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O significado da morte e experiências de quase morte

O significado da morte e experiências de quase morte

Textos de Sri Chinmoy, do livro Morte e Reencarnação

 


 

soul-birds-para-meditar-mandala-sri-chinmoyO significado da morte e experiências de quase morte


     Em uma de suas meditações diárias em seus livros, você se refere à morte como uma obstrução. Eu achava que você considerava a morte uma transição, que simplesmente nos permite renascer e fazer progresso contínuo.

 

Eu disse que a morte é uma transição. Disse que a vida e a morte são como dois cômodos: a vida é a minha sala e a morte é o meu quarto. Ao dizer que a morte é uma obstrução, falo da morte de um ponto de vista diferente. O que é uma obstrução? Uma obstrução é algo que nos impede de ir mais longe. É um limite através do qual não passamos.

Esta vida é uma oportunidade dourada que nos foi dada pelo Supremo. Mas, oportunidade é uma coisa e realização é outra. Nossa evolução espiritual, nosso progresso interior, é bastante certo, lento e, ao mesmo tempo, muito significativo. Naturalmente, existem pessoas que por centenas e milhares de encarnações seguirão um ciclo de vida e morte normal, natural. Num dia, na Eternidade de Deus, elas O realizarão. Mas alguns aspirantes sinceros e genuínos fazem uma promessa plena de alma de que nesta encarnação, aqui e agora, eles realizarão Deus. Isso é dito apesar de saberem que esta não é nem a primeira nem a última vida deles. Eles sabem que existem pessoas que realizaram Deus e, portanto, não querem esperar por alguma encarnação num futuro distante. Sentem que é inútil viver sem Deus-realização e almejam alcançá-la tão logo quanto possível. Nesses casos, se a morte chega e eles ainda não realizaram Deus, então ela é uma obstrução. Caso alguém destinado a morrer com a idade de cinquenta anos, alguém que esteja aspirando com toda alma, possa atrasar a sua morte por vinte ou trinta anos, tudo com a mais bondosa aprovação do Supremo, então o que fará durante esse tempo? Continuará com sua aspiração sincera, com sua meditação mais profunda, com sua contemplação mais elevada. Será como um corredor seguindo em direção à sua Meta, sem obstáculo. Durante esses vinte ou trinta anos adicionais ele pode alcançar o final mais longínquo, onde sua Meta reside.

Mas, se a morte interfere, então ele não realiza Deus nesta vida. Muito poucas almas podem encontrar imediatamente o fio da sua antiga aspiração na próxima vida. Tão logo se entra no mundo, as forças cósmicas não-divinas vêm e atacam; e a ignorância, as limitações e imperfeições do mundo tentam encobrir a alma. Durante os anos de formação, na infância, não lembramos de nada. Uma criança é inocente, ignorante e desamparada. Então, após alguns anos, a mente começa a funcionar. Quando se tem entre oito e doze anos de idade, a mente tenta complicar tudo. Portanto, pelos primeiros onze, doze ou treze anos da próxima encarnação, quase todas as almas, apesar de serem grandiosas e espirituais, esquecem suas conquistas do passado e seu clamor interior mais profundo. Existem Mestres espirituais ou buscadores grandiosos que têm algumas experiências elevadas durante a infância, ou que começam a pensar ou cantar sobre Deus em uma idade bastante tenra, mas normalmente não há um elo entre as conquistas da alma na Terra durante a encarnação anterior e os anos da infância desta encarnação. Existe uma ligação, uma ligação muito tênue, mas ela não opera de maneira significativa pelos primeiros doze ou treze anos.

Algumas almas não recuperam a aspiração de sua encarnação passada antes dos cinquenta ou sessenta anos. Do ponto de vista espiritual, esses cinquenta ou sessenta anos foram tempo perdido. Portanto, se nesta encarnação alguém perde cinquenta anos, e se na encarnação passada já perdeu vinte ou trinta anos, então serão oitenta anos desperdiçados. Nesse caso, digo que a morte é uma verdadeira obstrução. Precisamos remover a obstrução com nossa aspiração, nossa aspiração continuada. Esta deveria ser como uma bala, atravessando a barreira da morte.

Mas, mesmo que leve algum tempo, por fim o ser interior virá à tona conscientemente, e a pessoa, em sua nova encarnação, começará a orar e meditar em Deus o mais poderosa e sinceramente. E verá que nada do seu passado foi de fato perdido. Tudo ficou guardado na consciência-Terra, que é o depósito comum para todos. A alma saberá o quanto realizou na Terra, e tudo isso estará guardado de uma maneira muito segura dentro da consciência-Terra, do depósito-Terra. Aqui, você deposita dinheiro no banco. Então, pode ir à Inglaterra e depois de seis anos você pode voltar e retirar o seu dinheiro. A alma faz o mesmo após ter deixado o corpo por dez ou vinte anos. Todas as conquistas da alma são mantidas intactas, dentro da Mãe-Terra. Então, quando a alma retorna para trabalhar por Deus na Terra, a Mãe-Terra as devolve.

Na maioria dos casos, nada é perdido, exceto tempo, durante aqueles poucos anos da infância. Mas é melhor realizar Deus em uma encarnação, de modo a não perder mais uma vez a nossa aspiração consciente durante o período transitório. Se pudermos permanecer na Terra por cinquenta ou cem anos com aspiração formidável e sincera, então podemos conquistar muitas coisas. Se tivermos ajuda de um Mestre espiritual verdadeiro, é possível realizar Deus em uma encarnação, ou talvez em duas ou três. Se não houver um Mestre verdadeiro e se não houver aspiração, levará centenas e centenas de encarnações.

 

     Quando morremos, qual a melhor coisa a se fazer?

 

Para uma pessoa espiritual, a melhor coisa é lembrar da presença de seu Mestre. Os entes queridos deveriam colocar uma foto de seu guia espiritual bem à frente do buscador e deixar que o Mestre esteja com ele espiritualmente quando o buscador der o último suspiro. Deixe que o Mestre esteja dentro do próprio alento, do último suspiro do buscador. Então é dever e responsabilidade do guia interior fazer o que for necessário. No seu caso, bem antes de você deixar o seu corpo, seu Mestre já terá deixado o corpo dele. Você pode meditar em mim e eu o ajudarei.

No ano passado o seu pai morreu. Se você estivesse fisicamente presente, o que deveria ter feito é meditar o mais devotadamente possível. Apesar de seu pai não ser conscientemente meu discípulo e não ter aceitado o nosso caminho, quem sabe o que fará ele em sua próxima encarnação? Você sabia que havia alguém que poderia ter auxiliado seu pai enquanto estava morrendo, portanto deveria ter meditado em mim. Sempre se conhece alguém que possa ser de ajuda em qualquer situação. Quando se está doente, chama-se o médico. Quando se têm problemas legais, pede-se ajuda a um advogado. Se quisesse ajudar o seu pai, imediatamente deveria ter pensado em mim e meditado em mim. Se tivesse aspiração ou poder espiritual formidável, teria dado a ele toda a sua força espiritual. Sua força espiritual é a aspiração, e a fonte de sua aspiração está dentro do seu Mestre, do seu Guru. Portanto, se quiser ajudar seus entes queridos, é assim que deve agir.

Contudo, se estiver referindo-se a outras pessoas, para saber o que é o melhor a se fazer quando elas estão morrendo, é preciso saber quem deu a elas a maior alegria na Terra, ou em quem eles tinham a maior fé. Se alguém tinha toda fé no Cristo, mesmo que você não siga o caminho de Cristo, imediatamente invoque, consciente e o mais devotadamente possível, a presença de Cristo. Naquele momento, ajude seu amigo a aumentar sua fé no Cristo. Pode repetir em voz alta o nome de Cristo, trazer ao seu amigo uma imagem do Cristo e ler a Bíblia. Dessa maneira você o estará ajudando em sua aspiração. Se uma pessoa espiritual que me conhece está morrendo, naquele momento você deve ler meus escritos e falar sobre mim. Mas se a pessoa é apenas um conhecido, você deve aumentar a sua fé à maneira dela.

 

 

     Existe alguma maneira especial para meditarmos com alguém que está morrendo?

 

Suponha que você foi ver um conhecido no hospital. Então você deve se concentrar no coração dele. Não precisa olhar para a pessoa, apenas coloque toda a sua concentração no coração dela.

Tente primeiro imaginar um círculo no coração dela, e então sinta que esse círculo está girando como um disco. Isso significa que a energia-vida está a rodar conscientemente na aspiração ou no receptáculo da pessoa que está doente. Através da sua concentração e meditação, você estará entrando no pulsar do coração daquela pessoa. Quando entra nas batidas do coração, então a sua consciência e a consciência aspirante ou moribunda da outra pessoa rodam juntas. Enquanto estiverem rodando, ore com todo o seu ser para o Supremo, que é o seu Guru e o Guru de todos: “Que a Sua Vitória seja alcançada. Que a Sua Vontade seja feita através desse indivíduo. Quero apenas a Sua Vitória.” Vitória não implica que a pessoa será curada, não. Deus pode ter decidido por uma ótima razão que aquela pessoa precisa deixar o corpo. Se você orar a Deus de uma maneira entregue e a pessoa deixar o corpo, estará satisfazendo a Deus e lutando pela Vitória de Deus. Se Deus quiser levá-la ao Céu para que lá ela possa fazer algo por Ele, então naturalmente será a Vitória de Deus quando ela deixar o corpo. Se orar pela Vitória do Supremo, com sua aspiração você estará entregando toda a responsabilidade ao Supremo. Quando você conscientemente entrega a responsabilidade ao Supremo, está fazendo a coisa certa.

 

 

     Qual deveria ser a postura dos entes queridos de alguém que está morrendo?

 

Somos todos como passageiros num mesmo trem. O destino chegou para um dos passageiros. Ele deve descer nesta parada, mas nós devemos seguir adiante. Devemos saber que a hora dessa morte foi sancionada pelo Supremo. Sem a aprovação ou tolerância do Supremo, ser humano algum pode morrer. Portanto, se temos fé no Supremo, se temos amor e devoção pelo Supremo, sentimos que o Supremo é infinitamente mais compassivo do que qualquer ser humano, infinitamente mais compassivo do que nós, que desejamos ficar com nossos entes queridos. Mesmo se a pessoa que está morrendo for nosso filho, nossa mãe ou nosso pai, nós temos de saber que ela é infinitamente mais querida pelo Supremo do que é por nós. O Supremo é nosso Pai e nossa Mãe. Se um membro da família vai de encontro ao seu pai ou mãe, os outros membros nunca se entristecerão.

Se nos voltamos para a vida espiritual e queremos ter verdadeira alegria, devemos saber que podemos obtê-la apenas entregando nossa vida à Vontade do Supremo. Podemos agora não saber qual a Vontade do Supremo, mas sabemos o que é entrega. Se o Supremo quiser tirar alguém de nossas vidas, precisamos aceitar. “Seja feita a Vossa Vontade.” Se essa for a nossa postura, então teremos a maior alegria. E essa alegria faz o melhor por aquele que está partindo. Quando nos entregamos completamente ao Supremo, essa entrega se torna poder e força adicional para a alma que aqui sofre aprisionada e está partindo. Portanto, se realmente entregarmos nossa vontade à Vontade do Supremo, tal entrega trará paz verdadeira, uma paz duradoura, para a alma que está prestes a deixar o palco-Terra.

Aqueles que começaram a meditar e se concentrar podem estar recebendo vislumbres de suas encarnações passadas. Se acreditamos que tivemos um passado e sabemos que temos um presente, podemos também realizar que teremos um futuro. Sabendo disso, devemos estar sempre conscientes desta verdade: não existe morte. No Bhagavad Gita foi dito: “Como um homem descarta suas roupas velhas e veste novas, também a alma descarta o corpo físico e toma um novo corpo.” Sabendo que a pessoa que morre está apenas deixando seu corpo antigo antes de tomar um novo, e possuindo ela também esse mesmo conhecimento, como pode haver medo?

Não sabemos exatamente o que é a morte e por isso queremos ficar aqui na Terra pelo maior tempo possível. Mas a morte verdadeira não é a dissolução do corpo físico. A verdadeira morte, a morte espiritual, é outra coisa.

 

 

     Eu tinha um jovem amigo que morreu há apenas seis semanas. No dia anterior à sua morte, ele disse ao pai que morreria no dia seguinte, e de fato morreu. Como ele pôde saber?

 

Por que não deveria? Não é ele filho de Deus? Na época da morte, se uma pessoa pensa em Deus todo o tempo, ela pode receber a mensagem através de seu próprio ser interior. Quando minha mãe estava para morrer, eu estava a dez quilômetros de distância. Ela sofria de gota. De manhã cedo, ela disse: “Esta manhã estarei deixando o corpo. Onde está Madal? Chamem-no.” Então um dos meus primos trouxe a mensagem até mim e eu fui. Ela tomou minha mão, e então sorriu, seu último sorriso. Ela se foi um minuto depois que eu cheguei, como se tivesse esperado por mim. Agora eu devo ser sincero. Minha mãe era muito, muito espiritual, e costumava praticar a vida interior no sentido mais rigoroso da palavra. Mas quanto ao seu amigo, devo dizer que centenas e milhares de pessoas souberam de suas mortes antecipadamente. Para pessoas espirituais é bastante fácil. É comum que saibam com alguns meses de antecedência.

 

 

     Está escrito na palma da mão de uma pessoa quando ela morrerá?

 

Pela palma da mão nem sempre se pode dizer quando alguém morrerá. Caso a morte seja acidental, a palma pode não estar correta. Mas a fronte está sempre certa. Ela mostra uma vibração clara. Nela estará escrito o que acontecerá ao indivíduo amanhã, e será visível na região do nariz se uma morte acidental ocorrerá.

Eu tive um amigo que gostava muito de mim. Seu nome era Ravi. Num certo dia, às seis horas da tarde, ele praticava arremesso de dardo. Quando ele me deu o dardo, vi forças de morte nele, mas pensei: “A melhor coisa é esquecer, ou orar a Deus.” Eu não queria ficar sabendo. No dia seguinte, eu estava descendo as escadas, e ele estava perto da escadaria. Vi novamente a mesma força e praguejei contra mim mesmo, dizendo que era tudo alucinação da mente. Uma hora e meia mais tarde, me disseram que ele tinha sofrido um acidente junto com seu amigo, ao dirigir uma moto atrás de um caminhão. Eles estavam seguindo o caminhão, quando este reduziu a velocidade. O amigo dele pensou que estaria diminuindo sua velocidade também, mas, ao contrário, ele a aumentou, arremetendo contra o caminhão. O motorista do caminhão ouviu o barulho e levou ambos ao hospital, onde eles foram colocados num quarto. A mãe de Ravi quis vê-lo, mas não pôde, pois o médico disse que ambos os casos eram graves. Acho que ele viveu apenas três horas. Uma aparição havia vindo até mim enquanto eu praticava arremesso de dardo. O dia em que ele morreu era o dia da nossa competição de arremesso de dardo, à qual eu não fui; fui apenas ao funeral. Neste caso específico, Ravi estava destinado a morrer.

 

 

     Quando uma pessoa está doente e, do ponto de vista médico, não há esperança de recuperação, seria bom dizer-lhe que ela morrerá e ajudá-la a se preparar para partir?

 

É uma pergunta bastante complicada – cada caso necessita ser considerado separadamente. A maioria das pessoas quer viver, não quer morrer, por não saber o que é a morte. Talvez pensem que a morte seja um tirano que as torturará de todos os modos e por fim as destruirá. Quando o karma de alguém acaba e o Supremo quer que ele deixe o corpo, se ainda tiver sede vital e desejos insatisfeitos – mesmo que a alma não os tenha – o indivíduo desejará permanecer na Terra, sem desejar obedecer à Vontade do Supremo. O que você deveria fazer quando uma pessoa está nesse nível? Se disser a ela que Deus não deseja a sua permanência na Terra por mais tempo, que já teve todas as experiências necessárias naquele corpo, ela poderá entender errado. E dirá: “Deus não quer que eu deixe o corpo – vocês é que o desejam.” Ela pensará que você é cruel e impiedoso. Portanto, se você sabe que é a Vontade do Supremo que ela deixe o mundo, a melhor coisa é falar silenciosamente à alma da pessoa e tentar inspirá-la a aceitar a Vontade de Deus.

