos, elas foram divididas em dois grupos, um deles fazendo meditação. A situação foi monitorada pelos médicos do Saint Joseph Hospital, em Chicago. A metade que meditou teve maior resistência para lidar com as dores provocadas pela quimioterapia e experimentou uma reação física melhor à doença.

Melhoria na concentração

Na escola estadual Bernardo Valadares de Vasconcellos, em Sete Lagoas (MG), os 1.400 alunos fazem, todos os dias, o Tempo de Silêncio. Quem desejar pode aproveitar os 15 minutos para meditar. Quem não quiser, pode apenas descansar. A iniciativa foi inspirada pela Fundação David Lynch, que já orientou a criação de programas de meditação na escola estadual Presidente Roosevelt, em São Paulo, e na escola estadual Helio Pelegrino, no Rio de Janeiro.

“Estimamos que 20% dos estudantes continuam meditando por conta própria”, diz Joan Roura, diretor da fundação no Brasil. “Alunos que meditam são mais tranquilos, mais focados e têm maior capacidade de apreender informações.” A prática rende melhores notas: entre 235 crianças de colégios de Connecticut que começaram a meditar, representou um aumento de 15% nas provas e avaliações.

As áreas do cérebro responsáveis pela memória e pela atenção chegam a ficar mais densas quando se medita. Foi a conclusão a que chegaram pesquisadores de Harvard, Yale e MIT, municiados por scanners de cérebro. Pessoas que meditam com frequência ao longo de vários anos também demoram mais para sofrer a redução destas áreas, em especial o córtex frontal.

“Um estudante que medita pode ter melhores notas, uma vida mais saudável e boas condições de lutar por melhores postos no mercado de trabalho, com menor tendência para sofrer doenças cardiovasculares, stress ou distúrbios mentais”, diz Judson A. Brewer. Em resumo: “Meditar é uma boa forma de alcançar uma vida mais feliz, saudável e produtiva”.

o que e meditar

Os efeitos da meditação à luz da investigação científica em Psicologia: revisão de literatura

Psicol. cienc. prof. vol.29 no.2 Brasília  2009

https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932009000200006&lng=en&nrm=iso

Carolina Baptista Menezes; Débora Dalbosco Dell’Aglio

(…)

Além das especificidades de cada técnica, outras variáveis, como predisposições genéticas, traços de personalidade, vivências particulares de cada um, expectativas, motivações e valores também podem mediar o tipo e a qualidade da resposta que a prática meditativa produzirá (Davidson & Goleman, 1977; Smith, 1978; Takahashi et al., 2005). Portanto, o estudo da meditação e de seus efeitos deve considerar as características do sujeito antes da prática, os estados que ocorrem durante ou pouco tempo após a meditação, e, por fim, as mudanças duradouras resultantes da prática continuada (Davidson & Goleman, 1977). É consenso que a melhor forma de fazê-lo é através de estudos longitudinais (Brefczynski-Lewis et al., 2007; Davidson & Goleman, 1977; Hankey, 2006; Lazar et al., 2005; Slagter et al., 2007).

A partir da revisão de literatura, observa-se que muitos resultados encontrados a partir de diferentes técnicas são bastante semelhantes. Com base nessa percepção e no fato de que técnicas distintas possuem características essenciais comuns (Goleman, 1988), alguns pesquisadores brasileiros concluíram que seria importante criar uma definição operacional geral acerca da meditação que abarcasse tais características e que permitisse uma padronização do seu uso para fins de pesquisa em saúde (Cardoso, Souza, Camano, & Leite, 2004). Assim, igualmente sob a prerrogativa da auto-regulação, descrevem a prática de meditação como a utilização de alguma técnica específica e claramente definida, com a qual se alcança algum relaxamento muscular e mental durante o processo, sendo um estado exclusivamente auto-induzido através da utilização de um foco (âncora).

Embora essa operacionalização seja um importante passo no sentido de sistematizar e padronizar o estudo da meditação, certamente o seu campo de investigação ainda está em desenvolvimento. Portanto, ainda são necessárias pesquisas que esclareçam alguns pontos que permanecem sem consenso por parte da comunidade científica, como as especificidades de cada técnica e seus respectivos efeitos, o grau com que se diferenciam e o impacto que tal diferença pode ter no resultado final da prática de longa duração. Entretanto, até o momento presente, o que se percebe é um grande corpo de pesquisas que, mesmo não intencionalmente, sugere alguma uniformidade entre os efeitos das práticas meditativas. Dessa forma, parece correto concluir, assim como propõem Cardoso et al. (2004), que existem alguns fatores comuns e essenciais nas diferentes técnicas meditativas que as tornam igualmente eficazes e que, de alguma forma, caracterizam o que é meditação.

Correlatos neurofisiológicos da meditação

Os primeiros estudos sobre meditação estiveram voltados para explicar os mecanismos subjacentes a essa prática e suas repercussões na vida do praticante. Através de medidas minuciosas e rigorosas, foi identificada uma série de padrões de reações associados à prática meditativa, que a caracterizam como um estado de consciência particular, diferente dos tradicionalmente conhecidos, como vigília, sono e sonho (Wallace, 1970). Essas reações também são chamadas de respostas psicofisiológicas ou neurofisiológicas, pois refletem mudanças no sistema nervoso central e autônomo (Aftanas & Golocheikine, 2001; Danucalov & Simões, 2006).

As alterações do sistema nervoso autônomo, constatadas por estudos experimentais e de meta-análise, incluem redução do consumo de oxigênio, da eliminação de gás carbônico e da taxa respiratória, o que indica uma diminuição da taxa do metabolismo. Além disso, a meditação também está associada a um aumento da resistência da pele e a uma redução do lactato plasmático, cuja alta concentração é associada a altos níveis de ansiedade (Dillbeck & Orme-Johnson, 1987; Travis & Wallace, 1999; Wallace, 1970; Wallace & Benson, 1972; Wallace, Benson, & Wilson, 1971). Com respeito à freqüência cardíaca, alguns estudos não observaram diferença (Dillbeck & Orme- Johnson, 1987; Travis & Wallace, 1999), enquanto outros verificaram uma diminuição significativa (Maura et al., 2006; Wallace, 1970; Wallace & Benson, 1972; Wallace et al., 1971). Embora já tenha sido discutido que os resultados sobre os efeitos da meditação não são conclusivos (Canter, 2003; Holmes, 1984), na literatura, há um crescente número de pesquisas corroborando os correlatos fisiológicos dessa prática (MacLean et al., 1997; Goleman & Schwartz, 1976; Takahashi et al., 2005; Travis & Wallace, 1999).

Em geral, a observação dessas reações levou à conclusão de que através da meditação é possível atingir um estado de hipometabolismo basal ao mesmo tempo em que a mente se mantém alerta e que aquele que medita desenvolve, portanto, a capacidade de controlar determinadas funções fisiológicas involuntárias (Wallace et al., 1971). É com base nessa idéia, ou seja, na capacidade de obter algum grau de controle sobre processos psicobiológicos autonômicos, que a meditação pode ser considerada uma técnica eficaz de biofeedback, constituindo uma das técnicas mais antigas de autoregulação (Cahn & Polich, 2006; Davidson & Goleman, 1977).

Além das mudanças autonômicas, desde a década de 70, também ganhou destaque a investigação dos efeitos cerebrais da meditação, sob a premissa de que estados mentais podem alterar as funções fisiológicas (Wallace et al., 1971). Foi verificado, então, que algumas características tradicionalmente associadas à meditação, como baixa ansiedade e afetos positivos, poderiam ser explicadas por mudanças da atividade neuroelétrica. Através do Exame de Eletroencefalograma (EEG), o aumento da produção de ondas alfa nas regiões frontais e, em menor quantidade, de ondas teta, foi observado tanto em iniciantes quanto avançados (Aftanas & Golocheikine, 2001; Hankey, 2006; Takahashi et al., 2005; Wallace & Benson, 1972), sendo a observação de ondas teta mais comum em meditadores com maior experiência (Cahn & Polich, 2006).

Atualmente, sabe-se que, além dessas mudanças funcionais, a meditação também pode produzir mudanças estruturais, atuando sobre a plasticidade cerebral. Uma pesquisa que comparou a espessura do córtex de meditadores experientes com um grupo-controle, encontrou uma diferença significativa nas regiões relacionadas à sustentação da atenção, onde a espessura era maior nos praticantes experientes (Lazar et al., 2005). Esse estudo corrobora a idéia de que a regularidade e a continuidade da prática influenciam a intensidade das respostas e que, portanto, a meditação pode produzir mudanças duradouras. Várias pesquisas observaram que, mesmo em situações basais, os meditadores mais experientes produziam respostas significativamente diferentes daquelas medidas em controles (Cahn & Polich, 2006; Dillbeck & Orme- Johnson, 1987; Easterlin & Cardeña, 1998; Goleman & Schwartz, 1976; Lutz, Greischar, Rawlings, Ricard, & Davidson, 2004).

A atenção é uma das funções cognitivas que parece estar particularmente envolvida nas mudanças que a prática meditativa pode gerar. Já na década de 70, foi demonstrado, através de alguns testes neuropsicológicos, que, quanto maior o tempo de prática de meditação, maior a capacidade de absorção atencional, estando esta associada à diminuição da ansiedade (Davidson, Goleman, & Schwartz, 1976). Pesquisas mais recentes têm confirmado essa idéia através de medidas cognitivas e neurais. Por meio do Exame de Tomografia Computadorizada por Emissão de Fóton único (SPECT) (Newberg et al., 2001) e por medição de ondas gama (Lutz et al., 2004), esses dois estudos verificaram que meditadores budistas experientes tinham respostas cerebrais que indicavam um poder significativamente maior de concentração, em comparação com o grupo-controle.

Dois estudos que investigaram praticantes da meditação concentrativa, também observaram diferenças significativas na habilidade atencional (Brefczynski-Lewis et al., 2007; Carter et al., 2005). Além disso, o estudo de Brefczynski-Lewis et al. corroborou uma das idéias centrais da meditação concentrativa, a de que, quanto maior o tempo de prática, menor o esforço exigido para manter maior foco. Os autores verificaram que os praticantes com maior número de horas apresentaram menor ativação das regiões envolvidas no processo meditativo, sugerindo que a técnica pode agir sobre a distribuição de recursos cognitivos, cuja idéia já havia sido demonstrada em outro estudo que utilizava a técnica mindfulness.

Através da tarefa do “piscar atencional”, foi constatado que as pessoas que participaram de um treino intensivo de três meses de meditação mindfulness tiveram uma redução da alocação dos recursos do cérebro para o primeiro estímulo da tarefa, com um conseqüente aumento da capacidade de detectar o segundo estímulo apresentado, sem que houvesse nenhum comprometimento na habilidade de perceber o primeiro (Slagter et al., 2007). Os autores concluíram que a habilidade de processar dois estímulos significativos e muito próximos temporalmente depende da eficiência com que os recursos mentais são empregados na percepção do primeiro estímulo, sendo a meditação uma forma de aumentar o controle sobre a distribuição desses recursos.

