Select Page

Deus e os mundos superiores

deus

Deus e os mundos superiores

Abaixo algumas perguntas do livro Meditação, Yoga e a Arte de Viver: a Aventura da Vida

 

O propósito da vida é manifestar a divindade interior. O propósito da vida é se tornar um instrumento consciente, um instrumento escolhido de Deus. O propósito da vida é manifestar a Verdade altíssima que personificamos. Primeiro temos de enxergar a Verdade e sentir a Verdade. Então temos de revelar e manifestar a Verdade.

 

Encontrando Deus

Realização-Deus ou siddhi é a Auto-descoberta no sentido mais elevado da palavra. A unicidade com Deus é realizada de forma consciente. Enquanto o buscador permanece na ignorância, ele sente que Deus é outra coisa, que possui Poder infinito, ao passo que ele, o buscador, é a pessoa mais frágil na terra. Todavia, na hora que realiza Deus, ele passa a saber que ele e Deus são absolutamente um na vida interior e exterior. Realização-Deus é a identificação com o próprio absolutamente mais elevado Eu. Identificar-se com o próprio Eu mais elevado e permanecer nessa consciência para sempre, conseguir revelar e manifestá-lo à vontade: isso é realização-Deus.

Você estudou livros sobre Deus, e pessoas lhe disseram que Deus está em todos. Mas não realizou Deus na sua vida consciente. Para você, é tudo especulação mental. Todavia, quando se é Deus-realizado, conhece-se o que Deus é, com o que Ele se parece, o que Ele deseja. Ao alcançar a Auto-realização, a pessoa permanece na Consciência de Deus e fala com Deus face a face. Ele enxerga Deus tanto no finito quanto no infinito; ele vê Deus como pessoal e impessoal. Nesse caso, não é alucinação mental ou imaginação; é uma realidade direta. Essa realidade é mais autêntica do que o meu ver você diante de mim. Quando falamos com um ser humano, há sempre um véu de ignorância: escuridão, imperfeição, desentendimento. Mas entre Deus e o ser interior daquele que O realizou não há ignorância, não há véu algum. Ele pode falar com Deus mais claramente, mais convincentemente, mais abertamente do que com um ser humano.

Como seres humanos comuns, sentimos que a infinita Paz, infinita Luz, infinito Deleite e infinito Poder divino são apenas pura imaginação. Somos vítimas da dúvida, medo e forças negativas, coisas que sentimos ser bastante normais e naturais. Não conseguimos amar nada puramente, nem nós mesmos. Estamos no finito, discutindo e lutando, e não há coisa tal como Paz ou Luz ou Deleite em nós. Mas aqueles que praticam meditação mergulham fundo no interior e enxergam que lá realmente existe paz, luz e deleite verdadeiros. Eles obtêm ilimitada força interior e descobrem que a dúvida e o medo realmente podem ser desafiados e superados. Quando alcançamos a realização-Deus, a nossa existência fica inundada de Paz, Serenidade, Equanimidade e Luz.

 

Iluminando nossa vida

No dia a dia, falamos frequentemente de limitação e liberdade. Mas a realização diz que não há tal coisa como limitação e liberdade. O que existe na verdade é consciência – consciência em diversos níveis, a consciência desfrutando-se em suas várias manifestações. No campo da manifestação, a consciência possui diferentes graus. Por que oramos? Oramos porque a nossa oração nos leva de um nível inferior de iluminação ao um nível mais elevado. Oramos porque a nossa oração nos deixa mais próximos de algo puro, belo, inspirador e preenchedor. A iluminação mais elevada é a realização-Deus. Essa iluminação deve acontecer não apenas na alma, mas também no coração, mente, vital e corpo. Realização-Deus é uma união consciente, completa e perfeita com Deus.

O que é Deus?

o que e deus?

O que é Deus?

Abaixo algumas perguntas do livro Meditação, Yoga e a Arte de Viver: a Aventura da Vida

 

Sri Chinmoy: Deus é infinita Consciência, infinito Deleite, mas Ele também pode assumir uma forma finita. Ele é infinito, Ele é finito; ao mesmo tempo, Ele transcende ambos finito e infinito. Ele é vida, Ele é morte; e Ele está além da vida e da morte. Quando digo ‘Supreme’ [Supremo, em português], estou me referindo ao Infinito, Eterno e Imortal. Mas, quando eu O vejo, eu O vejo face a face, justamente como estou vendo você agora. Contudo, o fato é que Deus é ilimitado e toma todas as formas no campo da manifestação, desde um minúsculo inseto até um enorme elefante. Muitas pessoas não conseguem concordar com a ideia de que Deus pode ser finito. Mas pensemos em uma das qualidades divinas de Deus, a Onipresença. De acordo com a nosso sentimento humano, quando pensamos em onipresença, imediatamente pensamos em vastidão. É verdade, Ele é tão vasto quanto o mundo, mas porque Ele está em tudo, Deus também pode ser finito. Deus é também onipotente. Onde estaria a sua Onipotência, se ele não pudesse se tornar uma criança pequena, um minúsculo inseto ou um átomo? Não conseguimos fazer praticamente nada por conta própria. Mas justamente porque Deus é onipotente, Ele pode fazer o que desejar e quando quiser. Ele pode ser enorme, Ele pode ser mínimo.

Deus é tudo, mas cada pessoa deve sentir por si mesma que Deus é todo por ela. Ele pode ser infinita Luz, infinita Consciência, infinito Poder, infinita Alegria, infinito Deleite, infinita Compaixão, infinita Energia. Ele pode ser pessoal, com forma. Ele pode ser impessoal, sem forma, assim como a água tem forma quando é gelo e não tem forma quando é líquida. Por vezes sentimos alegria quando vemos Deus com forma; por vezes, sentimos alegria quando vemos Deus sem forma. Podemos vê-Lo no Seu aspecto impessoal como uma vastidão de Luz. No Seu aspecto pessoal, Deus pode aparecer como um ser humano luminoso, com duas mãos, dois olhos e tudo o mais que nós temos. Ele será o Ser mais iluminado no Céu e na Terra. Quando Ele aparece como um Ser pessoal, podemos ter todos os tipos de conversas íntimas face a face com Ele.

 

Pergunta: Algumas pessoas dizem não acreditar em Deus, mas são pessoas boas e parecem felizes. Como você explicaria isso?

Sri Chinmoy: Independentemente da maneira com que apreciamos a realidade ou queremos nos identificar com a realidade, temos de sentir que estamos apreciando e nos identificando com a Divindade; e essa Divindade chamamos de Deus, Espírito ou Ser. Se não quiser chamar de Deus, você terá toda a liberdade. Mas então deverá chamá-la de felicidade. Felicidade é Deus. Se apreciar a beleza da natureza e ficar feliz, a felicidade que você estará experimentando será Deus.