Contudo, se a pessoa é bastante espiritual e uma buscadora sincera, ela mesma dirá aos seus familiares e entes queridos: “Orem a Deus para que Ele me leve. Eu terminei o meu jogo aqui na Terra; leiam para mim livros espirituais – as escrituras, a Bíblia, o Gita. Deixem que eu ouça apenas coisas divinas, espirituais, as quais me ajudarão a começar minha nova jornada.” Existem muitas, muitas pessoas na Índia que, quando sentem que seus dias estão contados, dizem: “Quanto mais cedo Ele me levar, melhor.” Quando minha mãe estava morrendo, ela costumava ler o Gita constantemente durante os seus últimos dias, com a seguinte visão: “Agora irei até o Eterno Pai. Estou me preparando.” Um paciente desse tipo tem a maior alegria em conhecer e obedecer à Vontade do Supremo.

 

 

     Os médicos devem sempre tentar manter as pessoas vivas tanto quanto for possível, ou depende do caso?

 

Se uma pessoa é espiritual, os médicos e familiares deveriam tentar mantê-la na Terra por quanto tempo for possível, porque pessoas espirituais estão sempre lutando contra a morte. Mas pode acontecer que alguém completamente imprestável esteja morrendo em duas horas. Mesmo se você o mantiver na Terra por mais vinte e quatro horas, ele não pronunciará o nome de Deus uma vez sequer. Mas se alguém tem a capacidade de entoar com toda a alma o nome de Deus apenas uma vez mais durante a sua vida, então ele realizará algo no mundo da alma. Isso será adicionado às outras realizações nesta vida e na próxima encarnação sua vida será um pouco melhor.

Na Índia, algumas pessoas vivem por mais de duzentos anos, mas não têm tempo para orar a Deus nem mesmo uma vez em seis meses ou em um ano. De um ponto de vista espiritual, essas pessoas são como um pedaço de rocha sólida. Para elas, cada ano representa mais tempo desperdiçado. Mas se alguém puder permanecer na Terra por apenas uma hora a mais para invocar a presença do Supremo durante essa hora, então é naturalmente melhor que permaneça na Terra. Mesmo que alguém esteja inconscientemente pensando em Deus, então é melhor que continue na Terra pelo tempo que for possível.

 

 

     Se os médicos tirarem a vida de um paciente que supostamente deveria permanecer vivo, eles adquirirão karma ruim?

 

Quando os médicos fazem algo errado conscientemente, criam problemas esplêndidos para suas futuras encarnações. Os médicos não são perfeitos – eles podem não saber o suficiente sobre ciência médica. Se cometerem um engano e acidentalmente matarem um paciente, sua ignorância é perdoada pelo Supremo. E, se não podem dar atenção suficiente porque têm muitos pacientes, o Supremo verá se é ou não culpa deles. Agora, se deliberadamente tirarem a vida de alguém apenas para se livrar do paciente, a lei do karma está presente para cuidar deles.

 

 

     Há uma moça que está completamente inconsciente há semanas. Eles dizem que ela pode viver sem consciência anos a fio. E num caso desses?

 

Se há a menor esperança da força-vida estar operando em e através dela, a melhor coisa é tentar mantê-la na Terra. Enquanto a alma está no corpo, existe esperança para tal pessoa. Se ela permanece na Terra por cinco meses, é porque há um motivo.

 

 

     Eles não estão tentando trazê-la de volta à consciência, estão apenas mantendo seu corpo vivo, e alegam que o cérebro dela não funciona, que não existem ondas cerebrais.

 

Devem continuar tentando, porque a energia-vida ainda opera. Se a alma não estiver presente, as máquinas não poderão manter o corpo vivo por mais do que algumas horas. Quando existe a vibração da alma numa casa, mesmo se alguém sair dela, você sentirá sua presença remanescente. Da mesma forma, o coração continua batendo porque permanece a vibração da alma.

 

 

     Existe alguma razão para esse tipo de experiência?

 

O Supremo está usando Sua lei do karma. Suponha que os pais fizeram algo grave para a moça em uma encarnação anterior. Agora a alma diz: “Pois não, nesta encarnação eu os purificarei. Eu perdurarei, perdurarei e perdurarei. Vocês terão de pagar pelas suas ações erradas. Nesta encarnação eu me vingarei.” Se a alma sabe que a paciente não será curada, e se for também de conhecimento da família, então é vingança.

A alma pode estar desfrutando a experiência, pode estar esperando pelo momento certo de ir embora ou pode simplesmente estar passando por uma experiência. Sentimos que a pessoa está realmente morta, mas quem sabe que tipo de experiência a alma está tendo? Ao invés de cinco minutos, ela pode continuar por cinco anos. Qualquer coisa é possível. Pode não ser uma experiência saudável, mas a alma deseja passar por ela. Os seres humanos comuns frequentemente fazem algo por muitos anos unicamente para mostrar ao mundo que aquilo é possível, mas esse algo pode não ser necessariamente encorajador ou inspirador.

 

 

     Você pode adiar a hora da morte com o seu poder-vontade?

 

Certamente.

 

 

     Você pode fazê-lo indefinidamente?

 

Mestres espirituais podem adiar a hora da morte indefinidamente se for a Vontade de Deus. Uma pessoa espiritual recebe esse poder quando atinge a perfeição espiritual, porque então estará absolutamente entregue a Deus. Um discípulo vai até o Guru e se entrega completamente. Da mesma forma, um Guru deve ser completamente entregue a Deus, o Infinito. Nessa entrega ele se torna um com Deus. Ele não viola a Lei de Deus – ele apenas procura satisfazê-la. Se Deus diz: “Eu quero que você deixe o corpo agora”, ele deixa o corpo. Mas, se ele vê que forças hostis o estão atacando e causando sua morte prematuramente, ele usa seu poder, porque Deus tem a intenção de que ele viva na Terra para ajudar a humanidade.

Ter esse poder não é de utilidade se você deseja permanecer na Terra por duzentos ou trezentos anos apenas para levar uma vida ordinária animal. Uma tartaruga vive por centenas de anos, mas isso não significa que ela seja melhor do que um ser humano. Do que precisamos é de iluminação direta, conhecimento da Verdade, conhecimento da Luz e conhecimento de Deus. Não são os anos que contam, mas sim as realizações.

 

Por que a morte é necessária?

Por que a morte é necessária?

Textos de Sri Chinmoy, do livro Morte e Reencarnação


 

mortereencarnacao     Por que a morte é necessária? Por que a alma não pode continuar a progredir e evoluir no mesmo corpo?

 

Por enquanto, morrer é preciso – a morte nos é necessária. Nada podemos fazer por um tempo muito prolongado, de uma vez só. Jogamos durante quarenta e cinco minutos ou uma hora e, então, precisamos descansar. Acontece o mesmo com a nossa aspiração. Suponha que vivamos até os sessenta ou setenta anos na Terra. De sessenta ou setenta anos podemos meditar por vinte ou trinta dias e, mesmo assim, por apenas algumas horas. Um ser humano comum sequer consegue aspirar continuamente por uma hora em sua meditação. Como terá ele a aspiração, a realidade ou a consciência que o levará à Verdade eterna ou à Consciência imortal, todas de uma só vez?

Por enquanto, a morte nos ajuda por um lado – nos permite que descansemos. Quando então retornamos, o fazemos com uma nova esperança, uma nova luz, uma nova aspiração. Mas, se fôssemos dotados de uma aspiração consciente, uma chama ascendente ardendo dentro de nós o tempo todo, veríamos que a morte física pode ser facilmente conquistada. Chegará o dia em que a morte não será necessária. Mas ainda não possuímos tal capacidade; somos fracos. Mestres espirituais, almas libertas, no entanto, possuem domínio sobre a morte, deixando seus corpos quando o Divino assim deseja.

Um homem comum que carregou o peso de uma família toda por vinte, trinta ou quarenta anos dirá: “Estou cansado. Agora preciso descansar.” Para ele, a morte tem significado; a alma entra na região das almas e desfruta de um breve descanso. Mas, para um guerreiro divino, para um buscador da Verdade Última, a morte não tem significado. Ele quer fazer progresso contínuo, sem interrupções. Portanto, tentará viver em eterna, constante aspiração. E com essa eterna aspiração buscará conquistar a morte, para que possa se tornar uma eterna manifestação exterior do Divino que há em seu interior.

 

 

 

Superando o medo da morte através da meditação

 

 

Como podemos vencer o medo da morte?

 

Neste momento você tem medo da morte porque pensa em si mesmo como o corpo, a sua mente, os seus sentidos. Mas chegará o dia em que, pela força de sua aspiração, oração e meditação, pensará em si mesmo não como o corpo, mas sim como a alma. Pensará em si próprio como um instrumento consciente de Deus. E, já que Deus é onipresente, já que Ele o está utilizando para Se manifestar, como poderia Ele, algum dia, abandoná-lo à morte?

Conquistar o medo da morte depende de quanto amor você tem por Deus e quão sinceramente precisa Dele. Se você precisa de alguém, imediatamente estabelece um acesso interior a essa pessoa. Se a sua necessidade de Deus é constante, devotada e plena de alma, então você estabelece no mundo interior um acesso livre ao Amor de Deus, à Compaixão de Deus, ao Cuidado de Deus. E, se pode sempre sentir o Amor, a Compaixão e o Cuidado de Deus, como pode ter medo da morte? Ao sentir que precisa de Deus e que Ele precisa de você, ao sentir Deus dentro de si mesmo, à sua frente e ao seu redor, a morte não mais existe para você. Quando Deus está longe da sua mente, quando não Se encontra dentro de seu coração e não Se encontra em nenhum lugar próximo, nesse momento a morte é real para você. À parte disso, onde há morte? O corpo físico pode deixar a Terra, mas a alma, que é parte consciente de Deus, permanecerá conscientemente em Deus e por Deus, através da Eternidade. É você quem decide pensar em si mesmo como o corpo ou como a alma. Se não aspira e pensa em si mesmo como o corpo, você já está morto na vida espiritual. Mas, se pensa em si mesmo como a alma, isso significa que já desenvolveu uma conexão interior com Deus. Se souber que a alma é a sua verdadeira realidade, você não terá medo algum da morte.

 

     A meditação pode ajudar as pessoas a conquistarem o medo da morte?

 

Certamente. A meditação pode facilmente ajudar o buscador a conquistar o medo da morte. Ela representa comunicação consciente com Deus. Alguém que possa estabelecer sua unicidade com Deus, Aquele que é todo Vida, não terá medo da morte. Conquistará não apenas a morte, mas também algo mais. Conquistará sua dúvida com relação à existência de Deus na sua vida e na vida dos outros. É muito fácil sentir que Deus existe apenas em nós, ou apenas em pessoas espirituais. Todavia, se meditamos, torna-se claro que Deus existe não apenas dentro de nós, mas também dentro de pessoas das quais não gostamos ou não apreciamos.

 

 

 

Vida eterna

 

 

     Você pode dizer algo sobre Eternidade e a Vida Eterna?

 

Sendo um homem espiritual, posso dizer na força de minha própria realização interior que a alma não morre. Sabemos que somos eternos. Viemos de Deus, estamos em Deus, crescemos em Deus e satisfaremos a Deus. Vida e morte são como dois quartos – ir da vida à morte é como ir de um aposento a outro. Onde estou agora é a sala de estar, e aqui estou falando e meditando com vocês, vendo-os. Aqui devo mostrar meu corpo físico; devo trabalhar, ser ativo e expor a minha vida. Contudo, há um outro aposento, o meu quarto. Lá eu descanso e durmo, e não preciso expor a minha existência a ninguém. Estarei por conta própria.

Originamo-nos da Vida Infinita, da Vida Divina. Essa Vida Infinita permanece na Terra por um curto período de tempo, digamos cinquenta ou sessenta anos. Nesse ínterim possuímos em nosso interior a vida terrena. Todavia, dentro dessa vida terrena reside a Vida ilimitada. Depois de um certo tempo, essa Vida novamente passa pelo corredor da morte por cinco, dez, quinze ou vinte anos. Quando entramos nesse corredor, a alma sai do corpo, para um curto ou longo descanso, e retorna para a região da alma. Lá, se a pessoa foi espiritual, a alma retomará a Vida Eterna, a Vida Divina que existia antes do nascimento, que existe entre o nascimento e a morte, que existe na morte e, ao mesmo tempo, vai além da morte.

Agora, enquanto vivemos na Terra, podemos alcançar o reino da Vida Eterna através de nossa aspiração e meditação. Todavia, simplesmente entrando na Vida infindável, não possuiremos essa Vida; temos de crescer nela conscientemente. Quando entramos para a vida de meditação, por fim precisaremos nos tornar parte e parcela da meditação. E, quando formos capazes de meditar vinte e quatro horas por dia, estaremos constantemente vivendo a Vida sem fim. Em nossa consciência interior devemos nos tornar um com a alma. Quando vivemos no corpo, sempre existe morte. No momento em que o medo chega à nossa mente, no momento em que forças negativas chegam à nossa mente, nós morremos de imediato. Quantas vezes ao dia nós morremos! O medo, a dúvida e a ansiedade estão constantemente destruindo nossa existência interior. Mas quando vivemos na alma, não existe morte. O que há é uma constante evolução de nossa consciência, de nossa vida de aspiração.

 

 

O inferno existe?

 

     É o inferno um lugar nos mundos vitais ou é apenas um estado de consciência?

 

No nível físico-mental, o inferno é um lugar, e serve para a experiência da alma. Se você levar uma vida ruim irá para lá, onde existe tortura verdadeira, inimaginável. Principalmente para aqueles que cometeram suicídio, a tortura é infinitamente pior do que ser frito em óleo quente. O sofrimento que os suicidas passam no físico e vital sutis é impensável, intolerável. Não terão uma nova encarnação por um longo período. Após sofrer no mundo vital por muitos anos, quando finalmente encarnam, terão defeitos: cegueira, paralisia, retardo mental e todo o tipo de coisas. E isso não dura apenas uma encarnação. Se não forem perdoados por um Mestre espiritual ou pela Graça de Deus, poderá perdurar por algumas encarnações. Não bastando isso tudo, desde o início eles criam uma perturbação para toda a família em que nascem. Por exemplo, se um suicida encarna sendo insano, trará sérios problemas para toda a família. E essas almas também aumentam o seu karma ruim, pois continuam agindo da mesma maneira, sem mudar. Mas se a Graça de Deus se faz presente, ou se um Mestre espiritual intervém, a alma é auxiliada.

Quando vivemos na consciência física bruta ou na consciência-corpo, o inferno é realmente um lugar. Mas no nível espiritual mais elevado, devemos saber que o inferno, como o Céu, é um plano de consciência. Tanto o Céu quanto o inferno começam na mente. No momento em que pensamos em algo bom, no momento em que oramos e meditamos, e tentamos oferecer a luz interior que recebemos em nossa meditação e oração, começamos a viver no Céu. No momento em que pensamos maldades, criticamos e acalentamos pensamentos ruins sobre alguém, entramos no inferno. Nós criamos o Céu e o inferno. Com os nossos pensamentos divinos criamos o Céu. Com os nossos pensamentos ruins, insensatos, não-divinos, criamos o inferno dentro de nós. Céu e inferno são ambos estados de consciência em nosso interior. Quando buscamos em nosso interior profundo, vemos que o universo inteiro está lá dentro. Dentro deste corpo físico está o corpo sutil e dentro do corpo sutil, no coração, encontramos a presença da alma. E, de lá, se buscarmos ainda mais profundamente, veremos o universo inteiro.

 

 

A alma e a evolução no planeta Terra

 

 

     A alma pode reencarnar em outros mundos após a morte?

 

A alma que entrou em um corpo humano não pode e não reencarna em outros mundos. A alma pode passar através de outros mundos: os envoltórios físico, vital, mental e psíquico. Tão logo a alma deixa o corpo, ela passa através desses planos seguindo até a sua própria região. Mas lá a alma não reencarna. A alma está apenas atravessando esses lugares, os quais são parte da sua jornada de descoberta. Ela visita esses planos, mas não reencarna neles. A alma reencarna apenas no mundo físico, na Terra. Aqui e somente aqui deve a alma manifestar sua divindade.

