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por Patanga Cordeiro

O Atthaka é uma compilação dentre as mais antigas do budismo, passada oralmente por séculos, por fim escritas para benefício dos buscadores.

O Atthaka se chama de livro das oitavas porque a maior parte dos seus 16 textos possui oito frases. Como de costume na literatura budista, os temas abordados são frequentemente a busca pelo eu verdadeiro, a irrealidade do exterior, a falta de valor das conclusões e do ego, a pureza no caminhar e agir e a vida de disciplina.

(Vale lembrar que, assim como o Dhammapada, o Atthaka se foca no Jñana Yoga budista, e que buscadores de outros caminhos poderão sentir que há outras possibilidades na vida espiritual além da renúncia e abstinência (vejam mais no artigo sobre o livro Dhammapada) que levam ao Nirvana, pois há outras metas de iluminação que são paralelas ao Nirvana do Buda.)

Para consultas, usei o livro “Dhammapada – caminho da lei e Atthaka – o livro das oitavas / doutrina budista ortodoxa em versos”, da Editora Pensamento, traduzido por Georges da Silva.

Abaixo, tento resumir em uma frase, com minhas palavras e numa leitura superficial e pessoal, a mensagem que me inspirou cada um dos dezesseis textos do Atthaka.

 

Meu resumo do Atthaka

  1. Liberte-se das paixões e seja feliz por não depender delas
  2. Salve-se dos seus desejos e torne-se imperturbável.
  3. Não dê atenção a conversas, sejam boas ou ruins. Equânime, mantenha-se acima dos rótulos.
  4. Não se adquire pureza com conceitos – é necessário praticar o dhamma/dharma.
  5. Não tenha preconceitos, seja “bom” ou “ruim”, não valorize uma disciplina espiritual ou religião sobre a outra e enxergará mais facilmente a verdade.
  6. A vida é curta, então flutue como um lótus no pântano, pois não vale apena cobiçar ou desejar, para, alcançando o objeto, repudiá-lo.
  7. O sábio deve ater-se rigorosamente à abstinência da sensualidade e luxúria. “Deve ir sempre só em suas peregrinações, pois que este é o tipo de vida que enobrece.”
  8. Não desperdice energia discutindo e comparando ideias e filosofias. Melhor é ser contente, sem combater.
  9. Alcança a pureza aquele que não se deixa iludir pelas aparências, pelo que dizem as pessoas comuns e pensam as demais. “Os pensamentos tentadores, que evocam desejos e luxúria, jamais conseguiram despertar em mim o menor desejo que seja pelas relações sexuais. Que é, afinal de contas, esta bela filha que tendes, senão um saco de excrementos? Eu não a tocaria nem mesmo com o pé.” – Buda
  10. Perfeito é aquele que conseguiu vencer o desejo – não tem filhos, fado, terras, capital, ressentimento, tempo, classe e nem seus próprios pensamentos do passado o afetam.
  11. A discórdia entre os homens vem das paixões pessoais. As paixões vêm do desejo. O desejo vem da noção de “agradável” e “desagradável”. A ilusão é consequência da percepção.
  12. Não existe verdade que possa ser obtida por meio sensorial. “Abstei-vos, por isso, de toda e qualquer teorização, com suas inevitáveis disputas.”
  13. Deixe de ver nome e forma, sendo liberto dos conceitos baseados nas coisas vistas e ouvidas, e será tranquilo, transcendendo tanto o tempo quanto a abstinência.
  14. O indivíduo que alcançou disciplina e se libertou das coisas do mundo não deve mais pensar em termos de “eu”. Trate cada um de si, não se queixe nos períodos de adversidade, nem anseie pela mudança de circunstâncias que não tema. Não acumule alimento, bebida ou roupas, e não se mostre ansioso por não obtê-los.
  15. “Vi homens debatendo-se como os peixes de um lago que está secando, atrapalhando-se uns aos outros. Oprimido pelo horror, vergou-se-me o corpo. Percebi que o mundo todo carece de substância e que a desintegração é a regra.”
  16. Aos indivíduos reclusos, que não se perturbem por perigos, argumentos sutis, fome, doença, frio ou calor, falta de lar, mostrem cordialidade a todos, afastem a cólera e orgulho, empreguem o tempo ordenadamente, sem desperdiça-lo na ociosidade, assim ficando sempre em plena vigilância e seguros de si. “Conseguindo manter-se equânime, solucionará todas as dúvidas e todos os problemas da sua mente. Assim falou o Buda.”