 

Se Deus tiver de ser definido em uma palavra, eu diria que Deus é felicidade.

Mundos inferiores e superiores

mundos superiores

Mundos inferiores e superiores

Abaixo algumas perguntas do livro Meditação, Yoga e a Arte de Viver: a Aventura da Vida

 

Há sete mundos inferiores e sete mundos superiores dentro de nós. Estamos tentando transformar os mundos inferiores em mundos luminosos, mundos de perfeição; e, ao mesmo tempo, estamos tentando trazer os mundos superiores para a nossa manifestação exterior. Alguns dos mundos superiores nós já vemos operando no nosso mundo físico, na Terra. Primeiro vem o físico, depois o vital, depois a mente, então vem o plano de intuição, ou mente intuitiva, e a sobremente e supermente. Além da supermente existe Existência-Consciência-Deleite – Sat-Chit-Ananda.

Se souber como observá-los, poderá ver que alguns desses mundos já estão operando em você. Durante a meditação, você pode claramente enxergar que não é o mundo físico que entra em você. É algo mais: a mente elevada, sobremente, intuição ou algum outro mundo sutil. Mas apenas os Mestres espirituais e grandes aspirantes são conscientes do fato de que esses mundos estão se manifestando nas suas atividades diárias, justamente no mundo exterior. A pessoa comum, mesmo quando lampejos de intuição surgem na sua mente, não será capaz de saber que eles vêm do mundo da intuição. Contudo, cada pessoa, seja hoje ou amanhã, deve se tornar consciente desses mundos. E não só isso; ela deve manifestar a verdade, a luz, a beleza, a riqueza de todos os mundos superiores neste mundo.

*

Grandes Mestres espirituais de tempos imemoriais trouxeram os aspectos Sat e Chit. Mas Ananda é muito mais difícil de trazer. Alguns não o conseguiram de forma alguma. Alguns o trouxeram, mas ele durou apenas por alguns segundos ou minutos e retornou ao lugar de onde veio.

A Paz é acessível; podemos trazer Paz. A Luz e o Poder podem facilmente ser trazidos. Mas o Deleite que imortaliza a nossa consciência interior e exterior não foi estabelecido na Terra. Ele vem e vai, pois enxerga tanta imperfeição na atmosfera do mundo que não consegue permanecer.

A Paz é acessível; podemos trazer Paz. A Luz e o Poder podem facilmente ser trazidos. Mas o Deleite que imortaliza a nossa consciência interior e exterior não foi estabelecido na Terra.

Mesmo pessoas espiritualmente avançadas acabam ficando confusas. Elas sentem um êxtase interior que vem do mundo vital e pensam que é o Deleite verdadeiro. Mas não é. O verdadeiro Deleite vem do mundo mais elevado para a alma e, a partir da alma, satura o ser por completo.

Esse Ananda é absorvido diferentemente do deleite físico, o qual chamamos de prazer ou desfrutar. O Deleite supra mental é completamente diferente do mundo de prazer e desfrutar. Uma vez que receba mesmo uma gota desse Deleite, sentirá que o seu ser interior dança em alegria como uma criança da mais absoluta pureza, e o seu ser exterior sente Imortalidade na sua existência exterior. Caso sinta esse Deleite mesmo por um segundo, você lembrará por toda sua vida.

Ao nosso redor está o Jogo cósmico, o Teatro cósmico. O universo está cheio de alegria, alegria interior e alegria exterior. Quando a realização acontece, temos de sentir a necessidade de manifestar esse Deleite constante no nosso coração. Esse Deleita brilha, mas não queima. Ele possui uma intensidade tremenda, mas é todo suavidade e um Néctar absolutamente doce-fluente. Certo dia eu trouxe esse Deleite para o meu físico material de forma que, enquanto eu sorria, estava espalhando o Deleite mais elevado para cada um de vocês. Mas devo dizer que tudo desapareceu. Ninguém dentre os discípulos o manteve.

 

Pergunta: Se um ser humano pudesse transformar a sua consciência de forma a se identificar com a Consciência Universal, certamente esse ser humano merece ser reverenciado. Ao mesmo tempo, há malucos que ficam se dizendo seres elevados. Quais são as marcas que distinguem um santo de um louco?

Sri Chinmoy: Os santos estão embriagados de êxtase divino. Os grandes santos espirituais, quando alcançam sua perfeição espiritual, bebem néctar ambrosial. Eles vivem numa consciência de deleite, na qual sentem que o próprio mundo abriga o oceano espiritual de bem-aventurança. Alguns tentam trazer para cá esse Deleite altíssimo, Ananda, a partir de um plano muito elevado de onde o receberam, e por vezes acham difícil. Quando sentem a dificuldade em tocar o plano material carregando essa Bem-aventurança, eles podem perder seu equilíbrio interior e, por um curto período de tempo, podem ficar deslocados da consciência física. Eles podem não conseguir operar normalmente no plano físico nessa hora. Um buscador pode esquecer o seu nome, por exemplo, e talvez os outros digam que ele está maluco.

Contudo, um louco comum está mentalmente, vitalmente ou fisicamente deslocado. Ele nunca sabe o que fazer ou o que dizer ou como agir. Ele perdeu permanentemente a conexão entre o mundo físico e a sua própria existência na Terra. Portanto, sempre que ele diz ou faz algo, não há harmonia com a Consciência Universal. Isso é, ele não consegue se projetar na Consciência Universal em que todos vivemos. Estamos todos vivendo na Consciência Universal, apesar de não estarmos conscientes disso. Ao mesmo tempo, não estamos violando as regras da Consciência Universal. Um louco também está inconsciente da Consciência Universal, mas, ao mesmo tempo, ele viola as leis do universo, da Consciência Universal, devido à sua ignorância.

Assim como temos ideias pré-concebidas, o louco também tem ideias pré-concebidas, mas ele não consegue formular as suas ideais como nós. Nós temos um cérebro e conhecemos a nossa mente. Sabemos como um pensamento segue o outro pensamento. No caso de um louco, não é o que acontece. Todos os pensamentos e ideias dos mundos superiores e inferiores vêm até ele como um lampejo, e ele perde todo o seu equilíbrio interior e exterior. As forças e pressões dos outros mundos entram nele e encontram ali um canal aberto para se expressarem.

Um louco comum nunca estará aberto para a Luz ou para a Verdade ou para o que poderá salvá-lo, salvar a sua vida, a sua existência na Terra. O louco Deus-embriagado, no entanto, é o verdadeiro santo, louco de Beleza divina, Luz divina, Pureza Divina e tudo que há de divino. Ele quer possuir e ser possuído pela Divindade. Essa é a diferença entre um louco comum e um santo Deus-embriagado.