Embora com técnicas diferentes, essas pesquisas mostram resultados complementares, indicando que através da meditação é possível treinar habilidades cognitivas, como a atenção. Outros estudos se preocuparam em comparar as diferenças nos padrões cognitivos e na atividade neural entre os distintos tipos de meditação. Carter et al. (2005) verificaram que metade dos meditadores que praticaram o tipo concentrativo conseguiu manter uma estabilidade perceptiva significativamente prolongada no teste utilizado, comparado aos praticantes da meditação budista da compaixão (Carter et al., 2005). Outro estudo, ao comparar quatro subtipos da meditação budista, constatou que a atividade da freqüência gama (25-42 Hz) não apresentava uma distribuição igual entre as diferentes técnicas (Lehmann et al., 2001).

A partir desses resultados, pode-se inferir que existem algumas distinções nos mecanismos subjacentes a diferentes técnicas, mesmo que os resultados ainda não sejam conclusivos. Entretanto, também se pode notar que técnicas distintas parecem ser capazes de atuar na atenção, corroborando a idéia de que, mesmo havendo especificidades em cada prática, todas possuem a auto-regulação da atenção como processo básico comum.

Meditação, saúde física e saúde mental

Sintomas de estresse, em particular, têm apresentado resultados bastante significativos após o uso da meditação com populações clínicas e não clínicas, como apontam as medidas de sofrimento (distress) psicológico e marcadores biológicos (Cruess, Antoni, Kumar, & Schneiderman, 2000; Goleman & Schwartz, 1976; Oman, Hedberg, & Thoresen, 2006; Ostafin et al., 2006). Além disso, segundo uma meta-análise em que foi observado um alto e consistente tamanho de efeito da meditação sobre diversas situações clínicas, é através da redução do estresse que a meditação pode ser benéfica para diversas condições de saúde (Grossman, Niemannb, Schmidtc, & Walachc, 2004).

Estudos de acompanhamento descobriram que a meditação auxilia no gerenciamento e na redução do estresse, e que esse efeito se prolonga no tempo (Miller et al., 1995; Oman et al., 2006; Ostafin et al., 2006). Embora Ostafin et al. (2006) não tenham encontrado uma correlação positiva significativa entre a freqüência da prática e a diminuição do sofrimento psicológico, Oman et al. (2006) constataram que a adesão à prática de meditação ao longo de quatro meses, teve efeito direto na redução do estresse após esse tempo.

Outras pesquisas indicaram que a meditação pode proporcionar melhor adaptação ao estresse. Através de um estímulo aversivo, foi verificado que o grupo com maior experiência se recuperava mais rápido da excitação autonômica, ou seja, os meditadores experientes, após o término do estressor, tinham a freqüência cardíaca e a resposta de condutividade da pele diminuída mais rapidamente, o que indicava uma capacidade de habituação mais rápida ao estresse (Goleman & Schwartz, 1976). Nessa mesma direção, um estudo verificou que, mesmo quando praticantes iniciantes e avançados relatavam menor aceitação em condições de estresse, o grupo menos experiente apresentava significativamente menos aceitação (Easterlin & Cardeña, 1998).

Esses resultados são corroborados por estudos que mediram a relação entre meditação e cortisol e que observaram uma diminuição desse hormônio em pacientes HIV (Cruess et al., 2000) com câncer de próstata e mama (Carlson, Speca, Patel, & Goodey, 2004) e praticantes não clínicos (MacLean et al., 1997) em comparação aos controles. Ademais, essa redução esteve sempre associada à diminuição dos sintomas de sofrimento psicológico. Também foi constatado que a variância diurna da secreção de adrenocorticotrópico (ACTH) e ß-endorfina foi significativamente menor em meditadores em comparação a um grupo-controle, e que, portanto, essa técnica pode ter um efeito neuroendócrino modulador do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (Infante et al., 1998).

A prática meditativa também está associada à diminuição da ansiedade (Brown & Ryan, 2003; Davidson et al., 2003; Galvin et al., 2006; Schwartz, Davidson, & Goleman, 1978; Grossman et al., 2004), sendo que os efeitos de uma intervenção de oito semanas de meditação sobre a redução dos sintomas do transtorno de ansiedade generalizada e do transtorno de pânico, com e sem agorafobia, foram mantidos por três anos (Miller et al., 1995). Além disso, pessoas com o transtorno do comer compulsivo que passaram por uma intervenção que utilizava meditação, tiveram a freqüência e a intensidade de seus episódios diminuídas em função da redução da ansiedade e da depressão (Baer, Fischer & Huss, 2005; Kristeller & Hallett, 1999).

A meditação também é capaz de estimular aspectos saudáveis, estando muito associada à saúde mental (Goleman, 1988; Hankey, 2006). Uma pesquisa verificou que a prática meditativa associou-se à ativação do córtex pré-frontal esquerdo (Davidson et al., 2003), que está relacionado a afetos positivos e a maior resiliência (Davidson, 2004). Além disso, ondas teta produzidas pela meditação também mostraram correlação positiva com o relato da experiência emocional positiva durante a prática de meditadores experientes, em contraste com iniciantes (Aftanas & Golocheikine, 2001).

Medidas subjetivas e com instrumentos de auto-relato também indicaram que a meditação é capaz de gerar afetos positivos (Brazier, Mulkins, & Verhoef, 2006; Easterlin & Cardeña, 1998; Jain et al., 2007), melhorar o humor (Cruess et al., 2000), melhorar a qualidade de vida (Carlson et al., 2004) e o bem-estar psicológico (Brazier et al., 2006; Wallace, 1970), sendo que, quanto maior o tempo de prática, maior o relato da experiência emocional positiva (Aftanas & Golocheikine, 2001; Brown & Ryan, 2003). Além disso, uma pesquisa que comparou o afeto positivo entre meditadores experientes e um grupo-controle revelou que, mesmo em níveis basais, os meditadores apresentavam níveis significativamente maiores de afeto positivo (Goleman & Schwartz, 1976), corroborando o pressuposto das filosofias orientais de que a meditação pode trazer efeitos que se sobrepõem à condição de estado.

Assim, através da prática continuada, é possível transformar estados em traços, que atuam, inclusive, sobre a personalidade. Em comparação a um grupo-controle, meditadores experientes apresentaram menor neuroticisimo (Goleman & Schwartz, 1976; Leung & Singhal, 2004), sendo que, quanto maior o tempo de prática, menor era a prevalência desse traço (Leung & Singhal, 2004). Outro estudo verificou que meditadores mais experientes se mostraram mais adaptados, alegres, maduros, autoconfiantes e com melhor auto-imagem. Também foi observado que esses praticantes, em comparação com o grupo-controle, eram mais estáveis emocionalmente, conscientes, confiantes, relaxados e auto-suficientes (Sridevi & Krisha Rao, 1998).

Segundo Jain et al. (2007), a meditação pode proporcionar o desenvolvimento de características psicológicas positivas por meio da redução de pensamentos ruminativos e de distração. Ao comparar os efeitos da meditação e do relaxamento corporal, Jain et al. verificaram que, embora ambas as técnicas tenham produzido uma redução do sofrimento psicológico e um aumento de afetos positivos, a meditação teve um efeito maior no aumento dos afetos positivos. Além disso, foi a única técnica com efeito sobre a redução de pensamentos e comportamentos ruminativos.

Para Bishop et al. (2004), a consciência não-ruminativa desenvolve-se através de um processo meta-cognitivo característico da meditação, uma vez que esta trabalha fundamentalmente a auto-observação dos processos mentais. Essa idéia é consistente com os resultados que mostram um aumento da autoconsciência associada à prática meditativa (Brown & Ryan, 2003; Easterlin & Cardeña, 1998). Além disso, confirmam o pressuposto que, através dessa atividade, é possível atingir importantes níveis de insight (Goleman, 1988).

Em razão dessa relação entre meditação e aspectos psicológicos positivos, muitos autores a concebem como uma técnica útil para tratamentos psicoterápicos (Hayward & Varela, 2001; Martin, 1997; Naranjo, 2005). A meditação, assim como a psicoterapia, busca a eliminação das barreiras do ego, a fim de que as potencialidades humanas se manifestem (Martin, 1997; Naranjo, 2005). Através da focalização da atenção, a meditação pode ser interpretada como uma tentativa de desfazer os condicionamentos e as programações da mente (Goleman, 2003); além disso, o desenvolvimento de uma atenção livre de elaboração pode possibilitar o surgimento de conteúdos antes inacessíveis à consciência (Bishop et al., 2004); portanto, alguns autores acreditam que a meditação se aproxima dos pressupostos norteadores de diversas linhas teóricas da Psicologia (Naranjo, 2005; Vandenberghe & Sousa, 2006), podendo ser descrita como um estado de liberdade psicológica (Martin, 1997).

Aplicações

Além da relação com a psicoterapia, a meditação também passou a ser uma intervenção clínica utilizada como ferramenta para tratamentos coadjuvantes, tornando-se o foco principal de determinados programas de saúde. O Mindfulness-Based Stress Reduction (MBSR – Programa de Redução de Stress Baseado na mindfulness), por exemplo, é um programa desenvolvido por Kabat-Zinn, situado em uma clínica de redução de estresse para pacientes não hospitalizados no Centro Médico da Universidade de Massachusetts, cujo objetivo é proporcionar alívio ao sofrimento físico e psicológico (Kabat-Zinn, 2003). O programa é constituído de oito encontros semanais, de duas horas e meia, nas quais são treinadas as técnicas de posturas de yoga e meditação que devem ser praticadas no restante dos dias durante as oito semanas, por uma hora, em casa. Além disso, um retiro silencioso de sete horas é realizado na sexta semana. Inúmeros desfechos positivos de saúde, como a melhora da psoríase (Kabat-Zinn et al., 1998), dos transtornos de ansiedade (Miller, et al., 1995) e redução do estresse, tanto em pacientes não clínicos (Grossman et al., 2004; Jain et al., 2007) quanto clínicos (Carlson et al., 2004; Speca, Carlson, Goodey, & Angen, 2000), têm sido associados ao programa, o que sugere sua eficácia.