Existem sete mundos superiores e sete mundos inferiores, e, durante o sono ou a meditação, a alma de todos viaja para essas outras regiões. Ela pode atravessar um mundo após o outro e ir até o mais elevado; ou pode vagar pelas regiões inferiores. Uma pessoa comum não é capaz de sentir os movimentos da alma, mas um grande aspirante espiritual ou um Mestre espiritual pode saber como está a alma e em que plano se localiza. Mas a reencarnação acontece apenas aqui na Terra, neste mundo.

 

 

     Você poderia, por favor, explicar por que a alma evolui apenas no planeta Terra?

 

A alma se manifesta apenas neste planeta porque ele está em evolução. Evolução significa progresso constante, realizações constantes. Quando se quer fazer progresso, quando se quer ir além, então este é o lugar. Nos outros mundos, os deuses cósmicos e outros seres estão satisfeitos com o que já alcançaram. Eles não querem ir sequer um centímetro além do que já alcançaram. Mas aqui na Terra você não está satisfeito, eu não estou satisfeito, ninguém está satisfeito com o que alcançou. Insatisfação não significa que estamos zangados com alguém ou com o mundo, não. Insatisfação significa que temos aspiração constante para ir além e além. Se tivermos apenas uma gota de luz, desejaremos então ter mais luz. Queremos sempre expandir.

Quando a criação iniciou, as almas tomaram caminhos diferentes. Aquelas que buscavam a Verdade derradeira, a Verdade infinita, aceitaram o corpo humano para que um dia pudessem possuir, revelar e manifestar a Verdade aqui na Terra. De acordo com a nossa tradição indiana, existem milhares de deuses cósmicos. Existem tantos deuses e divindades regentes quanto seres humanos. Esses deuses e divindades regentes permanecem nos mundos mais elevados, seja no mundo vital, no mundo intuitivo ou em outro plano elevado. Neste exato momento de acordo com a sua capacidade limitada, eles têm mais poder do que nós. Mas quando estivermos libertos e realizados, completamente unos com a Consciência do Supremo, com a Vontade do Supremo, então transcenderemos a condição deles.

A nossa capacidade humana é infinitamente maior do que a das assim chamadas divindades regentes, porque elas estão satisfeitas, ao passo que nós não estamos satisfeitos com o que temos. Na verdade não é uma questão de insatisfação, mas sim de aspiração constante. Sabemos que o nosso Pai Supremo é infinito. Sentimos que ainda não nos tornamos o Infinito, mas clamamos por expandir e expandir. Este planeta possui tal anseio interior. De um lado, é obscuro, ignorante, e não dá valor à vida divina. Mas por outro lado, tem um anseio interior tremendo, do qual a maioria dos seres humanos ainda não está ciente. Quando o anseio interior atua, então não há fim para as nossas possibilidades, não há fim para as nossas conquistas. E, quando conquistarmos o Infinito, teremos ido adiante das conquistas de outros mundos.

 

 

     É a alma quem determina pelo que passará enquanto estiver no plano da Terra?

 

É a alma quem determina o que ela fará aqui na Terra. Todavia, a nossa mente humana frequentemente faz amizade com a ignorância e a escuridão. Assim, certas almas têm dificuldades, algumas menores e outras maiores. A alma aceitou o destino humano. Se a mente física continua a tomar parte nos desejos mundanos e usufruir as coisas mundanas, naturalmente a alma precisará lutar mais bravamente para se erguer da ignorância. Por algum tempo ela pode ficar completamente encoberta pela ignorância.

Mas, ao mesmo tempo, existem algumas almas que não têm problemas pessoais. São bastante grandes e vastas. Esse tipo de alma poderosa sente que toda a humanidade é sua família. Com toda a sinceridade, ela toma os problemas dos outros sobre si mesma, como se fossem seus próprios problemas. Essas almas são muito graciosas e estão dispostas a aceitar e abrigar o sofrimento de outros. Os grandes Mestres espirituais aceitam as dificuldades da humanidade como se fossem suas. Se quisessem se separar da humanidade, não sofreriam. Mas, aceitando a humanidade, por ela escolhem sofrer, e o fazem muito intensamente. Um ser humano comum que tenta ajudar os outros que estão sofrendo fica preso no sofrimento deles. Já uma alma realizada aceitará a todos e a tudo, todavia sempre inundada de Deleite absoluto. Mesmo enquanto sofre ela sente Deleite interior, porque possui união constante com o Divino, com o Supremo.

 

 

 

Como saber qual a sua encarnação passada

 

 

     Ajudaria sabermos qual tipo de animal fomos nas encarnações passadas ou que tipo de pessoa éramos?

 

Quando entramos para a vida interior e desenvolvemos a nossa consciência interna, a nossa capacidade interior, reminiscências de encarnações passadas acabam vindo à tona. Em nossa meditação profunda, podemos facilmente perceber que tivemos vidas anteriores. E, se sabemos que tivemos um passado, que o presente ainda não está completo, e que nós mesmos não permaneceremos incompletos para sempre, o anseio do presente nos levará para o futuro, onde alcançaremos a nossa plenitude. Ao mesmo tempo, poderemos acelerar o nosso progresso se tivermos um Mestre. Se formos muito dedicados à vida interior e pudermos contar com o Guru, seremos capazes de fazer o progresso de vinte encarnações em uma vida.

Agora, imagine que tomamos conhecimento de que fomos um cervo em nossa última encarnação animal. A única vantagem é que podemos pensar em nossa velocidade e dizer: “Eu corria tão rápido na encarnação animal. E naquela época eu não tinha a alma avançada que tenho agora. Nesta encarnação, eu correrei ainda mais rápido!” Tão logo a lembrança de que corríamos rapidamente em uma encarnação passada nos vem, sentimos inspiração para correr velozmente nesta encarnação. Se conhecermos a nossa encarnação passada, poderemos utilizá-la positivamente, e nessa hora a inspiração vem rapidamente à tona. Se alguém sabe que era um buscador, sente alguma alegria e confiança. “Eu comecei a minha jornada em uma encarnação passada, apesar de ter sido uma estrada muito longa e árdua. Nesta encarnação eu ainda trilho o mesmo caminho, mas desta vez já não tenho mais toda aquela distância a percorrer. Também, será um pouco mais fácil porque eu tenho uma pequena ajuda, tenho a capacidade, tenho a disposição, tenho a experiência. Com um Mestre espiritual guiando-me, alcançarei a minha meta facilmente.”

Todavia, apenas em ocasiões muito raras fazemos bom uso do conhecimento das nossas encarnações passadas. Na maior parte dos casos, estar ciente delas não é nada encorajador. Se soubermos que na encarnação passada fomos ou um ladrão ou algo não-divino, isso nos traria alguma inspiração ou aspiração? Não, e pensaremos imediatamente: “Ó, eu era um ladrão, e nesta encarnação estou tentando me tornar um santo. É impossível! De nada adianta tentar me tornar uma pessoa espiritual nesta vida.” Mesmo quando fazemos algo de errado nesta encarnação, precisamos de um longo tempo para esquecer do desespero, pois argumentamos: “Eu era tão mau. Eu fiz isso. Eu fiz aquilo. Como poderei agora me tornar puro? Como serei capaz de realizar Deus?” Mesmo se tivermos feito algo errado, digamos, quatro anos atrás, aquilo pode ainda nos incomodar.

Imagine que estamos cientes de que em nossa encarnação passada éramos bastante grandiosos e nesta encarnação vemos que não somos ninguém. Nos sentiremos desolados, culpando a Deus e a nós mesmos, dizendo: “Se fui tão grandioso, como é que nesta encarnação eu sou tão imprestável? Que coisa impensável eu fiz para merecer este destino? Deus é tão indiferente; Ele não se importa comigo.” Mas, na verdade, nós não O compreendemos. Através de nós, Deus quer nesta encarnação uma experiência diferente, e pensamos que Ele está sendo cruel.

Um aspirante busca alegria interior, a alegria que verdadeiramente o satisfaz e também a Deus. Isso ele nunca receberá de suas encarnações passadas. Se, mergulhando em uma de suas encarnações passadas, vir que era o presidente dos Estados Unidos, ainda assim não terá satisfação. Verá que, como presidente, a sua vida também era cheia de desolação, frustração e todos os tipos de sofrimento. Pela verdadeira alegria, um aspirante deve seguir em frente na vida espiritual, com a sua própria aspiração e clamor interior, com a sua própria concentração e meditação.

O melhor para nós é simplesmente não pensar no passado. A nossa meta não está atrás de nós, mas sim à nossa frente. A nossa direção é avante, e não para trás. Para uma pessoa espiritual eu sempre digo: “O passado já foi.” Digo isso pois o passado não nos deu aquilo que almejamos. O que desejamos é a Deus-realização. Conhecer as nossas encarnações anteriores não nos ajuda em nossa Deus-realização. Esta depende inteiramente do nosso choro interior. O importante não é o passado, mas sim o presente. Devemos dizer: “Eu não tenho passado. Estou começando aqui e agora, com a Graça de Deus e a minha própria aspiração. Agora começarei a correr. E o quão longe corri no passado é irrelevante. Pensarei apenas em quanto correrei nesta vida.”

Agora vemos o passado como algo completamente diferente do presente, e o presente como algo completamente diferente do futuro. Mas, uma vez que realizamos Deus, o passado, presente e futuro tornam-se um, formando um círculo, o qual é o nosso próprio ser interior, a nossa vida. Nesse momento, poderemos facilmente ver as nossas encarnações anteriores e saber o que fomos.

Se quiser saber sobre as suas encarnações passadas, certamente Deus lhe dará a capacidade. Mas a coisa mais importante não são as encarnações passadas ou futuras, mas, sim, o que você quer aqui e agora. Você quer Deus, e se medita com toda alma, Ele está fadado a conceder-lhe a dádiva. Você O possuirá, e Ele o clamará como Seu.

Desejo dizer uma coisa mais aos meus discípulos. Agora, permitam que eu me vanglorie um pouco, e vocês também podem se gabar um pouquinho. Vocês tiveram vidas espirituais nas encarnações passadas. Se não tivessem algum preparo, acham que Deus os teria trazido até mim? Não, ele os teria levado para algum outro Mestre que fosse um centímetro inferior a mim. Mestres espirituais do meu calibre recebem discípulos que buscaram ou realizaram algo no passado. Alguns fizeram mais, outros menos. Mas todos fizeram algo, senão teriam tido outro Mestre espiritual e não a mim. Deus é bondoso tanto comigo quanto com vocês. Ele não enviará alunos de jardim de infância para o professor de ensino médio. Guardará os alunos de jardim de infância para os professores que não podem ministrar aulas mais avançadas. Em raras ocasiões, um ou dois discípulos vêm até mim após algumas poucas encarnações humanas, mas essas poucas almas têm um desejo intenso de transcender a sua presente consciência.

 

 

     Caso alguém seja um buscador bastante avançado e desenvolva a capacidade de ver as suas encarnações passadas, isso irá, na verdade, dificultar o seu progresso? Em outras palavras, é sempre ruim se um buscador descobrir que foi um ladrão ou algo assim no passado?

 

Se você medita o mais sinceramente nesta vida, a sua força interior irá automaticamente se desenvolver, e você alcançará o ponto onde não será perturbado mesmo se descobrir que era o pior criminoso em uma encarnação anterior. Sabe que veio aqui para se transformar, para ir em direção ao Divino. O Senhor Buddha revelou todas as suas encarnações anteriores: ele foi um cabrito e muitas outras coisas. Mas, porque tinha realizado Deus e alcançado a Verdade altíssima, foi fácil para ele dizer o que foi em nascimentos anteriores. Era irrelevante o fato de ele ter sido bastante mundano em suas encarnações anteriores.

 

 

     Se um homem morre e possui muita estima e compaixão por um cão ou outro animal, isso fará com que reencarne como um animal também? Soube de uma história em que, na Índia, algo aconteceu a um cordeirinho enquanto um grande sábio estava meditando. O sábio tomou conta do cordeiro e ficou bastante afeiçoado, o que fez com que se tornasse também um cordeiro em sua próxima encarnação.

 

A maior escritura da Índia e também a mais extensa no mundo é chamada Mahabharata. No Mahabharata existe um bom número de histórias em que um ser humano mais tarde reencarna como animal. Existe uma história famosa sobre um rei chamado Bharata, que tinha muito apreço por um cervo, e que supostamente se tornou um cervo em sua encarnação posterior. Ramakrishna, o grande Mestre espiritual, demonstrava muito afeto a Swami Vivekananda, o seu mais querido discípulo. Ele costumava procurar o discípulo para falar com ele, e as pessoas achavam que Ramakrishna era louco. Um dia Vivekananda disse a ele: “O que você está fazendo? Não conhece a história do Rei Bharata, que, de tão apegado ao seu cervo, tornou-se um cervo em sua próxima encarnação? A sua sorte será a mesma que a dele, se pensar constantemente em um ser humano comum como eu.” Ramakrishna levou o que Vivekananda disse a sério e perguntou à Mãe Kali: “É verdade que o meu destino será similar ao do Rei Bharata?” Ela disse: “Isso é besteira! Você gosta de Naren [Vivekananda] porque vê Deus nele. Não é porque ele é belo ou algo assim. Não, você gosta dele porque a manifestação de Deus é expressa nele. Por isso fica tão feliz em vê-lo.”

Portanto, se demonstrar compaixão a alguém, isso não significa que se tornará aquela pessoa. Se um pedinte pede esmola e você demonstra a sua profunda compaixão por ele e lhe dá dinheiro ou comida, isso não quer dizer que você mesmo se tornará um pedinte. De maneira similar, se tiver um cão, você pode demonstrar o seu amor pelo cão, porque ele é extremamente leal a você e por outras coisas. Mas isso não implica que você se tornará um cão por admirar as qualidades do seu amado cão. As boas qualidades, a lealdade do cão, você pode, sim, possuir em sua existência humana, mas sem viver uma vida animal. Simplesmente por demonstrar apego a um animal, você não se tornará um animal, pois já passou por aquele estágio. O que se aproveita são as boas qualidades do animal.

 

 

     É possível para um indivíduo se lembrar de detalhes das suas encarnações passadas?

 

A alma pode facilmente lembrar-se de suas encarnações passadas, mas não deseja fazê-lo. Digamos que em uma encarnação passada você estava vivendo em Connecticut e agora está vivendo em Porto Rico. Por que deveria lembrar-se diariamente de como era a sua casa em Connecticut ou quantos quartos havia lá? O seu dever agora é ficar em Porto Rico, na sua casa atual. Se alguém perguntar onde você vive, você dirá: “Eu vivo em Porto Rico.” E se alguém perguntar o número de quartos da sua casa, imediatamente pensará nessa casa e não na sua casa anterior.

Por favor, não dê atenção alguma ao passado. Agora você deve fazer o seu próprio trabalho. Deve manifestar as qualidades que Deus lhe concedeu. Você tem de fazer tudo aqui e agora. A alma não se importa muito com o corpo em que viveu numa encarnação anterior. Ela pode se lembrar que em uma encarnação passada as circunstâncias, o ambiente e as oportunidades eram melhores. Mas a alma não se importa. Ela quer apenas satisfazer a Deus à maneira própria Dele.

Você aceitou o seu destino. Trabalhará e estudará aqui em Porto Rico. A alma também se sente assim. Ela diz: “Agora estou neste corpo. Deixe-me manifestar o quanto eu puder. Pensar sobre o que eu poderia ter feito no passado não resolverá os meus problemas. Apenas o que farei agora poderá solucionar todos os meus problemas.”

Caminhar em sentido contrário seria uma perda de tempo. A nossa meta está à nossa frente, e não atrás de nós. A alma não se importa nem um pouco com o passado. Ela deseja apenas alcançar a meta. A Deus-realização se encontra à nossa frente, e não em nosso passado. Se caminharmos para trás, estaremos desperdiçando o nosso tempo.

 

 

     Todas as almas passam por centenas ou milhares de encarnações antes da realização?

 

Sim, apenas Mestres espirituais não passam por tantas encarnações. Existem algumas exceções entre os Mestres espirituais, mas a maioria deles não deseja passar por tantas encarnações.

 

 

 

 

Suicídio

 

 

Às vezes, as pessoas suicidam-se ateando fogo em si mesmas como protesto contra a guerra. Do ponto de vista espiritual, o que se ganha com isso?