O louco Deus-embriagado, no entanto, é o verdadeiro santo, louco de Beleza divina, Luz divina, Pureza Divina e tudo que há de divino.

Deus é o Amigo eterno do homem. Quando o homem busca Deus, não como um pedinte, mas como um amigo, ele recebe Deus mais cedo. Ele recebe Deus na Sua mais doce Forma. Não somos os escravos de Deus. Somos Seus filhos, seus filhos escolhidos.

Paz interior e liberdade

paz interior

Paz e liberdade

por Sri Chinmoy, do livro Meditação, Yoga e a Arte de Viver: a Aventura da Vida

 

É apenas através

Da paz interior

Que poderemos ter

Verdadeira liberdade exterior.

 

A origem da liberdade

Liberdade é felicidade. Liberdade é plenitude. Liberdade pode ser outras coisas, também. A liberdade pode trazer sofrimentos terríveis. Os seres humanos precisam de liberdade – liberdade da tirania, liberdade da escravidão, liberdade das amarras, liberdade da ignorância. Alguns seres humanos querem liberdade para criar, e outros querem liberdade para destruir. Outros ainda precisam de liberdade para aspirar e se dedicar.

Lutamos pela liberdade exterior. Clamamos pela liberdade interior. Com a liberdade exterior, alcançamos e dominamos os quatro cantos do mundo. Com a liberdade interior, vemos a Alma e nos tornamos a Meta de todo o universo.

Sinto que a liberdade vive na paz e somente na paz.

Se você tem paz interior, ninguém poderá forçá-lo a ser um escravo da realidade exterior.

Nenhum preço é grande demais a se pagar pela paz interior. A paz é o controle harmonioso da vida. Ela ressoa, repleta de energia-vida. É um poder que facilmente transcende todo o nosso conhecimento mundano. Ainda assim, não está separado da nossa existência terrena. Se abrirmos os caminhos corretos dentro de nós, essa paz poderá ser sentida aqui e agora.

A pior tristeza que pode acometer um ser humano é perder a sua paz interior. Nenhuma força externa pode roubá-la. São os seus próprios pensamentos, as suas próprias ações que a roubam.

O mundo interior foi encarcerado pela inquietação e pelo nervosismo. A meta de se praticar Yoga é justamente ter paz, paz de espírito. Quando alguém adquire paz de espírito, automaticamente ele passa a ter uma força interior insuperável. Como poderia o nervosismo afetar alguém que está repleto de força interior? Não haverá qualquer inquietação ou nervosismo. O nervosismo vem quando você separa a parte do seu todo. O medo aparece quando você separa uma coisa do seu todo.

Não devemos permitir que o nosso passado atormente e destrua a paz do nosso coração. Nossas ações boas e divinas de hoje podem facilmente contrabalançar nossas ações ruins e não divinas do passado. Se o pecado tem o poder de nos fazer chorar, a meditação tem o poder de nos proporcionar alegria e nos imbuir de sabedoria divina.

Nossa paz é interior, e essa paz é a fundação da nossa vida.

Nossa paz é interior, e essa paz é a fundação da nossa vida. Assim, de hoje em diante, façamos nossas mentes e corações repletos de lágrimas de devoção, que são a fundação da paz. Se a nossa fundação é sólida, não importa o quão alto ergamos a estrutura, o perigo nunca poderá nos ameaçar, pois há paz acima, há paz abaixo, há paz interior, há paz exterior.

Yoga e a libertação da mulher

Abaixo algumas perguntas do livro Meditação, Yoga e a Arte de Viver: a Aventura da Vida


Pergunta: Qual o papel da mulher na vida espiritual nesses tempos de ‘libertação feminina’ e tudo o mais? Num sentido espiritual, qual o verdadeiro lugar da mulher e do homem?

Sri Chinmoy: Ao Olho de Deus, não há homem e nem mulher. Ao Olho de Deus, eles são a mesma coisa. O homem é o rosto; a mulher é o sorriso. Sem o rosto, como pode haver um sorriso? E, sem um sorriso, de que adianta um rosto? Ambos são igualmente importantes.

Pergunta: O esposo e a esposa podem ter diferentes professores?

Sri Chinmoy: Se esposo e esposa tiverem diferentes professores será como ir para um mesmo destino por duas estradas. Haverá problemas se o esposo disser que a sua estrada é clara, sol-iluminada, ao passo que a estrada da esposa está cheia de obstáculos. As dificuldades começarão aí. Mas, se o esposo disser: “Eu gosto desta estrada, e você gosta dessa. Siga o seu próprio caminho, e eu seguirei o meu. Tentaremos alcançar o mesmo destino,” então não haverá problemas. A postura correta é quando o esposo não tenta converter a esposa, e a esposa não tenta converter o marido. Contudo, quando surge um sentimento de comparação ou competição, tudo se perde.

Pergunta: Mas a união entre duas pessoas diminui quando estão seguindo dois caminhos diferentes até a mesma coisa?

Sri Chinmoy: Não. O que precisamos saber é quanto respeito e compreensão eles têm pelo caminho do outro. Se tiverem o mesmo Mestre, se estiverem caminhando pela mesma estrada, será sempre seguro. Se o esposo e a esposa seguem o mesmo caminho e o esposo fica cansado, exausto, é atacado por dúvidas, a esposa se torna seu auxiliar. E, se a esposa é atacada por dúvida ou medo, o esposo pode ser um auxílio genuíno. Se seguirem o mesmo caminho será muito vantajoso.

Todavia, se a esposa disser, “Eu quero seguir o caminho do coração,” e o esposo disser, “Eu quero seguir o caminho da mente,” eles precisarão ser muito cuidadosos. Cada um deve saber que o que o outro faz está correto, de acordo com o seu entendimento e capacidade. É necessário respeito mútuo pelas descobertas individuais.


Mais em Yoga

Espiritualidade e yoga

Espiritualidade e yoga

Por Sri Chinmoy, do livro Meditação, Yoga e a Arte de Viver: a Aventura da Vida

 

Espiritualidade não é mera tolerância. Ela não é nem mesmo aceitação. É o sentimento de unicidade universal. Na nossa vida espiritual, buscamos enxergar o Divino, não apenas nos termos do nosso próprio Deus, mas como o Deus de todos. Nossa vida espiritual estabelece firme e seguramente a fundação da unidade na diversidade.

Espiritualidade não é mera hospitalidade à fé dos outros em Deus. Ela é o absoluto reconhecimento e aceitação da fé que eles têm em Deus como sua própria. É difícil, mas não impossível, pois tal foi a experiência e prática de todos os Mestres espirituais de todos os tempos.