O MBSR também deu origem a outro programa similar, porém voltado para o tratamento da depressão, dentro de um contexto ligado à psicoterapia cognitivo-comportamental. Esse programa, intitulado Mindfulness-Based Cognitive Therapy (MBCT – Terapia Cognitiva Baseada na Mindfulness), tem como objetivo fazer um acompanhamento de pacientes depressivos que tiveram êxito na psicoterapia cognitiva, a fim de prevenir a sua recaída. Assim como o MBSR, o MBCT inclui oito encontros semanais, embora com grupos mais reduzidos, sendo que o participante não pode estar deprimido à época do treinamento. Esse programa diferencia-se da terapia cognitivo-comportamental na medida em que não enfatiza a mudança do conteúdo dos pensamentos, e sim, a transformação da consciência que o paciente possui acerca dos pensamentos e a forma como se relaciona com estes. O programa tem se mostrado eficaz para pacientes que tiveram pelo menos três episódios de depressão através do aumento do acesso à meta-cognição, em que pacientes vivenciam pensamentos e sentimentos negativos como meros estados mentais, e não como uma condição imutável do self (Teasdale et al., 2002).

Outro programa bastante conhecido em Harvard, no centro médico Mind Body Medical institute, foi desenvolvido no final da década de 60 pelo médico cardiologista Herbert Benson, e chama-se resposta de relaxamento (Casey & Benson, 2004). Benson cunhou o termo “resposta de relaxamento” para designar o conjunto de técnicas utilizadas, como a meditação e o relaxamento progressivo, no tratamento coadjuvante de diversas condições, buscando proporcionar maior saúde e bem-estar aos pacientes. O autor descreve a resposta de relaxamento como um conjunto de reações biológicas e emocionais opostas àquelas geradas pela resposta de luta ou fuga característica do estresse. Uma série de aplicações clínicas do programa tem mostrado resultados significativos, como menor somatização (Nakao et al., 2001), melhor manejo da dor crônica e aguda (Schaffer & Yucha, 2004), melhora de condições relacionadas ao estresse (Esch, Fricchione, & Stefano, 2003), entre outros.

A meditação e outras técnicas orientais e de relaxamento também vêm sendo utilizadas em sistemas de saúde de alguns países, como Nova Zelândia (Duke, 2005), Canadá (Andrewsa & Boonb, 2005), Austrália (McCabe, 2005), Reino Unido (Ernst, Schmidt, & Wider, 2005) e Estados Unidos (Spiegel, Stroud, & Fyfe, 1998), sob a designação de medicina complementar alternativa (CAM). No Brasil, o Ministério da Saúde, através da Portaria nº 971, com base em um documento da Organização Mundial da Saúde, aprova a utilização de práticas complementares da Medicina chinesa, como acupuntura, homeopatia e meditação (Ministério da Saúde, 2006). Todavia, ainda não há publicações científicas que retratem a utilização da meditação no sistema de saúde, embora certamente seja utilizada na prática clínica pública e privada. Nas universidades brasileiras, também há escassez de investigações acerca do assunto. Tem-se notícia de dois grupos de pesquisa que vêm trabalhando na área, um bastante voltado para a pesquisa, no Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), e outro mais direcionado para a prática e a inserção da técnica no âmbito da saúde mental, na Clínica-Escola de Psicologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), onde é oferecido um serviço terapêutico gratuito à população.

(…)

Um estudo revelou que as pessoas que utilizaram a meditação de cunho espiritual tiveram maior redução da ansiedade, maior relato de afetos positivos e maior tolerância à dor, em comparação com o grupo que utilizou a meditação secular (Wachholtz & Pargament, 2005). Além disso, alguns autores sustentam que a meditação realizada fora de seu contexto original não é tão facilitadora de características tradicionalmente atreladas à prática, como níveis mais profundos de propósito na vida e auto-atualização (Shapiro et al., 2005). Entretanto, propõe-se que a meditação seja concebida como um processo multifatorial, em que muitos aspectos se inter-relacionam, mediando seus efeitos, como genética e traços de personalidade, motivações e valores, tanto pré-existentes como adquiridos com a própria prática e com as experiências individuais, além do tipo da técnica. Embora a espiritualidade possa ter um impacto positivo sobre o bem-estar e a saúde física e mental (Guimarães & Avezum, 2007; Peres, Simão, & Nasello, 2007), existe um limite que se refere às pessoas que não querem levar uma vida calcada na espiritualidade e que nem por isso devem ser impedidas de meditar ou de ter acesso à prática meditativa. Ademais, são necessários mais estudos comparando os diferentes tipos quanto aos seus mecanismos subjacentes e quanto a uma possível distinção do impacto de cada um.

Além das especificidades de cada tipo, ressalta-se que os estudos sobre meditação ainda suscitam opiniões divergentes quanto à aceitação da sua aplicabilidade e eficácia no campo da saúde. Alguns autores advertem que ainda são necessárias pesquisas com metodologias mais rigorosas para assegurar que a meditação seja, de fato, a responsável pelos efeitos observados (Baer, 2003; Bishop, 2002; Canter & Ernst, 2004). Entre os principais argumentos, estão a não randomização de muitas amostras, o número reduzido de participantes, a afiliação dos pesquisadores às organizações ligadas à técnica investigada e, até 2004, argumentava-se com a falta de uma definição operacional objetiva (Bishop et al., 2004; Cardoso et al., 2004).

Por outro lado, uma grande quantidade de estudos com resultados positivos sugere que a meditação pode ser eficiente no que tange a reações psicossomáticas e, especialmente, a experiências subjetivas, como a sensação de bem-estar e de crescimento pessoal. Com relação ao tempo necessário para que tais efeitos ocorram, não há uma precisão. Embora pesquisas revelem que com alguns meses já se pode observar uma diferença significativa em determinados estados, também há estudos indicando que, quanto maior o tempo de prática, maior a intensidade e a permanência das respostas produzidas. Portanto, a regularidade da prática constitui-se em mais uma variável mediadora dos efeitos da meditação e, possivelmente, em um diferencial na medida em que tais reações se transformam em aspectos mais duradouros e estáveis da personalidade.

Tendo em vista a relevância do estudo científico da meditação e de suas diversas facetas, sugere-se que esse é um campo a ser explorado nos centros de pesquisa do Brasil. O estágio ainda em desenvolvimento em que se encontram os estudos sobre meditação gera um solo fértil para a sua investigação, e possibilita, à medida que os resultados vão se tornando mais conclusivos, a sua inserção e disseminação na prática clínica. Além disso, recomenda-se que aqueles profissionais que já a utilizam em suas práticas terapêuticas relatem seus casos com o rigor científico necessário para que se inicie um movimento brasileiro de validação do uso da meditação como uma ferramenta destinada a promover a qualidade de vida nas suas diversas dimensões.

Referências

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meditacao unicamp campinas sp

Harvard Study Unveils What Meditation Literally Does To The Brain

Arjun Walia, December 11, 2014

https://www.collective-evolution.com/2014/12/11/harvard-study-unveils-what-meditation-literally-does-to-the-brain/

Numerous studies have indicated the many physiological benefits of meditation, and the latest one comes from Harvard University.

An eight week study conducted by Harvard researchers at Massachusetts General Hospital (MGH) determined that meditation literally rebuilds the brains grey matter in just eight weeks. It’s the very first study to document that meditation produces changes over time in the brain’s grey matter. (1)

“Although the practice of meditation is associated with a sense of peacefulness and physical relaxation, practitioners have long claimed that meditation also provides cognitive and psychological benefits that persist throughout the day. This study demonstrates that changes in brain structure may underlie some of these reported improvements and that people are not just feeling better because they are spending time relaxing.” – (1) Sara Lazar of the MGH Psychiatric Neuroimaging Research Program and a Harvard Medical School Instructor in Psychology

The study involved taking magnetic resonance images (MRI) of the brain’s of 16 study participants two weeks prior to participating in the study. MRI images of the participants were also taken after the study was completed.

“The analysis of MR images, which focused on areas where meditation-associated differences were seen in earlier studies, found increased grey-matter density in the hippocampus, known to be important for learning and memory, and in structures associated with self-awareness, compassion and introspection.” (1)

For the study, participants engaged in meditation practices every day for approximately 30 minutes. These practices included focusing on audio recordings for guided meditation, non-judgmental awareness of sensations, feelings and state of mind.

“It is fascinating to see the brain’s plasticity and that, by practicing meditation, we can play an active role in changing the brain and can increase our well-being and quality of life. Other studies in different patient populations have shown that meditation can make significant improvements in a variety of symptoms, and we are now investigating the underlying mechanisms in the brain that facilitate this change.” – (1) Britta Holzel, first author of the paper and a research fellow at MGH and Giessen University in Germany

(…)

Sources:

(1)  https://news.harvard.edu/gazette/story/2011/01/eight-weeks-to-a-better-brain/

https://www.princeton.edu/~achaney/tmve/wiki100k/docs/Grey_matter.html

Histórias de Mestres Espirituais

 

O que é, como reconhecer, ensinamentos, discípulos e mais: a figura do Mestre espiritual

Logo abaixo está a página sobre o Histórias de Mestres espirituais, de uma de uma sequência de artigos sobre o Mestre espiritual, escritos por Sri Chinmoy. As outras páginas são:

Fonte: livro de Sri Chinmoy, chamado O Mestre e o Discípulo: considerações sobre a relação Guru-discípulo.


 

Histórias de Mestres Espirituais

por Sri Chinmoy, do livro O Mestre e o Discípulo

 

mestres espirituais vivekanandaESTA PLANTA É O HOMEM, ESTA PLANTA É DEUS

 

Era uma vez um buscador. Durante muitos anos, ele procurou por um Mestre, um Guru. Infelizmente, nunca encontrou um. Esteve em muitos grupos, mas os professores que conheceu não eram do seu gosto. E ele procurava e procurava por um Mestre espiritual. Um dia, enquanto andava por uma rua, viu um Mestre espiritual com alguns discípulos. Estavam sentados na relva, num lindo gramado, e alguns discípulos molhavam a grama.

O buscador aproximou-se do Mestre e falou, “Mestre, todos esses seus discípulos escutam o senhor, não importa o que diga. Eles acreditam no senhor e estão certos quando o ouvem. Mas, eu gostaria de dizer que tenho algo para contar-lhe, mesmo que o senhor possa discordar.”

O Mestre disse, “A verdade certamente não é meu monopólio. Se você descobriu alguma verdade, naturalmente aceitarei a sua verdade de todo coração. Agora, por favor, diga-me, que verdade você descobriu?”

O buscador falou, “Minha descoberta é esta: uma pessoa do mundo não pode realizar Deus tão facilmente. Sou uma pessoa do mundo, e sei que até mesmo encontrar um Mestre é impossível. Se não encontro um professor espiritual, porque nenhum me satisfaz, então como será possível que eu realize Deus, algo infinitamente mais difícil? Encontrar um Mestre já é tão difícil para mim; alcançar a realização nesta vida é simplesmente impossível. O senhor concorda comigo?”

O Mestre respondeu, “Infelizmente, não concordo com você. Outros podem pensar que o que diz está certo, mas eu gostaria de dizer que não é tão difícil encontrar um Mestre nem alcançar a Deus-realização.”

