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mestre meditando jvilleA meditação no Bhagavad Gita – traduzido ao português

 

No capítulo seis do Bhagavad Gita, Sri Krishna ensina a Arjuna como praticar a meditação. Segue abaixo o capítulo inteiro, traduzido ao português a partir da versão em inglês de Sri Aurobindo.

Se quiser ler mais sobre o Bhagavad Gita ou a prática de Meditação podemos recomendar os dois livros de Sri Chinmoy nos links, em versões impressa, pdf e áudio, além de participar presencialmente.

 

A postura mental para meditação

6.10- Que o Yogin* pratique continuamente a união com o Eu, sentado sozinho e afastado, com todos os desejos e ideias de posse banidas da sua mente, autocontrolado em todo o seu ser e consciência.

*N.d.T: Os cabeçalhos são nossa inserção, para facilitar a leitura/navegação. O uso do termo Yoga (LINK) remonta à palavra União, e não aos exercícios físicos praticados nas modalidades de hatha yoga. Yogin é o praticante, o aspirante a essa Yoga de União com o divino.

 

O local para meditar

6.11-12- Ele deve preparar num lugar puro o seu assento firme, nem muito alto e nem muito baixo, coberto com um tecido, com uma pele de cervo, com ervas sagradas, e ali sentado com uma mente concentrada e com as ações da consciência mental e dos sentidos sob controle, ele deve praticar Yoga para a autopurificação.

 

A postura física correta para meditar

6.13-14- Mantendo o corpo, cabeça e pescoço eretos, imóvel, com sua visão internalizada e fixada entre as sobrancelhas, (…), mente calma e liberta do medo, observado o voto de Brahmacharya*, a integralidade da mentalidade controlada direcionada a Mim, ele deve sentar-se firme no Yoga, completamente entregue a Mim.

*N.d.T: Abstinência sexual, física e mental, entre outras práticas. Literalmente: “Conhecedor da conduta que leva a Deus”

 

O resultado da prática meditativa

6.15- Assim, sempre colocando-se em Yoga pelo controle da mente, o Yogin alcança a paz suprema do Nirvana, que tem a Mim como fundação.

 

Moderação nos hábitos e serenidade na forma de enxergar

6.16- Este Yoga não é para aquele que come demais ou dorme demais, nem é para aquele que abdica do sono e alimento, Ó Arjuna.

6.17- O Yoga destrói toda a tristeza para aquele cujo sono e vigília, alimento, ações, esforços são todos em medida correta.

 

A mente silenciosa

6.18- Quando a consciência mental integral e perfeitamente controlada e livre de anseios por coisas agradáveis permanece silente no Eu, diz-se: “ele está em Yoga.”

6.19- Imóvel como a luz de uma lamparina num local sem vento é a consciência do Yogin que pratica união com o Eu.

 

O objeto da meditação

6.20- Aquilo em que a mente fica silente e imóvel pela prática de Yoga; aquilo em quem o Eu é visto no Eu pelo Eu (e não o que é visto, mal traduzido, falsamente ou parcialmente pela mente e representado a nós através do ego, mas sim autopercebido pelo Eu), nele a alma está satisfeita;

6.21- Aquilo em que a alma conhece o seu próprio e incrível deleite, que é percebido pela inteligência e está além dos sentidos, onde estabelecida não mais pode cair da verdade espiritual do seu ser;

6.22- Aquilo em que obtido não considera outro ganho maior; aquilo em que estabelecido não é perturbado pelo maior dos ataques de tristeza mental;

6.23- Aquilo deve ser conhecido pelo nome de Yoga – a libertação da associação com a dor e tristeza. Esse Yoga deve ser continuamente aplicado com um coração livre de desânimo e depressão.

 

Controlando a mente para meditar

6.24-25- Abandonando sem exceção todos os desejos nascidos na vontade-desejo e controlando todos os sentidos pela mente, de forma que não possam correr para todos os lados, deve-se gradualmente recolher-se na tranquilidade através de um buddhi controlado por constância e, fixando-se a mente no Eu, não deve-se pensar em qualquer coisa.

6.26- Por qualquer coisa que a mente inquieta e inconstante perambule, daquilo ela deve ser restringida a acessar e trazida de volta ao subjugar do Eu.