 

Ouça a alma

A vida espiritual é a vida da alma. Devemos nos tornar conscientemente um com nossa alma. Apenas quando sentimos nossa unicidade com a alma que a verdadeira satisfação pode despertar nas nossas vidas. Nunca ficaremos verdadeiramente satisfeitos com a nossa própria satisfação exterior. Poderemos ser permanentemente felizes apenas quando satisfizermos Deus da Maneira própria de Deus. Deus é a nossa Realidade mais elevada. Quanto mais escutamos a alma dentro de nós, mais nos tornamos a Realidade altíssima dentro de nós. Apenas assim poderemos ser eternamente satisfeitos.

 

Pergunta: Há desarmonia entre os meus pais e eu porque o meu pai é ateu.

Sri Chinmoy: Qual é o problema em ser ateu? Você acredita no Amor de Deus, e ele acredita em outra coisa. Não há ninguém na Terra que não acredite em nada. Ele acreditará na comida, no corpo, numa flor, no futebol ou na ciência. Ele tem de acreditar em algo que tenha visto, ou então acreditará no nada. Diga ao seu pai, “Você é ateu, mas acredita em algo.”

Você acredita em Deus; o seu pai acredita em outra coisa. Mesmo o nada é uma realidade. A filosofia indiana diz ‘neti, neti’ – ‘nem isso e nem aquilo.’ Esse nada também vem da mente e do coração. Você poderia dizer ao seu pai que ele pode ter fé nesse nada, e ele enxergará o seu Deus no nada. Você pode dizer: “Eu digo ‘tudo’. Você tem o seu ‘nada’. Por fim, você verá que dentro do meu tudo estará o seu nada, e que dentro do seu nada está o meu tudo.”

Se quiser que eu defina a espiritualidade, eu a definiria com apenas uma palavra: satisfação. A espiritualidade é nada mais e nada menos do que satisfação.

Dentro do finito Deus manifesta a Sua Infinidade. Hoje, uma gota de luz é tudo para nós. Mas, quando subirmos alto, a própria Infinidade não bastará, pois Deus nos concedeu uma sede infinita. Estamos falando da realização suprema. Hoje o seu pai não compreende sobre o que estamos falando, mas um dia ele entenderá, pois ele mesmo realizará essa própria coisa que é a realização.

Portanto, não se preocupe com o seu pai. Apenas diga que ele deve ter fé no que ele tem e acredita. Mantendo a própria fé, os seus problemas serão solucionados. Encoraje-o a encontrar satisfação naquilo que acredita ser verdade na vida dele. Contudo, se não estiver satisfeito, poderá então dizer: “Você não está encontrando satisfação nas suas crenças, mas eu estou encontrando nas minhas, então porque diz que estou errado? Porque não experimenta o meu caminho?”

A diferença entre o coração e a mente é esta: o coração quer dar; a mente odeia perder.


Mais sobre espiritualidade e o que é yoga

Religião, espiritualidade e yoga

Religião, espiritualidade e yoga

Por Sri Chinmoy, do livro Meditação, Yoga e a Arte de Viver: a Aventura da Vida

 

A partir do Yoga, a espiritualidade começou a existir e, a partir da espiritualidade, a religião passou a existir. A partir da religião, a filosofia passou a existir. A filosofia nos lembra de que este não é o único mundo, que há muitos mundos superiores e também interiores, e nos indica entrar nesses mundos.

 

O sentimento de um coração-unicidade

A essência de toda religião é o amor por Deus. Não há sequer uma religião que não nos diz para amar Deus. O problema começa com os seguidores da religião. Muitas vezes eles dizem “A minha religião é a melhor de todas, e a sua religião é muito ruim.” Os seguidores das diferentes religiões são como filhos numa mesma família. Todas têm os mesmos pais e recebem o mesmo afeto, amor e compaixão dos pais. Apesar disso, as crianças ainda brigam e disputam. Se uma irmã acha que a outra é mais bela, ela fica com inveja e briga com a sua irmã. Se um irmão vê que o outro é mais forte, imediatamente o irmão mais fraco fala mal do irmão mais forte. Numa família, um irmão dirá “Eu sei mais do que todos!”, e o outro dirá “Não, eu entendo mais que você!” Igualmente, cada religião dirá às suas religiões irmãs e irmãos “Eu sei mais sobre o Pai do Céu do que vocês.” Ou então “A minha maneira de amar a Deus é a única forma correta, e a sua maneira está errada.” Frequentemente há disputas e lutas entre as diversas religiões.

Mas onde todas as religiões concordam é em amar a Deus. Se realmente amamos uma pessoa, sentimos a nossa unicidade com ela. Portanto, se realmente amamos Deus e sentimos nossa unicidade com Deus, também sentiremos a nossa unicidade com a criação de Deus. Nos mais profundos recônditos do nosso coração, sabemos que somos todos um, mas o orgulho aparece, e dizemos aos outros, “Não preciso de você.” Mas nós precisamos, sim, uns dos outros. Somos partes da mesma realidade-existência. Uma árvore é composta de tronco, galhos, folhas, flores e frutos. Se o tronco disser que não precisará mais dos galhos e folhas, que tipo de árvore ela se tornará? E se as flores disserem que não precisam dos galhos e do tronco, como viverão? É necessário estabelecer uma unidade.

Quando entramos num jardim, imediatamente nos tornamos cientes da beleza, pureza e fragrância do jardim. Cada flor tem a sua própria beleza, mas a beleza que sentimos no jardim é a beleza da multiplicidade. Essa é a beleza que nos traz uma imensa alegria. Igualmente, Deus sente uma imensa alegria com a multiplicidade dos corações-flor de todos os Seus filhos.

Na religião, é o sentimento de coração-unicidade que deve prevalecer, e nada mais. Religião não é uma questão de razão. Se vivemos no nosso coração-unicidade, sentiremos a essência de todas as religiões, que é o amor a Deus. Contudo, vivendo na mente, apenas tentaremos diferenciar uma religião da outra e ver como suas ideologias diferem. O coração é quem é capaz de ter um verdadeiro entendimento intuitivo da amplitude e alcance de todas as religiões. O coração vê e sente a harmonia interior e a unicidade de todas as religiões.

Uma religião verdadeira tem uma qualidade universal. Ela não vai contra as outras religiões. As religiões falsas verão erros nas outras religiões. Elas dirão que a sua religião é a única religião válida, e que o seu profeta é o único salvador. Mas uma religião verdadeira sentirá que todos os profetas são salvadores da humanidade. Perdão, compaixão, tolerância, fraternidade e o sentimento de unicidade são os sinais de uma religião verdadeira.

 

Pergunta: Você acredita que todas as religiões levam à mesma verdade, ainda que tomando estradas diferentes?