O buscador ficou surpreso, e até os discípulos ficaram um pouco admirados com a observação do Mestre, porque a maioria sabia quão difícil fora para eles encontrar um Mestre espiritual, e que a Deus-realização era ainda uma meta distante.

O Mestre falou, “Veja, agora mesmo, alguns dos meus discípulos estão molhando a grama. Há pequenas plantas por aqui.” O Mestre apontou duas plantinhas bem miúdas. Então, o Mestre pegou uma pazinha e arrancou uma delas. Pegou a planta toda, raiz e folhas, e dirigiu-se para a outra planta. Aí, também, removeu a planta inteira e substituiu-a pela primeira. Daí, pegou a segunda planta e replantou-a no lugar da primeira.

Então, o Mestre falou, “Olhe aqui. Esta planta é o homem e aquela é Deus. Agora, eu sou o Mestre. Eu cheguei aqui e toquei esta planta. Foi uma questão de minutos, poucos minutos. Tão logo a toquei, imediatamente a planta me deu a divina resposta, e eu a peguei e a coloquei lá onde a planta chamada ‘Deus’ estivera. Então, peguei a planta-Deus e obtive toda Sua Compaixão, Amor, Alegria e Deleite, e os coloquei aqui onde o homem a planta estivera. Foi uma questão de apenas poucos minutos. Levei o homem a Deus e trouxe Deus ao homem.”

O novo buscador disse, “Mestre, quero ser seu discípulo. Por favor, inicie-me.”

“Eu o iniciarei em breve, meu filho”, disse o Mestre. E continuou, “Se sente que é quase impossível realizar Deus, significa que a sua ideia de Deus está errada, a sua ideia da espiritualidade está errada. Agora, está apegado ao mundo, mas se tiver o mesmo apego a Deus, verá que pode facilmente alcançá-Lo. Quando vou a Deus, bato em Sua porta. Imediatamente, Ele vem a mim, e eu digo, ‘Por favor, venha comigo’. Ele então vem com seu infinito Amor, Alegria, Bênçãos e Compaixão. Então, eu bato à sua porta, mas, quando bato, você não a abre; mantém a sua porta fechada, trancada. Naturalmente, Deus e eu vamos embora. Então, quando quero levá-lo ao palácio de Deus, digo, ‘Venha comigo’. Quando bato à porta de Deus de novo, Deus diz que, assim como você não abriu a sua porta quando eu O levei até você, Ele não lhe abrirá a porta Dele. Se tivesse aberto a porta quando eu trouxe Deus como o Convidado e se tivesse permitido a Deus entrar, naturalmente, Deus também teria permitido a você entrar no Seu Palácio. Portanto, se mantém a porta do seu coração aberta, Deus pode facilmente entrar.

“Mas, quando eu me aproximo, você fica perturbado. Pensa que tem medo, dúvida, problemas emocionais, problemas vitais, inveja, e assim por diante. Não quer se expor; quer se esconder. Mas, a planta que eu mudei, homem a planta, não teve medo, dúvida e nem timidez quando a toquei – absolutamente nada. Não teve medo algum da sua própria ignorância. Sentiu uma comoção porque alguém a estava levando para outro lugar, o qual era Deus. Assim, quando eu o toco, quando um Mestre espiritual o abençoa ou medita em você, nesse momento, se você oferece a sua ignorância e suas imperfeições, juntamente com suas qualidades devotadas, fica muito fácil para o Mestre levá-lo completamente para Deus. Se não, é quase impossível para o Mestre fazer qualquer coisa para transformar ou mesmo purificar as consciências dos discípulos. É uma troca de duas plantas. Isso é o que o Mestre faz quando lida com seus filhos espirituais. Uma planta é Deus, a outra planta é o homem.”

Então, o Mestre se afastou caminhando lentamente.

 

 

OS CONSELHOS DO MESTRE SOBRE

A ESCOLHA DE UM CAMINHO

 

Havia um Mestre espiritual que queria dar a cada um de seus filhos espirituais atenção, cuidados, bênçãos e orientação especiais, a despeito do fato de ter centenas e centenas de discípulos. Ele conduzia muitas reuniões por semana, às vezes, duas no mesmo dia, de modo que cada reunião pudesse ser mantida pequena e íntima, independente de quantos novos buscadores ele admitisse em sua família espiritual.

Em um ou dois dias na semana, o Mestre permitia a participação de visitantes nos encontros, e alguns posteriormente decidiam seguir o seu caminho. Um dia, quatro visitantes – três rapazes e uma moça – vieram ao Mestre, após um encontro. Um dos rapazes curvou-se perante o Mestre e disse, “Mestre, o senhor me aceitaria como seu discípulo? Eu tenho vindo aqui a cada semana durante o último mês, e finalmente decidi que este é o meu caminho.”

O Mestre perguntou ao buscador o seu nome e algumas informações sobre sua vida exterior, e, então, em silêncio, concentrou-se em sua alma. Finalmente, falou: “Certamente, eu o aceitarei como discípulo. Você tem a minha aceitação, de todo o coração. Por favor, venha aos nossos encontros regularmente e devotadamente. Eu vejo claramente que este é o seu caminho.”

O novo discípulo ficou extremamente feliz e agradecido por ter sido aceito pelo Mestre.

Então, o segundo rapaz disse, “Mestre, eu também tenho vindo durante o último mês, mas acabo de descobrir que se pode vir apenas quatro ou cinco vezes antes de decidir tornar-se um discípulo. Sinto que este pode ser o meu caminho, mas não quero tornar-me um discípulo de imediato porque não gostaria de ter qualquer conflito interior ou ser parcial quanto ao meu compromisso. Quero estar absolutamente certo.”

O Mestre respondeu, “Admiro profundamente a sua sinceridade. Infelizmente, temos essa regra aqui no ashram, mas você é muito bem vindo aos encontros das quartas-feiras à noite fora do ashram. Muitas pessoas têm vindo a esses encontros há oito, nove meses, ou mesmo um ano, mas ainda não assumiram um compromisso e, de nossa parte, não lhes pedimos que assumam qualquer compromisso. Decerto, eu sou a mesma pessoa, o mesmo Mestre espiritual, no meu ashram ou fora dele, de modo que você poderá ter a mesma oportunidade de decidir se eu sou seu Mestre.”

“Mestre, fico feliz em ouvir que poderei frequentar seus encontros nas quartas-feiras, e certamente continuarei vindo meditar com o senhor. Mas, porque o senhor tem esse regulamento rígido? Perdoe minha pergunta, mas porque a vida interior deveria ter essas limitações exteriores?”

O Mestre explicou, “Meu filho, se temos algumas regras e regulamentos como esse, podemos harmonizar mais efetivamente o grupo. Cada organização precisa de regras e regulamentos para funcionar bem. Também, é mais fácil disciplinar as vidas dos discípulos numa comunidade espiritual se há algumas regras.

“Há também uma razão espiritual, meu filho. Tenho visto claramente que, se alguém deseja selecionar um caminho, quatro visitas a um Mestre são mais que suficientes para a pessoa decidir se é o caminho certo para ela ou não. Após ver-me este número de vezes, se eu sou destinado a ser o seu Mestre, você deve sentir algo em mim. Não digo que, apenas por ser um Mestre espiritual você tem de sentir algo em mim; mas, se é meu destino ser o seu Mestre, definitivamente você sentirá algo em mim que o encorajará e o inspirará a tornar-se meu discípulo. Se diz, no entanto, que no seu caso, está demorando mais porque quer ser muito cauteloso e cuidadoso para evitar cometer um erro, então eu o convido a vir indefinidamente àquele outro encontro. Fique à vontade. Após uns seis meses, se sentir que este não é o caminho para você, poderá tentar outros caminhos.

“Sou seu irmão espiritual mais velho, digamos assim. Porque sou um pouco mais avançado que você no caminho espiritual, meu papel é levá-lo ao nosso Pai comum, mas eu mesmo não sou a Meta. Se há alguém espiritualmente um pouco mais avançado que você, então, naturalmente, ele também estará em posição de levá-lo ao Pai. Nós, Mestres espirituais, somos como mensageiros; apenas conduzimos os buscadores ao Pai. Você terá a mesma oportunidade de realizar Deus, se aceitar este caminho ou qualquer outro. Se quer aguardar, então por favor o faça, mas não se sinta triste ou perturbado. Nesse encontro e em todos os meus encontros – em todos os lugares – a porta do meu coração está toda aberta.”

O segundo buscador saudou o Mestre. “Mestre, estou verdadeiramente sensibilizado com a magnanimidade do seu coração e com a sua profunda sabedoria. Certamente continuarei vindo aos seus encontros. Muito obrigado.”

O terceiro rapaz aproximou-se do Mestre. “Mestre, sinto que minha vida está imersa em confusão. Como posso julgar minha própria sinceridade? Mestre, por favor, dê-me algum conselho.”

O Mestre falou, “Parece-me que você tem duas perguntas, não uma. Uma tem a ver com a sua confusão, outra com a sua sinceridade. Por que está confuso? O que o faz pensar que está tão confuso? Aceitação do nosso caminho é uma coisa, e confusão na sua vida, na sua mente, é um assunto completamente diferente. Pergunte-se se será feliz se não aceitar nosso caminho. Se sentir que será feliz, e se disser que não está confuso quanto a rejeitar ou aceitar nosso caminho, então a sua confusão está completamente separada de se você deve ou não aceitar a vida espiritual. Depende de você aceitar-nos ou rejeitar-nos. Este caminho é um meio de ver a verdade. A sua sinceridade lhe dirá se ele é para você.”

“Mas, Mestre,” o buscador interrompeu, “como posso julgar minha própria sinceridade?”

O Mestre respondeu, “Você pode facilmente julgar a sua sinceridade. Ela depende inteiramente da grandeza ou magnanimidade do seu coração. Você não tem de se tornar uma pessoa espiritual para ser sincero. Pense em si mesmo como duas pessoas. Pense no seu vital, mente e físico como alguém afogando no mar da ignorância, e pense no seu coração e alma como outra pessoa, atravessando o mar da ignorância a nado. Separe sua mente, vital e corpo de seu coração e alma. Sinta que, enquanto a sua mente, vital e corpo afundam, seu coração e alma têm a capacidade de salvá-los. O que deve fazer agora? Caso separe-se da pessoa que afunda, se ficar com o coração e a alma, imediatamente a grandeza do coração e a visão de futuro da alma virão salvar o homem que se afoga dentro de você. Mas, você tem de decidir se quer ou não seguir o caminho do coração e da alma para salvar o físico, o vital e a mente. Se sentir que o físico está lhe dando a mensagem certa, que o vital está lhe trazendo a mensagem certa e que a mente está lhe oferecendo a mensagem certa, estão não sentirá uma necessidade verdadeira da vida espiritual. Mas, se sentir que sua mente, por exemplo, está afundando, então deve voltar-se para o coração, porque o coração está em posição de oferecer iluminação à mente. Quando entrar para a vida espiritual, a sua mente intelectual será apenas um obstáculo inoportuno. A mente, como tal, não é ruim, mas a mente tem de ser iluminada pela luz do coração. E a luz do coração vem da própria alma.”