 

Em uma família, frequentemente os irmãos lutam entre si. Então a mãe diz: “Se vocês não pararem, eu cometerei suicídio.” Conheço muitos casos onde os pais cometeram suicídio quando sentiram que era impossível manter a harmonia na família. Os filhos mudam imediatamente. Ao ver que seus pais morreram por causa das suas brigas, começam uma nova página na vida. Mas isso não dura, e logo estão os irmãos brigando novamente.

Do ponto de vista espiritual, o suicídio não serve a propósito algum. A mãe se sacrificou por seus filhos. Através de seu próprio sacrifício físico ela achava que criaria harmonia, mas no mundo vital não há escapatória, não há perdão para ela. Ela irá para o mundo vital pela sua tolice, e lá ficará. Por que ela não teve a sabedoria de ver que seus filhos não são seus filhos, mas filhos de Deus? Se Deus deu a ela esses filhos, então por que ela não buscou Deus, para que iluminasse a consciência deles? Por que não orou a Deus pela sua harmonia e paz?

O mundo permanecerá ignorante a não ser e até que o Supremo ilumine a consciência mundial. Se sacrificarmos nossas próprias vidas para trazer paz, os problemas do mundo nunca serão solucionados.

Muitos mártires, aspirantes e personalidades espirituais cometeram suicídio, mas aquilo não resolveu os problemas do mundo. Tais problemas se resolverão apenas através da aspiração, ao orar a Deus pela iluminação do mundo, enquanto estamos na Terra. Nossa morte nunca transformará a face do mundo. Mas se invocarmos a Bênção de Deus, a Graça e o Cuidado de Deus, o problema poderá ser solucionado.

 

 

     É o inferno um lugar nos mundos vitais ou é apenas um estado de consciência?

 

No nível físico-mental, o inferno é um lugar, e serve para a experiência da alma. Se você levar uma vida ruim irá para lá, onde existe tortura verdadeira, inimaginável. Principalmente para aqueles que cometeram suicídio, a tortura é infinitamente pior do que ser frito em óleo quente. O sofrimento que os suicidas passam no físico e vital sutis é impensável, intolerável. Não terão uma nova encarnação por um longo período. Após sofrer no mundo vital por muitos anos, quando finalmente encarnam, terão defeitos: cegueira, paralisia, retardo mental e todo o tipo de coisas. E isso não dura apenas uma encarnação. Se não forem perdoados por um Mestre espiritual ou pela Graça de Deus, poderá perdurar por algumas encarnações. Não bastando isso tudo, desde o início eles criam uma perturbação para toda a família em que nascem. Por exemplo, se um suicida encarna sendo insano, trará sérios problemas para toda a família. E essas almas também aumentam o seu karma ruim, pois continuam agindo da mesma maneira, sem mudar. Mas se a Graça de Deus se faz presente, ou se um Mestre espiritual intervém, a alma é auxiliada.

Quando vivemos na consciência física bruta ou na consciência-corpo, o inferno é realmente um lugar. Mas no nível espiritual mais elevado, devemos saber que o inferno, como o Céu, é um plano de consciência. Tanto o Céu quanto o inferno começam na mente. No momento em que pensamos em algo bom, no momento em que oramos e meditamos, e tentamos oferecer a luz interior que recebemos em nossa meditação e oração, começamos a viver no Céu. No momento em que pensamos maldades, criticamos e acalentamos pensamentos ruins sobre alguém, entramos no inferno. Nós criamos o Céu e o inferno. Com os nossos pensamentos divinos criamos o Céu. Com os nossos pensamentos ruins, insensatos, não-divinos, criamos o inferno dentro de nós. Céu e inferno são ambos estados de consciência em nosso interior. Quando buscamos em nosso interior profundo, vemos que o universo inteiro está lá dentro. Dentro deste corpo físico está o corpo sutil e dentro do corpo sutil, no coração, encontramos a presença da alma. E, de lá, se buscarmos ainda mais profundamente, veremos o universo inteiro.

 

 

     Se alguém morre de maneira violenta, a sua alma é submetida ao mesmo sofrimento a que é submetida a alma de alguém que comete suicídio?

 

Não, não é o mesmo. Se alguém se torna vítima de guerra ou se morre violentamente em um acidente de carro, é porque algumas forças ruins a levaram. No entanto, se alguém destrói o próprio corpo, ele se torna o agressor. Portanto, vítima e agressor não podem ser colocados na mesma categoria.

 

 

     Mas e se um prisioneiro político comete suicídio para acabar com o insuportável sofrimento? Essa pessoa teria o mesmo tipo de punição que alguém teria ao tirar a própria vida como um capricho de escapismo?

 

Depende dos méritos e deméritos. Durante a guerra, quão desumana e brutalmente as pessoas nos campos de concentração foram torturadas e mortas. Mas, e se eles mesmos tiraram suas próprias vidas porque não queriam ser mortos ou surrados sem motivo? Saibamos que existe algo chamado isenção de Deus. Digamos que essas pessoas são inocentes e estão sendo mortas. Para que não sejam mortas pelo inimigo, elas podem desejar tirar suas próprias vidas.

Na Índia e também em outros lugares ocorreram muitos casos onde dois guerreiros estão lutando e um deles sabe que o outro certamente já venceu, sendo uma questão de minutos ou segundos até que seja destruído ou derrotado. Este imediatamente dará um fim à sua vida. O seu sofrimento não seria o mesmo caso houvesse simplesmente cometido suicídio.

 

 

     A alma sofrerá se uma pessoa cometer hara-kiri, uma forma de suicídio considerada honrada no Japão?

 

Depende da particularidade de cada caso. Normalmente, as pessoas cometem suicídio porque não conseguem encarar a realidade; elas têm problemas emocionais ou os seus desejos não são satisfeitos. Mas cada caso é diferente e apenas Deus pode decidir. No caso de Mestres espirituais, estes podem deixar o corpo quando quiserem. Mas eles não ferem o físico. A alma sai de maneira ocultista e espiritual. Mas primeiro eles devem ter a permissão do Supremo.

 

 

     Se alguém tenta algo quase impossível para salvar a vida de outra pessoa e morre nessa tentativa, seria como suicídio?

 

Deve-se saber o motivo. A mãe que vê o filho se afogando pode não saber que a intenção de Deus é que ela permaneça na Terra e cuide de seus outros filhos. Ela vê apenas que seu filho está se afogando e então tenta salvá-lo. Caso ela morra, isso não seria suicídio.

 

     A sua filosofia afirma que a alma está sempre fazendo progresso, mas como você concilia isso com o fato de que quando alguém comete suicídio a sua alma cai?

 

Quando se comete suicídio a alma da pessoa na verdade não cai. Mas permanece em um certo lugar e é encoberta por infinitos mais véus de ignorância. É a consciência do indivíduo que cai, retornando ao ponto de partida, quase até à consciência mineral, onde não há evolução. A alma fica eclipsada por abundante ignorância, isto quer dizer, infinitas camadas de ignorância. Antes, talvez a alma tivesse dez camadas, mas agora possui incontáveis camadas de ignorância. Ela deve começar tudo novamente, removendo-as uma a uma. É claro, fica infinitamente mais difícil para a alma levar o indivíduo à perfeita perfeição, libertação ou salvação.

Mas se o Supremo quiser agir em um ser humano em particular, o qual cometeu suicídio, em ocasiões muito, muito raras, o Supremo pede aos Mestres espirituais, os quais possuem a capacidade, que cuidem daquela alma e que não permitam que ela seja envolvida por tão vasta ignorância. Nesses casos, o que quer que a alma já possua é suficiente para trazer a Graça e Compaixão do Supremo, e Ele não permitirá que um véu a cubra mais do que o habitual. Entretanto, isso é feito somente em ocasiões muito raras.

De outra forma, se alguém comete suicídio, a evolução pára indefinidamente para ele – por cem, duzentos, quinhentos, seiscentos anos ou mais. Ele não consegue ir adiante, e a carga mais pesada é colocada em seus ombros. O processo de evolução pára. Por ter violado as leis do Jogo Cósmico, ele deve se submeter à punição cósmica. Essa punição não pode nunca ser concebida por qualquer ser humano na Terra. A pior tortura terrena não é nada quando comparada com a punição cósmica que o indivíduo recebe quando comete suicídio.

Você não pode dizer às forças cósmicas: “Eu fiz algo errado, mas não é da sua conta. Alcançarei a minha meta apenas quando tiver vontade.” Você saiu do Jogo Cósmico intencionalmente, sem a permissão de Deus e contra a Sua intenção. Ele não permitiu que você deixasse o jogo, mas ativa e abertamente você O contrariou e tentou arruinar o jogo. Para essa má ação, a punição é das mais severas, tão intensa que não podemos senti-la com o nosso coração humano, e somos incapazes de imaginá-la com a nossa mente humana.

 

 

 

 

Cremação e enterro

 

 

 

 

     Qual a diferença entre a cremação e um enterro comum?

 

A diferença exterior você sabe: quando há cremação, o corpo é queimado; quando há enterro, o corpo é colocado num esquife e enterrado. Particularmente adoradores do fogo são os indianos. Sentem que o fogo não só consome tudo, mas também purifica tudo. Portanto, para o fogo nós temos um deus, cujo nome é Agni. Oramos a Agni por purificação e auto-conhecimento, e também entregamos nossos mortos a ele.

Do ponto de vista espiritual, sabemos que o corpo veio a existir a partir de cinco elementos: terra, água, ar, éter e energia. Dos cinco elementos a casca material veio à existência, e com a ajuda do fogo ela retorna aos cinco elementos. Com a cremação, o corpo físico se dissolverá em purificação absoluta, que aqui significa transformação.

Mas, no Ocidente, aqueles que preferem o enterro também têm sua interpretação espiritual. Surge uma espécie de compaixão espiritual, pois o corpo nos serviu tão fielmente, e então dizemos: “Oh!, eu utilizei este corpo por tantos anos e nunca dei descanso a ele. Agora a alma não está mais lá; o pássaro voou. Deixe-me dar uma chance de descanso ao corpo, colocando-o num esquife.” Os que preferem queimar o corpo sentem que ele, que fez tantas coisas tolas e más na vida, precisa de purificação. E aqueles que dão importância ao enterro querem proporcionar ao corpo um descanso confortável.

 

 

O que é a alma?

O que é a alma?

Textos de Sri Chinmoy, do livro Morte e Reencarnação


 

     São as mesmas almas que continuam retornando à Terra?

 

     As mesmas almas retornam, mas o Supremo também cria novas almas. Por várias razões, muitas almas pediram para descansar antes de completar a sua parte no Jogo Cósmico. Aqueles que seguem rigorosamente o caminho do Senhor Buddha e entraram em Nirvana não retornaram. Então o Supremo envia novas almas ao mundo para substituí-las.

 

 

     A alma costuma ter a mesma aparência desde o princípio e no decorrer de suas várias encarnações?

 

     Sim, ela costuma parecer a mesma. Mas dentro da alma está o ser psíquico, o qual cresce. Uma vez que toma forma, a alma costuma permanecer daquele jeito, e o ser psíquico cresce gradualmente, como uma criança pequena. De início o ser psíquico é bastante pequeno, mas ele cresce. Em buscadores espirituais o ser psíquico está mais desenvolvido do que em outros seres humanos.

 

 

     Uma alma bela sempre escolhe um ser exterior belo?

 

     Todas as almas são originalmente belas. Mas se uma certa alma é especial, em sua manifestação exterior também veremos doçura, beleza, serenidade, pureza e todas as outras qualidades divinas. Aquilo que somos interiormente também o somos exteriormente.

     Alguns têm almas muito refinadas, almas maravilhosas, mas em seus hábitos exteriores essas pessoas são infelizmente muito rudes, não iluminadas e não civilizadas. Por que isso acontece? É porque a mente e o vital não foram tocados de maneira adequada pela luz da alma. Esses indivíduos não estão interessados na luz da alma e querem continuar muito rudes, e, portanto, suas vidas carecem de harmonia. Em sua manifestação exterior eles são absolutamente infelizes e desolados.

     Existe outra razão para desarmonia entre a vida exterior e a vida interior. Se plantarmos uma semente de mangueira, naturalmente teremos mangas. Mas, às vezes, existem outras árvores ao redor dela, as quais arruínam a sua beleza. De maneira similar, se os membros de uma família não querem saber da vida espiritual, se são absolutamente obscuros, não-aspirantes, eles podem simplesmente esmagar as boas qualidades de uma criança. Como pode uma criança maravilhosa chegar a essa família não-divina? É o seu destino. Mas, geralmente, se alguém tem uma alma bela, então a expressão exterior da alma também será bela.

 

 

     A alma sempre precisa de pais físicos para reencarnar?

 

     Nesse momento o corpo físico deve vir de pais físicos. Mas, de acordo com a maioria das autoridades espirituais, chegará o dia onde não serão necessários pais para se trazer uma criança à Terra em um corpo físico. Isso será feito no plano oculto, e a alma virá num corpo luminoso. O mundo está evoluindo gradualmente em direção a esse estágio.

 

 

     Eu li que quando a alma encarna no mundo é como se estivesse entrando num campo de batalha. É verdade?

 

     Cada vez que retornamos ao campo da manifestação e adentramos o mundo, é como entrar numa batalha. Aqui o buscador espiritual, o soldado divino, deve lutar contra o medo, dúvida, ansiedade, preocupação, limitação, contra as amarras e contra o seu maior inimigo, a morte. Ele luta constantemente contra a ignorância, e a morte é prole da ignorância. Luta, e então perde a batalha e morre, ou então conquista todas essas imperfeições e forças negativas, retornando vitorioso para Deus.

 

 

     Quando a alma reencarna em um novo corpo, o que acontece com o coração espiritual? Ele também segue de uma vida à outra como a alma faz?

 

     Quando a alma deixa o corpo, ela leva consigo a quintessência das experiências que o corpo, mente, vital e coração tiveram naquela vida. Mas, ao retornar para a região da alma, não leva consigo o coração, o vital ou a mente. E quando reencarna em um novo corpo, a alma – ou você pode dizer o corpo psíquico ou Purusha – é a mesma. Ela ainda carrega as realizações e experiências de suas vidas passadas, mas agora aceita um novo coração, uma nova mente, um novo vital e um novo corpo.

 

 

     Quando a alma retorna, ela não retoma o mesmo vital?

 

     Ela pode retomar o mesmo vital ou um vital que esteja mais desenvolvido. É como comprar coisas numa loja. Você deixa algo na loja e então retorna e leva aquela mesma coisa, ou algo mais belo. Ao invés de ficar com o seu antigo relógio de pulso, pode comprar um novo. E uma outra pessoa, que tenha menos dinheiro, gostará do seu relógio antigo.

 

 

     Todos têm um vital e mente que já foram usados? Alguém já usou o meu vital antes, ou o meu coração?

 

     A alma não se importa, contanto que ela os tenha. É como uma bola de futebol ou um instrumento qualquer. Você o usa por um tempo e, então, se não gostar daquele que esteve usando, pode escolher outro. Mas, se você gostar de uma certa bola, poderá usá-la diversas vezes, até que fique totalmente gasta ou que você fique completamente satisfeito. Depende do que a alma deseja realizar. Às vezes, a alma escolhe uma mente bastante poderosa, e às vezes não a considera necessária. Quando se joga futebol com bons jogadores, deseja-se usar uma bola de boa qualidade. Entretanto, caso esteja jogando com jogadores que não são tão bons, você poderá usar qualquer tipo de bola. Portanto, depende de com quem a alma vai jogar no campo de batalha da vida.

 

 

     Porque a alma escolheria uma mente que duvida ou um vital agressivo?

 

     A alma não escolhe uma mente duvidosa. A alma aceita a mente, mas a própria natureza da mente é duvidar.

 

 

     A alma procuraria encontrar uma mente mais iluminada?

 

     Onde está a graça se todos os bons estão no mesmo time? Onde estaria o jogo? A mente também está evoluindo. Quando algo está no processo de evolução, naturalmente levará tempo para que alcance a meta. Para você, mesmo um dia possui significado. Na Visão de Deus, duzentos anos é menos do que um segundo; não é nada. Aqui na Terra, mesmo se a mente é muito iluminada, a consciência da Terra pode não ser capaz de receber a luz da mente. É como um coração puro. Um coração puro sofre simplesmente por ser um coração puro. Por que as pessoas espirituais sofrem? Por causa da magnanimidade de seus corações. Existem muitas pessoas que têm um coração puro, mas não um coração forte. Mas, se quiser permanecer na Terra, precisará de um coração puro e também forte.