Sri Chinmoy: Sim, absolutamente. Concordo plenamente que todas as religiões levam a uma verdade, a Verdade Absoluta. Existe uma Verdade. Existe apenas uma Meta, mas há vários caminhos. Cada religião está certa da sua própria maneira. Contudo, se uma religião diz que ela é a única religião, ou que é a melhor de todas, acharei difícil concordar com essa religião. Se uma religião diz: “A minha religião é verdadeira. A sua religião é igualmente verdadeira,” então concordarei plenamente. Mas, se eu disser que o nosso hinduísmo é a melhor de todas, e que o seu cristianismo não é nada comparado com o hinduísmo, serei o maior dos tolos neste mundo. Se eu disser “Se você aceitar a minha religião, eu o levarei até a Meta mais rapidamente,” e tentar convertê-lo à minha religião, estarei mais uma vez cometendo um erro gigantesco.

Cada religião está certa. A religião é uma casa. Eu tenho de viver na minha casa. Você tem de viver na sua. Eu não posso ficar na rua, e nem você pode. Mas chega o dia em que ampliamos a nossa visão. Sentimos que além dos limites dos ritos e rituais da religião jaz uma Meta mais elevada. Então, o que fazemos? Tentamos aperfeiçoar a imperfeição que há na religião. O resultado é que imediatamente entramos em conflito com os fanáticos. Ou descobrimos que não conseguimos mudar as regras e cânones da religião, e ficamos tristes. Contudo, ao viver uma vida espiritual, a vida interior, não conflitamos com qualquer religião. Aqueles que desejam seguir uma religião devem fazê-lo. Mas aqueles que desejam uma Meta ainda mais elevada, Yoga, a união consciente e constante com Deus, devem seguir o caminho do Yoga. Então, através da nossa unicidade com Deus, diremos que o mundo inteiro é nosso. Cada ser humano é nosso irmão ou irmã. Quando você mergulha no campo do Yoga e quer realizar a Verdade altíssima, a Verdade absolutamente altíssima, posso dizer que estará acima da sua religião. Isso quer dizer que se não quiser seguir a sua religião ou qualquer outra religião, estará livre para fazê-lo, pois você está clamando pelo Altíssimo de uma forma especial. A despeito das respectivas imperfeições, a sua religião e a minha religião buscam a mesma Meta. Agora você sente que possui um tremendo anseio interior para alcançar o Altíssimo sem se envolver com as ditas imperfeições da sua religião, da minha ou das outras. Naturalmente, você tentará alcançar a sua Meta sem nos perturbar, sem perturbar os outros e, ao mesmo tempo, você mesmo não será perturbado.

 

Pergunta: Você é parte de um corpo religioso organizado, seita ou culto, ou você é apenas você mesmo?

Sri Chinmoy: Eu não pertenço a seita ou religião alguma. Ao mesmo tempo, os meus ensinamentos incorporam a quintessência de todas as religiões. Eu nasci numa família hinduísta; portanto, conheço os detalhes da religião hinduísta. Mas eu não pratico o hinduísmo. Não sigo nenhuma religião específica. A minha religião é amar a Deus e se tornar um humilde instrumento de Deus. A religião hinduísta é como uma casa; o cristianismo é outra casa; o judaísmo, outra casa. Podemos viver em diferentes casas, mas frequentaremos uma mesma escola para estudar. Espiritualidade, Yoga, é o que afinal precisamos estudar.

 

iPergunta: Há alguma diferença entre uma religião e outra? O Yoga exige abdicar de toda religião?

Sri Chinmoy: Não há diferença fundamental entre uma religião e outra, pois cada religião incorpora a Verdade última. Assim, o Yoga não interfere com qualquer religião. Qualquer um pode praticar Yoga. Tenho discípulos que são católicos, protestantes, judeus, etc. Pode-se praticar Yoga independentemente da sua religião. Se alguém conhece o hinduísmo, por exemplo, ele poderá ter medo de aceitar o catolicismo, e vice-versa. Mas o aspirante verdadeiro que mergulhou na espiritualidade e Yoga não verá dificuldade em permanecer na sua própria religião. Digo aos meus discípulos que não devem abandonar suas religiões. Permanecendo nas suas religiões e praticando a vida e disciplina espirituais eles serão capazes de ir mais rápido, pois suas religiões lhe darão segurança constante no que estão fazendo e confirmarão o que praticam de verdade nas suas vidas. Por isso eu sempre digo aos meus alunos que devem manter suas religiões, pois o Yoga não exige a renúncia de qualquer religião.

 

Estamos dentro do Coração de Deus

A religião não é obstáculo para a vida espiritual. O Yoga, ou disciplina espiritual, nunca estará contra qualquer religião. Yoga quer dizer união com Deus, união consciente com Deus. Eu posso orar a Deus da minha própria maneira; você pode orar a Deus do seu próprio modo. Deus fica satisfeito com ambos. Isso é religião. Então, quando realizamos Deus, nos tornamos um com a Sua criação, com o Seu universo. Sentimos que estamos dentro do Coração de Deus. Quando realizo Deus, sinto-me dentro do Coração de Deus. E você fará o mesmo.

Por isso não devemos criticar qualquer religião. Quando é uma questão de Yoga, saibamos que o Yoga transcende toda religião. É como se não quiséssemos ficar satisfeitos com apenas com a minha casa ou a sua casa. Queremos considerar todas as casas do mundo como nossas, pois Deus está dentro de todas elas. No Yoga, todas as religiões se tornam nossas, pois Yoga significa união com Deus. Quando temos essa união, transcendemos nossos sentimentos limitados de ‘eu’ e ‘meu’, a minha religião, a sua religião. É nessa hora que vamos além dos limites da religião.

Todas as religiões são verdadeiras. Mas, quando entramos para a vida espiritual, vamos um passo além da religião. Então Deus passa a ser o nosso único objetivo, a nossa meta. Quando entramos Nele, adentramos a Consciência infinita. Se oramos e meditamos, aceitamos todas as religiões do mundo como parte de nós e as colocamos no justo Coração de Deus.

Religião é a casa, espiritualidade é a sala de estar e Yoga é a sala de oração e meditação. A casa é bela, a sala de estar é útil e a sala de oração e meditação é frutífera.

Yoga, os desejos e a vida material

Yoga e a vida material

Por Sri Chinmoy, do livro Meditação, Yoga e a Arte de Viver: a Aventura da Vida

 

Um místico pode viver na terra de forma segura e firme, como um barco na água. O barco está na água, mas não é afetado pela água.

 

O tesouro infinito

O Yoga nos auxilia no nosso dia a dia. Na verdade, o Yoga é aquilo que pode ser o auxílio supremo na nossa vida cotidiana. Nossa vida humana está repleta de dúvida, medo e frustração. O Yoga nos auxilia a substituir o medo pela coragem invencível, a dúvida pela certeza absoluta e a frustração por realizações douradas.