O terceiro buscador falou, “Mestre, seguirei seu conselho, e estou certo de que os problemas da minha confusão e da minha sinceridade logo serão resolvidos. Tentarei identificar-me com meu coração e minha alma.”

Então, o último visitante, uma moça, disse ao Mestre: “Embora tenha meditado e tido uma vida interior durante muitos anos, esta é a primeira vez que tento encontrar um Mestre. Sinto grande afinidade pelo senhor, mas não é muito cedo para eu tomar uma decisão?”

O Mestre falou, “Minha filha, entre em seu coração e alma. Se sentir que este é o caminho para você, certamente deverá vir. Se sentir que este não é o seu caminho, então vá a algum outro lugar. Mas este é o meu único pedido a você e a todos que não aceitaram um Mestre espiritual: encontre seu Mestre, o mais breve possível. Apenas porque é sincera, peço-lhe que não se adie. Você pode até dizer que tem de esperar pela Hora de Deus, mas eu digo que a hora já chegou. Este é o motivo pelo qual veio até aqui e está pensando em ir a alguns outros lugares também. Algumas pessoas são muito irrequietas. Embora vejam um objeto de que gostam na primeira loja que vão, pensam que, talvez, encontrarão algo melhor em outra loja. Vão a vinte outras lojas, esperando achar um objeto em particular, e após olhar e procurar, frequentemente acabam voltando à primeira loja.

“Porém, se são sábias, se estão realmente famintas e encontram a fruta que satisfará sua fome na primeira loja, comem lá mesmo e não se ocupam em ir de loja em loja. É certo que, se não gostarem da comida oferecida lá, têm todo o direito de ir a outro lugar. Mas, algumas pessoas exercitam o que chamam de sabedoria humana, a qual não tem validade do ponto de vista espiritual. Sua natureza é dizer ‘Vamos olhar outras coisas’. O problema é que o tempo é muito precioso. Se tenho de entrar em muitas lojas e examinar tudo, enquanto estou perdendo tempo, alguém pode comprar a fruta que eu queria a princípio. Além disso, o vendedor não mantém suas portas abertas vinte e quatro horas por dia. Se perambulo por sua loja durante muito tempo sem comprar o que preciso, ele pode decidir que é hora de fechá-la e pedir-me que vá procurar em outro lugar. Nessa hora, sou eu quem fica insatisfeito e incompleto.

“Então, após buscar em seu interior profundo, se seu coração e sua alma disserem que este não é o seu caminho, seja muito corajosa e procure outro Mestre. Mas, se sentir que este é o seu caminho, não permita que a mente se manifeste trazendo dúvida.

“Você pode pensar que a mente está sendo sinceramente cautelosa ao questionar o coração, mas, na verdade, a mente está apenas mostrando sua insegurança. A mente é perdidamente insegura, e por isso cria sempre confusão. Tenha fé somente no seu coração e na sua alma. Se a alma lhe envia a mensagem através do seu coração de que este é o seu caminho, aceite este caminho e mantenha-se nele.

“O que estou dizendo é que é melhor estar sempre alerta e não perder tempo. Temos de estudar três assuntos. O primeiro é Deus-realização, o segundo é Deus-revelação e o terceiro é Deus-manifestação. Mal começamos a estudar o primeiro, mas devemos completar todas as três disciplinas. Cada uma necessita de um grande investimento de tempo. Deus sabe quantos séculos, quantas encarnações cada uma exigirá. Então, quanto antes começarmos, melhor para nós.”

A buscadora se curvou ao Mestre e falou: “Mestre, não perderei um segundo. Buscarei fundo em meu interior e encontrarei o caminho para mim. Mestre, o senhor é nosso verdadeiro irmão espiritual, cuja única preocupação é o nosso progresso. Estamos profundamente sensibilizados com sua orientação incondicional. Faremos o que o senhor disse.” Os quatro buscadores curvaram-se agradecidos ao Mestre antes de saírem.

 

 

 

EU QUERO APENAS UM ALUNO: O CORAÇÃO

 

Havia um Mestre espiritual que tinha centenas de seguidores e discípulos. O Mestre sempre oferecia discursos em diferentes lugares – igrejas, sinagogas, templos, escolas e universidades. Sempre que era convidado, e sempre que seus discípulos encontravam oportunidades, ele proferia palestras. Ele deu palestras para crianças e adultos. Deu palestras para estudantes universitários e para donas de casa. Algumas vezes, proferiu palestras perante estudiosos e os mais avançados buscadores. E assim foi por cerca de vinte anos.

Finalmente, chegou o dia em que o Mestre decidiu interromper suas palestras. Ele disse aos discípulos: “Basta! Fiz isso durante muitos anos. Agora, não darei mais palestras. Apenas silêncio. Manterei silêncio.”

Durante cerca de dez anos, o Mestre não deu mais palestras. Manteve silêncio em seu ashram e em todo lugar. Ele havia respondido milhares de perguntas, mas agora, nem sequer meditava em público. Passados dez anos, seus discípulos lhe rogaram que retomasse seu antigo costume de dar palestras, responder perguntas e conduzir meditações públicas. Todos pediram, e ele por fim consentiu.

Imediatamente, seus discípulos organizaram eventos em muitos lugares. Colocaram anúncios em jornais e cartazes por toda parte, anunciando que seu Mestre iria proferir palestras novamente e conduzir elevadas meditações para o público. O Mestre ia a esses lugares com alguns de seus discípulos favoritos, que eram os mais devotados e dedicados. Centenas de pessoas se juntavam para ouvir o Mestre e ter suas perguntas respondidas. Mas, para a grande surpresa de todos, o Mestre não dizia coisa alguma. Do início ao fim dos encontros, por duas horas, ele mantinha silêncio.

Alguns dos buscadores na audiência ficavam incomodados. Diziam que estava escrito no jornal e nos cartazes que o Mestre daria uma curta palestra e responderia perguntas, bem como conduziria uma meditação. “Como, então, ele não disse coisa alguma?”, perguntavam. “É um mentiroso”, diziam muitos, que ficavam aborrecidos e iam embora. Outros permaneciam durante as duas horas, na esperança de que, talvez, o Mestre falasse ao final, mas ele encerrava as meditações sem dizer uma palavra. Algumas pessoas da audiência sentiam alegria interior. E algumas ficavam por medo de que, saindo cedo, as outras poderiam pensar que eles não eram espirituais e que não conseguiam meditar. Assim, alguns saíam, alguns ficavam com grande relutância, alguns ficavam a fim de se mostrarem para os outros, e muito poucos ficavam com grande sinceridade, devoção e clamor interior.

E assim se procedeu por três ou quatro anos. Muitos criticavam impiedosamente o Mestre e deixavam os discípulos envergonhados, dizendo: “Seu Mestre é um mentiroso. Como vocês justificam colocar anúncios no jornal dizendo que seu Mestre vai dar uma palestra, responder perguntas e conduzir meditação? Ele só faz a meditação e nós não aprendemos coisa alguma com ela. Quem consegue meditar por duas ou três horas? Ele está fazendo a gente de bobo, e se passando por tolo.”

Alguns discípulos próximos ficaram muito perturbados. Sentiam-se tristes porque seu Mestre era insultado e criticado. Rogavam ao Mestre para que desse apenas uma curta palestra e respondesse umas poucas perguntas ao final da meditação. Por fim, o Mestre aquiesceu.

Na ocasião seguinte, o Mestre não exatamente se esqueceu de que havia concordado, mas mudou de ideia. Em vez de duas, ficou meditando durante quatro horas. Até seus discípulos mais próximos ficaram tristes, já que não podiam zangar-se com o Mestre, pois é um séria falta kármica zangar-se com o próprio Mestre. Todavia, ficaram com medo de que alguém na audiência se levantasse e insultasse o Mestre. Em suas mentes, prepararam-se para proteger o Mestre caso ocorresse alguma calamidade.

Quando quatro horas haviam se passado sem sinal de que o Mestre falaria ou encerraria o encontro, um dos seus discípulos mais próximos levantou-se e disse, “Mestre, por favor, não se esqueça da sua promessa.”

O Mestre respondeu imediatamente: “Minha promessa, sim. Eu lhes prometi, e então é meu dever oferecer uma palestra. Hoje, minha palestra será muito curta. Quero dizer que dei centenas de palestras, milhares de palestras. Mas, quem ouviu minhas palestras? Milhares de olhos e milhares de ouvidos. Meus alunos eram os olhos e ouvidos das plateias – milhares e milhares de olhos e ouvidos. Mas falhei em ensinar-lhes qualquer coisa. Agora, quero ter um tipo diferente de aluno. Meus novos alunos serão os corações.

“Ofereci mensagens em milhares de lugares. Essas mensagens entraram por um ouvido e saíram pelo outro, todas no mais curto espaço de tempo. E o povo me viu dar palestras e responder perguntas. Apenas por um breve segundo, seus olhos percebiam algo em mim e, então, tudo se perdia. Enquanto eu falava sobre Verdade, Luz, Paz e Beatitude sublimes, os ouvidos não podiam captá-las porque já estavam cheios de rumores, dúvida, inveja, insegurança e impureza, coisas acumuladas durante muitos anos. Os ouvidos estavam totalmente poluídos e não receberam minha mensagem. E os olhos não receberam minha Verdade, Paz, Luz e Beatitude, porque viam tudo ao modo deles. Quando os olhos humanos veem algo belo, imediatamente começam a comparar. Dizem, ‘Como ele pode ser lindo, seu discurso ser lindo, suas perguntas e respostas serem lindas? Por que eu não posso ser assim?’ E, de pronto, chega a inveja. O olho humano e o ouvido humano ambos respondem através da inveja. Se o ouvido escuta algo bom sobre alguém, imediatamente a inveja chega. Se o olho vê alguém belo, imediatamente a pessoa sente inveja.

“Os ouvidos e olhos cumpriram seus papéis. Provaram ser alunos não-divinos, e não pude ensinar-lhes. Seu progresso foi totalmente insatisfatório. Agora, quero novos alunos e tenho novos alunos. Esses alunos são os corações, onde a unicidade crescerá – unicidade com a Verdade, unicidade com a Luz, unicidade com a beleza interior, unicidade com o que Deus tem e com o que Deus é. É o aluno-coração que tem a capacidade de se identificar com a Sabedoria, Luz e Beatitude do Mestre. E, quando ele se identifica com o Mestre, descobre a sua própria realidade: Verdade, Paz, Luz e Beatitude infinitas. O coração é o verdadeiro ouvinte, o verdadeiro observador; ele é o verdadeiro aluno que se torna um com o Mestre, com a visão, com a realização e com a Luz eterna do Mestre. De agora em diante, o coração será meu único aluno.”