 

 

     Se a mente faz progresso, o que acontece?

 

     Se a mente faz progresso, ela tentará sustentar o seu progresso, e da próxima vez que a alma receber aquela mente, ela será de valia. Se uma mente em particular alcançou alguma iluminação, esta será mantida.

 

 

     A mente esquece os detalhes de sua experiência terrena?

 

     A mente não precisa se lembrar daquelas coisas. É como lembrar do que comi hoje, de como alguma discípula cozinhou. Mas, se souber que a discípula foi muito amável comigo, que trouxe comida sempre que eu quis, isso basta. Não tenho de lembrar quantas vezes ela me trouxe comida ou quantas vezes eu apreciei. Lembrarei apenas do seu serviço abnegado. Se a mente quiser saber que tipo de comida foi trazida, ela não será capaz de dizer. Mas será de fato capaz de lembrar-se do trabalho abnegado da discípula.

 

 

     O que fazem os seres mentais no mundo da mente?

 

     Às vezes eles dormem, às vezes eles inspiram, às vezes eles entram nas mentes humanas e instigam os seres humanos. De repente um pensamento pode aparecer na sua mente sem que você saiba de onde veio.

 

 

     Quando a alma escolhe uma mente ou vital, ela já sabe que tipo de vida terá?

 

     É uma questão de possibilidades. Deus sabe de tudo, mas Ele mantém o futuro encoberto. Mesmo o próprio Deus não usa a Sua Visão última todo o tempo; se o fizesse, não haveria jogo. Digamos que em quarenta e cinco minutos o jogo acabará. Ele pode colocar diante da Sua Mente esses quarenta e cinco minutos, e digamos então que hoje Ele contará de um até quarenta e cinco, passando por cada número: um, dois, três, quatro, cinco, seis, e assim por diante. Mas, se no dia seguinte Deus contasse “um” e logo em seguida pulasse para o “quarenta e cinco”, as pessoas diriam: “Qual é a graça em jogar com Você, se Você pode pular do um para o quarenta e cinco e nós não?” É por isso que Deus não joga dessa maneira.

 

 

     Quando uma criança encarna em uma família, é possível que a alma da criança seja menos desenvolvida do que as almas dos pais?

 

     Às vezes os pais são inferiores, muito inferiores às crianças, e outras vezes os pais são superiores. Mas, da mesma maneira que no mundo exterior os pais tentam fazer com que suas crianças sejam sábias e bem-educadas, no mundo interior, se os pais oram e meditam em seus filhos, as crianças farão progresso e crescerão.

 

 

     A alma pode fazer alguma escolha com relação ao ambiente para o qual retornará e quanto ao corpo que tomará quando reencarnar?

 

     Ninguém impõe nada à alma. Ela é quem faz a escolha, mas esta deve ser aprovada pelo Supremo. A alma, enquanto sentada no topo da árvore sente que, se retornar à Terra, será para a sua verdadeira satisfação. Mas, como você sabe, o mundo é cheio de imperfeições e limitações. E quando a alma toca a base da árvore, sente que lá existem forças obscuras, forças malignas, tentando capturá-la e devorá-la. Então, após fazer a escolha, às vezes a alma sente que o ambiente que escolheu não é saudável, e pode deixar o corpo.

 

 

     Você disse que a alma escolhe a família em que nascerá. O que acontece com a alma se ela escolhe uma família ruim?

 

     Vamos pensar na alma como a proprietária da casa e na família como a casa. Como proprietário, se você não sente que essa casa esteja lhe trazendo alegria ou satisfação verdadeira, imediatamente tentará conseguir outra que lhe traga satisfação sincera. Caso uma alma sinta aversão a uma certa família, ela pode deixar o seu presente corpo e entrar em outro. Já que a alma tem sabedoria e luz, ela retornará para um lugar onde tenha um ambiente melhor, um ambiente que permita maior plenitude. Se a casa for boa, então a alma não precisa se mudar. Quando tem uma boa casa, você não quer se mudar dela, mas sim tirar o maior proveito dela. Quando a alma recebe uma casa adequada, o que quer dizer um bom ambiente e uma boa família, em que todos aspiram, naturalmente ela permanecerá lá.

 

“Vida após a morte” – escrevendo suas experiências espirituais

vida apos a morte experiencia espiritualApesar do nome “vida após a morte” possa ser bastante impactante, na verdade vamos falar sobre algo muito natural na vida de um buscador espiritual, e como isso pode auxiliá-lo e aos outros também.

É algo que o Cristo disse como:

“ Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus.”
Nicodemos perguntou-lhe: Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez?
Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus.
O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito.
Não te maravilhes de que eu te tenha dito: Necessário vos é nascer de novo.
O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito.
João 3:3-7

 

 

Na verdade, não está se falando de forma alguma da morte física nem de uma EQM (experiência de quase morte) . Trata-se do homem, ainda vivo, ter uma vida completamente nova.

Isso é algo que os buscadores e praticantes espirituais experimentam no decorrer das suas vidas. Pude ver isso na minha própria vida, na minha avó e também em diversos colegas do nosso Centro Sri Chinmoy. Em alguns dos casos pude até presenciar toda a transição, do zero ao renascimento (que, diga-se, não tem fim antes da completa perfeição).

Na maior parte das vezes, não acontece nada muito espetacular do ponto de vista mágico. Mas a pessoa muda. Ela ganha um brilho especial no sorriso, um brilho raro. Um brilho nos olhos. Um brilho nas palavras. Um brilho no silêncio.

Coisas que não eram importantes passam a ser primordiais. Satisfação genuína – um sentimento de preenchimento – uma meta clara e real para a vida – a certeza inamovível de estar fazendo a coisa certa.

Coisas que eram primordiais parecem de repente superficiais – como sonho vazio que acaba e nos descobrimos tendo uma vida real.

O caminho normal e natural é através do nosso anseio interior por transformação, por luz, por verdade, por vezes com momentos marcantes. Aí chegamos no próximo ponto.

Escrevendo suas experiências espirituais

Na nossa jornada, por vezes nos deparamos com experiências especiais. Às vezes é uma pequena oração que é atendida. Algo que nos faz lembrar de que o nosso Pai está sempre cuidando dos filhos, por vezes agradando-os com pequenos regalos.

Eu vez eu estava voltando para casa, um pouco chateado, pois o dia tinha sido bem difícil e eu não tinha ficado bem equilibrado. Eu voltei para casa, e até pensei, falando com o Mestre: “Guru, bem que podia ter algo, como uma carta dos meus amigos, para mim.” Cheguei em casa e abri a caixa de correio sem esperanças. Lá estava uma carta de um amigo de San Francisco, o Hiyamallar, junto com uma das canções de Sri Chinmoy com dez páginas de comprimento! São 20 minutos cantando sem parar! Eu chorei ao ver o que o Guru tinha feito por mim, só para me consolar. Ele talvez já soubesse até que eu ia ter um dia assim e que ele gostaria de me fazer sentir amado e cuidado por ele, e por isso criou todo o plano.

Ou são experiências maiores. Fazemos algo, tomamos uma decisão importante para a vida ou temos uma meditação extraordinária e sentimos por um momento a felicidade da alma. Eu já tive essa experiência – quando terminei o relacionamento que tinha com a pessoa que seria a minha esposa. Nós dois sentimos que tínhamos metas diferentes, então não valeria a pena um atrasar o outro. Eu estava um pouco choroso, mas, ao mesmo tempo, repleto, absolutamente repleto de uma felicidade que eu nunca tinha experimentado antes.

Escrevi também uma experiência de sonho que tive, relacionada com a iniciação.

Apesar de eu ter contado algumas experiências, o importante e mais recomendado é você guardar elas para você. Quando estiver passando por dias de dúvida da sua prática, ler esses escritos irão ajudá-lo imensamente. Mesmo grandes almas como Swami Vivekananda usaram desse artifício divino.

Comece hoje, pois o tempo corre mais rápido na vida espiritual, e a memória fica para trás!

 

Como interpretar sonhos e visões interiores

Sri Chinmoy: Há outra coisa importante que gostaria de dizer. Sempre que tiverem sonhos ou visões, por favor, não tentem interpretá-los ou pedir a outras pessoas que os interpretem, pois vocês vão cometer um erro terrível. Se vocês tiverem uma visão ou uma experiência interior, mergulhem profundamente em seus interiores e descubram o significado ou me perguntem sobre o significado. Se tiverem uma experiência maravilhosa, escrevam para mim. Posso não responder exteriormente ou dar uma mensagem interior específica, mas vou abençoá-los e apreciarei suas experiências. Se tiverem uma experiência realmente divina, meu ser interior saberá imediatamente.

Meditation: God´s Duty and Man´s Beauty, p. 55-56

 

Todas as experiências são boas?

Pergunta: Venho tendo experiências telepáticas com pessoas que se chamam de mágicos. Converso com eles enquanto estão em outros lugares. Posso entrar nesse reino quando quiser. Estou curioso em saber como você responderia a essas experiências.

 Sri Chinmoy: Do mais elevado ponto de vista espiritual eu gostaria de responder à sua questão. Essas experiências o ajudarão a ir mais rápido em direção à sua meta? Não, não ajudarão. Essas experiências são fascinantes, indubitavelmente, mas nunca o levarão à realidade. Pelo contrário: elas são tentações noseu caminho para a realização em Deus, a elevadíssima Verdade. Em nossa vida espiritual, muitas vezes temos experiências fascinantes e não queremos mais aspirar. É verdade que essas experiências podem nos incentivar, mas muitas vezes, quando temos experiências demais, entramos no mundo vital. Vemos um caleidoscópio: vemos todos os tipos de coisas belas, mas elas são só tentações. Suponha que você esteja andando por uma rua em direção a um lugar específico. Se vê árvores, flores e lagos bonitos pela rua, o que acontece? O cenário é tão bonito que você acaba descansando. Você diz: “Deixe-me ficar aqui e apreciar isso,” e então para e aprecia a paisagem. Mas o seu destino permanece uma meta distante.

Um buscador sincero sabe que a meta dele é a Verdade mais elevada. Ele não adiará a jornada. Mas, no seu caso, posso ver que você aprecia essas experiências; você dá a elas a sua atenção consciente. Isso é muito errado. Na vida espiritual, aspiramos pela mais alta Verdade, por Deus, e por nada mais. Essas experiências são verdadeiras tentações para você. Você deveria sentir: “Tendo realizado Deus, terei experiências infinitamente mais belas, significantes e frutíferas”. Com essa idéia, você deveria deixar de lado essas experiências telepáticas. Se sente que entrando nessas experiências ou permitindo que elas entrem em você, acalentando-as, conseguirá experiências mais elevadas, está enganado. Você não irá nem um pouco mais adiante. Se insistir nelas a toda hora, se estiver constantemente fascinado por elas e sentir que é parte delas, será pego por essas experiências. Muitas pessoas cometeram esse engano, e para elas a realização em Deus permaneceu uma meta distante.

Buscadores sinceros tomam essas experiências como obstruções no caminho. Por favor, não dê atenção a esses tipos de experiências. Elas são fascinantes, mas não estão satisfazendo a sua vida de dedicação, realização e manifestação. De manhã cedo, tente silenciar a sua mente. Se conseguir silenciar a sua mente, não terá essas experiências. Elas estão vindo do mundo vital até você. Você está acalentando essas criações do mundo vital e tentando colocá-las à sua disposição, como se fossem muito suas. Mas elas não podem levá-lo à Meta mais elevada. Se a sua intenção é o Altíssimo, então essas coisas têm de ser descartadas. Quero que você vá até alguém que o inspire a entrar no reino da pura aspiração. Você será capaz de trazer à tona a luz da sua alma e correr o mais rápido possível em direção à Meta mais elevada.

Fifty Freedom-Boats to One Golden Shore 6, p.71-73

 

 

Contando suas experiências interiores aos outros

 

Pergunta: Você pode explicar o valor de tentar contar aos outros suas experiências interiores?

Sri Chinmoy: Alguns Mestres aconselham seus discípulos a compartilharem suas experiências apenas com eles. Na maioria das vezes não é aconselhável compartilhar as experiências interiores de alguém com outros. Suponha que você tenha tido uma muito elevada esublime experiência.Mesmo se você contá-la a seu amigo mais íntimo, o ciúme dele poderá tentar devorar a riqueza, a realidade viva da sua experiência. Ocorre algumas vezes que ao dividir suas experiências com um iniciante, este irá tentar ter a mesma experiência de qualquer jeito.Na vida espiritual isso nunca acontece. O progresso espiritual é um processo lento, constante e gradual. Por você ter provado uma manga e me contado, eu poderei talvez subir na mangueira.Mas se não souber como subir, ao tentar eu cairei e irei me machucar. Outra coisa: se você contar suas experiências interiores para outros, o orgulho humano deles poderá entrar em você.

Experiências interiores somente devem ser compartilhadas com a permissão do Mestre.

Se a pessoa não tem um Mestre,deve então mergulhar dentro de si profundamente e ouvir os ditames da sua alma. Se a alma ou o Mestre pedir a um ao buscador que compartilhe suas experiências com o resto do mundo, não haverá problema então. Pode ocorrer nesse caso que se a pessoa contar suas experiências, seus amigos fiquem inspirados a entrar no mundo de aspiração. Porém é sempre aconselhável perguntar ao Mestre ou ir fundo dentro de si, para saber quando se deve compartilhar suas experiências. De outra forma isso poderá criar resultados imprevistos e deploráveis para o próprio buscador ou para os outros com quem ele tenta compartilhar suas próprias experiências.

Earth-Bound Journey and Heaven-Bound Journey, p. 62-63

 

Pergunta: Quando estamos no mundo exterior, estamos livre e desimpedidos para falar de nossa vida espiritual ou devemos reservar isso só para os que aspiram?

Sri Chinmoy: Se você falar sobre suas experiências, poderá ficar em apuros.O solo tem que estar fértil. Se as pessoas são genuínas e sinceras, então sua conversa será frutífera. Do contrário, eles terão todo o direito de não compreendê-lo e ridicularizá-lo.Você pode não se importar se alguém zomba de você, porém a pessoa que não se beneficiou ou não se inspirou com o que você disse, infelizmente poderá tentar bloquear sua própria inspiração e aspiração. Nós devemos então usar nossa sabedoria que ele também é uma criança de Deus; deixe o momento do seu despertar chegar na Hora escolhida por Deus.Não é da sua conta acordá-lo. Quando alguém está pronto, clamando por uma vida mais elevada, aí então é a hora de você acordá-lo do sono que é a ignorância.

Se você der uma nota de mil dólares para uma criança, ela a rasgará. Para ela a nota não tem valor. Porém um adulto saberá o valor dos mil dólares. Similarmente quando você compartilha suas experiências interiores com um aspirante ou buscador, ele irá se beneficiar com isso. Ele sabe quão difícil é ter uma experiência interior. Aqueles que clamam pela vida interior, são as pessoas certas para compartilhar suas experiências.

Realization-Soul and Manifestation –Goal, p. 46-47

 

Experiências espirituais verdadeiras e falsas

 

Pergunta: Como posso dizer se as minhas experiências interiores são genuínas ou falsas?

Sri Chinmoy: Se ficar em dúvida quando tiver uma experiência interior, concentre-se no coração. Se a experiência for genuína, você vai sentir uma sensação sutil de formigamento. Se sentir como se uma formiga estivesse escalando ou se arrastando no seu coração, então saberá que a sua experiência é genuína.

Quando tiver uma experiência interior, tente respirar tão lenta e silenciosamente quanto possível, e sinta que está trazendo pureza ao seu sistema. Sinta que a pureza está entrando em você como uma linha e está girando ao redor do seu umbigo. Se você sentir que o seu coração espiritual não está disposto a entrar no seu umbigo, então a sua experiência é uma mera alucinação. No entanto, se o coração entra de bom grado no umbigo, esteja certo de que a sua experiência não é uma alucinação; é absolutamente verdadeira e genuína.

Quando tiver uma experiência e quiser saber se ela é válida, tente sentir por alguns minutos se você cresce naquela experiência ou não. Se sentir que pode crescer naquela experiência, mais cedo ou mais tarde, em uma hora ou duas, ou em um dia ou seis meses, então a sua experiência é genuína. Porém, se sentir que a realidade é alguma outra coisa e você nunca vai poder crescer naquela experiência, então ela não é genuína.