 

Pergunta: Que resposta você daria a uma pessoa que perguntasse “Como a vida espiritual beneficiaria uma pessoa comum, uma pessoa que esteja mais preocupada em ganhar o pão e sustentar sua vida?”

Sri Chinmoy: Se a pessoa está mais preocupada em ganhar o seu pão, isso quer dizer que precisa de poder-dinheiro. Se tiver dinheiro, poderá comprar o pão. E o que nos ajuda a ganhar dinheiro? É a energia, o trabalho, a força e o esforço. Todas essas coisas vêm de dentro. Se uma pessoa tiver uma vida espiritual, ela ficará repleta de energia. A vida espiritual pode inspirar pessoas em todos os âmbitos da vida; ela pode ajudar qualquer um na Terra. A espiritualidade, no sentido estrito da palavra, existe para a realização-Deus. No entanto, se alguém não quiser ir tão longe, se quiser apenas um pouco de progresso na vida material para que se torne próspero, essa pessoa poderá utilizar a oração. A oração é uma forma de espiritualidade; a meditação também. Sua oração e meditação o ajudarão a obter mais dinheiro e se tornar mais próspero. Mas essa não é a verdadeira meta da vida espiritual. A meta da vida espiritual é obter o tesouro infinito, a infinita Luz do Supremo, que está sempre a nosso dispor. Porém, se pessoas mundanas praticarem a oração e a meditação, as coisas que desejam não serão levadas embora. Pelo contrário, elas as obterão em medida abundante.

 

Pergunta: Seria possível me esforçar por riqueza material na minha vida material e ainda assim manter a paz na minha vida interior?

Sri Chinmoy: Certamente. Mas saibamos de quanta riqueza material precisamos. Ela deve estar de acordo com as nossas necessidades. Se quisermos nos tornar a pessoa mais rica na Terra, poderemos orar e meditar por isso. Contudo, precisamos saber para onde essa oração estará nos levando. Se nos tornarmos os homens mais ricos do mundo através das nossas orações, ficaremos felizes? A nossa oração e meditação nos dizem apenas uma coisa: Deus é todo Alegria. Se orarmos a Deus para que faça de nós as pessoas mais ricas da Terra, Deus poderá ouvir a nossa prece. Mas a felicidade é algo completamente diferente. Neste mundo, quando Deus nos confere poder material, vemos que esse poder-dinheiro não é do que realmente necessitamos. Poder-amor, poder-unicidade é do que precisamos.

Se nos tornarmos os homens mais ricos do mundo através das nossas orações, ficaremos felizes?

Podemos até ser milionários, bilionários, mas quando vemos que as pessoas não nos amam, nossos corações se partem. Como pedintes, mendigaremos o amor dos outros. Contudo, o nosso poder material, o poder-dinheiro, não conquistará o amor dos outros. Apenas o nosso poder-amor, nosso poder-unicidade, será capaz de conquistar o seu amor. Assim, ao orarmos a Deus, que peçamos apenas uma coisa: “Seja feita a Vossa Vontade.” Se for a Vontade de Deus tornar um indivíduo a pessoa mais rica, Deus o fará. Se a Vontade de Deus for outra, então Deus agirá de forma diferente. Podemos orar a Deus por poder material, mas temos de ser sinceros à nossa causa. Queremos felicidade verdadeira na vida? Se queremos felicidade real na vida, temos de saber que o poder material pode ser um obstáculo à nossa descoberta-Deus.

 

Pergunta: Eu gostaria francamente de saber o que a espiritualidade da Índia fez por ela. Como é que, apesar dos seus yogis e santos, ela ainda é um país pobre e atrasado?

Sri Chinmoy: Primeiro de tudo devemos saber o que trouxe essa situação. Na Índia ancestral, a vida material não era renunciada. As pessoas aspiravam pela síntese da Matéria e do Espírito, e até certo ponto elas conseguiram alcançá-la. Mas há um abismo entre esse passado ancestral e o presente.

Em períodos subsequentes da história da Índia, os santos e visionários sentiram que a vida material e a vida espiritual nunca poderão caminhar juntas, que deveriam renunciar a vida exterior para alcançar Deus. Portanto, a vida exterior foi negligenciada. Isso levou a conquistas por estrangeiros e muitos outros problemas. Mesmo hoje, a postura de que a prosperidade e beleza materiais devem ser negadas é muito comum na Índia. Isso explica muito da sua pobreza continuada.

Mas hoje em dia há gigantes espirituais na Índia que sentem que Deus deve ser realizado na Sua totalidade, que o Criador e a criação são inseparáveis. Eles advogam a aceitação da vida, a necessidade verdadeira de progresso e perfeição em todas as esferas da existência humana. Essa nova abordagem é amplamente aceita na Índia moderna.

A Índia pode estar empobrecida hoje, mas ela progredirá rapidamente através da sua nova percepção e nova aspiração. Ela não apenas tem a magnanimidade do coração, como também o poder de trazer a força da sua alma à tona e utilizá-la para resolver todos os seus problemas.

 

Pergunta: Muitas pessoas acordam de manhã, engolem um café da manhã rápido e saem de casa correndo para o metrô, para trabalhar e ficar completamente envolvidas na sobrevivência no dia a dia. Antes do fim do dia é bem difícil sentar-se e ter uma abordagem espiritual do que acontece, pois é preciso estar lá fora, correndo. É preciso ter um emprego. Há alguma maneira de integrar a vida espiritual com a parte econômica?

Sri Chinmoy: A nossa filosofia é a filosofia da sabedoria: primeiro o mais importante. A maior parte dos seres humanos não tem paz, paz de espírito. Eles entram na correria do dia a dia pela manhã e, durante o dia, não sentem uma gota de paz. Mas nós sentimos que, se fizermos primeiro as coisas mais importantes, estaremos sendo sábios. De manhã cedo, se orarmos a Deus por ao menos alguns minutos, estaremos fazendo a coisa mais importante primeiro.

Agora sentimos que é o poder-dinheiro, a riqueza material, aquilo que nos trará satisfação. Mas não é o poder material, mas sim o poder interior, o poder espiritual que nos trará verdadeira satisfação. Se Deus, o Pai Todo Poderoso, estiver satisfeito conosco, Ele nos dará paz de espírito. Uma vez que tenhamos paz de espírito, não importa onde formos e que atividades façamos, teremos um sentimento de satisfação. Hoje a satisfação está muito distante. Mas se orarmos a Deus de manhã cedo, teremos um pouco de paz de espírito. Essa paz de espírito é certamente satisfação verdadeira na vida.