 

 

 

 

EXPECTATIVA HUMANA E SATISFAÇÃO DIVINA

 

Um dia, um discípulo muito próximo de um grande Mestre espiritual o procurou e disse: “Mestre, o senhor me tem dito para não esperar nada da minha vida, mas esperar tudo apenas de Deus. Eu tenho fé em Deus, mas a menos e até que eu O tenha visto face a face, como posso esperar algo Dele? Se vejo uma pessoa, posso esperar algo dela, mas, se não a vejo, o que poderei esperar dela? Eu vejo minhas mãos e espero algo das minhas mãos. Vejo meus membros e, só porque os vejo, sinto que posso pedir-lhes um favor. Mas, no caso de Deus, como não O vejo, de que modo posso esperar algo Dele?”

O Mestre disse, “Meu filho, é verdade que não viu Deus, mas quero dizer-lhe que há muitas coisas que consegue, as quais não vêm de uma ação das suas mãos, nem dos seus olhos, nem de qualquer parte do seu corpo. Há muitas coisas que não espera, nem de você, nem de alguém mais, mas tais coisas ocorrem, mesmo que não perceba qualquer causa exterior ou qualquer providência feita por uma pessoa conhecida sua. Elas acontecem ao Modo de Deus, o qual está muito além da sua imaginação.”

“Mestre, isso é verdade. Mas devo dizer que, muito frequentemente, quando espero algo de Deus, minhas expectativas não são satisfeitas.”

O Mestre perguntou, “Quando esperas algo de si, as suas expectativas encontram satisfação sempre?”

“Não, Mestre.”

“Se não pode satisfazer tudo que espera de si, porque espera que Deus satisfaça tudo o que espera Dele?” Alguém espera algo porque estabeleceu um objetivo para si, e, ou espera que o objetivo venha alcançá-lo, ou procura ir ao seu alcance. Porque tem algum destino em mente, ou puxa o destino para si ou se conduz para o destino. Mas os esforços próprios nem sempre são suficientes para dar-lhe sucesso. Não. Há uma força maior, que se chama Graça, a Compaixão de Deus. Quando essa Compaixão desce das Alturas, nada há que não possa esperar da sua vida. Quando a Compaixão divina desce, se tiver uma expectativa divina, é certo que será satisfeita.

“Também há a possibilidade de que, no início da jornada, um buscador possa almejar uma meta menor porque não está consciente da sua maior capacidade, ou porque não está liberto de seus desejos. Se o indivíduo não tem verdadeira, sincera aspiração, se não é um buscador genuíno, Deus lhe dará o que ele conscientemente quer e espera. Mas, se ele ora e medita com toda alma, quando Deus vir a sua sinceridade e potencialidade, Deus não irá querer que ele alcance a meta inferior. Deus guarda uma meta infinitamente mais elevada pronta para ele.

“No início, sua expectativa pode ser uma gota de Luz, mas Deus está preparando você para poder receber uma vastidão infinita de Luz. No início, pode tentar obter apenas uma gota de Néctar; pode sentir que isto é suficiente. Mas Deus quer alimentá-lo com uma grande quantidade de Néctar. Assim, quando é absolutamente sincero na sua vida espiritual, se tem uma meta menor, Deus pode negar esse seu objetivo inferior, pois Ele guarda para você a Meta mais elevada. Mas, como não enxerga a Meta altíssima, sente que Deus não é bom nem Se importa com você.”

“O que é uma meta menor ou inferior?”, perguntou o discípulo.

“Deixe-me dar um exemplo”, replicou o Mestre. “Eu queria ser um cobrador de trem. Quando eu era criança e o cobrador passava pedindo os bilhetes, eu ficava tão fascinado pelos seus movimentos e com os seus gestos que eu queria ser igual a ele. Agora, veja! Eu me tornei um Mestre espiritual. Ser um Mestre espiritual é uma conquista infinitamente maior que ser um cobrador de trem. Assim, Deus não me permitiu atingir aquele objetivo menor.

“Eu também quis tornar-me um grande atleta, um corredor muito veloz, mas Deus quis algo mais. Ele quis que eu me tornasse um corredor muito rápido, não na vida exterior, mas na vida interior. O nome, a fama e as conquistas de um atleta campeão na vida exterior duram somente alguns anos. É verdade que ele inspira os jovens; mas a inspiração que oferece é nada se comparada com a inspiração que o campeão interior, o Mestre espiritual, oferece. Quando um Mestre inspira alguém, a consciência dessa pessoa é elevada, e ela dá um passo a frente em direção à Meta altíssima. O Objetivo derradeiro pode por fim ser alcançado com a ajuda da inspiração e aspiração de um Mestre.”

O discípulo disse, “Mas Mestre, mesmo quando eu espero de Deus a mais elevada Meta – Paz, Luz e Beatitude em quantidades infinitas – mesmo assim, minhas expectativas não são atendidas.”

“Meu filho, quando você espera Paz, Luz e Beatitude de Deus, significa que estabeleceu para si uma meta bastante elevada. Quando espera algo de seus amigos, parentes, vizinhos ou conhecidos, se eles não quiserem oferecer a você, então, simplesmente não o farão. E quando não obtém tal coisa, fica infeliz porque sente que, apesar de merecê-lo, não o conseguiu; ou sente que os outros não querem dar aquilo a você por causa de inveja e medo de que, se o conseguir, eles não serão capazes de mostrar sua supremacia.

“Mas, no caso de Deus, se Ele não lhe dá algo, não é porque Ele é invejoso ou porque Ele pensa que se der a você a Sua Infinidade não será capaz de manter Sua Supremacia. Não. Você pode sentir que o que tem recebido é apenas uma gota, enquanto o que espera é um oceano infinito; mas, quando Deus lhe dá somente uma gota, é porque Ele sente que mesmo essa pequena gota pode ser muito. Mas, gradualmente, Deus aumenta a sua capacidade, e chegará o dia que você será capaz de receber uma grande gota. E, por fim, será capaz de receber o oceano todo.

“Se espera algo de Deus, mas não o obtém, tenha certeza de que Deus tem razões muito boas e legítimas para não dar aquilo a você. É porque Ele lhe dará algo muito melhor no futuro. Também, Ele dirá a razão pela qual o está negando tal coisa. Se Ele não satisfaz sua expectativa, Ele oferece Luz a você. Através da Luz, Ele torna claro porque não está dando a você o que espera. E, se Ele dá de imediato o que quer, então Ele também diz o motivo de estar conseguindo aquilo agora. Assim, minha criança, se verdadeiramente quer esperar algo, espere não de si, nem de qualquer pessoa, mas somente de Deus.

“O atendimento de expectativas é simultaneamente uma necessidade humana e uma satisfação divina. Quando dizemos que estamos satisfeitos, referimo-nos ao atendimento da nossa expectativa. Mas essa satisfação de expectativa ocorre num modo divino apenas quando entregamos nossa vontade à Vontade de Deus.

“Senão, estaremos orando a Deus, meditando em Deus, adorando a Deus e tentando agradar a Deus com uma forma inadequada de expectativa. Porque rezamos durante oito horas, esperamos que Deus nos dê um sorriso. Mas como saber se, obtendo um sorriso de Deus, nossa vida será imortalizada, ou se, conseguindo outras coisas que queríamos, nossa vida será verdadeiramente satisfeita?

“Se esperarmos de Deus de um modo divino, a Realidade crescerá em nós; e com essa Realidade seremos capazes de seguirmos em direção à nossa Imortalidade, nossa Meta transcendental altíssima.”

 

 

 

 

 

 

QUEM É MAIS IMPORTANTE –

O GURU OU DEUS?

 

Um dia, um Mestre espiritual assistiu a uma triste discussão, uma disputa entre dois de seus discípulos. Os dois estavam quase brigando. O Mestre aproximou-se e falou, “Então, qual é o problema? Por que estão discutindo e brigando?”

Ambos exclamaram: “Mestre, Mestre, ajude-nos! Precisamos de sua orientação. Precisamos da sua luz.”

O Mestre disse: “Se falarem ao mesmo tempo, não poderei fazer qualquer julgamento. Então, diga-me, um dos dois, o que está aborrecendo vocês.”

Um deles falou: “Mestre, o pomo da discórdia é o senhor e ninguém mais.”

“O quê?”, exclamou o Mestre.

O discípulo continuou, “Ele diz que o Mestre, o Guru, é mais importante que Deus. Eu digo: impossível, Deus é mais importante. Ele diz que o Guru é mais importante porque o Guru mostra o caminho, pavimenta o caminho, e o Guru leva o discípulo até Deus. Ele também diz que, embora Deus se importe com todos, mesmo com o adormecido e o não aspirante, se alguém deseja as bênçãos e cuidados imediatos de Deus, é através do Guru que pode obtê-los. Por isso, o Guru é mais importante.

“Mas eu digo que não, que é Deus quem dá esse tipo de amor e compaixão ao Guru; é Deus quem faz do Guru um instrumento para ajudar a humanidade. Então, para mim, Deus é mais importante.

“Ele diz que há uma Meta, mas, se alguém não o levar até a Meta – esse alguém sendo o Guru – Deus será sempre um destino longínquo. Ele diz, ‘O Objetivo pode estar lá, mas quem me levará até lá? Não posso ir sozinho; não sei o caminho. Então, meu Guru é mais importante, porque a Meta não virá até mim.’

“Eu digo: não, a Meta pode não vir até mim, mas a Meta é Deus. Agora, se o Guru o leva até o Objetivo, Deus, e Deus não lhe dá atenção, qual a importância do mensageiro? O Guru pode levar alguém até perto da Meta; mas, se a Ela não se importa com essa pessoa, naturalmente a viagem é inútil. Um ser humano pode levar alguém a um Mestre, mas se o Mestre não se agrada da pessoa trazida, o caso é perdido. Mais importante não é quem leva o discípulo, mas quem se agrada do discípulo. Se Deus Se agrada de alguém, isto é mais do que suficiente.

“Ele diz que, se o Guru aceita alguém como seu mais querido discípulo, então ele toma em seus ombros a lei do karma. Quando o pai sabe que seu filho fez algo errado e o pai quer poupar o filho, ele mesmo assume a punição. Esse é o Guru. Mas Deus é o Pai Universal. Ele trabalha com a Sua Lei Cósmica. Quando fazemos algo errado, Ele nos dá as consequências, a punição. Ele sente que o Guru é mais importante, porque o Guru toma para si a punição que o discípulo merece, ao passo que Deus sempre administra a Sua Lei Cósmica.