Quando tiver uma experiência, tente separar a sua vida exterior da sua vida interior. A vida exterior é uma vida de necessidade, demanda e exigência. A vida interior também é uma vida de necessidade, mas é da necessidade por Deus, não da sua necessidade; das exigências de Deus, não das suas demandas ou exigências. Tente sentir se é a necessidade de Deus que está operando em e através da sua experiência, se Ele precisa de você e quer satisfazer a Si mesmo em e através de você. Se você pode crescer nesse tipo de sentimento ou realização, a sua experiência é genuína. No entanto, se você se identifica conscientemente com as suas exigências, então a experiência não é verdadeira. É só uma alucinação.

Meditation: God’s Beauty and Man’s Duty, p. 45-47

Hipnose e meditação

cropped-sri-chinmoy-soul-bird.jpgAbaixo uma pergunta interessante do livro Astrologia, o Sobrenatural e o Além, onde Sri Chinmoy comenta sobre a prática da hipnose e autohipnose.


     Pergunta: Do seu ponto de vista, a hipnose é aceitável ou não? Por quê?

Sri Chinmoy: Quando alguém quer realizar a Verdade, a qual é Deus, não há necessidade de hipnose ou auto-hipnose. O que é necessário é paz, beatitude e poder. Estas coisas podemos adquirir através da aspiração. Ao levar alguém para o mundo da inconsciência ou para o plano subconsciente através da hipnose, fazendo com que a pessoa torne-se consciente dos seus defeitos, imperfeições e impurezas do passado, não seremos capazes de ajudá-la a alcançar sua derradeira Meta. Contudo, ao trazer do alto as coisas que podem mudar e moldar sua vida, e fazer dela uma pessoa melhor, poderemos ser de grande ajuda.

Eu tenho discípulos que se entregam à prática da hipnose. Porém, eu digo a eles: “O que vocês querem de si mesmos? O que esperam da outra pessoa? Caso queiram que as outras pessoas fiquem livres da tristeza, da frustração e da preocupação, então mostrem a elas a luz, e não pesem as falhas passadas ou os defeitos que os impedem que expandam as suas livres consciências.”

Se alguém quer paz, se alguém quer satisfação verdadeira, se alguém quer obter alegria da sua vida, a espiritualidade é a resposta imediata. A espiritualidade não é algo teórico e irreal. Ela é natural e praticável, uma conquista e realização prática e natural. A espiritualidade é uma coisa espontânea, o traço de união entre a vida interior e a vida exterior. Ela pode solucionar todos os problemas humanos, interiores e exteriores, e também aqueles que nem mesmo apareceram em nossas vidas. A espiritualidade pode solucionar esses problemas antes mesmo de suas manifestações; ela pode entrar dentro deles e fazê-los em pedaços. Eu sinto que a hipnose não é de valia alguma. O que possui valor é a aspiração – trazer infinita paz, bem-aventurança e poder para a consciência física através de constante aspiração.

Meditação, mediunidade, psicografia e os espíritos

mediunidade psicografia meditacaoVejo com frequência nos cursos de meditação os alunos nos perguntar sobre o espiritismo, sobre os espíritos e mediunidade, em particular no aspecto da meditação. Algumas pessoas que são espíritas são indicadas a praticar meditação por alguém, e por isso chegam até os nossos cursos.

Na verdade, não há muita relação. A busca espiritual e o mundo dos espíritos e mediunidade são sistemas paralelos, com poucos pontos em comum. O livro Astrologia, o Sobrenatural e o Além, de Sri Chinmoy, fala muito sobre assuntos que são bastante curiosos ou populares. Abaixo deixamos algumas perguntas referentes ao tema dos médiuns e espíritos. Também escrevemos uma página sobre ocultismo, poderes psíquicos e meditação.


     Pergunta: Eu gostaria de saber qual a diferença entre alma e espírito. Sei que são coisas completamente diferentes, mas não consigo entender a diferença.

Sri Chinmoy: Um espírito, da maneira que o termo é utilizado no ocidente, é uma entidade vital, e não costuma ser bondosa. A alma, a qual incorpora Deus, fica em nossas profundezas interiores; ela é parte do Eu. Através da alma, entramos em nossa tudo-permeante divindade. Quando utilizamos o termo ‘alma’, ele se refere a uma centelha do Eu, o Onisciente e o Onipotente. Um espírito, da forma com que utilizamos o termo aqui, é uma entidade vital que está descontente ou mesmo insatisfeita quando a pessoa morre, e que permanece no mundo vital por algum tempo. Existem muitas, muitas forças perturbadoras, conflitantes e obstrutoras que tomam a forma de espíritos.

Esses espíritos procuram criar desarmonia, separação e coisas similares. É o papel deles. Às vezes, os espíritos ajudarão alguém a encontrar informações no mundo vital sobre o que está acontecendo lá ou o que acontecerá amanhã ou depois. Eles possuem essa capacidade porque o mundo vital é mais elevado do que o mundo físico. Se você escalar uma árvore e observar do topo, terá uma vista mais ampla e poderá ver tudo de uma forma mais clara. É mais fácil observar o que acontece no mundo físico a partir do mundo vital. Mas é bastante difícil entrar no mundo vital a partir do físico. Estarão envolvidas práticas ocultas ou que lidam com espíritos.

É bastante comum que espíritos digam a uma pessoa enlutada que eles trarão as almas dos seus entes queridos para visitá-la. Gostaria de dizer que as pessoas que ouvem o que esses espíritos falam estão cometendo um grande erro, porque os espíritos não trazem realmente a alma daquela pessoa, do ente querido. Ao invés, eles trazem do mundo vital entidades insatisfeitas, famintas.

Existem alguns espíritos que tomam posse das pessoas que lidam com eles. Os seres exteriores dessas pessoas permitem que o espírito entre nelas, resultando disso a possessão. Às vezes, essas pessoas predizem coisas que podem, ou não, acontecer. No entanto, infelizmente isso não as traz para a vida espiritual. Depois de alguns anos o espírito dirá: “Agora me dê o pagamento. Eu dei a você fama e renome. Você não sabia nada sobre o passado ou sobre o futuro. Eu mostrei a você, e agora você deve me pagar.” Com o que pode a pessoa pagar? A sua fama e renome não trazem alegria para os seres famintos, e os espíritos então a estrangulam. Muitos, muitos praticantes de magia negra e pessoas que lidam com espíritos foram estranguladas ou mortas. Sei disso porque estive próximo de um número significativo de casos.

Voltando para o termo ‘espírito’, na Índia o utilizamos com um ‘E’ maiúsculo, e ele possui um significado diferente do assumido no ocidente. Esse Espírito é a forma masculina de Deus, que não entra no campo da criação. É o Além não-manifestado, o Eu. Quando nos voltamos para a vida interior e fazemos progresso espiritual, enquanto trazemos para nós realização e libertação do medo, dúvida e limitações, ganhamos acesso livre ao Espírito. Lá, alcançamos a nossa própria identidade com a Visão e Realidade Cósmicas. Esta concepção de Espírito não é utilizada no ocidente, onde utilizamos o termo ‘espírito’ para nos referir a práticas com espíritos e a seres do mundo vital.

 

     Pergunta: Como o espírito faz para possuir uma pessoa? Como ele ganha acesso à sua consciência? Ou ele simplesmente a penetra?

Sri Chinmoy: Eles possuem poder no mundo vital. Podem possuí-lo facilmente enquanto você anda pela rua ou a qualquer hora. Mas por que apenas espíritos? Pensamentos humanos também podem entrar. Se justo agora você abriga bons pensamentos, muito poderosos, com esses pensamentos poderosos você pode entrar em outra pessoa. Estará emitindo ondas de pensamento para alguém, e essa pessoa poderá ver um ser à sua frente, como num sonho. O ser pode tomar qualquer forma que você desejar. Podemos criar formas a partir do pensamento, pois este é muito poderoso. Quando os Yogis utilizam o poder-vontade ou seus pensamentos, imediatamente dão a eles uma forma.

 

     Pergunta: O que contatam os médiuns enquanto oferecem mensagens? Com quem ou com o quê eles estão falando?

Sri Chinmoy: Eles buscam falar com a alma. Caso eu queira ver o falecido irmão, pai ou mãe de alguém, eu posso ver e posso falar com a alma da pessoa. Quando você for realizado também poderá falar com os seus pais dessa maneira, caso eles não estejam na Terra. Se eles ainda estiverem no Céu ou em algum outro mundo elevado, será fácil falar com a alma. Se eles tiverem tomado uma encarnação humana, fica um pouco difícil, mas ainda é possível.

A alma tem a sua própria linguagem. Assim como podemos falar diretamente com um ser humano, podemos falar com a alma. Um homem que não tenha alcançado a realização pode falar com a alma se tiver alguma conexão ou controle sobre algum espírito no plano vital. No entanto, a informação recebida através de espíritos é freqüentemente imperfeita ou incorreta. Se o pai ou mãe de alguém faleceu e quer se dar ao trabalho de ajudar um filho na Terra, o espírito do falecido, não importa onde esteja, pode vir e trazer mensagens. A qualquer hora, os espíritos podem se concentrar nos filhos, pensar neles e então transmitir a mensagem. Existem pessoas das mais comuns, que não oram por um segundo sequer, mas que ainda assim recebem mensagens dos familiares no plano da alma. No entanto, todo esse processo não é de forma alguma preciso ou confiável. As pessoas que recebem mensagens dessa maneira sempre ficarão à mercê dos caprichos de seus entes queridos que já faleceram.

 

     Pergunta: Uma pessoa pode emprestar o seu corpo de forma que um espírito possa entrar e falar através daquele corpo?

Sri Chinmoy: É possível. É isso o que os médiuns procuram fazer. Isso costuma ocorrer espontaneamente, principalmente nas crianças. Elas falam com os seus pais e estes notam que elas possuem uma expressão peculiar nas suas faces, uma personalidade diferente, com uma maneira de expressão diferente. A criança estaria então possuída por algum espírito.

 

     Pergunta: O que são espíritos ou seres vitais?

Sri Chinmoy: Alguns deles já fizeram parte de um ser humano, mas outros são apenas parte da existência universal. Essas entidades não desejam a luz da alma. Elas sentem prazer em criar problemas e destruição.

Não podemos dizer que essas forças são alucinações mentais. No ocidente utilizamos os termos ‘alucinação’ e ‘superstição’. Sabemos que alucinações e superstições existem, mas os seres de que falamos existem no mundo real. Eu os vi com os meus próprios olhos, como também os viram outros membros da minha família, nossos empregados e vizinhos. E lidei com eles com a minha própria luz e poder espiritual.

 

     Pergunta: Um espírito pode ajudar uma pessoa?

Sri Chinmoy: Sim. Pais podem vir em um sonho e instruir alguém a fazer algo bom, podem contar o futuro, ou simplesmente avisar a você que algo acontecerá.

 

     Pergunta: Qual a relação entre psicografia e os médiuns?

Sri Chinmoy: A espiritualidade não se abandona à escrita automática e coisas desse tipo. Procurar um médium para saber o que acontece no Céu, na Terra ou no mundo vital não é nada espiritual. Espiritualidade significa aspiração constante por ser completamente um com Deus. Espiritualidade representa a nossa unicidade natural com Deus. Espiritualidade verdadeira é algo absolutamente normal e natural. Se alguém está interessado em psicografia e coisas desse tipo, você deve buscar atiçar a chama da aspiração que está dentro dela. Caso essa pessoa seja muito próxima e querida, ela poderá ouvi-lo. Tente fazer com que perceba que ela mesma descobriu a verdade, e não que você é quem está revelando ou inserindo a verdade nela. Quando alguém sente que descobriu a verdade por conta própria, vinda de seu próprio interior, essa verdade passa a ser normal e natural.

Esta noite, durante a sua meditação, gentilmente procure entrar na pessoa e deixá-la sentir que ela mesma repentinamente percebeu a verdade, que a psicografia não é na verdade algo bom, mas que a concentração, a meditação e a contemplação – as quais provêm da aspiração – são verdadeiramente boas. Dessa maneira você será capaz de levá-la ao caminho certo. Por favor, tente interiormente e não exteriormente.

 

Ocultismo, poderes psíquicos e meditação

ensinamento silencioso da meditaçãoO livro Astrologia, o Sobrenatural e o Além, de Sri Chinmoy, fala muito sobre assuntos que são bastante curiosos ou populares, incluindo sobre astrologia e meditação. Abaixo deixamos algumas perguntas referentes ao ocultismo, poderes psíquicos e seu contexto na prática de meditação e espiritualidade.

     Pergunta: Disseram-me que estou em vias de desenvolver poderes psíquicos. Eu deveria continuar visitando centros espiritualísticos com essa meta?

Sri Chinmoy: No seu caso, gostaria de dizer francamente que não seria sábio desenvolver essas faculdades psíquicas agora. Por quê? Porque eu posso ver em seus olhos que você é uma pessoa bastante sincera. Não deveria ficar satisfeita com esses poderes psíquicos. A sua alma quer ir em frente, adiante, além. Existem pessoas que não têm a aspiração para seguir ao Mais Elevado, ao Derradeiro. Estão satisfeitas com lascas de poder psíquico e não querem ir além. Eu poderia recomendar que certas pessoas desenvolvessem as suas faculdades psíquicas. Mas no seu caso, se desenvolver essas faculdades, elas serão um empecilho e você não será capaz de ir além e alcançar o Derradeiro em sua vida. É você quem deve fazer a escolha: se quer ficar satisfeito com uma pequena guloseima ou se quer esperar pela Verdade infinita, o infinito Tesouro do Todo-Poderoso.

Ao ser dotado de faculdades psíquicas, meramente as experimentará e logo ficará encantado. É muito comum que pessoas recebam um pouquinho de capacidade psíquica, sintam-se satisfeitas e tentem utilizá-la nessa e naquela pessoa, a toda hora. É como uma criança que possui brinquedos fascinantes e brinca com eles o tempo todo. Ela negligenciará os estudos e acabará se tornando um tolo. No entanto, se a criança for sincera ou honestamente dedicada e der valor aos seus estudos, ela deixará de brincar e começará a estudar, porque sabe que precisa estudar para se tornar uma pessoa de sabedoria.

Um outro problema dessas faculdades psíquicas é que elas geralmente são ameaçadas por espíritos. Aqueles que desenvolvem as faculdades psíquicas podem não ser fortes de uma maneira espiritual ou ocultista. As faculdades psíquicas vêm do mundo psíquico. Elas são muito sutis, suaves, ou talvez delicadas, e frequentemente são ameaçadas por poderes ocultos, que podem ser muito ferozes, dinâmicos, arrogantes e destrutivos. Os espíritos famintos e insatisfeitos tentarão penetrar nas faculdades psíquicas do aspirante e levar embora toda a aspiração que ele tinha antes de interromper a sua vida espiritual para desenvolver seus poderes psíquicos. Mas, quando faz verdadeiro progresso espiritual, progresso interior, sem se preocupar com capacidades psíquicas, a pessoa irá sem dúvida obter todas essas faculdades ao final da sua jornada, após ter realizado Deus.

Você nunca sairá perdendo se não der atenção a essa capacidade psíquica, porque ela se desenvolverá automaticamente quando todos os seus centros se abrirem durante a sua meditação profunda. Para alcançar esta meditação, você deve buscar um Mestre espiritual Deus-realizado que possa ensiná-lo individualmente e que possa também protegê-lo do ataque das forças ruins.

Para ser franco com você, neste exato momento existem quatro forças que o estão atacando constantemente. Por favor, seja muito cauteloso com essas forças. Elas já estão pairando ao seu redor. E não são bondosas. São forças não-divinas. Por um lado, as suas faculdades psíquicas estão sendo reveladas, ou estão a ponto de serem reveladas; por outro lado, existem forças, forças negativas que estão tentando destruí-lo. Procure buscar em seu interior profundo. Clame interiormente pela proteção de Deus e pela iluminação de Deus, e as quatro forças o deixarão. Elas estarão fadadas a deixá-lo.