 

A jornada do desejo até a aspiração

Muitas vezes sentimos no dia a dia que o desejo é uma coisa e que Deus é outra. O desejo, dizemos, é ruim na vida espiritual, pois quando desejamos algo, sentimos que aquilo que queremos é o próprio objeto. É verdade que apenas através da aspiração é que podemos realizar Deus, mas Deus reside no nosso desejo assim como na nossa aspiração. Quando percebemos que o desejo também existe em Deus, essa é a nossa primeira iluminação.

Nossa jornada terrena começa com o desejo. Na vida comum, não conseguimos viver sem ele. Mas se sentimos que não estamos prontos para a vida espiritual porque temos muitos desejos, então nunca estaremos prontos para a vida espiritual. Temos de começar nossa jornada espiritual aqui e agora, enquanto ainda trilhamos o caminho do desejo.

Observemos o caminho do desejo como um objeto e sintamos o Alento de Deus dentro dele. Lenta e infalivelmente, o Alento de Deus surgirá e transformará o nosso desejo em aspiração. Se fizermos isso com a aspiração também, sentiremos que a nossa aspiração e a existência terrena nunca poderão ser separados.

Há dois tipos de homem na Terra que não possuem desejos: aqueles que têm almas libertas e aqueles que têm almas inertes, sem vida, enfadonhas. As almas libertas se libertaram do apego, limitações e imperfeições. Eles vivem livres da ignorância e se tornaram um com suas almas na iluminação transcendental. Todavia, alguns seres humanos não querem nada da vida. Eles somente chafurdam nos prazeres da inércia e letargia, sem aspiração para qualquer coisa. Eles nunca, nunca terão iluminação.

 

Você precisa começar

Certa vez, um jovem perguntou ao grande herói espiritual Swami Vivekananda como ele poderia realizar Deus. Vivekananda respondeu: “De agora em diante, comece a contar mentiras.” O jovem disse: “Você quer que eu conte mentiras? Como poderei realizar Deus? É contra os princípios espirituais.” Mas Vivekananda disse: “Eu sei mais do que você. Compreendo em que nível você está. Você não mexe uma palha; é um inútil, praticamente morto para a vida comum, tanto mais para a vida espiritual. Se começar a contar mentiras, as pessoas irão atacá-lo, e você terá de exercer a sua própria personalidade. Primeiro você precisa desenvolver a sua própria individualidade e personalidade. Chegará então o dia em que terá de entregar a sua individualidade e personalidade à Sabedoria divina, à Luz e ao Deleite infinitos. Mas primeiro você deve começar a sua jornada.”

Há algumas pessoas desequilibradas que sentem que realizarão Deus caminhando pelas ruas como vadios ou torturando seus corpos e permanecendo fracos. Eles encaram a fraqueza física como um precursor da realização-Deus. O grande Senhor Buddha tentou o caminho da mortificação, mas chegou à conclusão de que o caminho médio sem extremos é o melhor. Temos de ser normais; é preciso ser saudável no dia a dia. A aspiração não é algo sem relação com o nosso corpo físico. A aspiração do nosso coração e o nosso corpo físico caminham juntos. A aspiração física e a aspiração psíquica podem e devem correr juntas.

Desejo é ansiedade. Essa ansiedade encontra satisfação apenas ao se firmar num apego sólido. Aspiração é serenidade. Essa serenidade encontra satisfação apenas quando é capaz de se expressar através do desapego onisciente e tudo-amoroso.

Poemas completos de John Keats – “A beleza é uma alegria eterna.”

Poemas completos de John Keats – “A beleza é uma alegria eterna.”

por Patanga Cordeiro

poemas de john keats livro

Complete Poems of John Keats, Wordsworth Edition.



“Aquilo que a imaginação captura como Beleza deve ser a verdade”. Assim escreveu o poeta romântico John Keats, nascido em 1795 e que viveu apenas 25 anos. O livro que li abriga toda a sua poesia, desde os trabalhos iniciais, incluindo as Odes e duas versões do Hyperion, incompleto. Além, é claro, da famosa obra Endymion, que começa com sua mais famosa frase: “A beleza é uma alegria eterna.” A beleza é provavelmente o tema mais recorrente na obra, algo com que eu mesmo me identifico muito – a palavra Beleza, Beauty, me encanta imensamente. Outro aspecto que me encanta muito é o lirismo acentuado das suas obras. Keats é reconhecido como um dos maiores poetas ingleses. Suas obras, em beleza e lirismo nos inspiram a pensar no Divino.

Abaixo dois poemas traduzidos por mim:

 

A Morte

1.

Pode a morte ser sono, quando a vida é um sonho,

E cenas de deleite são fantasmas vagando?

Prazeres transientes parecem visões,

E ainda pensamos que a maior dor é morrer

2.

Quão estranho é que o homem na terra vague

E tenha uma vida de sofrimento, mas não desista

Do seu caminho irregular; nem ouse enxergar sozinho

Sua perdição futura que é simplesmente acordar.

 

 

Soneto

 

Esta história agradável é como um pequeno bosque:

As linhas adocicadas vividamente se entrelaçam

Que o leitor em tal doce lugar alçam,

Que aqui e ali o coração cheio pára;

E por vezes sente as gotas orvalhadas

Frescas e súbitas sobre o seu rosto,

E na melodia que vaga podem tracejar

Por onde as pernas delgadas do pintarroxo saltitam

Oh, que poder tem a alva simplicidade!

Que grandioso poder tem esta gentil história!

Eu que para sempre anseio por glória

Poderia por agora contentar em deixar

Gentilmente sobre a grama, tal como as lágrimas em arrocho

Dos que ouviram nada senão os solenes pintarroxos.

 

Poemas e ensaios de Ralph Waldo Emerson

Poemas e ensaios de Ralph Waldo Emerson

por Patanga Coridero

livro emerson poemasEssays and Poemas by Ralph Waldo Emerson, Modern Library Classics



 

Emerson foi um escritor fundamentalmente espiritual, tendo sido pastor da igreja, mas tendo deixado o ministério por não se sentir livre o suficiente e ser criticado dentro da igreja. Cultivou a amizade de muitos filósofos e poetas americanos, notavelmente Thoreau.

Abaixo, um dos seus poemas sobre a natureza, que, naturalmente, voltam os nossos pensamentos ao Divino. Escolhi e traduzi esse poema da obra Poems and Essays of Ralph Waldo Emerson.

 

Rhodora

Onde está a flor?

 

Em maio, quando a brisa do oceano atravessa a nossa solidão

Encontro a fresca Rhodora nos bosques,

Suas florescências sem folhas espalham-se num cantinho úmido,

Agradando o deserto e o lento riacho.