6.27- Quando a mente está completamente silenciada, vem ao Yogin a altíssima intocada, purificada bem-aventurança da alma que se tornou o Brahman.*

*Deus, o Absoluto

 

A bem-aventurança do Divino

6.28- Assim liberto da mácula da paixão e colocando-se constantemente em Yoga, o Yogin facilmente e alegremente desfruta do toque do Brahman que é deleite inefável.

6.29- Com sua visão equalizada para tudo, o homem cujo eu está em Yoga vê o Eu em todos os seres e todos os seres no Eu.

6.30- Aquele que vê a Mim em todo lugar e vê tudo em Mim, ele nunca Me perde, nem ele se perde de Mim.

6.31- O Yogin que sustenta-se na unicidade e ama a Mim em todos os seres, de qualquer maneira que ele agir e viver, vive e age em Mim.*

((trecho do comentário de Sri Aurobindo na sua tradução): A visão espiritual de Deus e do mundo não é apenas uma idealização, e nem mesmo é principalmente ou inicialmente idealização. Ela é uma experiência direta e tão real, vívida, próxima, constante, efetiva e íntima quanto a visão que a mente possui através dos sentidos das imagens, objetos e pessoas….)

6.32- Ó Arjuna, aquele que enxerga com equanimidade tudo na imagem do Eu, seja tristeza ou felicidade; ele eu considero o Supremo Yogin.

 

A inquietação e o controle da mente

6.33- Arjuna disse: esse Yoga que foi por Você declarado sobre a natureza da equanimidade, Ó Madhusudana, nele não vejo fundação estável por conta da inquietação.

6.34- De fato inquieta é a mente, Ó Krishna; ela é veemente, forte e difícil de curvar; considero-a tão difícil de controlar quanto o vento.

6.35- O Divino Senhor disse: Sem dúvidas, Ó Kaunteya de braços fortes, a mente é inquieta e muito difícil de controlar, mas ela pode ser controlada através de prática constante e desapego.

6.36- Por aquele que não é autocontrolado, esse Yoga é difícil de alcançar; mas para o autocontrolado, é alcançável por esforços propriamente direcionados; tal é a minha visão.

 

Desistindo no meio do caminho

6.37- Arjuna disse: Aquele que toma o Yoga com fé, mas não consegue controlar-se, com sua mente vagando para longe do Yoga, fracassando em alcançar perfeição no Yoga, qual é o seu fim, Ó Krishna?

6.38- Ele não perde, Ó Krishna de braços fortes, a sua vida e a consciência brâhmica a que aspira e, caindo de ambos, falece como uma nuvem dispersando-se?

6.39- Peço-lhe que disperse esta minha dúvida completamente, Ó Krishna; pois ninguém além de Você pode destruir essa dúvida.

 

O futuro do buscador

6.40- O Divino Senhor disse: Ó Partha, nem nesta vida e nem na próxima haverá destruição para ele; nunca alguém que pratica o bem, Ó querido, vem a sofrer.

6.41- Tendo alcançado os mundos daqueles que têm retidão e habitado lá por anos a fio, aquele que cai do Yoga nasce novamente na família dos puros e gloriosos.

6.42- Ou então pode nascer na família de sábios Yogins; tal nascimento é de certo raro de se obter neste mundo.

6.43- Portanto, Ó alegria dos Kurus, ele recupera a disposição búdica* que tinha alcançado na vida passado e com ela continua a se esforçar pela perfeição.

*N.d.T: buddhi, dentre possíveis traduções, pode ser vista como ‘consciência interior’

6.44- Pela virtude da paciência do passado, ele é carregado inexoravelmente; mesmo o buscador do Yoga vai além do alcance dos Vedas e Upanishads.

 

A meta altíssima

6.45- O Yogin que se esforça com assiduidade, purificado dos pecados, aperfeiçoando-se através de muitas vidas, alcança a meta altíssima.

6.46- O Yogin é maior que os praticantes de asceticismo, maior que os homens de conhecimento, maior que os homens de ação; torne-se o Yogin, então, Ó Arjuna.

6.47- De todos os Yogins, aquele que com todo o seu ser interior entregou-se a Mim, tem amor por Mim e fé em Mim, considero ele o mais unido Comigo em Yoga.