 

Dez Mil Flores-Chamas – livro espiritual e inspirador

Um livro inspirador com dez mil aforismos sobre a vida espiritual, autotransformação, psicologia e a vida prática.



livro inspirador espiritual aforismosTítulo: Ten Thousand Flower-Flames, por Sri Chinmoy

Aum Publications, NY/EUA

Original publicado em 100 volumes de 100 aforismos. Minha versão é um compliado em folhas A4 com letra pequena e sem espaçamento, 40 aforismos por página.

Vocês podem encontrar também este livro com 207 poemas selecionados pelo próprio autor dentre os 10 mil. Esta versão é bilíngue, em inglês com a tradução em português.


Livro espiritual e inspirador: Dez Mil Flores-Chamas

Acabei de completar a leitura de todos os poemas da série Ten Thousand Flower-Flames. Eu já havia decorado anteriormente a seleção feita pelo autor Sri Chinmoy de 207 dos seus prediletos. No dia 1° de maio de 2016 comecei a leitura, por 15 minutos por dia, cerca de 80 poemas por dia, e completei no dia 5 de outubro. No total, cerca de 150 dias de leitura.

Ler 80 poemas ou aforismos por dia, todos os dias? Sim, e não é chato. Alías, quanto mais o tempo passava e eu progredia pela espessura do livro, mais fiquei apaixonado pela leitura. Não tentei entender todos os aforismos. Pelo contrário, tentei ir absorvendo o que podia nos breves segundos dedicados a cada poema, em seguida indo para o próximo, como o fluxo de um rio que nunca para.

Alguns poemas sobre coragem que selecionei do livro, em minha tradução:

 

Se você pensa

Que a vida tem um propósito superior

Então você está completamente pronto

Para a vida espiritual.

 

Para saber mais

Você não precisa fazer mais,

Não precisa dizer mais,

Não precisa nem mesmo

Se tornar mais.

Você tem apenas de tentar pensar e sentir

Que Deus pensa em você infinitamente mais

Do que você consegue pensar em si mesmo.

 

Se você não tem nada para fazer,

Então pode conversar com o sorriso da beleza

pela manhã

E conversar com o choro da pureza

pela noite.

  • Sri Chinmoy

Livros inspiradores e espirituais: Proteção, por Sri Chinmoy

(Um trecho do livro proteção lido em voz alta.)



Livro Proteção

por Elizianne Santos

Estarmos protegidos é essencial para mantermos nossa paz e equilíbrio diário, principalmente se optamos por uma vida espiritual, pois sentimos as energias mais intensamente. Há diversas forças negativas externas e internas que constantemente tentam conquistar nossas qualidades divinas, mas, ao sentirmos ou conectarmos com o nosso Amado Pai, uma inigualável força se instala em nós.

O Livro inspirador e espiritual “Protection” (Proteção) escrito pelo nosso mestre espiritual Sri Chinmoy reúne alguns escritos selecionados sobre o tema. Abaixo alguns trechos do livro:

Para SENTIR proteção divina todo tempo, você tem que ORAR por proteção divina.

Você não conseguirá rezar 24 horas por dia, mas diariamente de 4 a 5 minutos você conseguirá orar pela proteção divina e, enquanto você está orando por proteção, você tem que simultaneamente rezar por PERDÃO.

Proteção vem rapidamente se você ora por perdão. De outra forma, Deus dirá: “Você deseja proteção, mas tem feito algumas coisas erradas. Você me pediu perdão?”

A melhor abordagem é rezar para Deus: “ Por favor me perdoe pelas coisas erradas que fiz no passado e até pelas coisas que farei de errado no futuro”. Deus pode protegê-lo hoje, mas amanhã você pode ser tentado a fazer algo errado, e a proteção pode ir embora. Mas se você pede por perdão primeiro e depois por proteção, a proteção virá mais rápido. Além disso, será mais eficaz e duradoura.

Quando você estiver sendo atacado, você pode sentir-se a salvo das forças não divinas se interiormente você tem fé em Alguém que é infinitamente mais forte do que essas forças. Assim, se você sentir a presença do SUPREMO dentro de você, estará protegido, e essa proteção depende das suas próprias ações internas e externas.

 

Não permita que suas dificuldades

Sejam insolúveis

Muito antes das suas dificuldades

Capturar você

Busque abrigo nos Pés do Senhor Amado Supremo

 

Nós devemos estar protegidos com pensamentos, ideias e objetivos divinos. Pela manhã, logo cedo, temos que meditar. Todo mundo tem que meditar. Essa meditação (logo ao acordar) é de suma importância para um buscador espiritual.

Se nós saímos sem nossa meditação da manhã, estaremos no limite para sentir (se estamos conscientes) que estamos diante de um leão que ruge. Se saímos logo depois de termos uma boa meditação , nosso ser interior estará sobrecarregado com uma indomável paz, luz e poder.

 

Meu Senhor Supremo

Abençoe meu coração

Com livre e fácil acesso

Ao seu Olho-Compaixão

E seus Pés-Proteção

 

Portanto, se realmente queremos proteção na nossa vida, a solução é muito simples: basta aspirarmos constantemente pela presença do nosso Amado Supremo. Ao inundar nosso ser com pensamentos puros, simultaneamente uma força espiritual vem a tona.

  • Sri Chinmoy

O Mestre como eu o via – Sister Nivedita – livro inspirador e espiritual

por Patanga Cordeiro

 

irma niveditaTítulo: The Master As I Saw Him / O Mestre como Eu o Via

335p, Udbodhan Office, Calcutá, Índia

Você pode encontrar o livro em inglês.

 



 

Li o livro original em inglês. É uma leitura fascinante, pois trata da própria trajetória da Nivedita, uma irlandesa que encontra em Swami Vivekananda seu Mestre espiritual. O livro descreve viagens que fizeram junto com demais discípulos, momentos onde Vivekananda desobstrui a visão interior e exterior da discípula, indicações sobre qual era o seu papel de transformação no mundo e mais. Ela descreve trechos também onde Vivekananda discorre sobre o Hinduísmo, sobre o Buda, o Cristo, sobre o papel das mulheres, sobre como ocidentais podem ser treinados na espiritualidade. Santos, abordagens da Mãe divina e mais.

nivedita-livroO livro começa falando um pouco sobre como ela conheceu o Mestre. Ele tinha idoa uma reunião na casa de conhecidos, onde Vivekananda respondia perguntas após perguntas, com referências aos textos em sânscrito para ilustrar suas respostas. Em resposta à pergunta da Nivedita, Vivekananda tinha vindo ao ocidente porque acreditava que havia chegado a hora em que as nações estavam prontas para compartilhar seus ideais, assim como já estavam trocando mercadorias no comércio internacional. Ele explicou como o panteísmo oriental demonstrava diversos aspectos da manifestação do Uno, citando o Bhagavad Gita: “Tudo isso está entrelaçado em Mim, como pérolas numa corrente.” Anos depois Nivedita foi para a Índia para o conhecer melhor.

Deixarei uma citação que ela escreveu e presenciou pessoalmente, sobre o tema do desenvolvimento comercial de ideais religiosos, que estes logo acabariam por amor ao dinheiro:

“O homem progride da verdade para a verdade, e não do erro para a verdade.” – Swami Vivekananda

E a citação que desfecha o assunto, explicando o papel dos Avatares, grandes Mestres espirituais, como era o caso do Mestre do próprio Vivekananda, Sri Ramakrishna, diretamente do Bhagavad Gita:

Bhagavad Gita – comentário, original e pdf

“Quando a religião decai e a irreligião prevalece, manifesto a Mim mesmo. Para a proteção do bem, para a destruição do mal, para o firme estabelecimento da verdade, eu nasco por vezes e mais vezes.”

É impossível descrever tudo o que passa pelo livro, mas recomendo a leitura. É quase como se estivéssemos lendo um livro do próprio Swami Vivekananda, apenas através da ótica da Irmã Nivedita. É um livro inspirador e altamente espiritual, vindo de um Mestre tal como ele.

Na peça teatral de Sri Chinmoy sobre Swami Vivekananda, tal é a sua descrição:

Vivekananda the wonder-warrior

Sri Ramakrishna’s unstinting Grace and Naren’s volcanic Will combined to create Vivekananda, who created a commotion all over the world. The never-to-be-forgotten words of Sri Aurobindo run:

“…the Master marked out Vivekananda as the heroic soul destined to take the world between his two hands and change it.”

Sri Chinmoy, Vivekananda: an ancient silence-heart and a modern dynamism-life, Agni Press, 1993

Tudo começa com a prece – livro inspirador da Madre Teresa

por Patanga Cordeiro

 

madre teresa livroTítulo: Everything Starts from Prayer / Tudo começa com a prece

Meditações da Madre Teresa sobre a vida espiritual para pessoas de todos os credos.

170p, White Cloud Press, Ashland, Oregon, EUA

Você pode encontrar o livro em inglês e em português para comprar.

 



 

 

Li o livro original em inglês. Ele é uma coletânea muito inspiradora de reflexões sobre como podemos nos portar com a dignidade, amor e carinho representativos do Criador. O material é uma compilação das palavras da Madre Teresa, colocados em formato de aforismos no livro.

Madre Teresa e Sri Chinmoy compartilhavam a data de aniversário (27 de Agosto), mas as similaridades não paravam por aí. Eles tinham uma relação próxima, frequentemente trocando cartas sobre os serviços à humanidade, sobre a vida de oração e meditação, e auxiliando mutuamente nas suas iniciativas pela paz. Lendo os aforismos da Madre Teresa fui imediatamente lembrado, por vezes e mais vezes, da filosofia de Sri Chinmoy durante as semanas que utilizei para degustar o livro, por vezes em meio a lágrimas.

Ao fim do livro há uma lista de recomendações de livros não cristãos sobre a vida espiritual, que é uma coisa muito bela a se fazer num livro escrito por uma Madre católica.

U Thant Peace Award for Mother Teresa

Vídeo e foto do artigo: Sri Chinmoy e Madre Teresa orando na casa dos missionários de caridade em Roma, 1994.

 

No primeiro capítulo, ela fala sobre “a necessidade de orar.”

“Para ser capaz de dar, você precisa ter.”

“Quaisquer religião tenhamos, temos de orar juntos. Os filhos precisam aprender a orar e precisam que seus pais orem juntos com eles.”

 

Seguindo com “começando com o silêncio”:

“Tudo começa com a oração que nasce no silêncio dos nossos corações.”

 

Depois, “como uma pequena criança”:

“Como rezar? Você deve ir até Deus como uma pequena criança. Uma criança não acha dificuldades em expressar o que pensa em palavras simples e repletas de significado. Se uma criança não é mimada e não aprendeu a contar mentiras, ela simplesmente falará tudo. É isso o que quero dizer com ser como uma criança.”

 

“Abrindo o coração”:

“Ofereça a Deus cada palavra que você diz, cada movimento que faz. Precisamos cada vez mais nos apaixonar por Deus.”

 

E “terminando em silêncio”:

“O fruto do silêncio é a fé.

O fruto da fé é a oração.

O fruto da oração é o amor.

O fruto do amor é o serviço.

O fruto do serviço é o silêncio.”

Esta frase foi musicada por Sri Chinmoy.

O Dreamers of Peace — Mountain-Silence

 

O capítulo final é o “fruto da oração”.

“A verdadeira razão da nossa existência: ser o brilho da luz do amor de Deus, ser a esperança da felicidade eterna. É tudo.”

Iniciação – o que é ser iniciado

compartilhando a meditaçãopor Patanga Cordeiro

Desde o início dos tempos, essa palavra foi usada e reusada, recebendo uma enorme força e significado profundíssimo. Não estou falando da iniciação num aspecto mais secular, como iniciação científica ou iniciação a uma certa prática, ou realizar algo pela primeira vez. A iniciação espiritual é:

  • Quando você estabelece uma conexão viva com o seu Mestre
  • Quando o seu Mestre estabelece uma conexão viva com você
  • Quando você está desperto e aceita a vida espiritual como o propósito da vida

Todos os três são sinônimos. Se você aceita a vida espiritual, foi o seu Mestre quem o inspirou e deu forças para tanto, mesmo que você nem saiba que tenha um Mestre. Igualmente, se encontrou o Mestre, é porque está desperto e aceitou a vida espiritual como o seu propósito na vida. O Mestre verdadeiro não lhe aceitará se não estiver pronto, pois ao aceitá-lo ele está fazendo uma promessa solene de que o levará até a meta final – apenas quem estiver pronto para essa jornada conseguirá chega lá. Disse o famoso ditado:

“Quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece.”

Essa hora é quando tudo na sua vida muda. Eu disse tudo. Quando você muda, todas as coisas mudam. Se você enxergar perfeição dentro de si, verá perfeição no exterior também. Tal é a beleza da vida espiritual.

O significado da iniciação

Primeiro, a iniciação não é necessariamente preto ou branco, sim ou não. Você pode ir gradualmente se abrindo, se descobrindo, até que percebe um ponto onde está “mais para lá do que para cá”. Quando chega esse ponto, podemos dizer que a iniciação ocorreu.

Quando você está iniciado (como você já viu, poderá nem ter certeza se é ou não iniciado), a conexão que tiver com o seu Mestre, com a sua vida espiritual, com a sua alma, será forte o suficiente para fazer com que o seu progresso adquira uma velocidade inigualável. O próprio Mestre poderá entrar em você e desobstruir os pontos de estagnação na sua busca espiritual, se você mantiver a porta do seu coração aberta.

Ao fim do artigo deixei o texto mais bonito que conheço sobre a iniciação. Lá, você pode ler mais sobre o significado da iniciação.

 

música sri chinmoyO início e o fim da jornada, e um pouco mais

Uma vez iniciado, basta seguir fielmente as instruções do seu Mestre. Mas saiba que as instruções não são simplesmente conjuntos de procedimentos exteriores. Um Mestre verdadeiro ensina em silêncio primordialmente. Você precisará desenvolver o seu amor, devoção e entrega ao Divino, ao máximo. Precisará ter autoconhecimento, devoção à causa suprema e agir de forma incondicional e perfeita. Precisará de paciência e velocidade. Se sua velocidade for muito grande, ainda assim poderá levar mais de uma vida para que a sua iniciação floresça até o resultado final, a perfeição completa. O seu Mestre é o molde. Você tenta se assemelhar a ele, não como uma cópia, mas como a argila inserida na forma. Ela toma o formato utilizado do objeto desenhado, mas mantém uma leve característica própria. Assim, tendo entregue toda a sua essência à Forma Divina, poderá agir com a sua individualidade aperfeiçoada no mundo. Essa é a consumação da iniciação – quando você mesmo alcançou a perfeição e pode tomar parte em tornar o mundo perfeito também.

 

Uma experiência de iniciação

Contarei uma experiência que eu poderia fazer referência como, de certa forma, um dos marcos para a minha iniciação (pois houve mais de um). Não costumo contar minhas experiências interiores, até porque não costumo ter nenhuma experiência muito extraordinária para contar, mas essa é uma das coisas que gosto de contar nos cursos de meditação, então escreverei aqui também.

Já estando no Caminho de Sri Chinmoy por cerca de 4-6 meses, um dia tive um sonho consciente (que é algo raro para mim). Eu estava numa espécie de boate, com música, bebidas, mulheres, fumaça, etc. Era um lugar realmente desagradável. Se eu acordasse num lugar desses hoje em dia, teria saído imediatamente. Mas era um sonho. Lá, as pessoas me ofereciam coisas como álcool, as mulheres se colocavam disponíveis para relacionamentos, etc. Mas eu recusava tudo. Depois de um tempo, as pessoas desistiram de tentar me atrair. Nessa hora eu pensei “Agora posso ir embora.”

Saindo do prédio, eu estava num deserto de terra. Eu vi uma rodovia em frente e, nela, vi um colega discípulo de Sri Chinmoy, o Nandika, correndo pela estrada. Eu me juntei a ele. Fomos correndo pela estrada por um tempo, até que chegamos numa parte que tinha um acostamento, também de terra. Ao parar de correr e olhar para a frente, me deparei com uma surpresa: o meu Mestre, Sri Chinmoy.

Ali estava o Meste, juntando humildade e magnificência numa mesma presença. Ele estava inteiro de uma cor de cobre, algo entre o laranja e o dourado. Não só a roupa, mas a pele, os olhos, os dentes, tudo era de um material só. O interessante é que as estátuas de Sri Chinmoy, inauguradas a partir de 2008, são bem parecidas!