“Mas eu digo que não, que Deus não nos pune; Ele apenas nos concede uma experiência. Quem pune quem? Deus tem Sua própria experiência em e através de nós. Não recebemos punição alguma, pois é Deus quem sofre ou Se alegra através de nós, em nós.

“Além do mais, Deus existia antes do Guru vir ao campo da manifestação, e Deus continuará sendo Deus por muito tempo após o Guru deixar o campo da manifestação. O Guru veio de Deus e retornará a Deus, sua Fonte. Mas Deus é infinito e eterno, e jamais deixará de existir. Deus é o Todo; o Guru é a personificação temporária.

“Guru, eu tenho total devoção ao senhor. Embora ele diga que você é mais importante que Deus e eu diga que Deus é mais importante, tenho profunda fé no senhor. Você poderia, por favor, iluminar-nos neste assunto?”

O Guru disse, “Vejam, pensando que o Guru é o corpo, então o Guru não tem importância alguma. Pensando que o Guru é a alma, então o Guru e Deus são igualmente importantes; eles são um e o mesmo. Mas, sentindo que o Guru é o Eu Infinito, o Eu Transcendental, então se faz necessário perceber que não é o corpo do Guru nem a alma do Guru, mas sim o Supremo nele o Eu Transcendental. O Supremo é o Guru, o Guru de todos. Tentando separar o físico, a alma e o Eu Transcendental em três partes diferentes, jamais Deus será realizado, jamais será possível realizar a Verdade altíssima. Para se realizar a Verdade altíssima, deve-se servir ao aspecto físico do Mestre, amar a alma do Mestre e adorar o Eu Transcendental do Mestre. O mais importante é ver no físico a luz sem limites do Mestre; na alma, a consciência de inseparável unicidade; e no Eu, a eterna libertação. Só então, o Mestre e Deus podem tornar-se um.

“Deus e o Guru são igualmente importantes no Jogo Eterno, o Teatro Divino.”

 

 

 

 

 

 

DEVE-SE SEGUIR

A PRÓPRIA NATUREZA

 

(Um homem santo nada no rio, e um observador está sentado na margem, assistindo. O homem santo vê um escorpião bem diante de si. Com pena da pobre criatura, ele o pega e, bem devagar, com toda gentileza, o põe em terra. Enquanto faz isto, o escorpião o ferroa severamente. O homem começa a chorar de dor.)

 

HOMEM SANTO: Eu queria salvá-la e salvei-a. É essa a minha recompensa? De qualquer modo, cumpri meu dever.

 

(Alguns minutos depois, o escorpião cai de novo no rio. O observador continua assistindo.)

 

HOMEM SANTO: Ah, pobre criatura, você sofre novamente. Sinto pena de você.

 

(Ele pega o escorpião outra vez e o coloca em terra. Uma vez mais, o escorpião o ferroa, desta vez com mais força ainda, e o homem santo grita com tremenda dor.)

 

OBSERVADOR: Você é um tolo! Por que fez isso? Da primeira vez, errou, e da segunda, repetiu o mesmo erro.

 

HOMEM SANTO: Meu amigo, o que posso fazer? Minha natureza é amar, minha natureza é salvar. A natureza do escorpião é odiar, a natureza do escorpião é ferroar. Eu tenho de seguir minha própria natureza e o escorpião tem de seguir sua própria natureza. Se ele cair na água outra vez, eu o tirarei, não importando quantas vezes ele venha a cair. Serei picado, chorarei, lamentarei; mas não negarei minha natureza, que é amar, salvar e proteger os outros.

 

(O observador, imediatamente, pula no rio e toca os pés do homem santo.)

 

OBSERVADOR: O senhor é meu professor, meu Guru. Eu tenho procurado, ansiado por um Guru. Hoje, encontro no senhor meu verdadeiro Guru. E como sou seu discípulo, de agora em diante, se o escorpião cair no rio, serei eu quem vai colocá-lo de volta em terra.

 

(O discípulo canta.)

 

Amar bhabana

Amar kamana

Amar eshana

Amar sadhana

Tomar charane

Peyechhe ajike thai

Moher bandhan hiyar jatan

Timir jiban shaman shasan

Halo abasan nai nai ar nai

 

[Meus pensamentos, meus desejos, minha aspiração, as disciplinas da minha vida

Hoje encontraram morada a Seus Pés.

As amarras do apego tentador e as dores do coração,

A vida de escuridão e a tortura da morte,

Não mais vejo, não mais sinto.]

(Ele ajuda o homem santo a sair do rio. O Guru, agora sentado na margem, observa a cena. Em poucos minutos, o escorpião cai no rio. O discípulo o pega e o põe em terra firme, mas o escorpião não o fere.)

 

DISCÍPULO: Como pode, Mestre? Eu não fui ferido. Pensei que eu também seria ferroado pelo escorpião. O senhor foi ferido impiedosamente duas vezes. Eu não entendo.

 

MESTRE: Minha criança, você não compreende? Devo lhe dizer? Você acreditará em mim?

 

DISCÍPULO: Por favor, por favor, diga-me. Eu acreditarei no senhor, Mestre.

 

MESTRE: O escorpião também tem uma alma, e ela lhe disse que, se ele o picasse, ao invés de colocá-lo em terra, você o mataria imediatamente. O escorpião sabia que você não aceitaria aquilo, que não toleraria a ingratidão dele. De você, o escorpião não obteve qualquer garantia de sua segurança. O escorpião não o picou porque sentiu isso. No meu caso, a alma do escorpião sabia que eu jamais o mataria, independente de quantas vezes ele me picasse; eu apenas o pegaria e o colocaria em terra, para a segurança dele. No dia-a-dia, as pessoas também brigam, discutem e ameaçam outras apenas quando percebem que seus oponentes são fracos ou não querem brigar. Mas, caso vejam que alguém é mais forte do que elas, então ficam caladas.

 

DISCÍPULO: Mestre, o senhor tem discípulos?

 

MESTRE: Tenho muitos, muitos discípulos.

 

DISCÍPULO: O que o senhor faz com eles?

 

MESTRE: Eu dou e recebo, recebo e dou. Recebo seu veneno todos os dias e dou-lhes néctar. Recebo sua aspiração e dou-lhes realização. Recebo deles o que eles têm, ignorância, e dou-lhes o que eu tenho, sabedoria. Eles me dão a garantia da minha manifestação e eu lhes dou a garantia da sua realização. Nós necessitamos um do outro. Você precisa de mim para poder esvaziar-se – esvaziar sua impureza, imperfeição, obscuridade e ignorância – em mim. E eu preciso de você para poder enchê-lo com o meu todo, com tudo que há em meu interior. Assim é como completamos um ao outro. A sua natureza é dar-me o que você tem: impureza, obscuridade, imperfeição, limitação, apego e morte. Minha natureza é dar a você o que eu tenho: pureza, amor, alegria, luz, beatitude e perfeição. Quando sua natureza entra na minha natureza e minha natureza entra na sua natureza, ambos somos totalmente manifestos e totalmente completos. Assim é como o buscador e o professor satisfazem ao Piloto Eterno, o Supremo.

 

 

 

 

DOIS DISCÍPULOS

 

(Dois discípulos numa sala no ashram de seu Mestre)

 

PRIMEIRO DISCÍPULO: Eu disse, eu disse, eu disse!

 

SEGUNDO DISCÍPULO: O quê foi?

 

PRIMEIRO DISCÍPULO: Eu disse a você que nosso Mestre não tinha nada. Nada! Ele não tem poder espiritual. Ele não tem poder oculto. Ele só sabe falar. Ele fala sobre Realidade Transcendental, e Consciência Universal, e tudo o que ele pode fazer com seu poder oculto. Mas é tudo mentira. Ele sabe como falar e nós sabemos como ouvi-lo. Mas ele não tem nada, nada. Veja só, ele vem sofrendo desse reumatismo há três meses. Se tivesse ao menos um pingo de poder oculto, já poderia ter se curado.

 

SEGUNDO DISCÍPULO: Meu coração me diz que ele tem capacidade de se curar, mas Deus está pedindo-lhe que tenha essa experiência.

 

PRIMEIRO DISCÍPULO: Ele diz que está tirando nosso karma, mas não fizemos coisa alguma. Eu nada fiz de errado. Você e os outros discípulos também não. O que acontece é que ele nos culpa quando ele faz algo errado. Quem sabe o que ele fez de errado no mundo interior? É a razão para ser punido. E, exteriormente, ele nos culpa.

 

SEGUNDO DISCÍPULO: Ele nunca nos culpa. E eu acredito nele quando diz que está limpando nosso karma.

 

PRIMEIRO DISCÍPULO: Você acredita? Então, acredite. Fique com ele e sofra. Morra com ele.

 

SEGUNDO DISCÍPULO: Eu morrerei com ele. Não apenas morrerei com ele, mas morrerei por ele.

 

PRIMEIRO DISCÍPULO: Deus criou dois tipos de pessoas na Terra: um tipo para enganar, outro tipo para ser enganado; um tipo para tirar vantagens, outro tipo para ser explorado.

 

(Entra o Mestre. O primeiro discípulo começa a esgueirar-se para longe.

O segundo toca os pés do Mestre.)

 

MESTRE (para o primeiro discípulo): Então, você entende que eu não tenho capacidade, que apenas me vanglorio? Não sou o Mestre adequado para você. Você fará melhor indo para outro Mestre, ou esperando pelo Mestre adequado chegar. Deixe-me. Vá para casa e viva em paz. (Para o segundo discípulo) Você acredita em mim. É meu dever ajudá-lo, guiá-lo. Agora, diga-me, você realmente sente que tomo a sua ignorância, a sua imperfeição em meu corpo? Ou diz isso apenas porque estudou minha filosofia e livros escritos por outros? Você leu sobre Ramakrishna, que removeu a impureza, imperfeição e ignorância dos seus discípulos e sofreu tanto. Muitos, muitos Mestres espirituais disseram terem feito o mesmo. Você pensa que eu digo isso só porque tantos outros já o disseram? Pensas que estou apenas falando, ou acha que eu realmente removo coisas de vocês?

 

SEGUNDO DISCÍPULO: Mestre, eu sei o que o senhor tira de mim. Todos os dias, o senhor tira de mim insinceridade, obscuridade, impureza, inveja, dúvida, insegurança e muitas outras imperfeições. Para onde elas vão? Eu as dou ao senhor; elas vão para o senhor. Se ninguém mais na Terra acredita, não me importo. Mesmo que o senhor me diga que não as toma, que é o seu próprio karma, eu não acreditarei. Eu sei que Deus está dando-lhe essa experiência para o meu bem. Se eu tivesse de passar por essa experiência, talvez até morresse.