Pétalas púrpuras caídas na poça

Tornam suas águas negras com sua beleza alegres;

O vermelho pássaro aqui poderia suas plumas refrescar,

E cortejar a flor que faz humilde sua plumagem.

Rhodora! Se os sábios te perguntassem porque

Esse charme se desperdiça no céu e terra,

Diga-lhes, querida, que se os olhos foram feitos para enxergar,

Então a Beleza é a própria desculpa da sua existência:

Por que estiveste lá, Ó rival da rosa!

Nunca pensei em perguntar, nunca soube;

Mas, na minha simples ignorância, suponho que

O mesmo Poder que me levou até lá trouxe você.

*


Mais poemas, frases e mensagens de Ralph Emerson

Poemas em inglês de John Milton – “O Paraíso Perdido” e “O Paraíso Reconquistado”.

Poemas em inglês de John Milton – “O Paraíso Perdido” e “O Paraíso Reconquistado”

por Patanga Cordeiro

paraíso perdido john miltonThe English Poems of John Milton, Wordsworth Edition



 

Fiz a leitura no original do livro Poemas em inglês de John Milton (The English Poems of John Milton). Milton possui um toque místico na sua poesia, e certamente religioso.

Não é a toa que, ao escrever o seu épico (era comum que todos os principais poetas da sua época, e inclusive até o século XIX, escrevessem épicos para ter seu reconhecimento completo como poetas,) John Milton escreveu falar sobre temas espirituais. Suas obras mais famosas são “O Paraíso Perdido” e “O Paraíso Reconquistado”.

Em O Paraíso Perdido, uma boa parte das longas 150 páginas de poesia é dedicada a uma Gênese bíblica, descrevendo a criação do mundo até o homem, Adão e Eva. Uma parte interessante é a descrição dos arcanjos, Rafael e Gabriel, dessa criação ao próprio Adão, incluindo como os anjos caídos Uriel e Satanás e seus exércitos infernais tentaram ocupar o Paraíso, lar original de Adão, mas foram repelidos em batalha sangrenta pelos anjos ainda fiéis. Em seguida, Satanás planeja a expulsão de Adão e Eva do Paraíso, para que ele possa lá habitar, e o faz convencendo Eva a comer o fruto proibido e oferece-lo a Adão, e Adão decide compartilhar. Eles são então enviados ao mundo material, onde mais tarde ocorre o dilúvio e demais atos.

A obra Paraíso Reconquistado é bem menor, com cerca de 50 páginas, mas muito mais espiritual. Ela descreve o período de 40 dias que o Cristo passou em jejum no deserto, e as tentações que Satanás trouxe, tentando fazer com que Jesus Cristo desistisse do seu propósito espiritual e seguisse uma vida mundana de rei soberano. Satanás estava confiante, pois conseguiu fazer Adão e Eva caírem, mas é desnecessário dizer que o Cristo não se abalou por sequer um momento. Abaixo, algumas linhas traduzidas por mim:

 

Paraíso Reconquistado

 

…E se com repugna rejeitar

Riqueza e reino? E mesmo uma coroa,

Dourada brilhante, é mais uma guirlanda de espinhos,

Trazendo perigos, preocupações, deveres e noites insones

Àquele que enverga o diadema real

E o pesar dos homens sob seus ombros repousam;

Pois tal é o ofício do rei,

Sua honra, virtude, mérito e lisonja,

Por isso todo esse peso ele sustenta.

Mas aquele que reina dentro de si próprio e governa

Paixões, desejos, temores – ele é mais rei –

Tal governo é o que todo sábio e virtuoso homem alcança.

Mas guiar nações pelo caminho da verdade

Em doutrina de salvação e discernimento do erro

Conhecer, e, conhecendo, adorar Deus

É mais majestoso, atrai a alma,

Governa o homem interior, a parte mais nobre;

 

Paraíso Perdido

A Adão disse Miguel: “Aqueles que tu viste

Em triunfo e riqueza e luxo são aqueles

Vistos antes em atos e proezas incríveis

E grandes explorações, mas sem virtude;

… Com a exceção de um homem, o único filho da luz

Numa era de escuridão, contra os exemplos,

Contra a ilusão, costume e um mundo de ofensa;

Destemido da repreensão e escárnio,

Ou violência, dos seus maus hábitos

Ele os repreenderá, e diante lhes colocará

Um caminho de retidão, tanto mais seguro

E cheio de paz…

 

É preciso saber viver

montanhapor Elizianne Santos

A vida espiritual precisa ser um torrencial de altos e baixos? Se quisermos que nossa jornada espiritual seja como um sonho dourado é preciso saber viver, e isso depende exclusivamente de cada um. Os nossos pensamentos e escolhas possuem papel fundamental.

Onde está a chave para o equilíbrio? Como saber viver?

As respostas cada um encontrarão dentro de si mesmos seja através da meditação ou oração.  Abaixo, alguns poemas de Sri Chinmoy que nos faz refletir um pouco sobre o tema:

 


 

Como viver num mundo como este?

 

Como viver num mundo como este?
Como? Apenas sorria
Eis que o tigre-desconfiança-mundo está morto.

Como viver num mundo como este?
Como? Apenas sorria
Eis que o elefante-cegueira-mundo está morto.

Como viver num mundo como este?
Como? Apenas sorria
Eis que o leão-autocracia-mundo está morto.

Como viver num mundo como este?
Seu tolo!
Você não sabe que você é
A própria raiz do mundo-misérias,
Das calamidades mundiais,
Dos fracassos mundiais?

 

Sri Chinmoy, The Wings of Light, part 3 – Agni Press, 1974

 

 

 

Uma meditação verdadeira
Nos ensina como viver
Sem qualquer expectativa

 

Sri Chinmoy, Seventy-Seven Thousand Service-Trees, Part 9, Agni Press, 1998

 

 

Se você sabe
Como amar a Criação de Deus
Deus irá ensiná-lo
Como viver exatamente do jeito que ele vive

Em sua Satisfação-Deleite.

Sri Chinmoy, Twenty-Seven Thousand Aspiration-Plants, Part 50, Agni Press, 1984

 

 

 

 

 

 

 

Voltar para a Verdade

É viver em paz
Sri Chinmoy, Seventy-Seven Thousand Service-Trees, Part 44, Agni Press, 2005

 

 

 

Deus vive

Para dar-lhe tudo.

Deus não sabe

E não saberá

Como desistir.

 

Sri Chinmoy, Twenty-Seven Thousand Aspiration-Plants, Part 61, Agni Press, 1984

 

 

 

Se eu sempre tivesse vivido

No coração,

Meu coração teria conhecido

Como satisfazer Deus

O tempo todo.

 

Sri Chinmoy, Seventy-Seven Thousand Service-Trees, Part 28, Agni Press, 2002