Com o Nandika do lado, ele chegou bem perto de mim, bem perto mesmo, a uns trinta centímetros do meu rosto. Ele parou, deu uma volta ao meu redor caminhando (eu fiquei congelado no lugar!), deu uns passos a mais e virou para mim, bem sério:

“Quem é o seu Mestre!?”

“É você, Guru!”, eu disse, pois é óbvio. Como se ele mesmo não soubesse, né?

O Guru sacudiu a cabeça com força, em negação. Eu falei:

“Eu SEI que é você.”

O Guru meneou a cabeça, inclinando-a pros lados, o que entendi claramente como “Sim, essa é a resposta certa, mas eu não quero ouvir dessa forma.” Na hora entendi o seu intuito. Eu disse:

“O Supremo é o meu Guru,” (pois a filosofia do Sri Chinmoy diz que Deus é o único Guru,) ao que o Guru acenou com vigor que ‘sim, sim’, com a cabeça. “Mas você é (representa) o Supremo!”, completei.

Ele deu uma gargalhada muito alegre e satisfeita, demonstrando claramente que estava feliz com a resposta e que eu realmente tinha entendido a sua filosofia. O sonho acabou. Acordei (felizzz!!!)


Eu gosto de contar essa experiência porque todos os seus momentos possuem um significado bem claro na vida espiritual, pelos quais acredito que todos os buscadores passam algum dia:

Estar numa situação de vida que não condiz com a sua busca (a boate)

Deixar de lado ou perder o gosto por coisas que atrasam o nosso progresso espiritual (álcool/drogas, música emocional, relacionamentos superficiais)

Sair sozinho sem saber exatamente aonde vai (sair da boate sem saber o que teria lá fora)

Encontrar a estrada no meio do deserto, que você sabe que leva até a meta (encontrar a rodovia)

Reconhecer e se inspirar com seus irmãos discípulos de caminho espiritual (encontrar o Nandika já correndo na estrada)

Deparar-se com o Mestre e reconhecê-lo, assim como ele o reconhece e, ainda, ter dentro de si como algo natural os pontos principais da sua filosofia (o teste “Quem é o seu Mestre!?”)

Acordar e seguir em frente! (foi isso mesmo!)

Abaixo eu separei um texto muito, muito especial, onde Sri Chinmoy comenta sobre quem está querendo ser iniciado e quais os passos ou graus. Leia até o fim.

 

Iniciação nas palavras de um Mestre

trechos do livro O Mestre e o Discípulo, de Sri Chinmoy

 

     Se você sente que ao aceitar um Mestre estará evitando as próprias responsabilidades, está enganado. Dessa forma estará separando-se do seu Mestre. Aqueles que são meus discípulos muito devotados não se sentem estranhos. Eles sentem sua unicidade comigo, sentem que tenho mais capacidade que eles e, então, identificam sua pouca capacidade com a minha capacidade maior. Quando entram em minha capacidade, sentem que estão entrando em suas próprias capacidades, porque dentro de mim, veem todo o amor e cuidado.

     Somente sentindo a sua unicidade com o Mestre é que poderá fazer progresso real. Sentindo-se um estranho ou um intruso no coração do Mestre, ou mesmo pensando ser apenas um convidado, nunca terá sucesso na vida espiritual. Quanto tempo poderá ficar na casa de um amigo como convidado? Apenas alguns dias ou um mês, e então terá de ir embora. Mesmo sentindo que vem como amigo, ainda assim deverá partir. Mas, se sentir que a casa dele é a sua casa, então estará seguro, eternamente seguro.

     Quando o discípulo e o Mestre se sentem seguros um no coração do outro, a hora da iniciação está próxima. Quando o Mestre inicia alguém, ele dá à pessoa uma porção de seu alento-vida. Na ocasião da iniciação, o Guru faz uma promessa solene ao buscador e ao Supremo de que dará o melhor de si para ajudar o buscador na sua vida espiritual, que oferecerá seu coração e sua alma para conduzir o discípulo até a mais elevada região do Além. O Mestre diz ao Supremo: “A menos e até que eu tenha levado esta criança até Ti eu não a deixarei, meu jogo não estará terminado.” E ao discípulo: “De agora em diante, pode contar comigo; pode considerar-me como muito seu.”

     Na hora da iniciação, o Mestre realmente assume as abundantes imperfeições do discípulo, tanto desta quanto das encarnações passadas. Certamente, há Mestres espirituais verdadeiros e sinceros e, também, os falsos. Aqui, refiro-me aos verdadeiros. Alguns Mestres que são muito sinceros somente iniciam um discípulo por mês. Após a iniciação, ficam doentes e sofrem terrivelmente, porque assumiram verdadeiramente as imperfeições do discípulo. Todavia, existem alguns Mestres espirituais capazes de iniciar muitos discípulos, sem sofrimento, porque têm a capacidade de lançar na Consciência Universal as imperfeições que retiram deles. Mas também há alguns falsos Mestres que iniciam cinquenta, sessenta ou cem discípulos de uma vez, ou que iniciam por procuração. Esse tipo de iniciação em massa é uma grande ilusão.

     O Guru pode iniciar o discípulo por vários meios. Pode fazer a iniciação à tradicional maneira indiana, enquanto o discípulo medita. Também pode iniciar enquanto o discípulo dorme ou mesmo em sua consciência normal, mas calmo e tranquilo. O Guru pode iniciar o discípulo simplesmente através dos olhos. Ele olha para o discípulo e imediatamente este é iniciado – mas ninguém fica sabendo. Um Mestre também pode proceder à iniciação física, que é pressionar a cabeça ou o coração ou qualquer parte do corpo do discípulo. Nessa ocasião, ele tenta fazer a consciência física sentir que a iniciação ocorreu. Mas junto com essa ação física, o Guru iniciará o discípulo de uma forma psíquica. O Guru vê e sente a alma do discípulo, agindo sobre ela. A iniciação também pode ser feita através de processos ocultos ou num sonho. Se não houver Mestre espiritual disponível na época, o próprio Deus pode tomar uma forma humana muito luminosa no seu sonho ou durante sua meditação e Ele próprio pode iniciar você. Mas isso é muito raro. Na maioria dos casos, a iniciação é feita por um Mestre.

     Meus discípulos não precisam pedir-me para iniciá-los exteriormente, porque eu sei o que é melhor para eles; isto é, eu sei quando ou não a iniciação exterior vai acelerar seu progresso interior. Frequentemente, eu inicio meus discípulos através de meu terceiro olho, que percebo ser o modo mais convincente e efetivo. Muitos já viram meus olhos quando estou em minha consciência mais elevada. Nessas ocasiões, meus olhos humanos tornam-se um com meu terceiro olho. Estes dois olhos comuns então recebem infinita Luz do terceiro olho, e a Luz proveniente dos meus olhos divinamente radiantes entra nos olhos do aspirante. Imediatamente, a Luz entra no corpo todo do aspirante e o permeia da cabeça aos pés. Então, vejo a Luz, a minha própria Luz, a Luz do Supremo, brilhando na ignorância do discípulo, e aquela ignorância oferece sua gratidão. Ela diz: “Agora que me tornei sua, agora que o senhor me fez sua, serei sua para sempre.” Nessa ocasião, torno-me responsável por iluminar a ignorância do discípulo e o discípulo se torna responsável por ajudar-me a manifestar o Supremo na Terra.

     Apenas porque eu o iniciei, não significa que poderá iniciar alguém mais. Não é como se eu lhe contasse uma Verdade que agora pode contar a mais alguém. Frequentemente, ouço que um Mestre iniciou alguém, e o discípulo segue iniciando outro, e então este prossegue para outro mais – como descendentes de uma família. Esse tipo de iniciação não tem valor algum. A verdadeira iniciação tem de ser feita por um Mestre Deus-realizado; não pode ser feita por procuração. Se um Mestre tem o poder espiritual de iniciar um discípulo diretamente no plano oculto, não há problema. Mas, se diz que pode iniciar alguém através de um discípulo que ainda é um iniciante, esse tipo de iniciação é um absurdo. Quando pessoas nos Estados Unidos dizem que foram solicitadas a iniciar outras por seu Mestre espiritual na Índia, então não se trata mesmo de iniciação; é só ilusão. A iniciação tem de ser feita diretamente por um Mestre, no plano físico ou nos planos interiores.

     Quando o Guru inicia um discípulo, ele o aceita sem reservas e incondicionalmente. Mesmo se o discípulo parte após a iniciação, pensando mal do Guru, o Guru atuará em e através desse discípulo para sempre. O discípulo pode até ir a outro Guru, mas o Guru que o iniciou sempre ajudará aquele buscador no mundo interior. E, se o novo Guru é suficientemente nobre, permitirá que o Guru original aja em e através do discípulo. Embora a conexão física com o Guru original esteja cortada, e fisicamente o Guru não veja o discípulo, espiritualmente ele está fadado a ajudá-lo, pois fez uma promessa ao Supremo.

     Mesmo se o discípulo não buscar outro Guru, mas simplesmente sair do caminho da Verdade, ainda assim, seu Guru original tem de manter a promessa. O discípulo pode sair do caminho espiritual por uma encarnação, duas ou mesmo muitas encarnações, mas seu Guru – esteja ele encarnado ou nas regiões superiores – constantemente olha pelo discípulo e espera pela oportunidade de ajudá-lo ativamente, quando ele uma vez mais retornar ao caminho espiritual. Na verdade, o Guru é sinceramente desapegado, mas como fez uma promessa ao discípulo e ao Supremo no discípulo, ele espera indefinidamente por uma oportunidade de conduzir o discípulo para a Meta.

     Alguns dos meus discípulos que em algum momento seguiram meu caminho com toda a sinceridade também me deixaram com toda a sinceridade. Mas, se eles são meus discípulos no mundo interior, se eu já os havia aceitado e eles eram meus discípulos verdadeiros, então gostaria de dizer que não os esqueci. Eles podem levar uma, duas, cinco ou seis encarnações para retornarem à vida de aspiração, mas não importa quanto tempo levem, eu os ajudarei nas suas marchas em direção à Deus-realização.

     Devido à promessa que fiz à alma do meu discípulo e a Deus, sou mais responsável por meu discípulo do que ele próprio. Mas, quem me permite assumir essa responsabilidade? É o discípulo! Estou à mercê dos meus discípulos. Agora mesmo, Deus é uma ideia vaga para eles, de modo que hoje podem me aceitar e amanhã podem me deixar. No plano exterior, o discípulo pode me deixar, mas, enquanto o Supremo desejar que eu me concentre naquela pessoa e envie Sua Luz para aquela pessoa, eu tenho de fazê-lo. Após deixar nosso caminho, o discípulo pode seguir algum outro caminho ou mesmo nenhum. Mas, uma vez que eu aceite alguém, a menos e até que o Supremo me diga que aquela pessoa está em outras mãos, eu sou responsável por ela.

     Eu digo aos meus alunos, “Estou pronto para assumir todos os seus problemas, desde que você esteja pronto para sentir que é por mim e apenas por mim. Se sua dedicação fica dividida aqui e ali, nesse e naquele grupo, e se vem meditar no nosso Centro só de vez em quando, então, mesmo que diga que eu sou o seu Mestre, você me tornou impotente para fazer algo por você. Se verdadeiramente me der a sua completa existência, interior e exterior, somente então poderei fazer algo por você. É na força da minha total unicidade com você e na sua aceitação de mim que eu posso assumir os seus problemas.”

     Quando um Mestre da maior grandeza diz que você tem uma relação eterna com ele, ele está falando pela força da sua absoluta unicidade com o Supremo e com a sua alma. Ele sabe que você estará sempre sob sua orientação interior. E quando realizar o Altíssimo, verá que a suprema Consciência que realizou é a mesma Consciência que o Mestre representou na Terra. Um verdadeiro Mestre espiritual incorpora a infinita Consciência do Supremo e a representa na Terra.

     Quando o Mestre fala de uma relação eterna, trata-se de uma relação de aceitação mútua. O Mestre não diz, “Quer você esteja consciente disso ou não, eu manterei minha eterna conexão com você e seremos eternamente um.” Não, se o Mestre tem verdadeiramente a capacidade de estabelecer essa eterna relação com o discípulo, então ele também tem a capacidade de fazer o discípulo sentir que ele o fez. O Mestre oferece essa mensagem para a alma do buscador, e o buscador sente que sua conexão interior com seu Mestre durará para sempre. Então, com sua extrema doçura, carinho, compaixão, gratidão e orgulho, o Mestre aceita o discípulo de todo o coração e permanentemente. E o discípulo tem o mesmo sentimento pelo Mestre; ele sente que seu Mestre não é uma entidade separada, mas sim ele mesmo, o próprio discípulo. Ele sente que o mais elevado, o qual chama de Mestre, é sua própria parte mais iluminada. Quando tem esse tipo de sentimento, essa espécie de realização, então a relação eterna entre Mestre e discípulo poderá ter o seu início.

     A relação eterna entre o Mestre e o discípulo possui relevância somente no caso de um Mestre realizado. Se o Mestre não é completamente realizado, então está só enganando o discípulo. Há muitos Mestres que não realizaram Deus e ainda assim dizem, “Oh, nós temos uma eterna conexão. Tomarei conta de você, mesmo após eu ter deixado o meu corpo.” Quando esse tipo de Mestre deixa o corpo, o discípulo poderá chamar por seu Mestre constantemente, mas não obterá resposta. Mesmo no plano físico esse tipo de Mestre é sem utilidade. Ele só pode fazer falsas promessas.

    O principal objetivo da iniciação é trazer a alma à tona. Se não há iniciação, a purificação do corpo, do vital, da mente e do coração nunca poderá ser completa. Se não há iniciação, a Meta altíssima nunca poderá ser realizada. Os que são próximos de mim sentiram o real florescimento de suas iniciações no momento que, do fundo do coração, dedicaram ao Supremo em mim suas vidas por completo – corpo, vital, mente, coração e alma. Esse florescimento da iniciação é verdadeiramente mais do que iniciação. É a revelação da própria divindade interior dos discípulos. Nesse momento, eles sentem que eles e seu Guru se tornaram totalmente um. Sentem que seu Guru não possui existência sem eles e que eles não têm existência sem seu Guru. O Guru e o discípulo se completam mutuamente e sentem que essa satisfação vem diretamente do Supremo. E o maior segredo que o discípulo aprende do Guru é que somente satisfazendo o Supremo primeiro pode ele trazer plenitude ao resto do mundo.

     Como pode o Guru satisfazer ao Supremo? O Guru faz a sua parte assumindo a ignorância, imperfeição, obscuridade, impureza e indisposição do discípulo, conduzindo-as com fé e devotadamente ao Supremo. O discípulo satisfaz ao Supremo permanecendo constantemente no barco do Guru e no mais profundo recesso do coração dele, sentindo que existe somente para a satisfação divina de seu Mestre. Satisfazê-lo, manifestá-lo: essa é a única razão, o único propósito, o único significado da vida do discípulo.

 

*

 

O Guru não é o corpo. O Guru é a revelação e manifestação de um Poder divino sobre a terra.

 

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Encontrar Deus sem um intermediário

Pode não ser impossível,

Mas é certamente a mais ambiciosa

Empreitada montanha-escalada.

 

*

 

Você recebeu alguma ajuda para aprender o alfabeto? Requisitou um professor para ajudá-lo a aprimorar-se em seu instrumento musical? Recebeu instrução para capacitar-se a receber o seu diploma? Se precisou de quem o ajudasse a fazer essas coisas, também não necessitará de um professor que possa guiá-lo no conhecimento do Divino – a sabedoria do Infinito? Esse professor é o seu Guru e ninguém mais.

 

*

 

O Guru e o discípulo devem se testar docemente, seriamente e perfeitamente antes da aceitação mútua. De outro modo, se errarem na escolha, o Guru terá de dançar com o fracasso e o discípulo com a perdição.

 

*

 

O que significa a aceitação do discípulo por um Guru? Significa que o Guru viverá alegremente no mundo de dourado sacrifício.

 

*

 

A suprema iniciação é quando o Mestre diz ao discípulo, “Tome o que eu tenho”, e o discípulo diz ao Mestre, “Tome a mim como eu sou.”

 


livro inspirador espiritual iniciacao elizabeth haichAos que tiverem interesse, há um outro livro, muito inspirador, da Elizabeth Haich, chamado Iniciação (Initiation).