 

MESTRE: Minha criança, há duas razões para eu sofrer. Uma é que realmente tomo para mim os fardos, as imperfeições, as qualidades não-divinas dos meus discípulos próximos. Isso é o que o Supremo quer que eu faça. Há dois modos de extrair esse karma. Um é assumi-lo e sofrer; o outro modo é lançar as imperfeições do discípulo na Consciência Cósmica. Mas a maneira mais fácil, infinitamente mais fácil, é assumi-lo. É um caminho direto. Você sofre, e eu o toco e retiro seu sofrimento. O outro caminho é como levá-lo a um local diferente, para a Consciência Universal. A Consciência Cósmica pode ser vista como um monte de rejeito. Eu pego as suas impurezas e imperfeições e faço um pacote. Então, tenho de levar o pacote até lá e jogá-lo fora. Mas, daquela outra maneira, eu apenas o toco e, como um ímã, retiro seus sofrimentos, dores e qualidades não-divinas. É mais fácil, e é por isso que o faço. Deus quer que eu faça isso.

Eu digo a Deus: “Deus, minhas crianças me amam tanto e eu não as amo, eu não as agrado.” E então, Deus me diz: “Veja o quanto você sofre por elas. Veja o seu próprio amor, Meu filho – quão sinceramente, quão devotadamente você as ama. Você sente que na perfeição dos seus filhos está a sua perfeição, o que é absolutamente correto. Eles o amam apenas porque sentem que, se o possuírem, possuirão tudo. Elas o amam para terem-no; você as ama para poder trazê-las a Mim. Você as ama porque sente que, se puder trazê-las a Mim, terá cumprido o seu papel. Amando você por benefício próprio, elas sentem que fazem a parte delas. E, quando você as ama, quando as traz até Mim, para seu Altíssimo, você também sente que cumpriu a sua parte.”

Mas Deus também me deu outra razão para sofrer. Muitas pessoas vêm a mim com apenas desejos, desejos, desejos. Vêm a mim apenas para satisfazerem seus desejos. E quando veem que eu fico paralisado de dor, que também estou sujeito a sofrimentos e doenças, que sou tão fraco quanto eles, dizem: “Ele está inválido, desamparado. Como pode ajudar-nos? Como ele pode ser melhor do que nós?” Sentem que o melhor é procurarem outro que possa ajudá-los, e muitos partem. Mas a verdade é que Deus quer que essas pessoas me deixem. Quando se vão, meu barco fica mais leve e pode ir mais rápido em direção à Meta. Deus quer que aqueles que não aspiram deixem seu Mestre, assim tornando o barco do Mestre mais leve.

Essas são as razões por que sofro. Quando um discípulo sincero vê que estou sofrendo por ele, diz, “Se eu realmente amo meu Mestre, devo dar-lhe apenas alegria.” Então, o discípulo faz uma promessa, uma promessa interior: “Quero que ele sinta, constantemente, orgulho de mim. Nada me dará maior alegria do que ver meu Mestre sempre orgulhoso de mim.” E, assim, o discípulo não comete mais erros e o Mestre fica feliz e orgulhoso.

 

(O primeiro discípulo toca os pés do Mestre.)

 

PRIMEIRO DISCÍPULO: Mestre, por tanto tempo eu fui uma criatura inumana, desprovida de fé. De agora em diante, serei seu fiel e devotado discípulo.

 

SEGUNDO DISCÍPULO: Mestre, eu tenho sido um discípulo devotado e fiel por um longo tempo. Hoje, o senhor me contou o segredo do seu sofrimento. De hoje em diante, eu me considero uma importante parte consciente do senhor. Eu me considero um braço seu. Mestre, sua compaixão é a única salvação da minha vida.

 

PRIMEIRO DISCÍPULO: Mestre, seu perdão é a única salvação da minha vida.

 

MESTRE (para o primeiro discípulo): Reconhecendo a sua estupidez, a sua ignorância, você trouxe a sua divindade para a tona. (Para o segundo discípulo) Reconhecendo-me, a minha Verdade espiritual, você manifestou a Divindade de Deus na Terra. Manifestou a Vontade de Deus na Terra.

Um mestre verdadeiro e um discípulo verdadeiro – aforismos

 

 

O que é, como reconhecer, ensinamentos, discípulos e mais: a figura do Mestre espiritual

Logo abaixo está a página sobre o aforismos sobre a relação Mestre-discípulo, de uma de uma sequência de artigos sobre o Mestre espiritual, escritos por Sri Chinmoy. As outras páginas são:

Fonte: livro de Sri Chinmoy, chamado O Mestre e o Discípulo: considerações sobre a relação Guru-discípulo.

 


 

SEU VERDADEIRO PROFESSOR

 

Aquele que o inspira

É o seu verdadeiro professor.

Aquele que o ama

É o seu verdadeiro professor.

Aquele que o força

É o seu verdadeiro professor.

Aquele que o aperfeiçoa

É o seu verdadeiro professor.

Aquele que o valoriza

É o seu verdadeiro professor.

 

 

Um discípulo VERDADEIRO

Sabe que o coração de seu Mestre

É o seu único lar.

 

Um discípulo VERDADEIRO

Sabe que o seu sonho-vida-perfeição

Está edificado sobre

O coração-satisfação de seu Mestre.

 

 

Um discípulo VERDADEIRO sabe

Que o ecoar dos passos de seu Mestre

Irão compassiva, incessante

E infalivelmente

Chamá-lo para seguir.

 

 

 

O Guru vê no seu discípulo a própria imagem de Deus; portanto, ele é todo sacrifício para o discípulo. O discípulo vê e sente no seu Guru o único abrigo para suas limitações; então, ele é todo amor para o seu Guru.

 

O amor do Guru pelo seu discípulo é a sua força. A entrega do discípulo ao seu Guru é a força do discípulo.

 

O Guru é, ao mesmo tempo, a fonte das conquistas do discípulo e o mais leal servo do amor do discípulo.

 

O Guru tem apenas uma arma de compaixão: o perdão. O discípulo tem três espadas nuas: limitação, fraqueza e ignorância. Mesmo assim, o Guru vence com grande facilidade.

 

Alcançar a realização por conta própria e sozinho é como cruzar o oceano num bote. Mas atingir a realização através da Graça de um Guru é como cruzar o oceano num navio forte e veloz, que o transporta com segurança através do mar de ignorância até a Costa Dourada.

 

Ó discípulo, você sabe quem é o comprador mais tolo da terra? É o seu Guru e apenas o seu Guru. Ele compra a sua ignorância e lhe dá conhecimento; ele compra a sua impotência e lhe dá poder. Pode imaginar barganha mais tola? Agora, aprenda o nome da tolice do seu Guru: compaixão, e nada mais.

 

O professor humano mostra a você

Como ler.

O divino professor incansavelmente

Lê para você.

O primeiro conduz a sua mente

Ao portal da sabedoria,

O outro abre a sua alma

Para o vasto-céu Azul.

O som do silêncio – Yogod escuta uma velha árvore

felicidade-para-meditar-mandala-sri-chinmoypor Akrura Bogéa

Yogod, um ancião, morava numa casa simples, com uma pequena varanda de frente para o leste, onde o mestre sentava-se todas as manhãs para ver o nascer do sol. Na frente de sua varanda, tinha uma velha mangueira, que projetava a sua sombra na pequena varanda, tornando-a o lugar mais fresco da casa e vez por outra soprava uma brisa refrescante. Definitivamente aquele lugar era o predileto de Yogod. O ancião era um homem de poucas palavras. Quando lhe perguntavam algo pertinente, respondia monossilábico. Quando considerava que a pergunta era tola, nem se dava ao trabalho de respondê-la. Seus alunos conheciam as características e particularidades do seu professor e ainda assim o amavam, pois consideravam-no um sábio.

Certa vez, Yogod resolve encostar seu ouvido no tronco de uma velha árvore, diante de sua pequena varanda. Algumas pessoas caçoavam dele, outras acreditavam que ali tinha algo de muito especial, outras pessoas tentavam imitá-lo, nada ouviam e logo desistiam. O velho professor entrava em transe quando encostava o ouvido no tronco da velha mangueira. Certo dia, um de seus alunos resolve perguntar a Yogod:

– Mestre, o que essa frondosa mangueira é para você?

-Deus. Responde o professor, que não se move e continua a sua escuta.

Passados alguns meses, a casa de Yogod se tornou um local de peregrinação, e ele ficou conhecido como o mestre da árvore. Vinham pessoas de todos os lugares, umas davam-se as mãos em torno da árvore, outras cantavam mantras, outras acendiam velas, outras ajoelhavam-se diante da árvore e nada disso alterava as vidas dessas pessoas, que continuavam as mesmas.

O tempo foi passando, Yogod continuava ali diariamente com seus ouvidos colados no tronco da velha árvore, ora do lado esquerdo e ora do lado direito. Algumas pessoas diziam que Yogod era um louco, já que por anos estava ali diariamente na mesma prática e as pessoas que faziam o mesmo, nada ouviam, portanto ninguém era capaz de entender o que se passava ali, entre o mestre e a árvore.

-O senhor sente alguma coisa, quando escuta a árvore? alguém pergunta.

-Paz, responde o mestre.

A partir dessa resposta, os artistas e compositores invadem o terreiro de Yogod, para compor canções enaltecendo a paz e encenando peças de teatro com o mesmo tema. As pessoas iam e vinham e nada conseguiam, suas vidas continuavam a mesma. Em outra ocasião, alguém perguntou ao mestre:

-O Sr. vê alguma coisa quando escuta a árvore?

-Sim. Vejo luz, responde Yogod.

A partir daquela resposta do sábio para uns e louco para outros, as pessoas que o visitavam procuravam a luz da árvore, nada viam, desistiam e suas vidas permaneciam as mesmas.

Muitos anos se passaram, até que chega um determinado garoto e cola seu ouvido no tronco da árvore imitando o mestre quando de repente entra em êxtase. As pessoas fazem fila, para colocarem seus ouvidos o mais próximo possível do garoto. Yogod se afasta da árvore, senta-se na sua varanda sorrindo, vendo as pessoas se acotovelarem para sentirem o que o garotinho sente. Uma das pessoas ali presentes, resolve então perguntar ao garoto:

– O que você está exatamente ouvindo? faz-se uma pausa e o garoto responde:

-Nada.

O velho Yogod sorri, e entra em transe, iluminando-se junto com o garoto. Dizem que até nos dias de hoje, estão lá o garoto e o ancião Yogod, com seus ouvidos junto a velha árvore. Seus olhos brilham, seus sorrisos se abrem, suas feições tornam-se serenas e tranquilas para todos aqueles que resolvem visitá-los.

(Outras histórias de Yogod – o despertar espiritual)