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Livro Bhagavad Gita – capítulo 17 – Abstinência e Renúncia

 

Lenta, gradual e exitosamente estamos agora escalando o último degrau da escada-Gita. Aqui quase teremos a quintessência da inteira Canção.

Arjuna deseja saber sobre a natureza da abstinência da ação, sobre a natureza de renunciar os resultados da ação e também a diferença entre essas duas.

O Senhor lhe diz que sannyasa é abstenção da ação desejo-instigada, e que tyaga é a renúncia dos frutos da ação.

Sannyasa e sankhya yoga são idênticos, assim como tyaga e karma yoga são idênticos.

Para a nossa mais ampla surpresa, mesmo hoje, ainda há na Índia um credo cego que diz que uma alma realizada não age ou não consegue agir, ou até mesmo não deve agir no plano físico. Ora, a pobre alma realizada tem de separar sua existência das atividades do mundo! Se tal é o caso, então eu acredito que a auto-realização nada é, senão uma severa punição, uma conquista indesejável, carregada com o difícil peso da vazia frustração.

Seguramente, uma pessoa realizada é aquela que se libertou das armadilhas das impetuosas amarras. Se ela não agir com seu corpo, mente, coração e alma no mundo, para o mundo, e se ela não auxiliar os buscadores no Caminho, então quem mais seria competente para liderar a humanidade aspirante, que chora e labuta, à sua Meta destinada?

Para a libertação, a renúncia é essencial. Renúncia não quer dizer a extinção do corpo físico, dos sentidos e da consciência humana. A renúncia não significa que deve-se estar milhões de milhas distante das atividades do mundo. A renúncia não diz que o mundo é o paraíso dos tolos. A verdadeira renúncia não apenas vive no mundo, mas também divinamente preenche a vida do mundo.

O Upanishad nos ensinou: “Desfrute através da renúncia.” (Isopanishad 1) Tentemos fazê-lo. Certamente teremos êxito.

A ação correta é boa. A ação sem desejos é melhor. A dedicação dos frutos ao Senhor é o máximo. A essa dedicação chamamos verdadeira tyaga.

Alguns professores espirituais dizem que a ação é um mal desnecessário, que a ação leva o homem à limitação perpétua. Dessa forma, eles violentamente e orgulhosamente afirmam que toda a ação, sem exceção, deve ser impiedosamente evitada. Sri Krishna graciosamente ilumina sua tolice. Ele diz que yajña (sacrifício), dana (auto-doação) e tapas (auto-disciplina) não devem ser evitados, pois yajña, dana e tapas são verdadeiros purificadores. É claro que mesmo essas ações devem ser realizadas sem o menor apego.

A renúncia do dever para com a humanidade nunca é um ato de realização espiritual ou mesmo um ato de despertar espiritual. O deleite da liberdade não é para aquele que abandona o dever por medo de desagrado físico ou sofrimento mental. Sua falsa e absurda antecipação o levarão ao mundo da ignorância, onde ele será obrigado a ceiar com o medo, ansiedade e desespero.

Aquele é um homem de verdadeira renúncia, o qual nem odeia uma ação desagradável, quando o dever a exige, e nem está ávido a fazer apenas boas e agradáveis ações.

O Senhor diz: “Renunciar completamente toda a ação não é possível para uma alma encarnada. Aquele que renuncia os frutos da ação é o verdadeiro renunciante.” (18.11)

O Gita é a revelação da espiritualidade. Cedo ou tarde, todos devem buscar a espiritualidade. Não é preciso e nem necessário qualquer compulsão. Forçar outros a aceitarem a espiritualidade é um ato de estupenda ignorância. Um verdadeiro Guru sabe que seu papel não é de Comandante-Geral. Ele nunca ordena, nem mesmo seus mais queridos discípulos. Ele apenas desperta e ilumina sua consciência, para que possam enxergar a verdade, sentir a verdade, seguir a verdade e, finalmente, tornar-se a verdade.

De numerosas maneiras Sri Krishna concedeu a mais inspiradora sabedoria a Arjuna. Ao fim, ele diz: “Arjuna, tendo refletido completamente na sabedoria, aja como quiser.” (18.63)

Algo mais Sri Krishna tem a dizer: “Arjuna, Minha Palavra suprema, o Meu mais íntimo segredo, Eu lhe conto. A você Eu revelo o segredo do Meu coração, pois você é sempre querido por Mim. Ofereça-Me o seu amor. Devote-se a Mim. Curve-se a Mim. Dê-Me o seu coração. Você certamente virá até Mim. Isso eu lhe prometo. Arjuna, você é querido por Mim. Entregue todos os deveres terrenos a Mim. Procure em Mim o seu único refúgio. Não tema, não se aflija, pois de todos os pecados Eu o libertarei.” (18.64-66)*

* O verso 18.66 do Bhagavad Gita (começando aqui com “entregue todos…” é um dos três mantras ou ensinamentos essenciais dos Srivaishnavas (escola Vishishtadvaita). É chamado de charamasloka, o ‘verso supremo’.

A verdade deve ser oferecida apenas aos buscadores mais sinceros. Sri Krishna docemente acautela Arjuna de que a verdade que aprendeu com Ele não deve ser oferecida a um homem que não possui fé, devoção e auto-disciplina. Não é para aquele cuja vida é borrada de blasfêmia e pouco caso a Verdade suprema de Sri Krishna.

Agora Sri Krishna quer saber se Arjuna O compreendeu, a Sua revelação. Ele também quer saber se Arjuna está livre do domínio da desilusão e das amarras da ignorância.

“Krishna, meu único Salvador, finda está a minha desilusão. Destruída está minha ilusão. Sabedoria eu recebi. A Tua Graça é responsável, a Tua Graça suprema. Firme estou, livre de dúvidas. Minhas dúvidas não mais existem. Estou a Teu comando. Imploro por Tua ordem. Estou pronto. Eu agirei.” (18.73)

A alma humana gloriosamente conseguiu esvaziar toda a sua noite-ignorância na Alma Transcendental de Luz eterna. A Alma Transcendental cantou triunfantemente a Canção da Infinidade, Eternidade e Imortalidade no coração aspirante da consciência humana.

 

Vitória, vitória ao coração que chora e sangra do finito. Vitória, vitória à Enchente-Compaixão e ao Céu-Iluminação do Infinito.

A vitória do mundo brilha no interior! A vitória do mundo cresce no exterior!

Vitória alcançada. Vitória realizada. Vitória revelada. Vitória manifestada.